Para Ter Você (Divergente) escrita por Giovannabrigidofic


Capítulo 8
Capítulo 7: Casa nova, vida nova


Notas iniciais do capítulo

Hello ♥
Sem delongas, obrigada pelos comentários e boa leitura



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Ao contrário de muitos, eu não tenho medo nem pavor de hospitais. Sempre achei agradável o cheiro de álcool circulando pelos corredores e do branco e azul misturados, do silêncio apenas quebrado com o falecimento de alguém ou com os gritos de euforia que alguém ecoava quando uma criança vinha ao mundo.

Hospitais remetiam á minha infância, ás vezes que Will me obrigava a brincar de médico com seus aparelhos de plástico, Caleb era o doutor, William indiscutivelmente era o cirurgião e eu, a cobaia que tinha de engolir suas misturas nojentas de pasta de amendoim, sopa de pepinos e o que mais estivesse na geladeira.

Sabia que eles brincavam para lembrar de nosso pai, um enfermeiro. Meus irmãos mais velhos tinham tido a chance de vê-lo atuando, sorrindo toda a vez que conseguia dar injeção numa criança e ela não berrar. Eles também tinham tido curativos postos diretamente das mãos dele e uma porção de coisas que, ao menos Will, guardava em seu quarto da casa em Chicago. Nenhum de nós seguiu a carreira, embora nossos distantes avós paternos tivessem um legado no ramo da medicina.

Eu porque tinha encontrado na Administração o meu refúgio, Will abandonou tudo pela paixão de ensinar geografia e Caleb era ambicioso demais para ter como emprego "apenas um cargo alto do hospital". Ele queria mais e isso o tinha afastado do que realmente importava: seus sonhos.

O cheiro de éter me trouxe á realidade instantaneamente. Meus olhos estavam semicerrados por causa da claridade, mas eu tinha compreendido que estava num quarto hospitalar. Apenas a razão não era muito nítida.

Porque eu gosto de hospitais e odeio a razão de pôr os pés neles. Daquela vez, não era diferente.

A primeira coisa que passou pela minha cabeça foi ter sido atropelada, depois, pensei em ter desmaiado por causa do... Bebê! Ligeira, levei a mão á barriga. O medo que tinha voltado e eu não encontrara razão para estar com os olhos marejados, de estar sentindo tudo cair de profunda agonia estar me dilacerando. Eu precisava dele. Tia Joh dependia dele.

Eu estava ofegante e desesperada quando a porta se abriu.

— Você acordou - Tobias caminhou até mim, aliviado.

— O bebê - o que saiu foi algo rouco e não audível. - Como está o bebê? - inquiri novamente, mais alto.

Ele sentou na cadeira ao lado do leito e suspirou.

— Não se preocupe, está bem? Como está se sentindo?

Balancei a cabeça.

— O bebê.

Meus olhos estavam ardendo.

Ele engoliu em seco e apertou minha mão, levantou-se e fechou a porta atrás de si. Meus dedos começaram instintivamente a formigar.

Pensei que ele me deixaria naquele estado sozinha e sem notícias, entretanto, uns cinco minutos após sua saída ele estava ao meu lado, de braços cruzados, também ouvindo o que o doutor Mattew dizia.

— Você sofreu uma ameaça aborto, senhorita Prior. O aborto é uma ocasião relativamente comum, mas não fácil de lidar. Ter chegado ao hospital á tempo foi essencial, quase não conseguimos salvar o bebê. Você é jovem e saudável, pelos exames não encontramos nenhum fator de risco a não ser uma possível anemia, que precisa ser tratada e merece uma atenção redobrada principalmente nos primeiros meses. Poderia me responder algumas perguntas?

Assenti.

— Sentia dores nas últimas duas semanas? Cólicas, dores na lombar ou região pélvica?

— Cólica. Quase todos os dias.

— Tem conhecimento de alguma complicação na gestação em sua família?

Apertei meus olhos, procurando em minha mente algo que fosse contrário ao que a minha boca dizia.

— Sou irmã de gêmeos e apesar da minha família não ser grande... acho que não tenho nenhuma doença hereditária ou algo do tipo. 

 

— Teve sangramento?

— Apenas duas vezes, mas é normal, eu mesma lhe perguntei.

Ele anotou alguma coisa na prancheta. Por um instante, ele ergueu os olhos castanhos para me responder.

