25 - River Lea escrita por Fernanda Redfield


Capítulo 1
25 - River Lea (Único)


Notas iniciais do capítulo

Boa noite, pessoal!
Como vocês estão?

Peço desculpas pela ausência de resposta aos comentários e pela demora, mas o tempo tem ficado muito escasso para mim. Prometo tentar responder quando possível.

Sobre essa nova one do projeto, a grande curiosidade é de que eu não sabia sobre o que escrever até ter uma luz da leitora dresilv a respeito dela. Ela até me enviou um artigo sobre como interpretar a música Hahahahaha Então, essa fanfic é Faberry sim, mas, sobretudo... Ela é sobre o passado e como ele nos faz ser quem somos hoje.

Foi MUITO difícil escrevê-la. E já peço desculpas caso ela esteja inferior às outras...

No mais, boa leitura a todos!



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“Everyone tells me its ‘bout time that I moved on, that I need to learn to lighten up and learn how to be young. But, my heart is a valley, it’s so shallow and man made... I’m scared to death if I let you in that you’ll see I’m just a fake. Sometimes, I feel lonely in the arms of your touch... But, I know that’s just me, cause nothing is never enough. When I was a child, I grew up by the River Lea, there was something in the water... Now, something’s in me.”

 

Rachel Berry estava, aos 25 anos, no exato lugar e momento que planejara desde que teve discernimento o bastante para escolher o que queria para sua vida. Já era uma atriz requisitada pelas montagens na Broadway, já tinha um Tony em sua prateleira e propostas para seguir para a TV e até mesmo para o cinema.

Isso não a surpreendia, mesmo diante de todos os fracassos e das perdas que sofreu até chegar onde estava, no topo, ela sempre acreditara. Não nos julgamentos alheios, ou nas críticas daqueles que não viam nela uma estrela em ascensão. E sim, nela mesma. Rachel Berry nunca duvidou de si mesma, sempre soube que era a boa o bastante nem que fosse para morder as bordas da imensa Broadway... E também sabia que, provavelmente, quando alcançasse o sucesso profissional, este seria precedido do fracasso emocional.

Rachel nunca teve sorte com relacionamentos. Seu primeiro namorado, a paixão do colegial e, talvez, uma das pessoas mais importantes de sua vida, morrera atropelado. O seu segundo namorado ficara com ela apenas por interesse e objetivos próprios, entretanto, ele acabara gostando dela e, inevitavelmente, os dois se atraíram por tempo o bastante e até namoraram quando tudo estava resolvido e às claras... Porém, Rachel ainda sentia que faltava alguma coisa.

Desde Finn, aquele que conhecera grande parte do que ela era e muito do que ela mesma desconhecia, Rachel não conseguiu se entregar de forma plena e leve a alguém. Jesse teve mais dela no colegial do que nos anos em que se relacionaram em New York. Algo a prendia, sua superfície era dura de ser transpassada, existiam camadas e mais camadas de decepções, perdas, desconfianças e, até mesmo, desilusões em relação ao amor.

E existia algo em Rachel Berry que era incorrigível e imutável: ela não se jogava naquilo que não acreditava. Por isso, durante algum tempo, o amor tornara-se uma realidade distante e incompatível com a vida que tinha naquele momento. Algo que ela já não lembrava mais como ela e que não fazia muita questão de trazer de volta. O amor tornou-se uma mera lembrança, uma das mais vagas, na vida de Rachel. E não era como se ela sentisse falta porque ela ocupava seu tempo intensamente para, justamente, não amargar a solidão.

A morena era feita de emoções, mas essa emoção, em particular, era algo que não mais a atraía e, muito menos, movia seus instintos e esforços. Rachel parou de acreditar e, logo, de buscar, não demorou muito até que ela fosse se esvaziando e que o brilho de seus olhos escurecesse. Ela tornou-se uma versão minimalista de si mesma, ainda assim competente, mas tudo em doses menores que nada se assemelhava às explosões de seu colegial ou aos extremos de sua vida na universidade.

E Rachel Berry não sentia mais falta daquilo que não mais se lembrava... Até que ela reapareceu e voltou para sua vida.

Diferentemente de Rachel, Quinn Fabray passou todo aquele tempo refletindo sobre as pessoas e sentimentos que ocupavam espaços em sua vida e em seu coração. Alguns foram afastados, como seus casos na universidade e Puck e outros foram reaproximados, como Santana e Brittany. Enquanto Rachel ocupou-se de não sentir, Quinn sentiu tudo, de forma amplificada e máxima, diferente dos seus sentimentos sempre tão bem resguardados em seu jovem coração colegial.

