Mônica pisava duro enquanto andava pela calçada gasta. Para variar, a garota estava emburrada, carregando três livros pesados e duros, não que isto fosse problema para ela. Às vezes namorar DC era muito difícil, como a estranha ideia dele de ler enciclopédias no tempo livre dos dois. Porém, não era a esquisitice de seu namorado que a incomodava agora.

Enquanto passava por diversas pessoas, perguntou-se quanto tempo demoraria até que ele chegasse na biblioteca, o que parecia levar anos. A biblioteca do Limoeiro era gigantesca, e no entanto, Mônica não conseguia apreciá-la devidamente, pois ela sempre ficava com vontade de espirrar, com tantos livros velhos e empoeirados.

Ela olhou para a construção antiga, pintada de marrom claro, e subiu os degraus rapidamente. Empurrou a pesada porta de madeira, e entrou, esbarrando em alguém. Os livros da Revolução Russa escritos em italiano foram espalhados pelo chão. Imediatamente, a morena abaixou-se para juntá-los, e olhar feio para quem tinha derrubado os livros, quando ouviu a voz:

— Mônica? – E lá estava, o motivo de toda o seu nervosismo, com uma feição triste, ombros caídos, moletom cinza, e o cabelo embolado amarrado.

— Magá, ainda bem que cheguei a tempo. – Mônica deu um suspiro aliviado. As duas foram até o balcão para devolver os livros e em seguida, dirigiram-se à uma mesa isolada entre tantas outras.

Magali estava... diferente. De um jeito ruim, extremamente horrível, desde que ela e Quim terminaram. A amiga tinha passado a semana tentando conversar com o ex-namorado, e até fez algum progresso – afinal, todos sabiam que Quim era perdidamente apaixonado por ela – mas os dois acabaram brigando de novo, e desta vez mesmo Magali quis discutir. Afinal, quem não tinha tempo para o parceiro era Quim, e ela não estava errada.

Mônica ouviu toda a trajetória na escola, onde era o único lugar que andava vendo a amiga. E conforme aquela semana passou, acompanhada da que veio a seguir, Magali ia ficando mais pálida, triste, sem cuidar muito o que vestia. Ela nem tinha fome.

Era estranho para Mônica estar no lado de Magali, quando a outra geralmente era quem aconselhava, e Mô sentia-se inútil por não tê-la ajudado o quanto desejava nas últimas duas semanas. Afinal, aquele era um namoro de uma vida, e ela não conseguia realmente entender o que Magá passava, pois ela e Cebola não tinham exatamente namorado durante todo aquele tempo, porém, o que Mônica entendia era que a amiga não devia sofrer assim. Por isto, tomou medidas drásticas.

Magali agora saía correndo da aula assim que o sino tocava, e passava na biblioteca para pegar alguns livros de tragédia romântica. Mônica então decidiu procurá-la ali, e ali estavam as duas, sentadas uma em frente a outra, sem dizer absolutamente nada. Mô estendeu um envelope decorado com flores cor de rosa, e esperou a curiosidade da amiga.

— Abra – ordenou Mônica, quando viu que Magali nem ao menos tocou no pequeno envelope que ela tinha feito para o convite.

Cansada, Magali colocou um braço na mesa de madeira e pegou o envelope, os dedos mais magros que nunca. Ela suspirou e abriu-o, e devolveu à mesa, sem olhar o conteúdo. Mônica cerrou os punhos. Magali estava brincando com a cara dela?

— Não seja engraçadinha, Magá. – pediu ela, em sussurros, para que a bibliotecária idosa não viesse brigar com as duas.

— Tá – murmurou Magali, tirando um convite não tão enfeito, e com certeza impresso de um email.

Mônica esperou atentamente enquanto Magá lia o email com lentidão. Ela terminou e fechou o email impresso, guardando-o dentro do envelope.

— E aí? – Mônica não conseguia conter a empolgação. Finalmente algo que poderia tirá-la da fossa.

Magali segurou um livro firmemente contra o peito, e desviou o olhar.

— Magali, você tem que ir! – pediu Mônica. – Por favor.

— Não, Mô. Eu tenho que ficar em casa. – retrucou ela. – Divirta-se por mim. – Magali levantou da cadeira, mas Mônica segurou seu braço. A dentuça continuou olhando para ela, implorando quase.

— Por favor, Magá. – sussurrou ela. – Vai ser divertido, eu juro. Tem a ver com a Carmem? Tem. Pode não ser tão divertido assim? Talvez. Mas você precisa tentar. – Mônica esperou que Magali absorvesse o que era dito. – Agora, não diga que não é justo você sair enquanto o Quim está sofrendo, porque ele deve estar trabalhando, e você aí, querendo ser gótica.

Magali olhou para a capa de Romeu e Julieta, e o colocou na mesa. Mônica tinha certeza que Magá sabia de tudo aquilo. Ela só queria fingir que não, porque assim não sairia da zona de conforto que tinha criado em torno de si, como forma de proteção.

— Eu não estou pedindo para que você arrume outra pessoa. – continuou Mônica. – Nem estou dizendo que há outros peixes no mar. – Mônica detestava quando diziam aquilo para ela, sempre que o Cebola dava mancada. Porém, ela tinha encontrado DC, ou o inverso. – Só estou te pedindo para me fazer companhia.

— O Do Contra pode te fazer companhia. – Magali desvencilhou o braço do aperto de Mônica e tentou arrumar o cabelo.

— Ele vai nos fazer companhia. – Mônica rebateu.

— Eu quero ficar em casa. – murmurou Magali. Não teria graça ver todos os outros casais felizes se ela não estivesse com Quim. Ela se sentiria sozinha, sentiria saudade dele e raiva dela por ter aceitado o convite.

— Certo – Mônica levantou. – Você vai ficar em casa depois que sairmos de lá.

— Mas, Mônica, eu... – Magali não conseguia revidar contra a teimosia de sua amiga.

— Até sábado, Magá. – disse Mônica, dando um rápido abraço de Magali, e andando o mais rápido que podia em direção a porta, para não ter como Magali recusar.