Ainda um pouco desorientada, Chiara acordou e viu uma luz branca irritante no teto, da qual desviou imediatamente. Observando as paredes claras, os barulhos de equipamentos que apitavam o tempo todo e a pressão das agulhas de soro sob sua pele, ela reconheceu que estava em um hospital.

— Chiara? Você está bem?

A pergunta veio de uma voz diferente da que Chiara estava esperando ouvir. Ao olhar ao seu lado, uma mulher magra, de cabelos castanhos curtos, nariz fino e arrebitado a observava com seus grandes olhos castanho-claro. Apesar de não ser o detetive, como Chiara pensava, ela ficou feliz em rever a sua melhor amiga.

— Alice? – disse Chiara enquanto se levantava e abraçava a amiga com urgência, seus olhos já cheios de lágrimas.

— Está tudo bem Chiara.

— Como você chegou aqui? – perguntou a ruiva.

— O seu amigo me ligou pra falar do acidente de carro que vocês sofreram. Ele disse que não iria poder ficar aqui com você, então pagou a minha passagem para o Japão para que eu pudesse cuidar de você.

— Obrigada por ter vindo – agradeceu a ruiva, sorrindo, ainda com lágrimas nos olhos – eu tenho feito coisas estúpidas ultimamente. Não tem sido fácil.

— Eu sei que a morte do Sam não está sendo difícil, mas está na hora de voltar pra casa. Lá você tem os seus amigos que podem cuidar de você e te ajudar a superar isso.

— Eu acho que você tem razão. As coisas vão começar a melhorar agora.

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2 semanas após o ocorrido, Chiara estava sentada em um banco observando as pessoas passearem no parque. A neve havia dado uma trégua, mas não sem antes deixar o chão forrado de branco, no qual crianças brincavam de arremessar bolas de neve umas nas outras. O frio estava até ameno para um dia de inverno, mas não o suficiente para que Chiara dispensasse o sobretudo cáqui, combinado com um cachecol um pouco mais escuro e uma boina cinza. Nas mãos, luvas a protegiam contra a temperatura. Seu semblante parecia tranquilo, como há muito tempo não se via.

Inesperadamente, um homem de casaco verde sob uma blusa branca e calça azul escura sentou-se ao seu lado.

— Você? – disse a ruiva visivelmente surpresa – achei que nunca mais fôssemos nos ver de novo.

O detetive estava um pouco diferente agora. Suas olheiras estavam bem mais suaves, e seu rosto parecia mais corado que o habitual.

— Como você está?

— Eu estou bem. Obrigada pela Alice.

— Eu não pude ficar com você, me desculpe por isso. Mas tive muitas coisas a resolver depois de tudo o que aconteceu. Além do mais, eu não tinha certeza se você iria querer me ver depois de eu abrir mão de salvar sua vida para pegar Kira.

Ele abaixou a cabeça, como que lamentando-se.

— Eu não era nenhuma princesa em perigo precisando ser resgatada. Eu sabia o que estava fazendo quando decidi me meter nisso tudo. E entendo a escolha que você teve que fazer, não te perdoaria se você deixasse de prender Kira pra salvar a minha vida.

— Foram dias difíceis – comentou o detetive, lembrando-se dos horrores acontecidos naquela semana, desde o sequestro de Chiara até a morte de Light.

— O que aconteceu depois que eu desmaiei?

— Nós resgatamos Misa Amane de onde vocês a haviam deixado. Como ela perdeu a memória, nós a libertamos. Quanto a Light, espalhamos que ele foi morto por Kira. Depois providenciei um pronunciamento anunciando que Kira havia sido pego, mas não revelei como ele matava. A ICPO ainda duvida de mim, mas eu não me importo.

— Os rapazes foram me ver no hospital quando a Alice não estava. O Sr. Yagami está bem apesar de tudo.

— Nós estamos bem apesar de tudo. Todos perdemos esse jogo... – L fitou o vazio, lembrando-se de Watari.

Houve um pequeno silêncio. Chiara olhou para as cerejeiras secas no parque.

— Eu queria ter visto elas florescerem...

— Elas floresceram, dois meses atrás. Mas você estava ocupada demais na investigação.

Ela suspirou.

— Essa não é a vida que eu quero pra mim. Ainda bem que acabou.

— O que você vai fazer agora? – perguntou o detetive, colocando as mãos nos bolsos para protegê-las do frio.

— Vou voltar pra Londres daqui a dois dias. Vou rever os meus amigos, estar em casa novamente. Estou pensando em fazer algo novo também, talvez uma escola de música para crianças, mas são só ideias por enquanto... – A ruiva sorria enquanto falava – E quanto a você?

— Eu vou continuar trabalhando como detetive, mas vou pegar mais leve agora. Precisarei de mais tempo livre, pois vou acompanhar as crianças do orfanato que Watari fundou.

— Isso é ótimo!

— Isso significa que eu também vou voltar pra casa.

— Você tem uma casa? – perguntou a ruiva, rindo – nem vou perguntar onde fica, deve ser segredo de estado!

— Fica em Londres.

A ruiva não respondeu nada, surpresa. O detetive se aproximou um pouco mais dela, de forma que podiam sentir a respiração um do outro. Chiara tomou a iniciativa e aproximou-se mais, até se encontrarem em um beijo. Os lábios gelados se tocaram e logo se aqueceram com o calor trocado entre eles. Ao final do beijo, o detetive deslizou o polegar na mação rosada de Chiara e levantou-se.

— Vejo você em Londres? – perguntou L, já de pé, pronto para ir embora.

A ruiva apenas sorriu e assentiu, enquanto observava a figura do detetive desaparecer no horizonte.

Ei! – gritou Chiara, dando-se conta que havia esquecido de perguntar algo ao detetive.

L, que já estava a uns dez metros da ruiva, virou-se.

— Qual o seu nome?

— Lawliet – respondeu o detetive, dando as costas novamente e indo embora.