E em uma dessas reflexões, Quinn chegou a Rachel. Seus pensamentos em relação a morena foram os mais curtos porque, afinal, não existia o que pensar quando já se sentia há mais de dez anos... E Quinn deixou-se guiar por eles.

E eles a levaram a Rachel, em New York.

Quinn entregou o seu tudo, realmente não ligando para o quão diferente Rachel estava. Ela aceitou o mínimo porque diante de tudo que acontecera entre elas, aquilo parecia ser o necessário e o máximo que Rachel podia lhe entregar. Quinn retornou como amiga e permaneceu como amante.

Porém, Quinn perguntava-se quando seria o suficiente para Rachel voltar a acreditar e, principalmente, Quinn questionava quando poderia planejar um futuro como o verdadeiro amor de Rachel Berry.

“I can’t go back... But the reeds are growing out from my fingerprints, I can’t go back to the river.”

 

As luzes do quarto de hotel em que fora simulado um estúdio cegavam a pequena Rachel Berry, ela também precisava confessar que estava transpirando um pouco além do normal e que suas mãos tremiam, levemente.

Qual era a razão de todo aquele nervosismo? Ela estava prestes a conceder sua primeira entrevista a uma grande emissora de televisão, estavam fazendo um especial com grandes promessas do mundo artístico escolhidas a dedo e o seu nome estava entre eles. Seu empresário achou que seria bom, tanto para a sua firmada carreira no teatro quanto para a sua futura carreira na televisão e no cinema.

Rachel treinara para receber prêmios, mas ter alguém perguntando sobre sua vida profissional e pessoal e, principalmente, exigindo sinceridade, assustava. A morena colocara em sua cabeça que deveria atuar e, talvez, atuar muito bem. Existiam certos assuntos dentro de sua vida profissional que precisavam ser evitados.

Ela não queria ser reconhecida como uma estrela que superou o abandono da mãe e a adoção por um casal gay para chegar ao sucesso, na verdade, Rachel sempre quis ser única e exclusivamente reconhecida pelo seu sucesso. Então, certos assuntos de sua vida seriam brevemente abordados ou evitados.

Porém, naquele minuto, em que sua maquiagem leve era finalizada, Rachel se perguntava o que faria em relação ao seu relacionamento recente com Quinn. Não sabia em que ponto as duas estavam, muito menos, aonde aquilo tudo levaria... E mesmo que não admitisse em voz alta, Quinn tinha seus méritos por tentar incansavelmente, todos os dias, melhorar a sua rotina.

Quinn, como sempre fora em todos aqueles anos de relacionamento, seja a amizade ou o recente namoro, era uma pessoa delicada dentre o mural de figuras que passara pela vida de Rachel Berry. A morena sempre cedia quando se tratava dela, principalmente, no passado. Bastava o reflexo de uma lágrima ou uma pequena rachadura na máscara de frieza que Quinn usava e lá estava Rachel, pronta para servir como bode expiatório para as frustrações da loira ou como ombro amigo. A morena acostumara-se a se ferir para que Quinn se erguesse e, com o tempo, as duas começaram a equilibrar aquela relação injusta até chegarem onde estavam.

Hoje, o relacionamento era feito muito mais das cessões que Quinn fazia do que dos esforços de Rachel. A morena tivera o seu interior calado e talhado à pedra diante de tantas frustrações, decepções e tristezas emocionais. E Quinn estava, lentamente, talhando àquela pedra e moldando-a de acordo com o que achava ser o mais próximo da Rachel Berry pela qual se apaixonada.

Rachel reconhecia os esforços de Quinn. Mas, existia algo dela que não podia ser mudado, ela não sabia o que era simplesmente sabia da existência daquilo em seu interior. Por mais que Quinn, diferentemente dos outros, não desistisse e permanecesse, a vida dela não seria fácil. A morena sabia que era uma pessoa difícil, ainda mais agora que se fechara para certas coisas que julgavam ser desimportantes.

E que Quinn, em oposição a ela, julgava sê-las de extrema importância.

Devido a esse conflito de importâncias, Rachel julgava se era mesmo necessário ser sincera a respeito de algo que ela não sabia até onde ia dar. Era mais um aspecto de sua vida pessoal a ser julgado além de suas origens e sua criação, era mais um evento que provocaria discussões que, talvez, afastassem todas as atenções de seu talento.

