Ex Umbris ad Lucem escrita por Ariri


Capítulo 5
Lembranças de uma vida que se passa.


Notas iniciais do capítulo

Demorei mas tô aqui. Espero que gostem porque eu particularmente amei esse capítulo.



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 Selene! Sabemos que você é capaz de bem mais que isso! - escutei aquela voz rouca e bufei.

— Vá para a puta que te pariu! - Gritei jogando a maldita varinha emprestada no chão e subindo correndo para o meu quarto.

Ao trancar a porta e cair rapidamente no chão, exausta, escutei nitidamente os resmungos do meu querido tutor legal. Coisas como "ela é impossivel”; "nunca conseguiremos deixá-la pronta até as aulas”; "Me ajude Luna" eram constantemente ditas e me deixavam com o coração pesado de culpa. Draco estava apenas tentando me ajudar. Deixar-me forte e pronta para o que fosse. Estava recuperando o tempo que perdi não estudando. Afinal, me recusei a frequentar a turma de pirralhos.

— Não se preocupe, logo essa raiva passa. - Escutei aquela voz angelical e olhei para a janela onde uma linda garota loira de olhos azuis sorria gentilmente para mim.

— É melhor você ir antes que eu desconte minha raiva em você. - falei séria, mas sabia que jamais conseguiria descontar qualquer coisa naquele anjo.

— Duvido muito que você machucaria alguém que te trouxe café bem quente e um queijo quente. - Ela deu um sorriso largo quando eu cedi e se aproximou aos pulos colocando o prato na minha frente.

— Você não presta Blair. Só vive me comprando com comida. Querendo me conquistar pela barriga. - Comentei já dando uma bela mordida no meu sanduíche cheio de queijo escorrendo pelos lados.

— O que dizer se já te conhecia desde o momento que te vi? - Dei um sorriso de canto. - Não fique assim. É extremamente difícil aprender esses feitiços. - bufei.

— Eu nunca vou aprender. Tudo isso é um grande papo furado. Eu deveria estar com minha irmã agora ao invés de perder tempo tentando recuperar o tempo perdido.

— Não fale assim. Meu pai disse que o seu amigo Alex era o pior bruxo que já havia conhecido. Só tirava notas péssimas. - a olhei incrédula lembrando-a tudo que ele fizera naquele fatídico dia - Ok, aquilo era só uma forma de revolta, mas não desista. Eu estou sempre te ajudando e as meninas também. Somos um time.

Fiquei calada enquanto ela falava sobre o que cada uma faria. Refletia sobre como me apeguei tanto a ela, uma total desconhecida e às outras garotas. Poderiam estar sendo falsas, com ordens dos pais para nos vigiar, nos controlar. Alex me garantiu que eu estava sendo boba. Eu sei que estou sendo boba. Sempre tive um sentimento de quando as pessoas falavam a verdade ou não, até mesmo com Carl. Ela realmente gostava de mim. Elas gostavam de mim. Aurora Malfoy, Zoe Weasley e Diana Potter. Herdeiras de grandes bruxos, famosas apenas pelo sobrenome. Todas acolheram a mim e a Val de braços abertos e nos levaram rapidamente à diversão.

— Está me escutando Nena?

— Pedi para não me chamar assim. É humilhante. - olhei com os olhos comovidos ao lembrar minha querida irmã. Sim, as duas se parecem bastante na personalidade.

— Mas eu gosto. - ela sorriu.

— Selene desça, por favor! Precisamos continuar. Tenho certeza de que irá conseguir. - bufei e ignorei o berro do Sr. Malfoy

— Irá causar um ataque cardíaco em papai. - ela falou com um risinho enquanto olhava as roupas no meu closet enorme e extremamente desnecessário.

— Ele sobreviverá. Não sobreviveu a coisa pior? - ela deu uma gargalhada e uma sombra apareceu na janela nos dando um susto.

— Tem uma pessoa aqui que irá te ajudar. - Draco falou calmamente embora seus olhos denunciassem desejos assassinos - Eu suplico que desça. - Suspirei fundo e como já havia terminado de comer, levantei-me, tomando um pouco do café. - E Aurora, pare de alimentar a garota toda hora, temos uma rotina e você está alterando-a. - Ela imitou o pai de costas pra ele me fazendo rir - Eu estou vendo Aurora Malfoy. - ela congelou - A quem você puxou pelo amor de Merlin?! Não foi nem a mim nem a sua mãe que sempre foi calma e...

