Berceuse escrita por ABNiterói


Capítulo 1
I




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“Bem, eu conheço o sentimento de se achar preso à margem, e não há cura por cortar-se com uma lâmina afiada. Eu estou te dizendo que nunca é tão ruim. Aprenda de alguém que já esteve onde você está: jogado no chão, e você não tem certeza que pode continuar.”

 

O vermelho e dourado da parede fazia com que meus olhos ardessem ainda mais. Eu estava trancada naquele banheiro desde que chegamos ao castelo. Não havia nem pisado no salão principal. Apenas corri para fora da carruagem até meu quarto, enchi o banheiro de feitiços para ninguém me incomodar e deixei que as lágrimas caíssem livremente. Meu corpo, já fraco pelo tempo que eu não comia ou dormia, perdeu o resto da força que estava me mantendo, e despencou ao chão. A lâmina prateada brilhava entre os dedos de minha mão direita, tremendo enquanto cada soluço escapava por minha garganta.

Usei a pouca força que eu tinha para firmar a lâmina contra meu pulso esquerdo. Lentamente deslizei o pedaço afiado de metal pela minha pele, desenhando a linha com calma, observando cada gota de sangue fluir de minha veia e escorrer por meu braço em um caminho tortuoso. Não senti a dor do corte, mas já era algo esperado. De alguma forma me cortar, mutilar minha pele que já foi perfeita, tinha um efeito calmante. Eu não duvidava que houvesse alguma reação química envolvida no processo, mas a única coisa que me importava era que, enquanto eu fazia o sangue sair de meu organismo, a dor saia junto.

Pensei em esculpir alguma palavra enquanto produzia os cortes, mas não consegui pensar em nada que definisse o que eu estava sentindo. Mantive-me com as linhas retas então, uma ao lado da outra, traçadas lentamente e com o mesmo tamanho. Nenhum dos cortes foi feito fundo o suficiente para me matar – eu não tinha tanta coragem. Ao passo que o terceiro corte foi terminado, o primeiro já havia parado de sangrar, e assim eu continuava. Cada risco consolando minha dor, afastando as lágrimas e soluços para longe da minha mente racional, permitindo que eu lembrasse-me de tudo o que aconteceu.

A primeira lembrança que invadiu minha mente teve palco nos últimos dias de meu quinto ano. Após a batalha no Ministério. Após a morte de Sirius. Ron ainda não havia se recuperado totalmente por ter sido atacado pelos cérebros, mas em um momento em que nós ficamos sozinhos, acabamos procurando consolo no outro.

Na noite quente de junho, ainda na Ala hospitalar, eu me entreguei a Ronald Weasley.  Dei ao garoto que eu amava minha virgindade, meu carinho e meu amor. Sinceramente, eu não senti nada. Não senti nenhum prazer, nenhuma centelha. Senti dor, mas quando uma lágrima escapou por meu rosto com a invasão de seu membro em mim, ele disse para eu não chorar, para eu não mostrar qualquer sentimento. Fiz o possível para obedecê-lo, mas a cada movimento de vai e vem, a dor ascendia. Quando o senti se derramar dentro de mim, Ron beijou meus lábios com força, disse que eu era uma boa menina, saiu de mim e disse que precisava descansar.

Eu não sabia como seria aquela primeira vez. Ainda no presente momento, com o braço banhado por meu sangue, eu não tinha certeza do que devia ter acontecido. Sei que não foi como eu imaginei. Das histórias que eu li, esperei que fazer amor fosse algo mágico. Esperei que nossos olhos se conectassem por uma força sobrenatural, que eu mal conseguisse me conter de tantos sentimentos bons que trocaríamos. Mas eu era ingênua. Ainda sou, nesse sentido.

Depois, mais tarde naquela noite enquanto eu tomava banho, um sentimento de asco tomou meu corpo. Eu sentia nojo de mim mesma, me senti suja. Queria poder arrancar minha pele, para que talvez assim aquele sentimento horrível abandonasse minha alma, pensei saber o que uma prostituta sentia todo dia. E então senti a culpa. Aquele era Ron e ele havia feito o favor de me amar. Eu não podia estar pensando aquelas coisas dele e do que ele fez comigo.

Foi a primeira vez que me cortei. Já havia pensado em fazer isso antes, mas nunca houve coragem o suficiente. Naquela noite a tentação foi mais forte. O misto de sensações e pensamentos era de mais para que eu conseguisse me manter sã. Um único traço raso o suficiente para nem formar uma cicatriz, mas o bastante para deixar aquele gostinho de quero mais.

