Misa Amane não parava de falar. Chiara já estava arrependida de ter convidado a loira para jantar em seu apartamento. As intenções da ruiva eram claras: tentar arrancar informações que fossem relevantes ao caso. Ela, assim como L, ainda acreditavam que o casal de adolescentes eram os Kiras. Mas estava faltando paciência para a ruiva. Como era fútil aquela garota! Chiara não conseguia delimitar exatamente o que sentia em relação à popstar. Antes, achava que era ódio, afinal, Chiara acreditava que ela era o segundo Kira, e sendo assim, era a responsável pela misteriosa morte de Sam. Todavia, o que se sobressaía nos sentimentos da ruiva era algo entre a pena e o desprezo. Misa Amane era patética. Mendigava o amor de Light, que visivelmente não tinha o menor interesse na garota. Light, aliás, parecia o tipo de pessoa que não se apaixona por ninguém. Se é dessa forma, como os dois se tornaram namorados? Era uma relação muito estranha. Ela o venerava e ele era apenas indiferente. Por que ele a aturava então? Havia algo dela que ele precisava? Chiara tinha cada vez mais certeza de que L estava certo. O detetive, inclusive, assistia ao encontro das duas junto do restante da equipe, inclusive Light.

— Vamos tomas mais uma dose – disse Chiara, enchendo o pequeno copo de Misa e o dela própria de tequila.

— Você gosta e beber, hein? – Respondeu a loira.

— Vai dizer que você não sabe beber? Tá com medo de quê, eu estou tomando o mesmo que você e estou ótima.

— Me dá isso aqui. – Misa pegou o copo, virou de uma vez e fez uma careta. Chiara percebeu que ela não gostava de ser desafiada e ia usar isso a seu favor. – Sua Vez.

Chiara também virou o copo, mas sem careta, e apoiou-o novamente na mesa. As duas estavam na mesa de jantar do apartamento de Chiara.

— Então, Misa, me conta como você e Light se conheceram.

— Ah, eu não me lembro bem. – A loira deu de ombros.

— Como assim não lembra? Todo mundo lembra de quando conheceu o grande amor da sua vida. – Chiara colocou só um pouquinho de ironia nas últimas palavras, o suficiente para a loira não perceber.

— Ah, de que isso importa? - retrucou a loira.

— Vamos tomar mais uma dose – disse a ruiva já enchendo os copos novamente. - Você não tem medo de ficar bêbada, não é? Por que eu não tenho.

Chiara virou novamente o copo. Misa fez o mesmo, engasgando-se um pouco dessa vez.

— Então tá, você não se lembra de como se conheceram, mas lembra como se apaixonou por Light?

— Eu o vi e me apaixonei completamente. Amor à primeira vista.

— Sério? – disse Chiara incrédula.

— Você não acredita em amor à primeira vista?

— Não.

— Mas foi o que aconteceu, tá bom? – respondeu Misa de cara amarrada.

— Ah, claro, faz todo o sentido. Você se apaixonou perdidamente por um cara que você nunca tinha visto na vida, e ainda por cima não se lembra onde? Tá difícil entender. Vou tomas mais uma.

Encheu o copo novamente e virou. Misa, pra não ficar pra trás, fez o mesmo.

— Por que você está fazendo tantas perguntas? Tá me investigando, é? – A voz de Misa já começara a ficar arrastada e a loira já estava mais risonha. Eram os primeiros sinais de embriaguez.

— Claro que não, eu só estou curiosa em saber como um amor tão grande surgiu, sabe? – Chiara estava sendo descaradamente irônica agora, mas Misa já estava bêbada o suficiente para não perceber. – Você faria tudo o que ele te pedisse?

— Claro! Eu faço tudo pelo amor do Light.

— Mas ele não parece fazer tudo por você.

— O Light me ama, tá bom. Ele me ama e eu o amo! Eu o amo! – Misa já estava completamente bêbada. Levantou-se da cadeira e foi em direção ao sofá onde começou a cantarolar alguma música.