Não escutamos mais nada porque descemos rapidamente. Já escutei aquele discurso três vezes. Aurora, a alegria da casa, claramente amada infinitamente, mimada e gentil, era extrovertida, irreverente e animada constantemente, oposta a seus pais Draco Malfoy, sério e seco - embora não seco dentro de casa - e Luna Lovegood Malfoy, que apesar de divertida e alegre, era extremamente calma e singela.

Obviamente não era filha única, já que tinha um irmão mais velho, o jovem Caius Malfoy que havia prometido ficar ao meu lado, mas estava ocupado demais viajando o mundo. Típico. Eu caí feito um patinho.

— Um galeão pelos seus pensamentos. - ouvi uma voz conhecida e levantei os olhos percebendo estar no jardim novamente, mas frente a frente com aquele que havia me dado um comichão. - Olá Srta. Selene Ad Lucem. - ele deu um sorriso de canto fazendo reverência e beijando minha mão.

— Olá James Severo Potter. - mais uma vez tirei minha mão rispidamente, mas me arrependi. Ele é o irmão de Sasha, tenho que ser mais educada. - Desculpe-me. - falei sussurrando.

— Eu não acredito que ela disse isso! - Escutei aquela voz maravilhosa e saí correndo pulando no colo de meu amigo. - Aiai, ainda estou um pouco quebrado - o soltei um pouco, mas ele me apertou mais. - Não importa! Como você está acabada irmã. - Revirei os olhos enquanto o soltava.

— Como se sua condição estivesse das melhores. - Rimos juntos - Então é você quem vai me ajudar? - perguntei com os olhos brilhando. Ele sorriu e se afastou puxando o Potter.

— Sinto muito te decepcionar, mas não terminei meus estudos. Meu querido amigo e prodígio aqui será o responsável por seu treinamento e sua proteção. - meu sorriso morreu e vi algo nos olhos do Potter mudar - E quando eu melhorar, irei ajudar a Val obviamente. Se ela me aceitar...

— Mas é claro que ela vai te aceitar. É só uma fase. - James falou

— Concordo com ele. Logo isso passa. A perspectiva de ter uma família grande vai deixá-la feliz. - coloquei um ombro em volta de meu amigo e sorri cúmplice para o Potter, sentindo um aquecimento ao olhar em seus olhos.

— Vejo que já confraternizaram. - Escutei a voz de Draco e sorri - Bem Selene, como eu não estava conseguindo te ensinar o suficiente, conversamos e resolvemos que o Testa Rachada Jr seria ótimo nesse papel. Então agora deixaremos vocês a sós para começar o treinamento.

Todos saíram e ficamos sozinhos. Um silêncio constrangedor se estabeleceu até que James interrompeu.

— O que acha de voarmos um pouco. – eu não respondi, obviamente sem entender e ele sorriu – Accio Firebolt – rapidamente duas vassouras apareceram em sua mão e ele estendeu uma para mim. – Sente nela.

Comecei a me afastar com medo até ele me agarrar, me colocar em cima da vassoura e ela começar a voar comigo. Gritei de medo e fechei os olhos. Xinguei todos os nomes existentes mentalmente já que meus dentes estavam trincados e jamais conseguiria pronunciar uma única palavra. Senti que estava parando e pensei se deveria abrir o olho ou não. Eu poderia estar no chão, mas e se não estivesse? Bem, eu poderia tentar voltar para o chão. Ok. Conte até cinco.

Um

Dois

Três

Quatro

Cinco

— Vejo que abriu os olhos então. – encarei aquele sorriso encantador e tive certeza que ainda estava no ar.

— Por favor, por favor, me coloca no chão. Ten-tenho me-me-medo deal-tuuu-ra. – falei com calma, percebendo rapidamente ter falhado na tentativa de ser calma.

— Antes olhe ao seu redor. Para frente, para o lado. Veja a vista maravilhosa. – olhei e percebi que já estávamos no pôr do sol. E era perfeito. Relaxei aos poucos enquanto observava essa maravilhosa obra – Até esqueceu-se do medo não? – envergonhada, assenti. – Não sinta vergonha. É normal. Agora consegue ver como desistir de seu medo de executar magia?