Ron me tratou normalmente no dia seguinte, e nunca mais tocamos no assunto do que havia acontecido entre nós. As aulas acabaram e voltamos para casa. Um mês de férias e eu comecei a passar mal. Mamãe queria me levar ao médico, mas meu pavor a hospitais me fez negar. Logo eu estava na Toca, sob os cuidados dos Weasley. Molly, percebendo meus frequentes enjoos, vômitos e tonturas, pediu o que estava acontecendo.

Desabei naquele momento e contei à matriarca daquela família minhas suspeitas. Eu não havia conseguido dizer para minha mãe, mas ali, há mais de um mês sem menstruar, eu quase não tinha duvidas do que estava acontecendo comigo. Molly fez um feitiço diagnóstico e confirmou meu temor: eu estava grávida.

Mantive-me intacta na frente daquela mulher que era como uma segunda mãe. Ela me abraçou e disse que apesar dos imprevistos, estava feliz por eu dar a ela seu primeiro neto.  Sorri sem saber o que dizer ou fazer e concordamos em esperar até que eu me acostumasse com a ideia para contar a novidade ao Ron.

Assim que consegui me desviar de Molly, tranquei-me no quarto que dividia com Ginny e pela segunda vez me cortei. Nem pensei no que eu estava fazendo. Foi automático. Dessa vez foi mais de um corte, fundo o suficiente para que uma pequena imperfeição fosse gravada em minha pele. Descobri nesse momento que eu gostava de cicatrizes: elas me lembravam de que cada momento de dor que eu sofri foi real.

Duas noites depois, ao deitar em minha cama pronta para dormir, me imaginei segurando o pequeno bebe que ainda estava em minha barriga. Um menino de pele clara, olhos castanhos e cabelo ruivo. Uma cópia quase idêntica ao pai. Eu sorri.

Sabendo que logo teria que contar a Ron – de preferência antes que voltássemos a Hogwarts – passei a ensaiar o que eu diria. Eu já tinha em mente exatamente o que diria quando, uma tarde, fui assolada por uma dor horrível. Nada que eu senti antes podia ser comparado aquilo. Eu nunca havia tido cólicas, mas pelo que minha mãe dizia devia ser algo parecido com o que estava me atingindo. Chorei e não contive um grito de dor que acabou por trazer a Sra. Weasley até a sala onde eu lia. Sua boca abriu-se para dizer algo, mas então ela viu algo que fez seus olhos se arregalarem e serem tomados por pena.

Segui seu olhar para me deparar por uma trilha de sangue que marcava minha roupa.

Por um ínfimo momento não entendi o que estava acontecendo. Na verdade, eu entendi, apenas não era capaz de acreditar. Fechei os olhos e comecei a chorar negando-me a confirmar o que estava acontecendo.

Nenhuma palavra foi dita enquanto Molly me guiava até o quarto de sua filha. Permaneci em silêncio enquanto a mulher saiu para pegar alguma poção, e apenas engoli o que ela me entregou, sem ao menos saber o que era. Sra. Weasley me levou até o banheiro, tirou minha roupa e me colocou em baixo do chuveiro, deixando a água cair por meu corpo e lavar o sangue que manchava minha pele. No primeiro momento a água era tão escura, tão vermelha, que me assustei. Fiquei assistindo aquela mistura descer pelo ralo, tornando-se cada vez mais clara, até voltar a ser naturalmente transparente, limpa, pura. O oposto de mim.

Fui levada de volta ao quarto e instruída a beber uma poção calmante, deitar e tentar dormir. Com um beijo maternal fui deixada sozinha para enfrentar minha dor.

Eu não conseguia acreditar que eu havia perdido meu filho. Eu estava apenas me acostumando com a ideia de que havia uma vida dentro de mim, mas já amava essa vida incondicionalmente. Sim, em um primeiro momento eu me apavorei, pensei em como uma criança estragaria minha vida, mas eu nunca seria capaz de matar algo tão puro e inocente. Então me acostumei.

