Era mais um dia em Ouran, apenas mais um dia normal como todos os outros, que se resumia basicamente em estudar, assistir as aulas, estudar de novo, ser um anfitrião e finalmente poder ir embora para casa. Os dias se repetiam com quase perpétua monotonia, se não fosse pelas loucuras do Clube Anfitrião.

Nesse dia irritantemente comum, Haruhi teria um exame de História dentro de dois dias, e ela já havia estudado e se dedicado bastante em sua casa; Porém, quando chegou na escola, resolveu aproveitar o tempinho livre que tinha antes que o sino tocasse para estudar sentada embaixo de uma cerejeira recheada de flores rosadas (Era primavera). Estudando, ela estava relaxada, concentrada, calma e em paz. Mas, pelo visto, sua paz não duraria por muito tempo. 

— Ha-ru-hiii! — Os gêmeos Hitachiin gritaram, cada um pronunciando uma sílaba e aparecendo do nada ao lado dela, assustando a pobre garota.

 — Hikaru! Kaoru! Vocês sabem como eu odeio que vocês dois façam isso!— Ela os repreendeu, irritada.

Ambos os gêmeos começaram a rir, eles adoravam encher a paciência dela.

— E é por isso mesmo que nós fazemos! — Eles disseram, em uníssono perfeito.

— Não vejo graça nenhuma nisso. . . — Ela resmungou, se recompondo e voltando a grudar os olhos no livro que estava estudando, irritada e sem paciência para tolerar as brincadeirinhas sem graça deles no momento.

    — Haruhi, o que você está lendo? — Kaoru perguntou do seu lado esquerdo, curioso, enquanto se erguia um pouco para espiar as páginas do livro que ela lia.

— Hum, nada de mais. Estou apenas estudando para o exame de História. — Respondeu a morena.

— Mas, Haruhi, o exame vai ser só daqui a dois dias! — Exclamou Hikaru do seu lado direito.

— Exatamente por esse motivo! E eu aconselho a vocês a fazerem o mesmo. . . A maioria de vocês, ricos bastardos, acham que não precisam estudar, só porquê tem dinheiro e vantagem, não é? 

Antes que Hikaru pudesse abrir a boca para responder, a torre do relógio que funcionava como sinal da escola bateu 3 badaladas. Os outros estudantes, que antes estavam espalhados conversando animadamente pelo pátio, começaram a entrar na escola, se dirigindo para suas respectivas salas de aula.

Haruhi se levantou, ajeitou o uniforme, pegou sua bolsa e estava prestes a sair, quando Kaoru tocou seu ombro por trás. A crossdresser estremeceu com o toque e se virou para ele, que estava segurando seu livro na mão.

      — Você esqueceu seu livro. — Ele disse, entregando-o para ela.

  Ela sorriu e rapidamente pegou o material esquecido da mão dele. Suas mãos se tocaram por um breve instante. . .

 — Obrigada!

 — De nada.

     Muito mais na frente, Hikaru balançou o braço, chamando a ambos enquanto corria e gritava:

—  Andem logo, vocês dois!

  O gêmeo mais novo e sua melhor amiga se entreolharam e sorriram um para o outro.

— O último a chegar se casa amanhã com o Tono! — Exclamou Kaoru infantilmente em um tom de brincadeira. Em seguida, saiu correndo em disparada pelo gramado da escola.

 A morena riu e olhou para ele, se apressando e correndo também.  Quando ela finalmente o alcançou, ambos já estavam na escadaria. Cansada, ela arfou enquanto tentava subir os últimos degraus. O ruivo Hitachiin estava dois degraus a sua frente, olhando para ela e rindo, estendendo a mão em seguida.

— Aqui, me dê sua mão.

  Haruhi tomou um pouco de ar antes de aceitar.

— Mas assim eu ainda me caso com Tamaki se chegar por último! Sou muito jovem para ser submetida a esse tipo de tortura.

 O garoto riu.

— Por que não se casa comigo, então?

  O rosto da anfitriã ficou vermelho como um tomate quando ele disse isso, e, para disfarçar, ela abaixou a cabeça e aceitou a mão dele. Kaoru a puxou em seguida e ambos puderam chegar a sua sala de aula.

 . . . . . . 

