Choque de Tempo escrita por Miss Krux


Capítulo 21
Capítulo 21 - John sob julgamento.




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A hora do jantar chegava, os moradores se juntavam em volta da mesa já posta; até mesmo os lugares haviam sido trocados, agora Marguerite estava assentada entre Challenger e Verônica, Ned ao lado da garota da selva e John havia ficado ao lado do cientista.
O jantar seguiu silencioso. Nem Marguerite e nem John conseguiam tirar os olhos de seus pratos, levantar o rosto, muito menos se olharem. Ao terminarem, o cientista, já ciente do que viria, decide ser o primeiro a se pronunciar.
C - Bom, aproveitando a oportunidade que todos estamos reunidos, acho que temos alguns assuntos a serem tratados.
Marguerite levanta os olhos, os estreita e direciona para John, como se estivesse encarando muito mais do que seus olhos, mas sua própria alma, tamanho era seu ódio, e chegava a arrepiar o caçador, não de medo, mas por receios do que estava por vir.
M - Bem, acredito que todos sabem a minha opinião aqui, não preciso nem falar. Porém, como a decisão não é apenas minha, Lord John Roxton talvez mereça um julgamento, uma decisão não tomada por mim, mas por todos.
C - De acordo, minha cara. Eu vou dar uma sugestão. Não estou aqui para julgar ninguém, entendo os motivos de cada um dos dois e creio que ambos são adultos para se resolverem por conta própria. John, meu velho, não esperava que perdesse a cabeça de tal modo, embora sei muito bem que quando se trata de Marguerite você não pensa duas vezes, já o vi agindo por impulso, mas o que fez ontem foi além da minha compreensão. Ferir seu irmão é compreensível na medida em que sabemos da rivalidade que há entre vocês, mas ferir Marguerite, você que sempre jurou protegê-la... não, meu amigo, isso não se faz. Deve saber controlar melhor suas emoções. Um conselho que dou e acredito ser o mais adequado durante um tempo: permanecerem afastados; em qualquer atividade que fizermos vocês serão separados, assim como também sugiro que aqui dentro da casa da árvore o convívio entre vocês seja o mínimo. Suas idas na varanda, suas conversas e fugas durante a noite, Marguerite já deixou claro que irá cortar tudo isso. Eu talvez me preocupe em cuidar para que isso seja mantido, para o bem de vocês dois.
John apenas ouvia. Ele decidiu ouvir todos antes e depois, se tivesse alguma opinião plausível ainda, se posicionaria.
Era Verônica quem iria falar agora. Ambos sempre tiveram um convívio como de irmãos, a garota sempre teve muito bom senso, sempre soube lidar com essas situações e sempre se pautando muito mais na razão do que na emoção.
V - John, eu acho que Challenger está certo, é melhor que por um tempo sejam separados, para o bem de vocês dois. Vejam isso como um tempo para ordenarem seus pensamentos, seus sentimentos e, quem sabe, no futuro voltarem pelos menos a se tratarem como amigos e não como estranhos, pois é o que penso que irão fazer; não acho certo, mas também não é de todo errado. Não concordo quanto ao modo como agiu ontem, mas entendo que não foi algo que fez de propósito. Não tenho muito o que falar. Acho que isso já foi o necessário para sabermos como algumas coisas irão mudar aqui, pelo menos durante um tempo.
Era a vez de Malone. O jovem jornalista não teve conhecimento do que havia acontecido com Marguerite, os outros optaram por não contar, pois era algo pessoal dela e o orgulho que ela tinha, a vaidade, quando aconteciam tais coisas era melhor que se mantesse por debaixo dos panos. O jovem, por sua vez, tinha uma opinião imparcial; ele sabia que era algo que o casal tinha que saber lidar, conhecia o temperamento dos dois, o quanto podiam ser imprevisíveis durante suas discussões, preferiria, então, até mesmo não ter que opinar.
N - Para ser sincero, acho que isso é algo que cabe a vocês dois resolverem. Eu não vou julgar, não vou ser contra e nem a favor de nenhum dos dois. Só espero, que como Verônica falou, se não mais um casal, que com o tempo passem a ter ao menos o convívio como amigos, para o bem de todos nós.
John havia ouvido a opinião de cada um de seus amigos. Sabia muito bem do erro que havia cometido, estava decepcionado consigo mesmo; ele não tinha feito por mal ou de propósito, mas estava feito e agora as consequências com as quais teria que arcar seriam grandes, mas necessárias. Se sentiu melhor ao saber que alguns de seus amigos tinham conhecimento disso, mas também não deixou de sentir como se o seu coração estivesse em pedaços, já que agora ele e Marguerite seriam separados, claro, a pedido dela mesma, mas também com consentimento e até ajuda dos demais. Preocupava-se também por não poder protege-la; não que não confiasse em seus amigos, mas essa era sua função.
