Roda do Tempo escrita por Seto Scorpyos


Capítulo 8
Capítulo 8




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Quando a poeira e os gritos diminuíram, Harry percebeu que Draco estava num canto, ensanguentado, mas antes que fosse até ele, mendibruxos o cercaram e outros aurores chegaram. No meio da bagunça, o mago teve que usar toda a sua autoridade para controlar a própria equipe, que no momento da invasão, foi liderada por Finchmann, um membro do conselho com manias de grandeza. O homem vociferava ordens a torto e a direito, confundindo os aurores. Estes não esconderam o alívio ao ver Harry.

— Isolem o corredor para liberaram o pessoal que não está ferido. Deixem dois aurores para recolherem os testemunhos e então, os levem para uma sala. Precisam se sentar. – indicou um grupo perto da fonte – Leve-os para baixo, longe da destruição.

O homenzinho se virou pronto para briga, o rosto vermelho e congestionado, mas ao ver Harry parado atrás dele, os olhos verdes gelados encarando-o, capitulou e se afastou, resmungando.

O mago olhou em volta, passando a mão pelo cabelo cheio de pó. Sorriu largo ao ver um jovem de cabelos verdes do outro lado do salão. Teddy fez um gesto e indicou Draco com a cabeça, numa pergunta muda e Harry assentiu. O auror observou o afilhado se aproximar do loiro e habilmente, tirá-lo das mãos dos mendibruxos e dos curiosos bajuladores, levando-o diretamente para uma das lareiras ainda funcionando. Sem esse agravante nas mãos, o resto ia ser fácil.

 

— Como um grupo de oito atacantes invadiu o Ministério, senhor Potter?!?! – o homenzinho, Finchmann, já estava composto de novo e vociferava, apontando um dedo para o auror – Eu exijo saber como!

— Por favor, senhor Finch! – o ministro ergueu a mão, tentando parar o falatório – Todos estamos assustados e confusos, e perguntas devem ser respondidas, mas tenha calma!

— Eu exijo! – o outro reforçou, quase gritando.

Harry, parado ao lado da porta, suspirou e passou a mão pelo cabelo, bagunçando-o um pouco mais. Ainda estava sujo de terra, pó de azulejos e sangue, mas pelo jeito, não ia sair dali tão cedo.

— Harry, tem alguma ideia de como isso aconteceu? – o ministro perguntou, depois que todas as vozes diminuíram o volume.

O auror ignorou os olhares e encarou Shacklebolt, sério.

— Não. E para falar a verdade, não gosto muito da única alternativa que encontrei. – respondeu, seco.

— Que é...

— Em todas as entradas pela cabine, existem pelo menos dois seguranças para controlar o acesso. Não precisamos pensar em trouxas, porque não conseguem entrar aqui. Se seguir por aí, os bruxos que entraram, com a vassoura e tudo, passaram por pelo menos dois seguranças no corredor de acesso. – Harry elevou uma sobrancelha – E eu não gosto de como isso soa.

— Eles tem alguém aqui que facilitou a entrada. – o ministro concluiu, sombrio.

Houve uma explosão de protestos e acusações, mas Harry e o ministro simplesmente ignoraram, atentos um ao outro.

— E pelas lareiras? O salão é grande... – um membro do conselho ofereceu, suando profusamente.

— O salão estava cheio e um grupo com vassouras teria sido visto imediatamente. – Harry respondeu, afiado – Os corredores laterais são a melhor opção para entrarem sem serem vistos logo de cara.

— E como estão as investigações? – um homem perguntou, e Harry tentou saber de onde o conhecia – Estão investigando, não é?

— Mas se eles aparataram para sair, porque não podiam aparatar aqui dentro? – uma senhora perguntou, elegante apesar de estar coberta de poeira.

O olhar dela caiu sobre o chefe dos aurores.

— Os feitiços de proteção do Ministério dificultam a entrada de estranhos, mas uma vez aqui dentro, sair é fácil. – ele respondeu, devolvendo o olhar atento.

— Isso precisa ser mudado. – ela acrescentou, séria.