  Kaoru não conseguia se concentrar direito na aula, pois um turbilhão de pensamentos dominavam sua mente sem parar. Haruhi. . . Ele não conseguia parar de pensar nela, por mais que tentasse evitar. Vez ou outra olhava para ela, e não conseguia parar, porque, para ele, era inevitável e viciante.

Haruhi se sentava entre ele e Hikaru. Ela sempre ficava hiperconcentrada nas aulas, tentando absorver tudo o que o professor dizia, palavra por palavra, parecendo mais ficar paralisada de tão concentrada. . . Kaoru sempre achava engraçado, porém ficava impressionado com o tanto que seu caderno de anotações era lotado, cheio de informações. Ela também escrevia muito em seus deveres de casa e criava textos tão grandes quanto a Bíblia em todas as provas que fazia.

Haruhi era totalmente alheia ao que acontecia ao seu redor durante as aulas e era por esse motivo que ela nunca iria perceber seus olhares furtivos  de soslaio, pois a morena não prestava atenção nas coisas ou pessoas ao seu redor durante uma aula, e, por isso, também não percebeu os olhares que o gêmeo mais novo sentado ao seu lado mantinha nela.

 “Ela pode até se parecer com um menino, mas, ainda assim, é linda… Pois eu queria que Haruhi soubesse como me sinto! Ninguém nem faz ideia do quanto dói tentar esconder meus sentimentos e não ter coragem nenhuma para contar. . .”- O ruivo Hitachiin pensou. Suspirou pesadamente em seguida, frustrado.

  Enquanto fitava a bela garota, esta, para sua sorte ou azar, olhou em sua direção (E Kaoru achava que ela nunca faria isso) e percebeu que ele estava olhando para ela. Envergonhado, rapidamente desviou o olhar e corou, suas bochechas adquirindo um tom levemente rosado. Em seguida, o rapaz tentou se concentrar na aula mais uma vez.

Hikaru tinha visto tudo. Não fazia muito tempo que ele vinha percebendo que seu irmão não parava de olhar para seu pequeno brinquedo o tempo todo, sempre com um olhar perdido e intenso e uma expressão de embaraço ou distraída. . . O que estava acontecendo com ele? Era como se ele estivesse . . . AH NÃO! Não, não, não. . . Kaoru jamais faria isso com ele! Seria possível mesmo que seu irmão tivesse se apaixonado pela mesma garota que Hikaru?!? A raiva tomou conta de todo o seu ser por completo. Mesmo que Kaoru não tivesse dito a ele ou feito alguma coisa a respeito, sentia-se traído. O gêmeo mais novo lhe dissera que não pensava em Haruhi desta maneira, mas pelo visto, havia mentido, afinal. Quando a aula terminasse, teria uma conversa com ele.

Quando tudo finalmente acabou, Hikaru se levantou de sua mesa e estava prestes a chamá - lo, quando , subitamente, Aiko Chisaki, uma garota ruiva de olhos azuis e que estava com o cabelo preso em um rabo de cavalo, chegou e veio ao seu lado. Ele olhou para ela: Aiko era muito tímida, baixinha e fofa e quase raramente conversava com os meninos, por isso, ele estranhou logo de início quando ela o chamara. Eles começaram a conversar e Hikaru acabou ficando muito distraído enquanto conversava com ela, esquecendo por um tempo o que havia planejado fazer. . .

Kaoru andou até a mesa de Haruhi, que estava guardando suas coisas em sua mochila. Ele teve uma ideia que o deixara pensativo e relutante em perguntar a ela, por medo de que a garota não aceitasse, mesmo que fosse apenas algo muito simples.

— Haruhi, sobre o que você disse hoje mais cedo, quando nós chegamos: Sabe, talvez eu não seja como os outros. . . Por mais que não pareça, também gosto de estudar, do mesmo modo que você.

Haruhi olhou para ele, um pouco surpresa com sua  afirmação.

— Uau ,Kaoru, nunca imaginei que você também gostasse de fazer isso. Você e seu irmão sempre aparentam ser, hmm. . . como posso dizer? Despreocupados?

 Ele riu um pouco e em seguida abriu um grande sorriso convidativo, que iluminou todo o seu rosto da mais cativante maneira.

— Bom, até que eu gosto. Quem não gosta mesmo é o Hikaru. . . Enquanto estudo, ele sempre faz piada. Me diga então, quem é que tem um futuro mais promissor, hein, Haruhi?—  O garoto disse, com um sorriso de lado.

