Piso, rítmica e nervosamente, no chão de granito. Checo o relógio: 14:00. Suspiro aliviada. Meia hora de antecedência. Se pontualidade fosse exigência de contrato eu ganharia de lavada.

O local é lindo. Decoração minimalista, bem clean, sofás de couro negro a direita, maquinas de café e doces de alta elegância a esquerda. Um lustre gigantesco, totalmente composto de cristais  Swarovski flutuava ao centro da sala, pairando sobre as cabeças que passavam apressadas ali. Ao olhar aquilo tudo que passava na minha cabeça era que Deus me livre daquilo cair na cabeça de alguém. O balcão de atendimento era totalmente feito de vidro e os atendentes estavam vestidos da forma mais graciosa e cheia de classe possível. 

Me vi do pescoço pra baixo no espelho do balcão. Estava bem.

Saia lápis preta, blusa social azul clara por fora da saia, com um cinto de laço preso a cintura, blazer azul marinho jogado por cima dos ombros, bolsa de couro bege, saltos de salto 10 cm meia pata combinando com a bolsa. Óculos escuros, rabo de cavalo baixo jogado por cima do ombro direito, maquiagem neutra. Completamente adequada a situação.

— Bom dia. Ah, me chamo Estrella Mendes,  vim  falar com Joy Amelie, pode por favor avisa-la. — Digo  atendente que sorri e pede um segundo.

Ela é bem dócil. Cabelos negros logos e semi- presos, pele quase albina e lábio rosados. Daria um ótima Branca de neve. Noto um broche de pérolas em formato de mini-rosas.

— Ela está vindo. — Diz e eu agradeço.

Alias a dama cujo os cabelos se comparam a arco-iris chega minutos depois. Com um vestido candy de botões, com estampa de flores caindo e se acumulando na barra da saia, sapatilhas preta e cabelos entrançados realçando a(s) core(s) do mesmo.

— Nossa, você é pontual, gostei. Alias,  por que você parece mais adulta que eu?  — Rio com a ultima frase. Joy é mulher com alma de menina, gosto disso. Sou o extremo oposto afinal.

— Joy, quantas primaveras? — Pergunto seguindo-a pelo salão.

— Na coreia ou aqui? —  Lanço um olhar de "O que você acha?" e ela ri alto.  —  Na Coreia são 22, no Brasil, 21.

— Ah, então você é minha Unnie. Tenho 19 faço 20 em setembro.  —  Ela congela  me encarando.

— Pera. Mas você não já terminou a faculdade? —  Assinto. —  Como se você só tem 19? 

—  Ah bem eu terminei o colégio com 16 por que comecei cedo e pulei serie, Meu curso dura quatro anos, mas como peguei o intercambio pulei algumas cadeiras e terminei em três anos. Você sabe, graduação sanduíche.

—  Ai Deus, com 19 essa criança fez mais do que eu em uma vida inteira... —  Rio com a reação dela. Paramos enfrente ao quarto com letras prateadas formando "Royal suíte 149".  —  Bem chegamos. Faremos assim, você vai entrar e conhecer os meninos, cada um vai te dar uma situação e você vai criar algo adequado com as peças disponíveis se a maioria aprovar está contratada. Entendido? —  Confirmo. —  Não fique nervosa, fale em inglês e qual quer coisa eu traduzo pro coreano.

Meneio a cabeça confirmando

Ela  abre as portas de uma madeira escura, mogno talvez, dando entrada pro quarto que facilmente poderia ser um apartamento. A minha frente uma sala americana azul celeste, a minha esquerda, um sofá em L se estendendo pela parede, uma porta de vidro do tipo chão-ao-teto recoberta por uma cortina fina e bege, provavelmente ligada a uma varanda, ficava ao fundo da sala, há também um painel segurando um TV3D frente aos sofás e ao balcão de mármore negro, rodeado por bancos sem encosto, indicando o começo da mini-copa de madeira. Também notei algumas portas a minha direita.

O local era uma mescla do rustido e minimalismo moderno. Amaria viver ali.

 Me apresento num coreano meia boca, aprendido depois de vários videos, k-dramas, além de toneladas de músicas, com uma breve reverencia. Silêncio.

Ergo os olhos. O maknae e o charme do BTS estão em um canto competindo no Piano Tiles, V e J-Hope brincam de algo no video-game, sem despregar os olhos da Tv, NamJoon vê algo no celular com uma cara estranha, talvez a prox coreografia? Jin está na cozinha, comendo algo em um pote, pera... é pudim de chocolate? Demais para minha cabeça. Por fim Suga está desmaiado em um sofá. — Foi comprovado, os bangatan bomb's não mentem! BTS é viciado em celular, Jin vive comendo  e Suga é um coala.