Conjurei a lâmina que já estava se tornando tão conhecida a mim. Dessa vez quem recebeu o corte foi minha perna. Eu precisava de algo maior, e não teria como esconder um risco tão grande em meu braço. Com toda a vontade que pude juntar, afundei a lâmina na lateral interna do meu joelho direito, e trouxe-a até a altura da virilha. Não ficou um risco reto e bonitinho como os do meu braço, ao contrário, mas serviu ao seu propósito. Estanquei o sangue um momento depois. Tomei a poção que estava ao meu lado na cama, e me afundei em meus sonhos.

Acordei sem ter certeza de quanto tempo havia se passado. Eu podia ver pela janela que o sol brilhava forte, mas eu não tinha como saber se ainda era o mesmo dia de quando eu dormi. Não sai da cama imediatamente. Eu não queria sair nunca mais daquele quarto, mas sabia que tinha que continuar com a minha vida.

Lentamente firmei meus pés no chão e sem pressa alguma desci as escadas. Eu queria conversar com Molly, e não tinha certeza se devia ou não contar a Ron tudo o que aconteceu. Ouvi vozes vindas da cozinha. Reconheci uma delas como de Harry e a outra da Sra. Weasley. Meu amigo parecia estar tentando convencer a matriarca a contar alguma coisa. Eu juro que não queria ficar ouvindo atrás da porta, mas ao ouvir meu nome, não me freei.

— Sra. Weasley, por favor, Hermione é minha amiga. Eu tenho o direito de saber o que ela tem. A Mione nunca ficaria dormindo por quase 24 horas se ela não estivesse doente, e Ginny disse que você foi a última a estar com ela antes dela dormir.

— Isso é algo que eu devia deixar para Hermione contar aos dois, mas como sei que vocês não vão me deixar em paz, vou dizer. – me aproximei mais um pouco e pude ver que Ron também estava na cozinha, distraído da conversa enquanto comia um lanche. – Hermione estava grávida.

O prato que estava na mão de Ron caiu ao chão quebrando em pequenos pedacinhos. Harry soltou uma exclamação de surpresa.

— Ela perdeu o bebê – terminou de contar a Sra. Weasley.

Eu não tinha mais lágrimas para derramar, mas essa era a minha vontade. Ouvir em voz alta fazia parecer ainda mais real. Ron saiu do seu estado de torpor e antes que eu percebesse o que ele estava fazendo, ele saiu da cozinha batendo com força contra meu corpo.

— Ah! Alem de tudo, agora deu para ouvir atrás da porta! – ele gritou com raiva e me empurrou, fazendo-me cair com força ao chão.

— Ron! – Harry pediu e tentou vir em minha direção, mas foi impedido pelo amigo.

— Você fique fora disso Harry! Essa puta nem ao menos me disse que estava grávida. Tenho certeza que ela abortou de propósito.

— Não! Eu juro! Eu não queria... – tentei convencê-lo que aquilo não era verdade.

— Calada vadia! EU estou falando com você. Não te dei permissão para responder. Eu pensei que você me amasse, mas não... Você não fez um aborto. Não tem coragem para isso. Nem sei como foi escolhida para Gryffindor. É mesmo culpa do seu sangue ruim que não é forte o suficiente para manter o filho de alguém com sangue tão puro quanto o meu. Não acredito que cheguei ao ponto de me sujar com você. Saia da minha casa agora sua cadela, e nunca mais olhe na minha cara!

Estupefata pelo que eu havia ouvido, eu permaneci no chão olhando para meu amigo, meu amor.

— Isso! Continue no chão. É onde você pertence. Junto à sujeira.

Com essas palavras ele cuspiu no chão ao meu lado e saiu andando. Molly levou um segundo para berrar um "Ronald Weasley!” bem alto e correr atrás do filho. Harry veio até mim e me ajudou a levantar.

Sem dizer nenhuma palavra meu amigo me guiou até a lareira e nos transportou para o Caldeirão Furado, pediu um quarto para nós e me levou escada acima. Ao fechar a porta ele chamou Dobby e pediu ao elfo para pegar nossas coisas e Crookshanks na Toca. Observei a troca ainda abismada com tudo o que presenciei.

Harry me abraçou e só então eu comecei a chorar.

— Eu juro... juro para você! – disse entre minha dor – eu ia contar a ele... eu ia! E eu não queria perder o bebê... Era meu filho! Eu o amava...

— Shiu... Calma Mi! Eu sei disso. Eu estou aqui com você e vai ficar tudo bem.