— Concordo, mas isso não é trabalho para os aurores. – o moreno continuou, ignorando os olhares fulminantes – Existe o grupo dos Inomináveis no ministério, eles são os responsáveis pelos feitiços usados na segurança.

— Como sabe sobre os Inomináveis? – a voz dela baixou um pouco, chocada.

— É um segredo absoluto do ministério, logo, todos sabem. – ele devolveu, irônico.

A confusão aumentou de novo e chegou a tal nível que o ministro teve que quase gritar para ser ouvido. Harry piscou, incrédulo, diante da enxurrada de acusações de incompetência do departamento em prever o ataque e depois, em garantir a segurança do ministério. O tom subiu e gritos raivosos acompanharam o auror quando finalmente deixou a sala.

 

Harry foi levado para uma sala de interrogatório e não chegou a esperar muito. Shacklebolt entrou, ladeado por dois magos. Ele não encarou o mago.

— O conselho acha que esta situação já chegou ao limite, Potter. – olhando para um ponto sobre o ombro de Harry, o ministro continuou – Vim pessoalmente informar que não é mais o chefe dos aurores e que deve deixar o ministério imediatamente. Esses senhores irão acompanhá-lo à sua sala para recolher seus itens pessoais e te levarão à saída.

Shacklebolt não esperou para se virar e sair apressadamente. 

— Sua varinha, senhor. – um dos homens estendeu a mão, aproximando-se.

Harry olhou a mão dele e ergueu uma sobrancelha. O homem arregalou os olhos e levou a mão estendida à garganta, respirando ruidosamente um momento depois. O outro homem olhou de um para o outro.

— Vamos direto ao ponto, aqui, cavalheiros. – o auror sorriu de leve, gelado – Não vou entregar minha varinha, apesar de ter me dado ao trabalho de demonstrar que não preciso tanto dela quanto os senhores das suas.

Sem esperar, Harry os tirou do caminho com um gesto de mão e saiu da sala, sem se apressar.

 

No corredor, percebeu que a notícia já tinha circulado por todo o ministério e fechou a cara diante da curiosidade. A demissão sumária de Harry fez com que os mesmos se enchessem de pessoas ávidas para testemunharem em primeira mão sua saída escoltada do ministério. Hilda ameaçou se rebelar.

— Mas senhor... – ela fulminou os dois magos, parados na porta ostensivamente.

— Não, Hilda. Isso ia acontecer de um jeito ou de outro. – o mago a acalmou – Não faça ou diga nada para não se encrencar por minha causa.

O mago apenas apanhou algumas cartas, que foram minuciosamente examinadas pelos dois guardas, provocando um olhar furioso da secretária. Assim que terminaram, devolveram os documentos e indicaram a porta.

— Vamos escoltá-lo até a saída. Ordens do conselho. – havia uma ponta de satisfação na voz do mago.

Harry olhou para a porta e sua expressão se fechou em pedra.

— Acha mesmo que vou atravessar os corredores e o salão cheio de gente apreciando o espetáculo? – perguntou, irônico.

— O ministro autorizou pessoalmente. – o outro mago acrescentou – Disse que podíamos usar a força...

O mago riu, divertido. – Vocês contra mim? Isso chega a ser um insulto!

Os dois se entreolharam, furiosos. Harry olhou Hilda, parada perto da porta com os olhos vermelhos. Ele piscou charmosamente antes de desaparecer num redemoinho de vento.

Hilda encarou os homens confusos e surpresos e não se conteve, gargalhou divertidamente.

— Esse é meu chefe! – riu, deliciada.

 

****************

 

— Estão fazendo um verdadeiro massacre! – Arkyn comentou, desgostoso, olhando o jornal como se fosse uma cobra venenosa.

Harry ergueu a caneca e deu de ombros, tranquilo.

— Alguém tem que ser culpado...

— Você realmente não se importa? – Tek perguntou, olhando-o assombrado.

— Não.

Os três encararam Harry e o mago se deixou avaliar.

— Uau! Eu não consigo ficar tão calmo. – Andreas comentou, antes de ajudar Tek a morder um sanduíche.