— Qual a bendita relação? – ele mais uma vez sorriu. Isso não está dando certo...

— A relação é simples. Você tem medo disso. Tem medo de feitiços, tem medo de coisas mágicas, tem medo do desconhecido, tem medo de você. Mas no momento que você abrir os olhos e olhar ao redor e dentro de si, verá como é extremamente divertido e interessante. – desviei os olhos dele e fiquei calada por um tempo. É claro que ele está certo, mas eu jamais admitiria isso. – Alex me contou que você é levemente orgulhosa. – ri baixinho pelo “levemente”. Ele não tinha a menor ideia. – Que tal fazermos algo diferente?

— O que? – perguntei interessada – Sr.Malfoy não aceitaria de forma alguma adiar o bendito cronograma dele. E temos menos de dois meses pela frente. – Levantei a sobrancelha de forma desafiadora e ele sorriu mais ainda.

— Você é um anjo.

— Não sou um anjo. – Falei grosseiramente virando com a vassoura. Eii. Acho que posso fazê-la andar.

— Sim, você é. É encantadora, sagaz, linda, orgulhosa, com esses olhos cor de âmbar. Nossa. Parece que caiu do céu. – ele veio atrás de mim, e eu ficaria lisonjeada se não fosse a menção aos meus olhos. Olhos cor de âmbar que não são meus e sim de minha mãe, e jamais chegou a ser tão bonito quanto os dela. – O que foi? Falei algo de errado?

— Não. É só que falar disso me faz lembrar minha mãe. – vi seu rosto confuso e me corrigi. – Eu tenho os olhos da minha mãe. Minha mãe tem os olhos de meu avô, que a criou sozinha e foi um pai para mim. Ele morreu quando eu era muito nova, mas ainda lembro muito bem dele. No entanto, nossa, os olhos de minha mãe. Todos falavam dele. Todos da família, amigos. Era a coisa mais perfeita nela. Tinha um brilho especial, que fazem os meus parecerem simples bolas de gude.

— Não acredito nisso. – o olhei surpresa – Tenho certeza de que os olhos de sua mãe eram perfeitos, absolutamente perfeitos, mas os seus são igualmente perfeitos ou até mais.

— Não sei o que é mais do que perfeito.

— A magnificência. – ele falou em um tom simples e eu não soube o que dizer, apenas abaixei a cabeça, jogando o cabelo no rosto. – Não faça isso. – senti sua mão levantando meu rosto enquanto sua outra mão colocava as mechas de cabelo atrás da orelha. – Não se esconda. De forma alguma volte a fazer isso.

Ele estava tão próximo. Olhei em seu rosto e senti aquele comichão ficar cada vez mais forte enquanto ele se aproximava e tomava meu rosto com suas mãos, puxando-me para ele. Nossos lábios se atraiam magnéticamente e eu queria sentir seu beijo, tudo parecia implodir dentro de mim, como uma criança ganhando muitos doces no dia das bruxas, ou acordando no seu aniversário atrás de presentes. Nossos lábios se tocaram e eu me senti uma completa idiota feliz até, um segundo depois, tudo sumir ao meu redor.

Senti tudo ficar negro por um segundo até me ver frente a esta mesma pessoa. Algo estava diferente. O que era? O beijo cálido terminou e então vi que éramos pessoas diferentes, estávamos no meio de um jardim lindo, ele em pé, na minha frente, com roupas medievais. Não consegui dizer nada e apenas escutava uma voz ao fundo quando ele se ajoelhava e sorria encantadoramente.

— Peço que Sua Alteza me perdoe pela ousadia e de forma alguma pense que isso não é particularmente meu. Sei que estivemos prometidos por toda a vida, no entanto, sua beleza, sua inocência, sua bondade, sua delicadeza e seu amor por qualquer ser animado ou inanimado me encantaram. Eu não poderia pertencer à outra pessoa se não você. Meu afeto não poderia pertencer à outra pessoa quando Sua Alteza me arrebatastes com toda força e leveza. Peço que aceite este seu humilde servo para ser seu esposo.