— E é. Mas há algumas diferenças entre o que indica ou não um prévio aborto. Daqui alguns minutos um enfermeira virá vê-la e trocar o soro, está bem? Senhor Eaton, quando a alta for dada, peço que me procure para pegar as vitaminas e receitas. Sua... - olhou para minhas mãos e imaginei que ele estivesse procurando alguma aliança de compromisso. - amiga deve ficar em repouso absoluto ao menos pelas próximas semanas. Evite levantar-se com frequência e de sobrecarregar-se tanto psicologicamente quanto fisicamente.

— Eu me certificarei de que ela esteja bem, doutor - Tobias apertou sua mão.

Tobias sentou na cadeira ao meu lado e não disse nada até que eu pedisse um copo d´água.

— Preciso que se esforce mais, Beatrice. Não é porque não é o seu filho que deve se descuidar. Você assinou o contrato, sabe o que acontece se não sair como o planejado.

— Está me ameaçando? Não é possível - murmurei embasbacada. - Saiba que não tenho a culpa total, senhor Eaton. Como disse, é o seu filho que estou carregando e embora tenha deixado a desejar na minha alimentação, sei o que devo fazer. Não é a toa que sempre estou presente nas consultas. Diferentemente de você - alfinetei.

— Se tivesse seguido conforme as recomendações médicas não estaria aqui. Não me chame de irresponsável quando é você quem está ai. Se quer mesmo receber a sua parte, dê o seu melhor.

— Estou fazendo o que posso, Eaton. Não tenho culpa se nada para no meu estômago, não tenho culpa se você está deixando de trabalhar por estar aqui comigo quando podia estar na sua maldita empresa.

— Maldita empresa que paga o seu salário - ele estava furioso. - E se eu estou aqui, é porque me preocupo com o meu filho!

— Pois bem, preocupe-se calado.

Ele olhou para o alto. Minha respiração se acalmou por alguns instantes, o bip alto no monitor cardíaco aumentou conforme minha raiva subia gradativamente mesmo estando calada. Eu não queria estar ali. Não queria ter de carregar algo da qual teria de me desfazer depois. Não queria suportar aquele peso infindável pelo resto da minha vida. Tobias estava fazendo tudo tornar-se ainda pior jogando toda responsabilidade sobre mim, porém ele não estava totalmente errado. Eu não queria aquele bebê, mas precisava dele e estava me cuidando, embora os esforços fossem em vão.

— Precisa se acalmar - Tobias pigarreou. - Nada de estresse, lembra?

Ele fitou o monitor.

— Enquanto estiver aqui não sei se será possível - concentrei minha atenção na porta, com a esperança de que alguém a abrisse e mandasse Tobias embora.

Não o olhei diretamente quando ele colocou as mãos nos bolsos e fechou a porta ao sair. Minha respiração estava presa e eu não sabia distinguir o que eu mais sentia: indignação ou decepção?

Virei-me de lado no leito hospitalar e envolvi meu ventre para que de alguma forma a tensão daquele quarto baixasse. De algum jeito, aquilo funcionou.

(...)

— Podemos buscar suas coisas quando o repouso acabar - Tobias se pronunciou, empurrando minha cadeira pelo piso lustroso.

— Certo.

Quando somos adolescentes, principalmente, temos o costume de fazer o "pacto do silêncio". Ficamos um determinado tempo sem falar com uma pessoa e estamos raivosos momentaneamente para sentir a burrada que estava fazendo depois. Garanto que deixar de falar com alguém não é infantil, ao contrário, é a melhor forma de mostrar que você está "se lixando" para o que pensam e que está magoado, em outros casos.

Eu tinha passado o zíper na boca desde nossa discussão. Nem o silêncio constrangedor, nem as recomendações médicas tinham me feito falar mais que três palavras. Tobias devia ter entendido o recado porque evitava falar comigo.

Quando chegamos na escada, fiquei preocupada. No momento que fiquei analisando a situação, disposta á  levantar, Tobias brotou na minha frente e colocou uma mão em minhas costas, empurrou-me delicadamente e colocou sua outra mão debaixo dos meus joelhos, erguendo-me.

Coloquei minhas mãos sobre o colo e fiquei observando o caminho até meu novo quarto. A sensação estranha estava me corroendo de novo. Queria pender minha cabeça para o lado e apoiá-la no ombro dele, mas seria um ato extremamente embaraçoso até mesmo para passar pela minha cabeça. Estar nos braços dele já era uma razão constrangedora.

— O seu quarto tem uma ligação com o meu - disse. - Se precisar ou acontecer alguma coisa, não hesite em me chamar, ok? Zoe ou outra empregada estarão sempre vindo aqui se eu estiver ausente.