Chiara estava sentada na mesa, frustrada. A loira realmente não se lembrava de nada. Mas a conversa com ela foi importante. Ela parece realmente ter perdido a memória, por que se fosse culpada, ou se pelo menos não quisesse parecer culpada, faria o mínimo de esforço para criar uma história coerente.

— Ela não vai falar mais nada – falou Chiara, olhando em direção a uma das câmeras do apartamento.

— Devo dizer que estou impressionado. Você bebeu tanto quanto ela e não parece estar muito alterada – soou a voz inconfundível de L por um auto-falante.

— Como você acha que eu arranquei informações dos policiais sobre o caso Kira? Garanto que não foram só meus belos olhos verdes – disse a ruiva seguindo com uma gargalhada. L apenas deu um leve sorriso na sala de controle.

— Bom trabalho – concluiu a voz no auto-falante.

— Quer saber? Eu mereço uma folga. – Chiara pegou a garrafa de tequila, mais ou menos pela metade, e virou toda de uma vez, agora fazendo careta. Depois chupou metade de um limão que estava ao lado da garrafa.

Em seguida, levantou-se da cadeira e foi pro sofá ao lado do de Misa, que estava deitada entoando alguma canção ininteligível. A ruiva pegou um violão e caiu no sofá, já bêbada.

— Cala a boca, Misa, agora é minha vez! – Disse rindo e começou a tocar e cantar animada, até não resistir ao sono e dormir ali mesmo.

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No outro dia, Chiara chegou à sala de controle com a típica cara de ressaca. Sua cabeça doía e seus olhos estavam meio inchados. Usava uma blusa cinza básica com um colete marrom e calças jeans claras. Seus cabelos estavam presos em uma trança. Foi a forma mais fácil que ela achou de se arrumar estando tão mal.

— Bom dia, por favor, não comentem – já foi logo dizendo a ruiva.

— Bom dia... – responderam os outros. Ninguém iria se atrever a comentar mesmo.

— Ninguém vai falar sobre ontem, até porque eu tenho novidades mais importantes – disse Light com uma voz empolgada, virando a tela do computador para que todos vissem uma planilha. Ele não perdeu a oportunidade de dar uma pequena alfinetada em Chiara. Apesar de ter perdido a memória, o jovem não esquecera a antipatia que sentia pela ruiva. – Todos eles eram executivos importantes de companhias líderes em suas respectivas indústrias. Em apenas um mês todos morreram de ataques cardíacos. Como esperado, houve um abalo geral no mercado, com exceção da Yotsuba. Em outras palavras, as mortes funcionaram a favor da empresa. Baseado nisso eu só posso dizer que Kira está apoiando a Yotsuba.

— Pode ser... – respondeu L. -  Então, se o que você diz é verdade, quer dizer que matar criminosos não é a verdadeira intenção desse Kira.

— Isso. Punir criminosos é um passatempo pra ele. Isso mascara o fato de que ele está matando gente para se beneficiar– replicou Light.

— Isso significa que o caderno foi parar nas mãos de uma pessoa ambiciosa, que mata em benefício próprio. – Chiara estreitou os olhos. Ela não estava dizendo isso para ninguém, apenas pensava alto. – Então porque ele continuaria matando criminosos? Isso só chama a atenção pra ele...

— Lá vem você novamente com essa história de caderno mágico. – Light desprezou o comentário da moça, que por sua vez, ignorou Light completamente.

— Então o Shinigami deve estar seguindo esse novo Kira... Precisamos investigar os funcionários da Yotsuba! – disse ela, virando-se para L.

— É o que vamos fazer agora. E você deve se preparar, Chiara. Talvez eu precise da sua habilidade de cativar as pessoas – disse o detetive, como se falar assim fosse bem natural dele.

Chiara apenas deu um sorriso discreto de volta, feliz pela confiança dele nela.