Enquanto ele abaixava a cabeça, senti uma tristeza misturada à alegria dentro de mim. Ouvi um ruído e olhei para os lados, encontrando um olhar cor de gelo. Não qualquer olhar. Um olhar magoado, raivoso, maligno e amoroso. Gritei mas nada saiu de mim. Corri atrás desse olhar embora não me sentisse mexendo. As vozes ao fundo ficavam cada vez mais fortes e eu entrava em pânico, continuando a gritar, até cair em um penhasco. “É o fim.” Pensei. “ Vou morrer em um sonho.” No entanto, senti braços me pegarem e me abraçarem.

— Eu deveria deixar-te cair. – olhei para o meu salvador e vi os olhos gelo magoados. – Deixar-te-ei em tua torre.

— Eu não previ isso. Eu jamais aceitaria... – a voz que saía de mim foi abruptamente interrompida por um pouso forçado no terraço de uma torre. Ele me carregou e me colocou no chão, pronto para subir novamente no “cavalo?” quando segurei seu braço.

— Não sejas tola. Irá aceitar pelo bem do teu povo, pelo bem do mundo, porque tem sentimentos por aquele imbecil e para me vencer nessa guerra.

— Não desejo vencer-te! A única coisa que desejo é estar ao teu lado! – ele continuava de costas – Olhe para mim!

— Pare de se enganar. – Ele finalmente se virou e caminhou em minha direção, me fazendo afastar até bater de costas na parede. - Fomos dois tolos que se deixaram levar por sentimentos absurdos. Iremos esquecer tudo que passou e encararmos nossos destinos. – seu olhar adquiriu um brilho verde sombrio - Eu deveria ter-te deixado cair. Poderia matar-te aqui, agora. – No entanto, não poderia agir assim. Atacá-la sem nenhum de seus leais súditos para protegê-la.

— Eu posso proteger a mim mesma! – ele deu um sorriso de canto e começou a se afastar quando segurei sua mão. – Se tiver que ser assim, então dê-me uma última noite ao seu lado. – olhou em minha direção com um olhar de dor – Uma noite completa, para que eu possa amar-te sem restrições. Tenha uma última noite comigo, me ame, deixe-me te amar. Seja meu. Faça-me tua. – Meu Deus. Ela está mesmo pedindo isso pra ele?! Quem são eles?!

— Não me peças isso...

— Uma noite e seremos inimigos novamente. – Seu hipogrifo (lembrei o que é!) o empurrou com o bico em minha direção e senti-me sorrir para ele. – Beije-me – puxei seu braço e ele ficou de frente para mim. – Abraçe-me. – Ele me puxou pela cintura e pude ver seu rosto finalmente enquanto minhas mãos acariavam-no – Ame-me. – prendi a respiração e ele tomou meus lábios em um beijo feroz. Colocou-me no colo e me levou para dentro, jogando-me na cama. Seu rosto é conhecido. Seus olhos me são familiares.

— Perdoe-me. – suas mãos acariciavam meu rosto, e ele ficou cara a cara comigo. Meu Deus! Não acredito nisso! – Perdoe-me minha amada, perdoe-me minha princesa. – toquei seus olhos.

— Pelo quê meu anjo?

— Por não ser um anjo – falou ferozmente, encostando a cabeça em meu ouvido – Por ser um demônio. – sua voz me arrepiou e eu estava entregue. – Por não ser capaz de resistir a você. – minhas mãos puxavam-no para mais perto – Por não ser capaz de resistir às trevas. – em um instante me beijava novamente.

As vozes ao fundo ficaram mais fortes, transformando-se em gritos. Senti-me enfraquecer. Senti minha visão escurecer e flutuei para fora daquele corpo que era meu, até por fim sentir uma dor dilacerante em minha cabeça. Gritei e em um baque, voltei à tona.

— Selene! Selene! – comecei a tossir, meu peito ardia e eu não conseguia respirar. – Ah finalmente! Calma. Respira. – comecei a vomitar, mas não era vômito, era apenas água saindo dentro de mim. – Ela está bem. Ela acordou! – eu não sabia onde estava. Senti vozes e vozes ao meu redor e um abraço forte me envolver, causando mais dor.