Por outro lado, Rachel estava feliz depois de muito tempo sozinha e amargando às conseqüências impensadas que fizera. Ela tinha vontade de falar aos outros sobre Quinn, principalmente porque tinha muito orgulho do que ela era. Quinn superara muita coisa para se formar e chegar aos teatros de New York, mesmo com pequenos papéis, ela começava a se destacar e logo chegaria a algum lugar.

As duas eram discretas, mas sempre estavam juntas e, em tempos de liberdade sexual, logo questionariam a natureza da amizade que elas possuíam.

Rachel pensava e pensava... Mas, nunca chegava a um consenso.

E, quando menos esperou, os minutos se passaram e o microfone fora colocado na gola de seu vestido. Os refletores ligados e a câmera gravando, o repórter a sua frente, simpático e perguntando coisas para as quais ela tinha respostas ensaiadas. Ela estava na entrevista há mais de vinte minutos quando, enfim, o repórter sorriu para ela e perguntou cheio de curiosidade:

— E a vida amorosa, Miss Berry? Alguém especial?

Rachel engoliu em seco, sua garganta seca imediatamente ao fim da pergunta. A morena respirou fundo e, sorrindo, tomou um gole do copo de água na mesinha ao seu lado. Sua cabeça travava uma batalha inquieta com sua emoção, ela não ensaiara aquela resposta porque não chegara a um consenso. Seu raciocínio dividia-se entre dar mais munição para que a mídia revirasse seu passado ou calar-se e manter-se focada naquilo que tinha controle: seu talento.

A essa altura, Rachel já tinha decidido o que faria. A morena cruzou as pernas e repousou as mãos nos joelhos, sorriu para o rosto afoito do repórter e respondeu simpática:

— Não há ninguém, Gale. O topo é um lugar solitário e ele não permite distrações.

O repórter sorriu para a graça que Rachel fizera, mas a morena percebeu quando os olhos dele brilharam de forma gananciosa. Ele lhe sorriu maleficamente, perguntando eufórico:

— Bem, a senhorita sabe que na Broadway, não há muitas fronteiras para o amor, assim como no teatro... E você tem sido vista, com freqüência, na companhia da jovem atriz Quinn Fabray. Ela entraria no hall de distrações que poderiam lhe fazer ceder o topo a favor de amor?

Os punhos de Rachel fecharam-se sobre seus joelhos, seus olhos castanhos semicerraram-se de forma ofendida para o repórter que parecia estar bem feliz com o que provocara.

Ele fizera o dever de casa e ela caíra perfeitamente em sua armadilha para tirar dela mais um ponto a ser revirado em sua vida e em seu passado.

Era o passado de Rachel, personificado na figura de Quinn Fabray, que vinha à tona. Todo o bullying, todas as humilhações, todas as decepções pelas quais passara... Tudo isso serviria como um enredo para uma história de superação.

Mas, na cabeça de Rachel Berry, superação barrava talento. Ela não queria passar como frágil, não depois de tanto tempo reconstruindo-se para se tornar forte e, principalmente, inalcançável.

Inalcançável. Solitária. No topo.

“But it’s in my roots, in my veins, in my blood and I stain. Every heart that I used to heal the pain... So, I blame it on the River Lea.”

 

E foi exatamente os sentimentos do passado que direcionaram a resposta e a atitude de Rachel. Ela olhou firmemente para o repórter.

A já conhecida ganância de ser a melhor e não dar motivos para dúvidas em relação a isso se fez presente. A sensação de sentir-se acuada amargou seu interior e envergonhou a sua força de vontade e sua resistência aos fantasmas de seu passado.

Nesse momento, ela se esqueceu do que achava ter com Quinn. Rachel encheu os pulmões de oxigênio e respondeu:

— Ela não é ninguém, só mais uma amiga.

# # # # #

“I should probably tell you now before it’s way too late that I never meant to hurt you or to lie straight to your face. Consider this my apology, I know its years in advance... But I’d rather say it now incase that I never get the chance.”

 

A entrevista fora ao ar há cerca de uma semana e, desde então, Quinn estava diferente. A loira, sempre tão animada e efusiva em relação ao relacionamento das duas, estava calada e raramente sorria ou dizia algo. Ela ocupava a maior parte de seu tempo observando Rachel em silêncio, não ousando interrompê-la ou exigir muito da atenção dela.