Depois de alguns minutos observando os dois, Arkyn não resistiu.

— O casamento vai bem?

— Porque você não morre? – Tek perguntou de volta, fulminando o outro com o olhar.

Passou um minuto antes que os quatro caíssem na risada.

— E agora, o que vamos fazer? – Arkyn perguntou, olhando os amigos em volta da mesa.

— Bem, posso me mover agora, nesta cadeira encantada. – Tek olhou para baixo - e tenho um elfo doméstico ótimo, o Moses. Agora que estou desempregado...

— Como assim desempregado? – Harry parou a caneca a centímetros da boca.

— O ministério me dispensou. Recebi a coruja ontem à noite. – Tek respondeu, calmo.

— Eu também. – Andreas completou, bebendo um pouco do chá.

— Eu entreguei minha demissão ontem. – Arkyn falou, encolhendo os ombros – E hoje recebi uma coruja da Hilda, me dizendo que fez a mesma coisa.

Harry encarou os amigos com a expressão séria.

— Vocês não precisavam fazer isso. – disse, baixo.

— Não que tivéssemos alguma escolha. – Arkyn respondeu, olhando da caneca à sua frente para Harry – Sabe que seríamos perseguidos e no fim, demitidos de um jeito ou de outro.

— Mas agora não temos como saber o que eles farão com a investigação. – Andreas comentou, balançando a cabeça – Se é que vão fazer alguma coisa.

— Isso tudo soa muito estranho... primeiro aquele ataque estranho à aldeia. Depois temos esses magos, que não parecem querer outra cabeça a não ser do Malfoy pai, mas nos atacaram com força e causaram morte e todo o resto... Dekell ainda está sumido. – Tek parou, pensativo – Se não fosse por atacar a nós, acharia que é mesmo só uma vingança contra os Malfoy. Mas então o ataque a nós, feroz e de surpresa, não teria precisado acontecer.

— A não ser que não fossem os mesmos magos. – Arkyn comentou, olhando os amigos – Quero dizer, o que nós temos? Disfarces! Qualquer mago poderia imitar aqueles mantos e nos atacar.

— O que acha, Harry? – Andreas perguntou, observando o outro atentamente.

— Ainda acho que estamos deixando passar alguma coisa... – respondeu, depois de alguns minutos – Temos que achar Dekell e descobrir por que estávamos no meio da confusão.

— Então concorda que podem não ser os mesmos bruxos? – Arkyn perguntou, atento.

— Concordo que não faz muito sentido. Dionisius não pareceu feliz em me atingir, mas aqueles que atacaram minha casa não tiveram nenhum tipo de preocupação. – o mago encarou os amigos – O que descobriram na investigação?

Antes que pudessem responder, um pequeno plopt soou e uma bolha rosa berrante apareceu no meio da área da sala. Arkyn arregalou os olhos.

— O que é isso?

— O jeito de Luna me avisar que alguém está me procurando. – Harry se ergueu e aparatou, voltando quase no segundo seguinte acompanhado por um jovem de cabelos verdes – Pessoal, esse é meu afilhado, Teddy Lupin.

Os ex-aurores o cumprimentaram e Teddy devolveu, um pouco sem jeito.

— Se estiver muito ocupado, padrinho... – disse, à guisa de desculpas.

— Tudo bem. É ótimo que esteja aqui. Como está sua avó? – o bruxo indicou uma cadeira e o jovem se sentou, perto de Tek.

— Ela está bem. Furiosa com meu pai como sempre, mas está bem. – o jovem olhou em volta – Malfoy não ficou satisfeito por ter sido tirado do ministério daquele jeito, mas no fim, pelo menos entendeu.

Harry o encarou. Teddy era dois anos mais velho que Thiago, e infinitamente mais maduro e centrado.

— Vamos aos relatórios. O que conseguiram? – perguntou, olhando os agentes.

Nenhum hesitou ante o rapaz de cabelos verdes.