— Valentina pelo amor de Cristo! Ela nem começou a respirar ainda.

A sensação de queimado em meu peito abrandou e consegui respirar, o que causou mais dor. Respirei fundo e calmamente e então olhei ao meu redor.

— Nossa. O circo todo veio à cidade. – falei sofregadamente brincando e identifiquei quem estava ali.

— Você sempre acorda como se nada tivesse acontecido?

Alex, Aurora, Sr e Sra Malfoy como antes, Valentina, Diana e os pais. Alex tinha um sorriso e abraçava Val, que tinha os olhos vermelhos, o que me deixou feliz. Faltava uma pessoa.

— Procurando alguém? – Olhei para cima e vi que estava encostada em James, que estava encharcado, tinha um olhar preocupado e um sorriso doce que me lembrou do sonho – Você quase... – fiquei de pé em um pulo, me afastando dele. – Ei. O que foi?

— Selene? Se acalme. Sente. – ouvi a voz de Sr. Malfoy e alguém tentando me tocar, mas me afastei rapidamente.

— Você, o sonho. – apontei para James. – Não era você. Mas era você. O que está acontecendo?! – ele me olhava interrogativo.

— Sel? Que sonho? – olhei para minha amiga.

— Não foi um sonho! Eu estava ali, aconteceu tudo comigo. Foi uma lembrança.

— Sel, me conte de sua lembrança. – Ela segurou minha mão e me fez sentar facilmente.

— Eu estava com ele, e nos beijávamos - apontei novamente para James que levantara e estava afastado com um olhar preocupado mudando para envergonhado quando todos o encararam. – mas não era ele, era outra pessoa no corpo dele. E estávamos com roupas estranhas. Estilo Rei Arthur. Eu preciso do meu caderno. – ia levantar quando Alex me segurou, sentando-se ao meu lado.

— Depois você anota. Termine de contar.

— Vou chamar Mione. – Gina, mãe de Sasha falou baixo para seu marido, Harry, se afastando, mas ignorei inconscientemente.

— Ta bom. Ele se afastou e se ajoelhou e começou a falar várias coisas que não entendi, até que pelo que acho, me pediu em casamento. Só que eu estava sem acreditar e então olhei para o lado e vi um cara, com os olhos iguais ao dele... – abaixei o tom de voz porque nesse exato momento, Caius, o dono daqueles olhos, entrava no círculo e me olhava preocupado. Ninguém notou e eu continuei automaticamente -, mas ele saiu correndo e comecei a gritar por ele, correndo atrás dele, até que caí em um penhasco. Eu pensei que ia morrer e então, ele me pegou, estava voando, e seu olhar estava magoado.

— Ele quem? James ou o outro?

— James ficou lá. – falei ainda hipnotizada pelo olhar de Caius.

— Então foi o outro homem querida? Com olhos iguais aos de quem?

— Aos dele. – todos então olharam em minha direção e perceberam Caius ali. Nossos olhos no entanto, ainda estavam grudados e ficou um grande silêncio por um tempo até sentir um movimento brusco e vi James saindo rapidamente em direção à casa. Fiz menção de ir atrás dele, mas o Sr.Potter acenou dizendo que não e foi ele mesmo.

— Entãaao. Nem esperaram a gente chegar para começar a fazer a festa não é mesmo? – vi o garoto parecido com Zoe falar e percebi que era o irmão dela e de Alex, Damon.

— Damon, cale-se. Esse não é o momento. – O outro garoto de cabelos negros, falou rapidamente.

— Você realmente não toma jeito. – falou o outro, idêntico à Diana. Óbvio que era o irmão gêmeo dela, Sirius.

— Você é Sirius. – apontei e ele assentiu. – Você é Damon – o ruivo fez uma reverência engraçada. Espirrei. – Mas quem é você? – espirrei de novo.

— Hélio Iustitia. Prazer conhecê-la. – sorriu docemente e logo gostei dele. Espirro. – Talvez seja melhor levá-la para dentro. Está molhada e pegando um resfriado. – foi como um choque em todos, inclusive para mim que estava molhada e não tinha percebido, ficando logo com frio absurdo.

— Mas é claro. Como não pensei nisso. Sou uma tola. – Luna falou e quando eu estava para consolá-la, Draco falou.