Rachel já percebera a mudança no comportamento de Quinn, mas tampouco a afastava ou perguntava do que se tratava. Não tinha coragem e nem sabia o que esperar do que viria depois de perguntar, não estava pronta para discutir ou argumentar, ainda mais uma relação.

A morena poderia até ter entendido o que acontecera, mas ela não sabia o que se passava na cabeça e, essencialmente, no coração de Quinn.

A loira não fazia drama ao sentir-se traída. Ver Rachel negá-la tão claramente para o país inteiro doera muito mais do que ela esperava, justamente ela que negara Rachel tantas vezes em seu passado, era aquela que, agora, sofria com o preço de uma rejeição. Tudo que fizera por Rachel passara a ser pouco e Quinn não sabia o que fazer porque dera o seu máximo e tudo que tinha.

Era dera sua devoção, seus esforços, seu carinho e suas iniciativas a Rachel. Implorara por perdão em relação a tudo que fizera no passado. Dera seu coração e a sua sinceridade, sem pedir por nada em troca... Tudo que ela queria era o que Rachel pudesse lhe entregar e, aparentemente, depois daquela entrevista e da negação, não existia muito que a morena pudesse ter além da amargura e da frieza que ela tentava disfarçar.

Quinn achava complicado pensar em Rachel como fria, justamente ela que fora uma estrela tão incandescente na época de Glee, capaz de queimar todos os seus preceitos e pré-conceitos. A loira não conseguia somar essa Rachel que estava em seus braços com a Rachel pela qual se apaixonara. Eram duas pessoas diferentes, duas naturezas completamente opostas.

Enquanto uma era feita de companhia, de calor humano e de sonhos... A outra era feita de solidão, de frieza velada e de concretizações que não mais traziam brilho aos olhos. Em algum ponto, enquanto Quinn estivera afastada, Rachel se deixara amargar pela feiúra da vida e pelas decepções no amor.

Quinn recusava-se a acreditar que essa Rachel estivera presente naquela pela qual se apaixonara.

Quinn sentiu um leve e rápido toque em seus lábios, a loira piscou os olhos e focalizou Rachel sentada entre suas pernas. A testa vincada em preocupação e os olhos castanhos distantes, como sempre eram perceptíveis naquele presente. A morena perguntou firme:

— Tem algo para me falar?

— Não é nada... Estou pensando em algumas orientações do diretor da peça. - Quinn desconversou nervosa, sentindo o calor em suas bochechas entregar sua mentira. Rachel afastou-se dela, sem deixar qualquer rastro de calor, ela cruzou os braços e tornou a perguntar incisiva:

— Tem certeza?

— Absoluta, eu só estou distraída. - Quinn tornou a responder apaziguadora, dando um sorriso que também não conseguiu esconder a sua tristeza latente diante de sentir-se tão dispensável para Rachel Berry. A loira percebeu que a discussão finalmente chegara quando a morena levantou-se e bateu com o livro que lia na mesinha de centro, ela caminhou alguns passos antes de vociferar:

— Se você tem algum problema, basta falar, Fabray. Eu não agüento mais ser observada, por todos os cantos, como se eu fosse doente.

Quinn sobressaltou-se com a reação agressiva de Rachel, tão assustada que perdeu, por breves segundos, a capacidade de falar. Rachel virou-se para ela, finalmente, os olhos castanhos denotavam algo além da frieza, eles flamejavam por algo que Quinn tinha a certeza de não ser o que elas tinham. A loira pigarreou para retomar a sua voz e entregou mais algo a Rachel, a sinceridade:

— Então, você percebeu?

— Não é difícil ignorar quando alguém lhe cega com os olhos por todos os cômodos da casa, nem é imperceptível quando uma pessoa se afasta de você. - Rachel tinha certa irritação em suas palavras, como se não tivesse mais paciência para aquele tipo de discussão. Agora, as duas se encaravam e havia faíscas, exatamente como no colegial.

Quinn largou o roteiro da peça para qual fora escalada e também ficou em pé, ela marchou em direção a Rachel com passos pesados e decididos. A menos de um metro da morena, ela parou. Quinn olhou-a profundamente e grunhiu:

— Por que não resolveu ter essa conversa antes?

— Eu estou de saco cheio do seu silêncio, Quinn! Por que você está tão distante? - Rachel parecia curiosa, mas não se sentia mal ou culpada. Na concepção distorcida que ela adotara em relação aos seus sentimentos, ela fizera o necessário. - Ainda é por causa da entrevista?