— Na casa de Dekell não havia nada suspeito. Por causa da bagunça, não deu para saber se ele pegou roupas ou algo do tipo, mas não tinha nenhum documento ou objeto incriminador, e também não tinha nenhum traço de magia residual. – Andreas começou, sentando-se ao lado de Tek.

— Na casa de Janus também. E para piorar a esposa dele desapareceu depois do enterro. – Arkyn comentou, sério.

Harry elevou uma sobrancelha.

— Desapareceu?

— Sim. Nem o pessoal do ministério conseguiu encontrá-la para regularizar a pensão de viúva. Os pais disseram não saber para onde ela foi. – suspirou – Eles estavam confusos e nervosos, e eu não quis arriscar que fugissem se apertasse demais. Fiz um feitiço localizador neles e marquei o terreno da casa.

— Isso é estranho... – Tek comentou baixo – Mas ainda mais Mordred me visitando no meio da noite no hospital. Me encheu de perguntas sobre a investigação e sobre o que estava pensando, Harry. Eu estava meio dopado, mas acho que não disse nada de importante, porque ele ficou bravo e acabou chamando a atenção de uma enfermeira, que o expulsou.

— Você não contou isso para a gente... – Andreas repreendeu, alarmado – Como assim não conta uma coisa dessas para a gente? O que mais ele fez? Te deu algo?

Andreas, nervoso, se levantou. Arkyn também o fez e o levou a sentar-se novamente.

— Está assustando seu marido, cara! Acalme-se! – falou, sentando-se.

Pela primeira vez, nenhum dos dois reclamou da piada. Tek encarou o outro e balançou de leve a cabeça.

— Ia contar, mas com tudo acontecendo e vocês de um lado para outro... esperei até conseguirem pelo menos respirar. Estou contando agora e não, ele não me fez ou deu algo. A enfermeira chegou e o pôs para fora. Depois você chegou e como ficou comigo o tempo todo, acho que ele não teve mais chance de fazer nada.

— Eu cuido dele. – Arkyn acrescentou.

— Não. Eu e Teddy cuidaremos do Mordred. – Harry negou, a expressão tensa – Ele já me desafiou antes... e não ficou satisfeito quando cancelei a missão dele no norte. Não havia realmente nada no relatório para embasar uma tocaia, mas ele insistiu em ficar lá.

— Acha que ele pode estar envolvido? – Tek perguntou, curioso.

— Não faço ideia do que está acontecendo, mas não gosto do quadro geral. – com um suspiro, Harry encarou os agentes – Como vocês estão em dinheiro e segurança?

— Bem... Arkyn, se disser algo te mato e faço parecer um acidente estúpido... – Andreas começou, encarando o outro com a testa franzida. O citado riu e ergueu as mãos em rendição – Eu e Tek estamos juntos. Deixamos nossos apartamentos e reforçamos o atual com feitiços de proteção, silêncio e aviso. Fora isso, como fica em uma área portuária na Londres trouxa, acho que estamos seguros.

— E dinheiro? – Harry perguntou, ignorando as caras e bocas de Arkyn.

— Temos o bastante. Além de Gringotes, tenho algo em casa e também guardei um pouco em outro lugar, com alguns itens caso seja necessário. – Tek respondeu – Andreas achou a ideia boa e fez a mesma coisa.

— O amor é lindo...

Arkyn se escondeu atrás de Teddy quando Andreas se levantou, furioso. Apesar do momento tenso, Harry e Teddy riram.

— Deixem os dois, e além disso, é uma boa ideia. Se precisarmos fugir ou algo assim, teremos recursos para reagir ao que quer que seja. Faça isso também Arkyn.

— Ok, chefe. – apesar de sair detrás do Teddy, não se aproximou dos dois colegas, que o fulminaram com o olhar.

— Não disse nada, Teddy... o que acha? – Harry perguntou, depois de alguns minutos.

— Ainda estou processando o fato de não ter sido mandado para o quarto ou algo assim, e que estou numa reunião de aurores poderosos combatendo algo sombrio e perigoso. Não fui tratado como criança e ainda vou lidar com o bandido. – respondeu, sincero. Harry o encarou e então, o jovem sorriu. – Obrigado pela confiança, padrinho.