Saí de minhas memórias ao sentir o ardor dos cortes começarem a incomodar. O pior nunca foi o corte em si, mas o ardor que vem depois e permanece até que a cicatrização se complete. Não tem como explicar. É uma antítese completa... Quando eu me cortava sem querer, em um pedaço de papel, com algum feitiço, ou ajudando minha mãe ou Molly na cozinha, a dor – por menor que fosse o corte – parecia ser insuportável, mas ao segurar a lâmina e, propositalmente cortar meu corpo, eu não conseguia sentir dor alguma. O desconforto vinha com a cicatrização, ou quando os cortes se abriam e me pegavam de surpresa voltando a sangrar. Talvez a pior parte fosse eu gostar disso, dessa dor, desse incômodo.

Bati inconscientemente a cabeça contra a parede e respirei o mais fundo que podia. Peguei minha varinha no bolso da calça jeans que eu usava e a bati levemente em cima dos cortes, protegendo-os. Eu não me curaria. Como sempre, eu teria que conviver com as consequências de meus atos. Protegi-os apenas por saber que não aguentaria a dor ao entrar de baixo do chuveiro, pelo menos não agora que os cortes estavam tão recentes.

Arranquei minha roupa, e quando levantei – contando com o apoio da parede atrás de mim – foi impossível não ficar presa ao meu reflexo no grande espelho de intrincada moldura de ouro. Eu sempre fui pequena e magra, mas parecia impossível até para mim que aquela garota que me encarava fosse realmente eu.

Em pouco mais de um mês, que eu pouco havia comido ou realisado qualquer tarefa alem de me culpar por tudo o que aconteceu comigo, eu havia perdido peso o suficiente para que ossos como os das minhas costelas e quadril estivessem notavelmente visíveis. Em um acesso de ódio eu havia cortado meu cabelo na altura da nuca. Harry havia conseguido me arrastar até um cabeleireiro trouxa para arrumar a bagunça que eu havia feito, o que acabou deixando-me com menos cabelo ainda, e isso agora estava realçando minha completa falta de gordura.

Negando-me a tortura de continuar a ver o desastre que o espelho me refletia, liguei o chuveiro e entrei em baixo da água que ainda estava fria. Tremendo, lembrei-me que a única coisa que me manteve viva durante o final de minhas férias foi a presença e o cuidado de Harry. Meu irmão – que apesar de meus protestos – ficou ao meu lado todo o tempo.

Até o final de agosto eu pensava estar totalmente recuperada. A única coisa boa que veio com o desastre da minha vida foi que Harry não teve muito como pensar na morte de Sirius. Eu sabia o quanto o meu amigo estava sofrendo com a perda de seu padrinho, e me deixava minimamente feliz que minha dor estava servindo para algum bem.

Crookshanks, quase milagrosamente, havia ficado o tempo todo no Caldeirão Furado, fazendo companhia a mim e ao meu amigo. Nos poucos momentos em que ele me dava à honra de receber seu carinho, meu meio Amasso pulava em meu colo, se enroscava em uma bola e ronronava furiosamente enquanto eu lhe esfregava o pescoço.

Eu estava sobrevivendo.

Quando 01 de setembro chegou, eu e Harry juntamos nossas coisas e fomos até King’s Cross.  Tudo estava bem até o trem partir, mas depois disso meu dia voltou a ser o inferno que foi no meu último dia na Toca.

Primeiro, alguns sonserinos pararam na porta da cabine que eu e meu irmão dividíamos. Eles apenas riram e disseram coisas como sangue-ruim. Não entendi o porquê de eles estarem ali, perdendo seu tempo para rir de mim, mas aquela era a natureza de todo o Slytherin, então nem dei bola para eles, e pouco depois os quatro nos deixaram em paz.

Apenas quando Luna chegou e sentou comigo e Harry por alguns minutos foi que descobri o que estava acontecendo.

— Não ligue para o que eles estão dizendo Mione. As pessoas tendem a julgar o que não entendem, e eles nunca vão entender isso até que o mesmo aconteça com eles.

— Sobre o que você está falando? – pedi sem paciência para decifrar enigmas.

— Ron e Ginny contaram que você tomou uma poção abortiva. Eu não te culpo. Nós ainda somos muito novas. Se fosse eu, provavelmente faria o mesmo. E não seria fácil criar uma criança sem ao menos saber quem é o pai.