J - Acho que, antes de qualquer coisa que eu tenha a falar, devo pedir desculpas, para todos vocês, por ter agido como agi ontem. Especialmente para você Marguerite, espero que quando tudo isso passar, você possa um dia me desculpar. Não vou lhe pedir que volte a confiar em mim, que pense sobre o nosso amor, porque eu coloquei tudo a perder, sua confiança e seu amor. Não é de meu gosto ser separado de você, mas não estou em condições de contestar. É algo que cabe a sua vida, esse direito eu não tenho e não irei lhe faltar com respeito. Mas o direito de, como morador, permanecer aqui e me juntar aos demais é algo que eu tenho e que agradeço a todos por não terem tirado de mim, continuarei colaborando com todas as tarefas como sempre fiz. Também podem contar que estarei repensando sobre minhas ações e no que puder consertá-las, farei.
Marguerite estava apenas observando cada um deles, mas seus olhos sempre pairavam em John. Infelizmente, ela havia sim perdido a confiança no caçador, os efeitos de seus atos do dia anterior ainda refletiam no agora. Ela estava incerta sobre seu amor por ele, sabia que sentia, sabia intensamente dentro de si, mas não poderia dar-lhe novamente, não depois de toda a dor que havia passado - nunca havia sentido tamanha dor. Não estava disposta a perdoá-lo, pelo menos durante um bom tempo, e esse tempo nem ela mesma sabia calcular o quanto demoraria
M - Muito bem, Lord Roxton. Espero que, de fato, cumpra com o que está dizendo que irá fazer. Não conte comigo para nenhuma aproximação, para nenhum tipo de reconciliação, não vou e nem quero nada que venha de você, nem mesmo sua amizade, muito menos seu pedido de desculpas, não me valem de nada. Agora que acredito que tudo está certo, vou reorganizar meus diários, os quais me arrependo amargamente de tê-los despedaçados, pois existem muitas coisas registradas ali que não tenho dúvidas de que são mais importantes do que isso aqui.
A herdeira se levanta sem olhar para trás, pega alguns itens em sua cesta de costura que iriam ajudar no conserto de seus diários e segue para o seu quarto.
Verônica preparava um prato para levar para William, que estava de repouso - pelo menos durante aquele dia, pois não seria necessário mais do que isso. John percebe e sabia que era para seu irmão aquele prato. Ele lhe devia um pedido de desculpas, pois fez de tudo antes para tê-lo bem, para ter a chance de ganhar seu perdão e agora havia estragado tudo entre eles também.
J – Verônica, deixe que eu faço isso. Preciso conversar com meu irmão. Conversar civilizadamente, lhe pedir desculpas.
Verônica não se opõe, lhe entrega o prato já feito e apenas faz um sinal positivo com a cabeça, John precisava mesmo fazer isso. O caçador pega o prato e decide ir ao encontro de seu irmão.
J – William, me permite entrar?
William não sentia raiva do irmão, apesar de tudo o que havia acontecido. Na verdade, ele desconfiava que faria o mesmo se estivesse no lugar de John. Ambos muitas vezes brigavam por ter certas características em comum, isso podia ser bom, mas nem sempre útil, às vezes gerava mais desentendimentos entre eles.
W – Entre, John.
O caçador entrou, colocou ao lado da cama o prato para que o irmão se alimentasse. Ele tinha no olhar, e até mesmo na expressão, um ar de arrependimento, de amargura pelo que tinha cometido. Olhava William de cabeça baixa, não conseguia olhá-lo nos olhos.
W – John, sente-se. Acho que não veio aqui apenas para me entregar um prato de comida e, pela sua cara, quer me dizer algo.
John pegou a cadeira, colocou ao lado da cama do irmão e suspirou fundo, pois sabia que seria mais uma das conversas longas e difíceis pela qual teria que passar. Aliás, desde a chegada de William tinha passado muito por isso.
J - Acho que lhe devo um pedido de desculpas, William. Olha, o que eu fiz ontem, bem, eu estava tomado pelo ciúme. Ver você se lembrando de Marguerite, ela foi sua primeira paixão, eu fui atrás dela por você, eu que fiz afastar qualquer expectativa que você tinha, qualquer esperança, porque na época não a julgava digna de ser uma Roxton. Sabe, eu não deveria ter lido os diários dela, sei disso, sei o preço que estou e que irei pagar por isso. Ver que ela lhe correspondeu, que você foi a primeira paixão dela e, pior, ver que ela se sentiu incerta sobre os seus sentimentos entre nós quando reconheceu você, aquilo me cegou de ódio, ciúme; tudo o que eu fiz foi por impulso, por amor e por medo de perdê-la. Por não pensar, por, como sempre me falou, bater para depois perguntar, agora estou sofrendo as consequências. Pelo meu erro.