— Nem me passou pela cabeça que você não ia ajudar. Sério, nem pensei nisso. – o ex-auror afirmou, encolhendo os ombros – Sempre preciso da sua ajuda, sabe disso.

— Bom... pelo que eu ouvi e vi naquele dia, temos um problema com duas frentes. Um grupo que quer a cabeça do Malfoy e uma invasão no departamento de aurores do ministério. – o jovem respirou fundo e inclinou a cabeça – Quando se infiltraram no ministério, quantos são e quais são seus objetivos? Vocês citaram três até agora: Janus, Dekell e Mordred, mas ainda temos que definir o papel de cada um. Tem o ataque à sua casa, padrinho... e também ao ministério, que só pode ser feito com a ajuda de alguém de dentro.

Harry sorriu de leve com a sagacidade do jovem, sintetizando as dúvidas do caso. Arkyn o encarou com surpresa.

— Parece um auror falando...

— Não conhece minha avó.  – Teddy rebateu – e também meu padrinho. Observo muito os dois, que são minhas referências. Bom... temos que invadir o ministério e conseguir cópias das fichas desses três e verificar com quem mais estão associados. Podemos começar daí e investigar o que andaram fazendo nos últimos meses. Se tiver um elo de ligação com o grupo do Malfoy, então teremos uma chance de saber os motivos. Concorda... chefe?

Harry encarou o jovem pensativamente.

— Concordo, depois que fizermos um feitiço de ligação e eu fizer todos os feitiços de proteção pessoal que conheço. Além disso, iremos até a sua avó e colocaremos também feitiços de proteção e aviso tanto nela quanto na casa. – o olhar do auror se tornou velado – Não quero que se arrisque, Teddy.

O jovem sorriu de leve.

— Não vou me arriscar, padrinho, mas sabe que isso não depende de você, não é?

— Sem contar que Victorie vai arrancar minha cabeça se algo acontecer com você. – o mago elevou uma sobrancelha – Ela sabe que está aqui, comigo?

— Sabe... e também sobre todo o resto... – o jovem balançou a cabeça diante da expressão tensa de Harry  – É uma família francesa, padrinho. Eles não ligam muito para convenções.

— E quando invadiremos o ministério? – Arkyn perguntou, aproveitando o silêncio que se seguiu.

— Temos que pensar bem nisso. – Harry respirou fundo e bagunçou o cabelo já desarrumado – Bem, tenho algumas coisas para fazer sem relação ss investigações... e também precisamos decidir o que faremos, se seguimos com isso ou deixaremos o ministério tomar conta e resolver.... – olhando os outros presentes, suspirou – Tenho também algumas questões sobre Dionisius... Preciso organizar tudo para passar a vocês... se decidirmos continuar daqui. Podemos pensar sobre isso e nos reunimos daqui a uma semana... o que acham?

— Não acha muito tempo para ficarmos fora do jogo? – Arkyn perguntou, com a testa franzida.

— Não. Já estamos fora do jogo e com muitas questões para pensar. – Tek respondeu por Harry, sério – Harry está certo. Temos que avaliar com muito cuidado tudo o que faremos de agora em diante. Somos bons, e não estamos mais presos à burocracia. Isso é bom, mas por outro lado, perdemos o apoio oficial e para ser sincero, não estou muito inclinado a arriscar minha vida pelos Malfoy, ainda mais se for acerto de contas.

— E não tem só isso. O ministério está nos atacando sobre a invasão, e não quero nem vou deixar isso assim. – Andreas acrescentou, olhando de um para outro – Não quero ficar marcado como o auror incompetente que deixou o ministério ser invadido.

— Eu também não quero isso. Já passei por algo assim e é muito ruim. – Harry soou sombrio – Uma semana. E então resolvemos.

Sem dar a chance de mais argumentos, Harry se levantou e como um sinal, os outros se despediram e foram aparatando. O auror esperou alguns minutos e antes que Teddy abrisse a boca para fazer qualquer comentário, segurou o braço dele e aparatou.

 

O jovem sacudiu a cabeça, apoiando-se no padrinho.

