"Se eu pudesse desejar alguma coisa, queria que o inverno durasse anos"

Esse dia era especialmente diferente, a caminhada para o colégio nunca fora tão leve, eu senti que como se minhas costas houvessem descarregado um peso que as perturbavam, eu apreciava mais o caminho branco por neve cheio de pegadas e as arvores enfeitadas por gelo.

Quando cheguei ao portão de entrada havia um tumulto e vozes altas, tudo o que me perturbava em um único lugar que eu odiava por parte, a escola. Alexy e Lolla estavam lado a lado acenando para mim, mas pareciam um pouco inquietos e me apressei um pouco a me juntar a eles.

— O que é essa atuação de motim no pátio? — Perguntei ainda olhando as pessoas em volta de algo.

— Querido, olha mais de perto — Alexy estava de braços dados com Lolla que sorria amarelo para mim. Não precisei de muito esforço para ver o que estava acontecendo, me aproximei da multidão empurrando algumas pessoas que se queixavam da minha atitude.

Quando me deparei com aquela cabeleira loira sorrindo para todos, eu sabia, que talvez esse ano fosse ser difícil. Íris se aproximou me cutucando e às vezes penso como ela simplesmente brota nessas situações.

— Que cara é essa, Cassy? Hehe... — ela riu travessa. — Ela é muita areia pro seu caminhãozinho vermelho  — Eu ignorei os comentários da ruiva. Mas que merda estava acontecendo? O universo estava conspirando contra mim, certeza!

— Ah! O garoto de ontem! — Percebi que todos olhavam para mim e a loira apontava para meu rosto com suas unhas pintadas de azul claro, grandes e pontudas, me senti um pouco ameaçado por aqueles dedos. Ecoou uma voz estridente e incrivelmente patética fora da rodinha de “fãs”, nem precisei virar o rosto para saber que era Amber pelos sons de suas pulseiras e sapatos altos de suas amigas, Li e Charlotte. 

— Emily! — Amber estendeu suas mãos com pulsos exageradamente enfeitados em um abraço. — Estou surpresa com você aqui, ainda acho impossível meu irmão ter conseguido uma namorada tão linda assim — Elas se abraçavam enquanto riam, as pessoas ao redor pareciam uma mistura de garotos elogiando o representante e meninas com inveja.

Aproveitei a deixa para sair de cena, estava enjoado com aquele cheiro de perfume forte vindo do trio, mas agora era oficial, aquela garota estava com Nathaniel e eu sei o quanto é ruim quando alguém resolve se intrometer no meio do seu relacionamento.

Estava quase saindo daquele circulo apertado, mas os olhos dourados de uma pessoa simplesmente me paralisaram naquele lugar.

—    Você assinou a folha, eu percebi ontem quando quase a joguei fora, mas não foi por querer, pensei que fosse o mesmo com o que você fazia com as que eu te entregava, você me poupou de muitos problem---

— Não pense errado, representante — Não diga isso, Castiel! —, só não suporto essa coisa de ficarem me enchendo o saco — Sua cota de imbecil esta cheia, Cassy, parabéns!

O sinal havia tocado e eu passei por ele, ouvia as pessoas dizendo algo como “Que rude” ou “Desrespeitoso”, mas para mim, era a única coisa que podia ser feita, ser bonzinho nunca combinou comigo, assim como me pegar apaixonado, como da ultima vez. 

— Castiel! — Lolla gritou meu nome, mas já estava esgotando minha paciência esse joguinho de cupido como se tudo acabasse com um final feliz, pois isso não existe.

As aulas do professor Faraize eram umas misturas de tédio e cansaço. Sentei-me no fundo ao lado da janela, Lysandre que era uma das poucas pessoas que confiava, antes de se sentar graciosamente ao meu lado ele me olhou com uma cara estranha e colocou sua mochila na carteira.

— O que foi que aconteceu lá? — Ele sussurrou a pergunta enquanto eu observava a neve começar a cair do lado de fora da janela. 

— O que acontece sempre, Lysandre — Respondi indiferente.

— Mas ele havia apenas te agradecido...

— Eu sei que eu sou um idiota, só não quero deixar que ele pense que eu...

— Você?...

— Ok, crianças! Como muitos sabem temos uma nova aluna... Pode entrar senhorita — Os sons dos passos, já não me preocupavam mais, por que...

— Olá, meu nome é Emily e espero que sejamos bons amigos! 

— Eu já desisti...

— O que disse Castiel? — Lysandre perguntou e eu apenas abaixei minha cabeça fazendo um sinal com a mão como resposta para o grisalho não se importar com isso. 