 - Não querida. Estávamos todos entretidos nesse enredo intrigante. – ele acariciou seu braço e Val segurou minha mão quando baixei a cabeça percebendo o que havia contado – Leve-a para o quarto, acenda a lareira. Mande os elfos prepararam uma bebida quente para ela e uma poção. Caius venha comigo, por favor. – terminando de me levantar, apoiada por Val e Alex, parei e encarei discretamente ele, ele me olhou da mesma forma e continuou parado com mãos no bolso – Caius Malfoy. – Ele deu um sorriso torto e seguiu seu pai.

Eu estava em meu quarto, agasalhada. Depois que Hermione chegou, finalmente entendi o que aconteceu. Aparentemente, após o beijo eu caí inconsciente dentro do lago, mas James não conseguiu me pegar a tempo e o lago congelou logo após eu afundar. Ele chamou ajuda e todos logo vieram e por fim, Draco e Harry conseguiram, juntos, quebrar o feitiço. James não poupou tempo e pulou atrás de mim, submergimos e eu parecia morta. Todos desesperados, feitiços de pronto socorro e eu acordei.

Olhei ao redor. Val dormia na cama improvisada colocada ao meu lado. Não aceitou voltar para os Potter de jeito nenhum. Alex tinha conjurado vários cobertores e se acomodou no tapete. Ambos dormiram, o que me deixou feliz, mas eu não conseguia parar de pensar em cada detalhe daquele sonho. Lembrança. Com vontade de beber água, levantei e segui para a cozinha. No caminho escutei vozes exaltadas no escritório e ia passar rapidamente quando escutei.

— Você não pode se envolver com ela! Irá magoá-la e irá causar dor. Sabe que são completamente opostos! – James falava com um tom de voz irreconhecível para mim.

— Ah claro. Porque você é o cara perfeito. O homem ideal, com quem todas devem ficar. – Ouvi a voz de Caius clara e cínica e me assustei – O discurso de meu pai eu entendo, é meu pai e não escondemos nada um do outro, mas de você?! – encostei na parede com o minimo de barulho.

— Você sabe muito bem que eu sei desses segredinhos de vocês...

— Sabe porque é um intrometido de merda!

— Mas não revelei a ninguém. Eu mantive minha promessa pelo seu bem. Porque no fim de tudo, eu jamais causaria uma guerra e jamais faria mal a você.

— Ah nossa. Estou emocionado. Irei te dar toda minha fortuna em gratidão eterna. – escutei um barulho de algo se quebrando e tive um sobressalto – Nunca nos demos bem. Puxamos de nossos pais talvez. Talvez seja porque você é um babaca.

— Talvez seja por que você não presta. – James interrompeu, mas Caius ignorou.

— A questão é que eu não devo nada a você. Quer contar ao mundo quem eu sou? Conte. Não me importa. Acha que eu sou o mal? Ótimo. Não seja um hipócrita, você também não presta. – ouvi mais um barulho – Acima de tudo, não venha me odiar porque a garota que você quer, está afim de mim. – meu estomago embrulhou – Inveja é feio James, e você logo vai achar outra.

— Então é isso? Vai usá-la como usou tantas outras e magoá-la como se fosse uma qualquer? A troco de que?

— Você não tem a mínima ideia do que eu quero! – ouvi um estrondo e me encolhi ainda mais – Não fale como se me conhecesse, como se soubesse algo de mim. A única coisa que sou é uma missão para você. Alguém que você precisa vigiar. Agora você tem outra missão, ela não é? – meu coração apertou – E você comprometeu tudo seduzindo ela. Como as coisas são engraçadas não é?

— Não a seduzi.

— Diga isso para seu paizinho. Para sua mãezinha e para todos que acreditam que você é um anjo. Agora me deixe em paz, não se meta mais na minha vida e deixe-a em paz.

— Como é?

— Isso mesmo. Não beije-a mais, não a seduza mais, não fale mais nada além do necessário.

— Quem é você para falar isso? Você vai destrui-la. Não temos a mínima noção de quem ela seja, ou o que tudo isso signifique, mas temos certeza que é o completamente oposto de você. Opostos não se atraem. Opostos se destroem e você vai destrui-la. –

Escutei a voz definitiva de James e um grave silêncio sendo seguido. ouvi um baque e percebi que era o som de um soco. Entrei correndo e encontrei os dois brigando. Tentei afastá-los sem sucesso, então me enfiei entre os dois e eles logo pararam e me encararam.