— Da próxima, me avisa. – reclamou, sem estar realmente zangado. Olhando em volta, viu destruição – Onde estamos?

— Aqui era minha casa. E quero que volte a ser. – o mago olhou para cima e respirou a noite e a névoa que começava a cair – Vamos restaurar e reforçar. Tire sua varinha.

Teddy ficou alguns minutos parado, espantado com Harry restaurando a casa com gestos de mãos, sem palavras ou varinha.

— Não vai ajudar? – o auror perguntou, notando o jovem parado – Faça feitiços de segurança e disfarce desde a calçada. Vamos usar o mesmo feitiço de ilusão da casa dos meus pais, sabe qual é?

O jovem puxou a varinha e engoliu seco diante da situação.

— Sim... ouvi falar mas nunca executei... e se não fizer direito? – perguntou, preocupado.

— Não falhará.

Harry deu as costas e voltou a restaurar a casa, mudando os quartos de dois para quatro e construindo de pedra em vez de madeira. Ouviu o jovem murmurar atrás dele e sorriu de leve. Juntos, criaram um escudo anti aparatação e uma névoa desfazedora de feitiços permanente em todo o jardim até o começo do bosque.

— Faremos o feitiço fiel? – Teddy perguntou, ofegante de cansaço.

— Não. Conheço um melhor.

O jovem se sentou na borda da pequena fonte de pedra e observou o padrinho invocar magia em forma de raios, que cobriram e pareceram eletrificar todo o escudo de proteção. Os raios brilharam coloridos até que se uniram num tom azul bem forte e então, desapareceram. O esforço exauriu, Harry, que quase caiu e Teddy se apressou a ampará-lo.

— Padrinho! – ajudou-o a se sentar e se preocupou com a palidez do ex-auror.

— Estou exausto...  mas ainda não terminamos...

Finalmente puxou a varinha e segurou o pulso do afilhado. Com a ponta, desenhou um pequeno corvo de asas abertas, que brilhou e desapareceu na pele.

— Essa é a chave do feitiço. Quem tiver uma dessas, tem livre trânsito para entrar e sair. – explicou, baixinho – Só eu posso fazer essa marca e não se pode transferir ou tentar copiar.

— Como a marca negra. – Teddy comentou, sério.

— Sim. O feitiço é o mesmo. – Harry respirou fundo e se levantou – Serve também como sinal de perigo e comunicação. Podemos estar sempre em contato através da marca.

— Me sinto estranho usando um feitiço das trevas. – o jovem comentou, esfregando o pulso.

Harry se virou e o encarou.

— Vai aprender, assim como eu o fiz, que existem feitiços das trevas muito úteis. – diante do olhar espantado, sorriu de leve – Não todos, claro, mas alguns. E não tenho vergonha de dizer que, às vezes, me arrependo um pouco de não ter aceitado a Sonserina.

Teddy encarou o padrinho com os olhos arregalados. Harry sorriu e encolheu os ombros.

— Vem, vamos ver como ficou por dentro.

A pequena casa, agora com dois andares completos, estava quase do mesmo jeito de antes.

— De onde virão os móveis? – o jovem perguntou, olhando a lareira – Minha avó tem alguns que não usa... mas são do modelo antigo.

Harry o encarou por alguns minutos. – Bem, podemos ver o que tem lá que podemos aproveitar e comprar o resto amanhã... tenho que comprar roupas e coisas novas, mesmo.

O estilo austero e antigo dos móveis fez os dois magos rirem, divertidos.

— Pelo menos a madeira é sólida e combina com as pedras da parede... – Teddy comentou, ainda sorrindo.

O ex-auror franziu a testa diante da poltrona enorme e confortável, mas decorada com tecido bordado dourado.

— Muito másculo!

Teddy arregalou os olhos e caiu na gargalhada, tendo que segurar a barriga e se desequilibrando no processo. Caiu com tudo no tapete enorme e macio e gargalhou mais. Harry o observou sorrindo e balançou a cabeça.

— Não posso dizer que não combina conosco...