Joy Pigarreia. Nada. Ela repete o ato.  Os únicos sons são os dos roncos de Suga, jogos dos meninos e a mastigação de Jin. 

—  Posso tentar algo? —  Joy assente. — Como se diz "Carne grátis a vontade" em coreano? — Ela sorri e sussurra a resposta.— GOGI MULYO UIJI! — Berro com todas as forças. Na mesma hora os meninos se entreolham e pulam dos lugares onde estavam correndo até nós feito gazelas. —  J-Hope principalmente.

 — Oh, agora vocês ouvem? —  Ela diz em inglês.                                    

(Ah, um avisinho da Estrella aos leitores: todos os diálogos a segui serão em coreano ou inglês, traduzidos por mim ou pela Joy, então não se iludam  por que a vida não é novela da globo onde todo mundo fala português!)

— Noonaa! Cadê a carne? São espetinhos de carneiro? — JungKook pergunta, pulando feito pipoca. Pera é comigo? Ele assente parecendo adivinhar meus pensamentos.

Ele é inocente a esse ponto? Realmente é um menino em corpo de homem. Antes que eu responda Joy interrompe.

— Que espetinho de carneiro o que maknae! — Ela lhe dá um micro tapa na nuca e ele reclama. —  Lembram que eu falei da candidata a Stylist? Conheçam Estrella Mendes. — Joy fala e os meninos fazem uma cara de “ Ah..." 
Repito a apresentação,  e eles fazem a tipica apresentação dos membros.

— Sou Jin. O cara bonito do grupo. — Jin me cumprimenta.

— Prazer Jin. Ah, um segundo. — Pego uma caixa com vários vidrinhos dentro.  — Sei que você gosta muito de gastronomia então aqui são algumas iguarias brasileiras. Aqui são brigadeiros, aqui pães de queijo, aqui é feijoada e aqui cuscuz. Pães de queijo são tradicionais do Sul, cuscuz do nordeste, ou seja essa parte do país, e os outros dois são do Brasil inteiro. — Digo apontando pra cada um dos vidros. Jin arregala os olhos pra comida meio abismado e lambe os lábios.

— Você que fez? — Assinto. Ele pega um dos brigadeiros. Sua expressão é de puro deleite. — Joy Noona! Gostei dela!

Rio com  aquilo. Jin é realmente um doce de pessoa

— Annyong, sou Suga. — Suga. Caloroso como um cubo de gelo. O cumprimento de volta.

— Olá de novo! — Rapmon diz e eu sorrio ao notar que ele usa uma das roupas que montei. Ele sorri de volta exibindo as covinhas.

— Ah, foi você que fez o Hyung ficar arrumado! Prazer J-Hope! A Esperança do grupo! — Diz Hope. Fazendo uma dança estranha que lembra o frevo.

— Prazer J-Hope! Já viu um estilo de dança chamado frevo? É muito parecido com o que você fez agora...

— Serio? Vou procurar agora! — Diz e saca o celular indo pra um canto.

— HI! IM V! NICE MEET YOU!  — Taehyung fala e eu não consigo evitar o pensamento de que ele memorizou essas duas linhas.

— Nice meet you too.  — ele sorri e passo para o proximo.

— Oi. Sou o golden maknae, Jungkook.— O moreno fala, com as bochechas coradas, num inglês arrastado com uma pequena reverencia.

— Olá, maknae! Uh, cadê o Jimin? — Pergunto e só então o resto do grupo dá por falta do anão.

— Jin também sumiu... — Namjoon comenta. Weird

— Eles tão na cozinha. — J-Hope comenta distraído. Ele segura um guarda-chuva pequeno na mão e encara o celular.

É impressão minha ou ele tá aprendendo o frevo?

Um silêncio cortante cai sobre a sala. Os meninos se entreolham, olham pra Joy, pra mim e voltam a se encarar.

— COMIDA! — Gritam e saem correndo. Encaro Joy esperando respostas.

— Até parece que você não é A.R.M.Y. Quem são os passa-fome do BTS? — Diz com uma sobrancelha erguida.

— Todos eles?

Na copa, os meninos gritam uns com os outros numa algazarra geral. Jin protege os brigadeiros com os braços e Jimin faz o mesmo com os pães de queijo. A feijoada e o cuscuz a muito se foram, destes restam somente os potes vazios.

E eu me perguntando como era possível, o Jin comer tanto, em tão pouco tempo, nos Eat Jin.

— Hyung, você não é o mais velho? Devia dividir! E o exemplo? — V reclama feito uma criança.

— Do Hyung até eu imaginava mas de você Jimin?... — Rap Monster diz e Jin junto a Jimin soltam um Yah! mostrando sua indignação com o comentário.

— Feio. Muito feio! — Hope diz e Jungkook acena em concordância.