William sentiu que o irmão falava a verdade, sentia até pena de John, ele tinha sim sido precipitado, certamente a bela herdeira o estava punindo severamente, e claro que com razão. Imaginava que agora, pelo tom dos dois - John de remorso e Marguerite de tristeza, haviam no mínimo rompido tudo. Em partes ele sentia pena do irmão, tinha sim visto o amor que ele carregava por Marguerite (não só visto, mas sentido na pele o que o irmão era capaz de fazer pela herdeira); porém, por outro lado, embora não quisesse pensar muito nisso naquele momento, estava feliz porque o caminho para ele estava aberto e John havia lhe dado a confirmação de que precisava: ela havia se sentido incerta sobre seus sentimentos, o que para ele já era um bom sinal. Ele nunca havia esquecido a cantora e agora, sabendo que estava sob o mesmo teto que ela e que estava desimpedida, ele não iria perdê-la de novo. Infelizmente, o irmão teve a chance e a jogou fora. Contudo, seria cauteloso; por ele mesmo, por conta do irmão ter sentimentos pela herdeira e ela o corresponder e, bem, por saber que ela não era uma mulher como as outras, pois não bastava conquistar seus sentimentos, mas tinha que conquistar sua confiança e até mesmo reforçar essa confiança a cada dia.
W – Sabe, John, não nego que nunca esqueci a cantora de Paris, você sempre soube disso. E saber que ela é a Marguerite, que está aqui, é ainda uma surpresa, acredito que para nós dois. Sinto imensamente por você, acredito ter uma idéia do que está passando, mas como você mesmo disse são consequências, consequências de seus atos. Talvez se eu estivesse no seu lugar faria o mesmo; embora eu não goste de admitir, existem características que temos em comum, das quais não gosto e que sempre geraram brigas entre nós. Porém, eu não estou no seu lugar, foi você quem causou isso. Sinto muito, não o estou julgando, não cabe a mim fazer isso. Só estou lhe dizendo que ainda tenho raiva de saber que me tirou a vida, que estou mantendo a postura por todos os moradores da casa que estão me tratando muito bem, até mesmo Marguerite me pediu desculpas hoje, mas isso não vêm ao caso. Eu o desculpo por ontem, consigo ter compreensão de que perdeu o controle; só não pense que isso não irá contar quanto ao seu perdão, porque irá sim. Terá que ser melhor do que isso, do que esse pedido.
John não se sentia pior, nem melhor; de certa forma, estava preparado para ouvir algo assim, sabia que William não o perdoaria facilmente e não tirava sua razão. Na verdade, só sentia que agora, além da culpa de ter matado William no tempo ao qual ele pertencia, agora ele tinha a culpa de, por sua ignorância, por sua desconfiança, por não saber controlar suas emoções, perder a mulher de sua vida. O caçador, que antes sempre pareceu imponente, sempre inatingível, orgulhoso e arrogante (era assim que o irmão o via) agora estava ali com os ombros encolhidos, cabeça baixa, seu orgulho e arrogância haviam se perdido.
John admitia a falta de compaixão ou o não perdoar de seu irmão, mas não gostava do modo como se referia a Marguerite; não era ciúme como havia sentido antes, era pura desconfiança do que o irmão iria fazer, dos próximos passos que ele iria dar, era como se conseguisse prever que agora, tendo que manter-se afastado da herdeira, William iria entrar em ação para tentar acender a paixão que ela um dia sentiu por ele. Mas ainda que ele pudesse nunca mais ter o amor de Marguerite de volta, ele não iria também permitir que isso acontecesse.
J - Eu já estou sim de saída, meu irmão. Só deixa eu esclarecer uma coisa aqui: você não pertence a esse lugar, a esse tempo, e assim que tivermos uma solução, você irá embora. Portanto, não comece algo que não pode terminar, não prometa algo que não vá cumprir; porque se fizer isso com Marguerite, ainda que eu saiba que talvez eu nunca mais a tenha de volta, você também não a terá. Nunca.
E o caçador deixa o irmão e sobe para o seu próprio quarto, arrependido, furioso com Wlliam, mas principalmente consigo mesmo. Agora ele teria um concorrente em busca de conseguir algo com Marguerite, como se não bastasse ter que se manter longe dela; isso seria desastroso, ele não iria suportar ver outro homem cortejando-a e, pior, e se ela aceitasse, se aquela paixão ressurgisse depois de anos... não, John não poderia permitir isso, mas também agora não poderia tomar nenhuma atitude. Em meio aos seus pensamentos, tentando manter-se calmo, um nome lhe ocorreu: Danielle; ela o havia enfeitiçado, feito o que bem entendia, John até parecia um cachorro correndo atrás dela. E tinha feito tudo isso na frente de Marguerite, despertando um sentimento que ele desconhecia vindo da herdeira: o ciúme. Agora ele estava começando a sentir como a herdeira havia se sentido, tinha um concorrente tão capaz quanto ele, assim como ela teve quando aconteceu com Danielle; e o medo de perder o amor dela deve ter sido o medo que ela sentiu quando ele partiu para levar Danielle para sua aldeia. Era agora o medo que ele sentia: perder seu amor para William.


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