A cozinha ficou desguarnecida e ambos, exaustos, decidiram deixar para o dia seguinte. Teddy voltou à casa de Luna para pegar as mochilas e Harry se sentou no degrau da entrada, recostando-se nas pedras frias, olhando o céu escuro.

Seus pensamentos se descontrolaram e ele fez um esforço para mantê-los em foco.

— Coisas demais, mesmo... – murmurou, baixando os olhos ao ouvir o plopt característico.

 

********

 

Tanto na Londres trouxa quanto no Beco diagonal Harry e Teddy chamaram a atenção. O ex-auror, já acostumado, simplesmente ignorou, mas o jovem se mostrou claramente desconfortável.

— Não tem que ir a Gringotes? – o último perguntou, curioso.

— Ainda não.

Harry comprou tudo o que faltou e, usando magia, mandou as caixas para casa usando um feitiço de vórtice desconhecido para Teddy. Quando foram comprar as roupas, o jovem estiloso conseguiu que Harry comprasse coisas mais modernas para usar, apesar deste insistir que queria coisas básicas e práticas.

Almoçaram no Caldeirão Furado e pela tarde, Teddy quase não conseguiu acompanhar o padrinho indo para cima e para baixo no Beco Diagonal e na Travessa do Tranco, parar horror do jovem.

— Mas por que aqui? E se alguém nos vir? – já com os bolsos cheios de pacotes diminutos de ervas, utensílios para poções e toda a sorte de coisas, o rapaz olhava de um lado para outro.

— Eu nos disfarcei há horas, Teddy. Está paranoico! – o mago parou e o encarou, sério – Tem alguns ingredientes para poções que não vou encontrar em outro lugar. E aqui nem tem tudo o que eu quero e preciso!

Com um gesto exasperado, entrou numa loja suspeita e Teddy, sem escolha, foi atrás. Apesar da apreensão, não conseguiu deixar de ficar pasmo ao ouvi-lo pedir por coisas que nunca ouviu falar antes. Era óbvio o conhecimento e a experiência do padrinho com aquelas coisas.

— Por Merlin! Isso é assustador! – comentou, quando saíram de uma loja com itens mais que suspeitos nos bolsos.

Harry o puxou para um canto e o encarou.

— Teddy, se continuar a agir assim, não consigo fazer o que decidi assim que te vi no grande salão no ministério. – explicou, um pouco irritado – Pensei em passar para você tudo o que aprendi nos últimos tempos e pedir que fique a meu lado, trabalhando comigo... mas com sua clara aversão... eu não sei... estou perdendo a coragem... Se age assim e nem sabe o bem que esses itens pode nos trazer, como será sua reação quando eu te mostrar apenas uma parte do que posso fazer? Vai me olhar como se eu fosse um monstro, como todos os outros?

Teddy o encarou de volta, surpreso. – Padrinho?

— Tiago e Alvo não são opções para mim e Lílian nem se fala... eu pensei que talvez... – parou e respirou fundo, os olhos verdes faiscantes ainda fixos no jovem – Deixa para lá.

Sem esperar, se virou e subiu a ladeira, obrigando Teddy a correr para alcançá-lo. No resto do caminho e das compras, feitas no Beco de novo, Harry não voltou a falar.

 

Já em casa, depois de montarem tudo o que compraram, Harry entrou na sala lateral, invocando uma grande mesa abandonada do celeiro de Luna e algumas cadeiras tortas e estragadas, que consertou com um aceno de mão. Cuidadosamente, colocou a caixinha amarela no meio da mesa e retirou as proteções. A caixa foi se tornando maior e maior, até que ficou do tamanho de uma arca grande. Fez o mesmo com a caixa de ervas e sorriu ao ver que boa parte dos itens raros foram salvos do incêndio.

Teddy colocou a cabeça para dentro.

— Vamos jantar... – chamou, ainda envergonhado por causa da conversa na tarde – Uau!

Harry o seguiu e quando estavam sentados já servidos, do nada começou a contar a Teddy tudo o que fez e viveu nos meses em que ficou longe. O jovem esqueceu completamente o jantar e teve que ser instado pelo padrinho. O ex-auror não escondeu nenhum detalhe.