Jin apenas leva os brigadeiros a boca com a direita e protege os restante com a esquerda, há certa implicância no gesto. Já Jimin deixa as bochechas inchadas como as de um esquilo, mastigando lentamente os pães de queijo, como se quisesse causar o máximo de raiva aos Hyungs.

Não contenho a gargalhada.

Todos se voltam pra mim. O ruivo para a comida a caminho da boca, a "no-dance-line" do grupo cala-se no meio de uma discussão, Suga franze o cenho, Jungkook, J-Hope, e V pendem a cabeça para a direita de um jeito tão adoravel que até parece que são uns anjos.

— Desculpe, achava que as zonas nos videos eram apenas dos vídeos.

— Ah... então a Noona é A.R.M.Y? — Jungkook pergunta agora pendendo a cabeça para a esquerda, os outros dois fazem o mesmo.

Quero coloca-los num potinho.

— Primeiro: Tenho 19, isso quer dizer que não sou Noona de nenhum de vocês. Segundo: sim, já faz... seis meses? Um ano talvez. Sim... Isso quer dizer que sei as preferências individuais de cada um, o que me faz apta a ser sua Stylist.

— Mas... Joy Noona disse que você fez faculdade. — Diz o caçula.

— E fos Estatus Unitos! — Um Jimin com a boca cheia de Pães de queijo completa.

Repito a explicação dada a Joy.

— Oh, quer dizer, que a No... você é... um prodígio?  —  Pergunta J-hope parecendo curioso enquanto me indica uma cadeira.  Parecendo não, ele é curioso. 

— Não exatamente... —  Digo e me sento no local mostrado. —  Apenas o sistema de ensino que é diferente. Quando eu comecei a estudar, entre o que vocês chamam de primário e secundário, havia uma serie focada apenas em ensinar a ler e escrever, a chamada Alfabetização, no entanto no ano que eu deveria entrar nela, ela foi abolida, então eu a fiz  e pulei o primeiro ano do secundário. Sacou? — Todos assentem. —  Seguindo essa ordem terminei o colégio com 16 e fui pra faculdade, adiantei cadeiras e... BINGO! Formada em moda. Enquanto eu estudava eu vendia meus trabalhos mais legais, consegui certa quantia com isso e o dinheiro virou a T.N.S —  Concluo e eles me olham abismados. Não sou um gênio! Apenas estudei muito. 

— Bem... Vamos ao teste? —  Joy interrompe. E os sete voltam a confusão de antes, gritando e reclamando os doces.

Céus desse jeito arrumo enxaqueca, não emprego.

Vasculho a bolsa. Bingo! O apito que uso por ordem na creche que são as reuniões de família.

— Vou contar até três, se não calarem a boca medidas serão tomadas. 1... —  Joy grita feito louca tentando acalmar a zona. —  2... —  Elevo um pouco mais a voz. Nada além de um caos de cacofonias, onomatopeias  e interjeições. — 3... —  A zona permanece. Respiro fundo pegando o máximo de ar, levo o apito em forma de tartaruga aos lábios e assopro com todas as forças.  Agora os únicos sons são do apito e dos meninos tapando os ouvidos. 

— OH MEU DEUS! EU PRECISO DESSE TROÇO! ONDE VOCÊ COMPROU? —  Joy pergunta dando pulos. Sorrio.

—  Aqui,fica, eu tenho dois. — Entrego um dos apitos para ela e a mesma esboça um sorriso parecido com o do smiggle. A cara de medo dos rapazes a frente é cômica. Bem, pelo menos agora muitas brigas serão controladas. —   Vamos? —   Pergunto e os setes rapazes e a dama-cujo-o-sorriso-lembra-o-smiggle me seguem. —  Okay... Joy me explicou como vai ser a entrevista. Só preciso saber três coisas: O que se negam até a morte a usar, onde estão suas coisas e para que tenho que arruma-los. Quem é a primeira vitima? 

— Moonie, que tal você, hã!? —  Jin, que ainda segura  os brigadeiros, sugere e Tae completa com um: "Isso mesmo! O líder primeiro!" rio com a confusão, eles discutem por tudo.

— Por mim ela já tá aprovada. —  Ele solta uma piscadela. — Que tal você, ah Pink Princess?  —  Mon completa com certa ironia na frase.

É IMPRESSÃO MINHA OU O JIN TÁ VERMELHO? 

— Eu já disse... QUE EU NÃO GOSTO DESSE APELIDO ENTÃO POR QUE VOCÊS CONTINUAM ME CHAMANDO? APOSTO QUE É SÓ PRA CAUSAR RAIVA. WAE?WAE?WAE?

Alarme falso. Era só vontade de matar mesmo.

  — Certo. Certo hyung. Parei.

— Então. Se acusem. Quem vai?