Em meio aos aplausos e elogios minha mente tomava um rumo diferente, queria estar lá fora sentindo o vento frio e observar o chão ser coberto por um tapete branco, eu apenas mirei as madeixas e a blusa brega do loiro na primeira carteira, percebi algo em sua nuca que mais parecia um machucado, era roxo, provavelmente um chupão de sua namorada, ignorei e em um simples fechar de olhos, virei minha cabeça e adormeci.

Ouvi o sinal e não sabia diferenciar se era o do intervalo ou do final das aulas do dia, eu sempre tive um sono muito pesado e pedi para Lysandre não me acordar a qualquer custo, até porque os professores já eram acostumados com essa minha falta de interesse que não vai me levar a nada. 

— Ding dong! Alguém em casa? Hora de acordar! — Rosalya, socorro, alguém?

— Não tenho tempo pra isso, Rosa — Tornei-me a virar o rosto.

— O que é isso brilhando no seu rosto? Baba? — O que? É sério? Levantei minha cabeça e tentei limpar.  — Brincadeirinha — Ela ria como se tivesse ouvido uma piada muito engraçada.

— Tsc...

— Não fica bravo, somos amigos! Ah, seu amor já saiu — Amor? Eu olhei para a carteira do representante e realmente ele não estava mais lá. 
— Perai? Eu acertei!?

— Você fala alto demais, existe transplante de tímpano hoje em dia? Vou precisar... E do que você esta falando sua estranha?

— Bem... Dês do dia da aproximação de vocês dois na saída naquele dia eu decidi investigar.

— Aproximação? — Ela chegava mais perto e pegou meu queixo.

— Essa — Afastei suas mãos.

— Isso não tem nada a ver com você, Rosa.

— Mas parece que tem haver também com os outros dois ali na porta. Sabe, eles estão chateados, todo mundo viu seu pequeno ataque de rudeza no portão. — Ela se virou e antes de desaparecer nos corredores deu um sorriso para Alexy e Lolla mal escondidos atrás da porta. Mas logo vieram para perto de minha carteira. Peguei minha mochila e ajeitei meu cachecol.

— Você esta bem? — Perguntou Lolla.

— Acho melhor pararmos com isso... Desisto, está bem? — Eu só queria ir para casa, Dragon deve estar com fome agora. Eu havia parado perto da porta deixando-os para trás. — E... obrigado por me ouvirem... desculpem decepcioná-los.

Desci as escadas do segundo andar e percebi que quase todos haviam ido embora, apenas alguns gatos pingados ao mexer em seus armários estavam naquele local. 

— Ah, Castiel! — Me virei para ver quem me chamava e para minha surpresa era o professor Faraize. — Me faça um favor? Preciso que leve estes dois livros para o grêmio, Nathaniel deve estar lá, entregue para ele, por favor.

— Porque eu? — Ele colocou os livros em minhas mãos e agradeceu, antes que eu pudesse me queixar aquele homem havia subido as escadas e me deixado plantado ali. 

— Que chatisse, — Resmunguei. —, sou um homem ocupado, sabia?

Ajeitei minha mochila com um pequeno gesto feito pelo ombro e caminhei para o grêmio. “Romance e policial” aquele cara gosta de coisas assim? Combina com ele até. Me aproximei da porta para chamá-lo.

— Nathan--- — As vozes abafadas dentro da sala me pararam, eu sabia que era falta de respeito, mas havia algo diferente e bem, como muitas pessoas dizem, eu não tenho isso.

— O que mais você quer que eu faça? Não está satisfeita com isso? — Nathaniel, tinha certeza, ele tinha uma voz calma, mas ao mesmo tempo parecia que reprimia raiva.

— Você sabe que se eu contar quem causou esses machucados na sua pele, quem vai ser o culpado é você e seu pai gosta de mim, se eu disser que fez algo comigo, você está perdido — Ela estava o ameaçando, mas eu não podia chegar ali do nada, mas o meu ódio por ela estava fervilhando. — Sua família é realmente muito podre e sua irmãzinha não faz nada. Lavagem de dinheiro, além de agredir o filho como se não fosse nada, você também é patético por aceitar isso.

— Fale-me logo o que você quer — Meus olhos se arregalaram, todo esse tempo e não havia contado a ninguém, aquele cara sorria para as pessoas como se estivesse tudo bem. Os livros em minhas mãos me impediam de fechar os punhos, mas as unhas pareciam se fincar nas capas.

— Castiel — O frio subiu as espinhas e gelou meu coração, descobriram? Estava perdido. — Eu quero ele — O que?

— O que? — Perguntou Nathaniel incrédulo.