Balancei a cabeça em concordância. Tobias me colocou na cama e abriu as cortinas que tampavam a janela que davam espaço para a luz da manhã invadir o ambiente que devia ter no mínimo o tamanho de quatro cômodos do meu apartamento. A cama era fofa e macia, um grande guarda-roupas estava num canto isolado próximo de uma penteadeira.

Sua mão já estava na maçaneta quando virou-se com uma expressão arrependida.

— Peço desculpa, ãhn... desculpa pelo jeito que falei com você mais cedo - pigarreou -, eu apenas queria que estivesse bem. Não era a minha intenção culpá-la, Beatrice, se não fosse competente eu não a teria escolhido. Não soube administrar meus problemas e acabei dizendo o que não devia.

Engoli em seco e fechei minhas mãos, estalando os dedos. Subitamente ainda mais constrangida do que quando ele me carregara. O que estava acontecendo?

— Está tudo bem - falei, envergonhada. - Talvez eu não tenha sido a melhor pessoa.

Ele soltou um longo suspiro e passou a mão sobre os cabelos, massageando os fios.

— Acho que quer ficar sozinha agora, né? - ele não esperou resposta. - Eu vou... fique a vontade e seja bem vinda.

(...)

Eu estava enrolada entre os lençóis pensando no que poderia fazer com meu tempo livre com o dilema de estar confinada sem poder fiar zanzando pelo próprio quarto por mais dias e nem poder fazer nada relacionado ao trabalho. Ordens do médico. Na verdade, eram mais de Tobias.

Não fique de pé por muito tempo.

Não esqueça das vitaminas.

Não se estresse.

Alimente-se direito.

— Tem uma pessoa querendo te ver - Zoe entreabriu a porta. - È o senhor Adiers.

Uma expressão surpresa e aturdida apoderou-se do meu rosto. Ele deveria estar preocupado com a falta de notícias tanto quanto Shaunna do outro lado do mundo, mas para ela eu tinha respondido os dois últimos e-mails. Quanto ao meu chefe, eu tinha dito estar doente. Como eu explicaria ao meu amigo que na verdade ele estava certo, e porque estava hospedada na casa de Tobias?

Quando entrou, Eric sentou na ponta da cama e soltou uma longa e raivosa rajada de ar.

— Quando você passa muito tempo perto de uma pessoa, sabe quando ela está mentido. Mesmo por telefone. Por que não disse a verdade, Tris? Saber que você estava muito mal pela boca de Tobias me decepcionou.

— Eu não queria preocupá-lo, Eric. Eu vou ficar bem, logo.

Ele cruzou os dedos e pôs-se de pé.

— È um filho, Beatrice! Qual é, você não entende a dimensão disso, a importância? Faz quanto tempo, por que não me contou?

Baixei os olhos.

— Você é muito importante para mim, Eric. Mas está tudo muito confuso para mim, ok?

— Apenas não minta. Amigos não mentem um para o outro.

Fechei brevemente meus olhos e abri o jogo. Não desabafei, nem joguei meus sentimentos, apenas o que realmente estava acontecendo. Porque era impossível tentar guardar tudo para mim. Contei o que estava passando, desde a proposta até o aquele momento. Não era confortável vê-lo inspirar profundamente á cada palavra dita por mim, porém continuei falando, vendo sua fisionomia tornar-se neutra á medida que os detalhes avançavam.

Ele me abraçou - um abraço desajeitado e fraco, mas satisfatório -, não permitiu que, enquanto eu dizia sobre o estado de tia Joh, um dilúvio de lágrimas despencasse de meus olhos. Mas eu sabia que ele ainda não estava convencido de eu estar fazendo o certo, de que o eu tinha feito era uma loucura.

— Eu não posso voltar atrás. Tem as cláusulas do contrato, um bebê que eu não quero e uma dívida exorbitante, ainda maior que as minhas dívidas - falei exasperada.

— Posso te ajudar a pagar a dívida, é simples não? Se tivesse falado, eu mesmo teria te ajudado com as despesas do hospital - alfinetou.

— Isto não está em discussão.

— E sobre o bebê, você irá aprender á amá-lo, se quiser é claro. E se estiver disposta á desistir.

— È tarde demais.

Eric levantou e arrumou o nó da gravata.

— Preciso ir, Tobias não foi a empresa nos últimos dias e mesmo trabalhando no escritório daqui, garanto que não é a mesma coisa. Mas pense no que eu falei - segurou minhas mãos. - Ainda dá tempo.


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Notas finais do capítulo

Ui ♥ E então, o que acharam? Calma gente, o Tobias vai aparecer mais no decorrer dos caps ^^
Até breve!



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