— Sei como é isso. Acho que já vi cenas parecidas na minha vida diária que também são assim, será que você e seu irmão reconhecem?— Arqueou uma sobrancelha quando disse isso, porém, no lugar de uma cara brava ou de aborrecimento, havia em seu rosto um sorriso brincalhão com uma pitada de ironia. — Há duas pessoinhas, uns gêmeos ruivos que sempre tentam me fazer parar e jogar os jogos deles.  . . Os dois são uns santos.

— Hmm, acho que devo conhecer, sim.— Ele disse, fingindo uma falsa expressão pensativa, para, em seguida, rir de leve junto a ela e exibir aquele  seu sorriso maroto, sua marca registrada familiar. E então resolveu não enrolar mais e perguntar logo de uma só vez, agora que o clima estava bom e harmonioso entre ambos, ele tinha mais coragem.

— Ei, Haruhi, que tal se estudássemos juntos na minha casa?

 A pequena menina pensou um pouco.

— Mas . . . e as atividades do Clube Anfitrião?  — Ela questionou.

— Podemos pular hoje, é por uma boa causa! — O gêmeo ruivo respondeu.

A morena assentiu.

— Ok, por mim tudo bem.

Kaoru sorrriu satisfeito. Foi até Hikaru, que estava conversando animadamente com Aiko, que parecia à vontade enquanto falava com ele, sem deixar que a timidez tomasse conta dela por completo, estava bem confortável até.

— Hikaru. — Ele o chamou, interrompendo a conversa dos dois.—Desculpe interromper, mas você poderia dizer ao Tono que Haruhi e eu iremos pular as atividades diárias do clube hoje?

— O quê?!? —  Hikaru estava surpreso.— Por que vocês querem fazer isso, afinal? — Perguntou, suspirando em seguida.

— É por uma boa causa, nós vamos estudar juntos para a prova de História de amanhã lá em casa.

  O gêmeo mais velho e mais irritadiço não deixou de sentir uma pontada de ciúmes ardendo no peito como chamas novamente reavivadas que queimavam em seu coração. Ele era ciumento, mas com a morena, o ciúmes vinha ainda maior: triplicado, já que o ruivo  estava interessado nela, a primeira menina a intervir em seu mundo particular. . .

 — Estudar?  — Perguntou, desconfiado.

— Sim, e eu sei que você acha que estudar é a maior chatice de todas, então. . .

 Ele estava prestes a discordar só para poder ir junto, quando Haruhi apareceu do lado de Kaoru.

— E aí,vamos?

— Sim, claro, vamos indo. Tudo bem, Hikaru, você vai dizer?

— Ok, tudo bem. — Ele concordou, porém, a contragosto. Não estava nada bem! Seu irmão saía com a garota que ele amava e o deixava ali?!? Isso era injustiça, uma completa injustiça com ele! Sentia um profundo ciúme porque Kaoru iria ficar sós com Haruhi, e não ele. . . Havia acabado se distraindo conversando com Aiko (Ok, até que ele achou ela bem legal) e se esqueceu de falar com seu gêmeo . . . Seu encanto o distraiu por completo, mas ele não sentia raiva dela. . . A culpa era de quem, então? Suas certezas talvez se confirmariam quando conversasse com o rapaz mais novo, pois não queria que Kaoru ficasse com uma posse sua, algo que era para ser dele, sua menina, sua Haruhi. Ela deveria ser somente dele e de ninguém mais!

 O belo anfitrião segurou a mão de Haruhi enquanto caminhavam para a limusine que estava a espera e ela não pareceu se importar muito com o gesto. A morena conversava descontraídamente junto a ele enquanto os dois riam de algo bobo que Kaoru havia dito. Este abriu a porta para ela antes que o choffer pudesse vir, e então ambos entraram no carro e partiram. Quem os visse, os observasse bem de perto, poderia perceber o quão suave eram seus olhares, os sorrisos, o modo como ele segurava a mão de sua amiga: pareciam mais um casal, mesmo que a menina aparentasse ser uma figura masculina ali e poucos soubessem seu verdadeiro gênero. . . A morena não havia percebido, mas seu modo de olhar um para o outro havia ficado diferente, e, por dentro do luxuoso automóvel, sua mão repousava sobre a dele.