Magali não precisou ir atrás de Quim. Assim que Cascão havia dado conselhos, ela decidiu procurar o namorado, a surpresa da morena, porém, foi que o mesmo mandou quase no mesmo instante um email para falar de um concurso de culinária.

A garota parou no meio do caminho e abriu o email, para ler no meio da rua. Era estranho, Quim nunca mandava nada no email dela. Os dois se falavam por mensagem, quando o namorado podia, é claro. O coração de Magali acelerou, e ela começou a ficar preocupada, mesmo que o assunto fosse “Concurso de culinária”.

Ansiosa, ela abriu o link e foi redirecionada para um site em inglês dando informações sobre um concurso para jovens de diferentes nacionalidades, e quem ganhasse, levaria como prêmio uma bolsa de estudos para estudar gastronomia no exterior.

Imediatamente, Magali foi inundada de felicidade. Seu namorado tentaria uma coisa dessas? Logo Quim? Sua vontade era de dar pulinhos e correr até a padaria para abraçá-lo e – Ela parou. Naquele instante tudo fez sentido. As esquivas do rapaz, a agenda apertada, o que ele estava escondendo. Era tudo para surpreendê-la. Ou talvez fosse porque ele tinha medo de falhar e decepcioná-la.

Ela clicou agilmente para ler o email, e ao invés de clicar no link, leu o que havia por baixo. Quim apenas digitou: “O que você acharia se eu participasse disso?”. Novamente a sensação de felicidade a preenchia. Ela sabia que o namorado conseguiria vencer! Era o melhor cozinheiro de todos, ninguém poderia contra ele.

Magali recordou que era domingo à noite. Até mesmo a padoca estaria fechada. Correu de volta para casa, e após fechar a porta, foi em direção ao seu quarto, entrando e se trancando lá. Quim ficaria extremamente nervoso se ela aparecesse na casa dele uma hora daquelas, logo após de ele ter tido coragem de enviar um email daqueles.

Apressada, Magali digitou o número do telefone dele e aguardou. Chamou uma vez, duas, três, até que na quarta a morena deixou o aparelho no canto e abriu seu notebook. Quim retornaria em breve. Estaria ele treinando novas receitas? Ela poderia prová-las?

Nervosa, abriu o email pelo notebook e clicou no link. Começou a ler todas as informações com mais calma. Pelo que o site dizia, o ganhador, ou ganhadora, receberia uma bolsa de um ano para morar no país de sua preferência (dentre eles estavam Alemanha, Canadá, Itália, França, entre outros) e estudar gastronomia. Se o aluno ganhasse destaque durante esse ano, ele poderia terminar todo o curso, que demorava um total de cinco anos.

O celular de Magali começou a tocar e ela atendeu, digerindo as informações.

— Oi, Magá — disse a voz. – Tá tudo bem?

Naquele momento, a voz de Quim era a que Magali menos queria ouvir. Ele moraria longe durante todo esse tempo? O que era esse sentimento dentro dela? Por que não estava apenas feliz, como antes?

— Oi, Quim – respondeu ela. Magali percebeu que sua voz estava estranha e tentou parecer normal. – Estou muito bem, eu li o seu email.

— Ah, é sobre isso? — Magali sentiu como se Quim tivesse murchado. O que estava acontecendo? – O que foi?

— Eu acho uma ótima ideia, Quim! – Não era mentira. Ela realmente sentia.

— Você... você acha?— perguntou ele, com a voz ficando mais animada.

— É claro! – respondeu ela. De repente, percebeu que a pergunta era mais sobre se ele conseguiria, ou não. – Eu realmente acho que você vai conseguir ganhar, Quim.

— Sério mesmo?— Ele tornou a perguntar. Magali se perguntou se era considerada mentirosa. Ela precisava ficar reafirmando a mesma coisa trezentas vezes? – Eu pensei que, não sei, talvez fosse uma má ideia.

— Não pense assim. – pediu ela. – Eu acredito em você. – sussurrou ela. Era por isso que ela tinha tanto receio? De que ele fosse embora? O que estava acontecendo com ela? Não queria mais a felicidade de Quim?

— Se... se eu ganhasse... para onde será que a gente iria? — Ele questionou. Magali ficou surpresa. Como assim a gente?

— Ahn? A gente? – Ela devolveu. Olhou para a página de novo. Não estava escrito nada sobre acompanhantes.

— É claro, a gente. Achou que eu não te levaria para conhecer o mundo? — Magali ficou quieta por um tempo. – Eu sei que é muito recente, mas eu venho me preparando há meses para este concurso. Eu queria muito ganhar.— Ele abaixou o tom de voz. – Não, eu quero.

— Ah, Quim! – Magali queria abraçá-lo pelo telefone. O peso da culpa por uma parte dela não querer que ele ganhasse sumiu. – Vai dar tudo certo, eu confio em você.

— Obrigado, minha linda. Mas você não respondeu. Para onde nós iríamos? — perguntou ele.

— Não tem nada escrito aqui sobre acompanhante. – respondeu ela.

— Bem, para os inscritos tem. — retrucou. – Ou você realmente não quer ir?

Magali ficou quieta. Ela não queria, de jeito nenhum. Além do mais, parecia que os dois eram casados. Ela amava Quim, só que a vida dela era no Limoeiro. Não podia ir com seu namorado para outro país.

— Eu... eu... – Magali estava indecisa.

— Você...? — Quim esperou.

— Eu gostaria de ficar junto de você. – respondeu ela. – Mas sair do país não é uma boa ideia para mim, Quim.

— O quê? Você até já saiu do planeta com seus amigos, Magá — De repente, Quim parecia furioso. Ela sempre ficava nervosa quando Quim se estressava, pois ele mudava muito.

— É-é diferente – Ela tentou continuar.

— Como assim “diferente”? — Quim interrompeu. – Você gosta mais deles do que de mim, não é, Magá?

— N-não é verdade! – Magali agora queria abraçá-lo para que ele se acalmasse. – Não foi para mudar para algum lugar. Nós ainda somos jovens, Quim.

— Ah, é, né, Magali? Nada para mim. Até no nosso aniversário de namoro você me trocou por seus amiguinhos. Eu nunca fui de reclamar, mas para mim, chega. — Quim estava gritando. – Eu estou farto disso, Magali. Se algum dia você quiser parar de me colocar em segunda opção, me liga.

Tu... tu... tu...