— E acha que a mãe de Dionísius é a ex esposa do seu amigo? – o jovem balançou a cabeça – Mas claro que deve ser a mesma! Por Merlin! Que incrível!

O mago terminou o suco de abóbora e se levantou com o prato vazio. Teddy se apressou e juntos, limparam a cozinha.

— Vai contar a eles sobre isso? – depois de alguns minutos de silêncio, o jovem não se conteve.

— Não. Penso que Urick não importa no que está acontecendo e no fim... acho que você vai ser a única pessoa a saber o que fiz e o que passei nesses meses em que fiquei longe. – terminando a louça, o mago deu de ombros – Tudo foi muito importante para mim, tanto pessoal quanto profissionalmente. Não quero dividir com mais ninguém que possa usar contra mim depois. Confio em você.

Teddy se sentiu ainda mais envergonhado. – Desculpe, padrinho... me excedi hoje à tarde...

— Eu também já fui assim, mas aprendi a não ver tudo preto ou branco, Teddy. Um pouco tarde, eu sei, mas você ainda está em tempo de rever seus conceitos. – Harry não pareceu bravo – Eu podia ter sido um auror melhor se soubesse um pouco mais sobre as coisas. Não é só correr através de uma porta só porque está aberta e o bandido está do outro lado. De repente, colocar fogo na casa e fazê-lo sair para evitar uma armadilha e algumas mortes vale mais.

Surpreso com o argumento nada convencional, Teddy sorriu.

 

No quarto transformado em biblioteca e laboratório, Teddy ajudou Harry a reorganizar os itens de poções e ficou maravilhado com os livros de feitiços, principalmente o que o próprio Harry compilou. O mago o deixou lendo enquanto começava as poções que Tek precisava e outras, de cura, antídotos contra venenos e poções revigorantes. No meio da noite, vários caldeirões fumegavam e havia vários frascos já completos com as poções que não iam ao fogo. O jovem, à certa altura, deixou o livro e observou, pasmo, o padrinho preparar as poções sem consultar a receita e usar os ingredientes sem balança ou medidas. Olhando os frascos já prontos e enfileirados, não teve dúvida de que estavam certos.

— Ouvi que era horrível em poções... – comentou, observando o mais velho etiquetar e diminuir os frascos, guardando-os numa caixinha forrada com veludo.

— E eu era... – Harry sorriu, mexendo o pescoço – Coitado do professor Snape... – atento, mexeu um caldeirão e então, encantou os outros.

— Você quase não usa a varinha... como consegue? – perguntou, impressionado.

— A varinha concentra e direciona a magia para o alvo que queremos. Não é o que preciso aqui, não acha? – virando-se para o jovem, aproximou-se e invocou uma névoa rosa molhada – Penso que a varinha é essencial apenas para magia ofensiva... quando você tem um alvo específico que precisa atingir com força. – a névoa aumentou e fez uma parede na frente do corpo de Harry – A magia defensiva funciona melhor com as mãos livres, quando pode invocar um escudo ou espalhar um círculo protetor ao seu redor ou de outros.

Teddy fechou o livro e saltou da mesa, testando a parede rosa de defesa.

— Não parece muito poderosa, mas é sólida. – constatou, surpreso.

— Não inspira muito respeito porque é rosa, mas no fim, pode ser uma vantagem se o oponente achar que é medíocre. Ele não vai conseguir passar a não ser com uma imperdoável. – o ex-auror deu uma piscadinha marota.

Pelo resto da noite, enquanto as poções fumegavam, Harry ensinou várias magias sem varinha para Teddy, que apesar da dedicação, demonstrou muita dificuldade em se concentrar o suficiente para fazer a invocação da magia sem a varinha para ajudar. O céu já estava clareando quando o mago  obrigou o jovem a ir dormir, ele mesmo exausto.

Pela segunda noite na casa nova, Harry não conseguiu dormir e o sol o surpreendeu sentado na varanda, uma caneca de café na mão e o olhar perdido na névoa que subia.


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