— O que diabos vocês pensam que estão fazendo? – me assustei e olhei para a porta, encontrando Draco, Harry e Rony.

— Você sabe como eles são Malfoy. Estão sempre brigando. – Rony falou. – Deixe-os aí e vamos continuar.

— Eu adoraria deixá-los aí se minha filha não estivesse no meio da briga deles, após ter quase morrido afogada e correndo o risco de levar a pior nessa situação. – escutei o minha filha e me assustei.

— Selene. – A voz de Harry soou docemente e dei um passo à frente – O que está fazendo aqui? Eles te chamaram?

— Não senhor. Eu estava com sede, vim buscar água e os escutei brigando. Tive medo que se machucassem e tentei parar a briga. – senti os olhares dos dois.

— Venha. Vou te colocar na cama. – Draco chamou e já ia me adiantar quando interromperam.

— Ela sabe andar Malfoy, pode subir sozinha. Temos coisas mais importantes a tratar. – Rony falou.

— Weasley...                                                                        

— Ele tem razão Malfoy. Caius se certificará de pô-la na cama. – os ouvi se mexendo atrás de mim – James, você virá conosco. Temos algo muito importante a travar. Vamos. – Eles saíram, mas Draco permaneceu na minha frente.

— Durma bem querida. – sorri para ele e assenti. Ele logo saiu e me virei para James e Caius. Como poderia admitir que escutei tudo...

— Selene. – James interrompeu meus pensamentos e andou até a minha direção, falando em meu ouvido. – Tome cuidado. Qualquer coisa, qualquer coisa, me chame e eu virei imediatamente. – sem me dar chance de responder, me deu um beijo na testa e saiu disparado.

O silêncio predominou. Caius então se agachou, pegou meu cobertor que deixei cair no meio da confusão e colocou em meus ombros, me fazendo perceber que eu estava tremendo. Então me puxou em um abraço forte e aconchegante e me apertava cada vez mais, como se eu fosse fugir a qualquer momento.

— Me desculpe. – ele sussurrou.

— Por?

— Pelo que presenciou. Pelo que ouviu. – me afastei e baixei a cabeça.

— Não tem problema. Eu não deveria ter escutado, mas quando percebi que falavam de mim... Não pode brigar por minha causa.

— Não foi por sua causa...

— Foi sim e exijo que isso não se repita! – ele se endireitou e percebi que ficou surpreso – Querem se estapear? Duelar até a morte? Ótimo. Mas faça-me o favor de não me envolver mais nisso. Não sou uma princesa necessitada de socorro. Não sou uma donzela desonrada. Vocês não são dois pretendentes que lutam por minha mão ou idiotas cujos egos competem para ver qual é maior. Pelo menos espero que não. – ele deu um sorriso torto. – Eu posso me defender. Eu posso defender minha honra e jamais teria dois pretendentes lutando por minha mão. Agora se me dá licença, vou dormir.

Saí rapidamente tomando fôlego e logo cheguei ao meu quarto. No entanto, ao abrir a porta, uma mão me puxou e me prensou na parede. Aqueles olhos reconhecíveis me deixaram calada fizeram lembrar-me de momentos de meu sonho. Ele me puxou para si e me beijou apaixonadamente. O puxei mais para mim e o beijo foi a melhor coisa que já me aconteceu. Eu estava em transe. Não tinha consciência de meu corpo, do que fazia. Lembranças se misturavam com o presente e eu só queria mais e mais e mais. Então, quando o ar foi necessário, nos afastamos e sorrimos. Ele me pegou no colo e no próximo segundo eu estava na cama, perfeitamente coberta. Ele se inclinou, beijou-me delicadamente e disse.

— Está na cama. Durma bem querida. Sonhe com anjos.

Ainda imóvel, o observei sair do quarto, fechar a porta. Escutei seus passos e recordei cada detalhe daquele momento. Quando o sono veio, o abracei com carinho e nada de pesadelos. Apenas sonhos bons.


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Notas finais do capítulo

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