Quinn não conseguiu responder por que aquela mulher a sua frente, olhando-a sem sentimento algum, ainda podia lê-la o bastante para destruí-la. E dar-se conta de que a pessoa que amava era capaz de machucá-la, saber disso e, ainda assim, não fazer nada para evitar ou, ao menos, para apaziguar a dor... Era destrutivo. Quinn engoliu o bolo que se formara em sua garganta, mas quase não conseguiu conter as lágrimas que chegaram aos seus olhos.

Rachel, por sua vez, a sua frente, estava impassível e distante, presa naquele local que chamara de “topo” que, na verdade, a colocava para baixo e não para cima. Aquele local que a afastara dos sentimentos, do coração e do amor. Aquele local que sugava sua vitalidade e que, principalmente, a afastara de Quinn.

As duas olhavam-se, Quinn lutava contra as lágrimas e Rachel permanecia imóvel, sem demonstrar sentimento algum. Por fim, uma lágrima finalmente escorreu e manchou o rosto de Quinn. Impaciente com aquela reação, Rachel explodiu:

— Você queria que eu tivesse feito o que? Sinto muito, Quinn... Mas, eu não podia dar a eles mais um motivo para revirar meu passado.

— O passado, Rachel?! - Quinn indagou indignada, aproximando-se ainda mais de Rachel e envolvendo o rosto moreno com suas mãos, forçando a morena a olhar para seus sentimentos. Os papéis, com o tempo, haviam se invertido. Hoje, era Quinn quem carregava o coração e Rachel quem carregava a frieza. - Eu estou aqui, agora! Eu sou o seu presente! Isso não tem nada a ver com o que nos aconteceu no passado!

— Como não? - Rachel perguntou com a expressão cheia de escárnio, tão diferentemente do que ela trajava e do que fizera Quinn se apaixonar. A morena segurou os pulsos da loira e afastou as mãos de seu rosto, dando um passo para trás. Os olhos dela cortavam como navalha e Quinn sangrava, profusamente. - Se eu deixasse que eles me relacionassem com você, todo nosso passado seria revirado e eles trariam a tona tudo que aconteceu entre a gente... Todo o bullying, a competição por Finn, os slushies, sua gravidez, nossas brigas... Eu não preciso disso na minha vida, Quinn. Eu já me afastei disso há muito tempo, eu não preciso que ninguém me reconheça como exemplo ou imagem de superação.

— Nosso passado faz parte do que nós somos, ainda que você não admita isso. Não foi justo você me negar por medo dele quando eu, que tinha mais motivos para negá-lo, não o faço. - Quinn finalmente parou de ceder às emoções e deixou que um pouco de sua frieza chegasse a Rachel, mas ela parecia ser resistente a isso porque, em vez de encolher-se ferida, a morena ergueu-se ainda mais forte. Ela tinha um sorriso irônico nos lábios ao responder:

— Eu não lhe neguei somente por isso, Fabray. Por favor!

Quinn olhou incrédula para Rachel. Ao mesmo tempo em que se roia para saber do que se tratava, ela não tinha muito certeza se suportaria ouvir algo ainda mais agressivo de Rachel. Por isso, ela ficou calada. Mas, se algo não havia mudado em Rachel depois de todos aqueles anos, era a coragem.

Ela falou. Falou e feriu.

— Eu neguei você porque não sei e duvido que você permanecerá por tempo o bastante na minha vida e eu não quero ser reconhecida pelo que eu tive contigo.

“I can’t go back... But the reeds are growing out from my fingerprints, I can’t go back to the river.”

 

Quinn ficou parada, em silêncio, em frente a Rachel. A ausência de palavras da loira era compensada pelas lágrimas que caíam e ela, rudemente, limpava. Quinn olhava para Rachel, procurando respostas e encontrando, somente, outras novas perguntas.

Claro que, ao voltar, Quinn percebera que havia algo diferente. Mas, a vida endurecera todos, era o preço pago por amadurecer. Entretanto, ela não enxergara o quanto a vida mudara Rachel.

Justamente ela, a que era guiada pelas emoções das músicas que cantava; a que vivia para sentir porque sentir era o que a inspirava; aquela cuja generosidade era tão grande que só perdia para sua força de vontade... Aquela morena baixinha e encantadora que roubara, sem pedir e nem pestanejar, o coração de Quinn. Aquela mesma garota que a ensinara a acreditar nas pessoas, no destino, na vida e em si mesma; aquela que fora a sua inspiração para ir de encontro aos seus sonhos; aquela que a ensinara a amar...