Olhei abismada para a garota loira. Ela falou aquela besteira com o mesmo ar sonhador de sempre, como se fosse a coisa mais normal do mundo. Eu não conseguia me forçar a abrir a boca e respondê-la.

 - Quem disse isso? – gritou Harry.

— Ron e Ginny.

— O que, exatamente, eles falaram? – pediu Harry com ainda mais raiva.

— Neville perguntou onde vocês dois estavam, e Ron respondeu que não fazia questão nenhuma de saber. Nev quis saber o que tinha acontecido e Ginny contou que a Hermione estava grávida. Ron quase gritou para quase todo o trem ouvir que Hermione escondeu de todos que estava esperando um bebê, e que quando eles descobriram que ela havia abortado, vocês dois fugiram. Ginny disse que depois que um elfo apareceu para levar as roupas de vocês embora, ela achou um frasco com um resto de poção que identificou como uma poção abortiva. Eles disseram algumas coisas não muito legais de você Hermione, e muita gente parou para ouvir a história. Por isso que eu te digo para não ligar para o que qualquer um dizer. Eu sei como é ser odiada por todos. Lembre-se apenas quem são seus verdadeiros amigos. Eu estou aqui sempre que você precisar. Na verdade, assim que chegarmos a Hogwarts vou te dar uns brincos que vão ajudar a espantar esses zonzóbulos. Eles devem estar mexendo com seu cérebro. Agora vou ver se acho o carrinho de doces. Uma varinha de alcaçuz está sendo pedida para ser comida. Tchau Harry, Hermione.

Desliguei o chuveiro e me enrolei em uma das toalhas brancas e fofas. Eu ainda não conseguia acreditar que Ron e Ginny haviam dito todas aquelas mentiras, mas não achei que Luna estivesse mentindo. Quando saí do trem ao lado de Harry, as pessoas passavam por nós e apontavam a mim, rindo ou lançando olhares acusadores. Não aguentei aquilo, e ao entrarmos no castelo me despedi de Harry e corri para meu quarto. Esse ano seria horrível para mim.

Ao ver que minha mala já estava na frente da minha cama, peguei um pijama, minha varinha e pantufas, e vim até o banheiro. Agora, enquanto eu colocava a roupa eu tentava não pensar em mais nada.

Parece impossível como uma pequena e mal pensada ação tem o poder de mudar tão drasticamente a vida de alguém. É o que os trouxas chamam de efeito borboleta. Um pequeno ‘não’ dito na hora certa poderia ter evitado tudo isso, mas eu não fui forte o suficiente para me negar a Ron quando ele exigiu meu corpo. Eu o amava afinal. Eu fiz o que no momento parecia ser a coisa certa, e agora eu estava sofrendo as consequências. Aos praticamente 17 anos, eu já estava traumatizada e ainda havia uma guerra chegando. Era indiscutível que eu não sairia viva no final. Eu aguentaria até o último segundo por Harry, mas se, quando a última batalha acabar, eu ainda estiver viva, eu não hesitarei em findar com a minha vida.

Tem horas que por mais que você queira se controlar isso parece impossível, e você acaba quebrando. Eu já estava tão fraca e doente que era difícil usar minha magia. Eu tive que fazer um esforço enorme apenas para conjurar a lâmina que usei para me cortar. Eu não tinha certeza de como eu conseguiria passar aquele ano na escola sem que ninguém percebesse o meu estado. Ou talvez eles vejam o que está acontecendo comigo e não digam nada. Duvido que eu faça alguma falta.

Eu sei que o certo seria deixar o passado para trás. É isso o que eu falaria para qualquer outra pessoa que estivesse no meu lugar, mas até estar passando por isso, eu não podia imaginar o quão ruim é estar aqui. O quão desesperador é estar sozinha.

Desejando que eu tivesse algum remédio que me faria dormir, volto para meu quarto, puxo as cortinas em volta de minha cama e me deito, puxando os cobertores acima de minha cabeça e abraçando meus joelhos. Era tão errado querer que houvesse alguém para me consolar agora?

Comecei a soluçar, e só assim percebi que estava chorando novamente. Mesmo em baixo dos cobertores eu senti um arrepio passar por minha coluna. Talvez morrer não fosse algo tão ruim. O que podia haver de errado em deixar tudo ir embora para sempre?


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Notas finais do capítulo

Por enquanto Berceuse será uma oneshot... dependendo da resposta que eu receber posso colocar os outros capítulos.
Kisses



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