Rachel a ensinara, sobretudo, a amar. Incondicionalmente, de forma sôfrega e pedinte, louca e perdidamente. E era exatamente dessa forma que Quinn a amava, mas, assim como Rachel estava presa à vergonha de seu passado e às conseqüências em seu presente, Quinn estava presa àquela Rachel do McKinley High. A loira não conseguia reconhecer essa morena a sua frente.

Era irônico como o passado ainda direcionava o que as duas tinham.

De um lado, Rachel Berry, remoendo cada angústia e cada dor que vivera, fazendo delas um combustível para seu estrelato e abandonando o que fora para se tornar o que era necessário para alcançá-lo. Escondendo suas cicatrizes do passado por meio de mentiras ainda que estas destruíssem o seu presente e, provavelmente, seu futuro. Essa Rachel vivia de aparências, do que tinha que ser para o mundo no qual escolhera viver.

Do outro lado, Quinn Fabray estava destruindo-se por um presente sem futuro algum, pois as causas do fracasso estavam, justamente, no passado das duas. Quinn abraçara todos os seus erros e seus pecados, procurara perdão para cada um deles e, após passar pelo purgatório, usara da redenção para se tornar uma pessoa melhor e diferente do que fora. A Quinn desse presente inesperado vivia do que sentia e não ligava para o mundo que a cercava.

Os papeis tinham, praticamente, mudado de uma para outra. Mas, a importância do passado ainda estava marcado a fogo na existência de cada uma delas. O fracasso do que as duas possuíam não era dado pela declaração de Rachel na entrevista e sim, pelo passado e por todo o tempo passado desde então.

Os erros delas estavam em Lima, presos em memórias distantes que, muitas vezes, tinham as existências negadas. As raízes das feridas que envolviam Quinn Fabray e Rachel Berry eram profundas e firmemente fincadas naquela pequena cidade de Ohio, lar do preconceito, da intolerância e das aparências.

Aquela Rachel fora talhada e construída lá ainda que tivesse vindo à tona somente agora. E a Quinn de Lima deixara-se desconstruir em New York. Mas, elas ainda tinham algo daquela cidade, das pessoas com as quais conviveram por anos, do ambiente que as fizera crescerem... Elas eram frutos do passado, tinham erros não remediados nesse lugar distante da linha do tempo.

E o pior: elas não podiam voltar e consertar tudo.

“But it’s in my roots, in my veins, in my blood and I stain. Every heart that I used to heal the pain... So, I blame it on the River Lea.”

 

— Desculpe, Quinn... Mas, eu não posso deixar que eles saibam sobre nós. Não com o peso que temos que carregar em relação ao que fomos. Pense em mim! Eu não posso jogar tudo que conquistei no ralo! - Rachel pediu de forma racional, sem derramar uma lágrima sequer e afastando-se ainda mais de Quinn. A loira, por sua vez, olhou para ela e existia um calor diferente nela, ela deu às costas pela morena e disse:

— Eu também não posso jogar tudo que eu conquistei fora.

— O que você vai fazer? - Rachel perguntou amedrontada, pensando apenas nas conseqüências que viriam se Quinn resolvesse ir à mídia e falar sobre elas. Quinn pensou o mesmo e riu sarcástica, a única reação de Rachel durante toda aquela conversa veio de uma ameaça a sua fama e não a relação delas... Quinn não precisava de mais para ter certeza de que faria o certo.

Diferentemente de Rachel, Quinn abandonou o passado naquela sala. Ela caminhou até a porta e saiu, sem dizer nada, sem brigar, sem questionar.

Exatamente da mesma forma que deveria ser em relação ao seu passado. Ela abandonou seu grande amor e sua história para trás, sem questionar por que deveria fazer isso, sem amargar as decisões que tomara antes, sem temê-lo.

Quinn precisou abandonar seu grande amor para desapegar-se do passado. Aquele tempo deixara de existir no exato momento em que ela deixara Lima e ela o deixaria aonde ele deveria estar.

Às suas costas...

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Notas finais do capítulo

O que acharam?Eu consegui me fazer entender?Espero que tenham gostado... Chegamos à sexta one do projeto, faltam apenas mais quatro, hein? Conto com vocês para me fazerem companhia até o fim *-*Aguardo o feedback e os comentários, para aqueles que ainda não me seguem no Twitter, me encontrem por lá (@RedfieldFer).No mais, nos vemos na próxima!Beijos,FerRedfield.



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