Atendimento #078: Protocolo

Sabe aquele número gigantosaurico que todo atendente ou vendedor de telemarketing que te passar? Sim aquela porcaria chata pra caramba que mais parece os números da loto têm uma função. Nele é que fica armazenado tudo o que foi dito e feito na chamada. Agora você sabe por que nosso herói quase nunca passa o numero de protocolo da ligação, para que o ciente não tenha provas dos insultos que ele manda. Mas ai você se pergunta: isso não é errado? Bom… idai?

— Oi Ezequiel eu só quero os números de protocolos das minhas ligações anteriores. — A voz era feminina, mas sem nenhuma identificação ficaria difícil saber como se dirigir a ela.

— Passo sim senhora, mas antes eu vou pedir para que me informe seu nome e CPF, por gentileza. — Ezequiel tinha a preocupação estampada na face, sua cabeça não estava no atendimento. Ao seu lado o monitor de qualidade mantinha distância, desde o ocorrido no atendimento #053 Jailson não mais assediara o operador.

— Profissionalismo e pulso firme, bom trabalho. — Falou o avaliador sem olhar para Ezequiel.

— Quero saber a necessidade do Cpf, não posso pegar os protocolos antes?

— Não. — Ezequiel tinha a resposta seca na ponta da língua. — Senhora acha que eu sou trouxa? Eu já trabalho com atendimento tempo suficiente pra saber o que você vai fazer. Eu sei como essa chamada vai terminar. — Revirou os olhos. — Olha vou por as cartas na mesa. Se eu te disser os protocolos sem o cpf quando eu pedir para você me passar magicamente a chamada vai cair.

A cliente ficou quieta por alguns segundos. Sim ele estava correto, o cliente não sabe mas registrar é tudo o que a pessoa do outro lado da linha precisa fazer para não se ferrar e ser descontado.

Notando a sagacidade de Ezequiel o monitor de qualidade acrescentou alguns pontos em sua avaliação.

— Vai passar ou eu serei agraciado com uma despedida sua tão precoce senhora? — O atendente sorriu, colocou no mute. — Aqui quem manda é nois querida, vem suas graça não. Eu sou o macho alfa aqui. — Ergueu o dedo médio em direção ao telefone.

— Luiza erudita, o numero do meu CPF é — A mulher passou os dados devagar, nosso herói os coletou e localizou o registro da mulher.

— Minha nossa senhora. — Jailson se aproximou da mesa tomando o mouse nas mãos. — Licença. — Vinte, trinta, cinquenta chamadas anteriores ao suporte, era isso que os dois viram surgir na tela a medida que a barra de rolagem descia. — Mais que mulher mais desgraçada cara.

— Não acredito nisso meu, tem de ser sacanagem… — Ezequiel passava a mão no rosto em decepção.

A cliente solicitara todos os aqueles números, mesmo estes não sendo ma sequencia tão estratosférica como os das operadoras de telefonia a quantidade de ligações era absurda.

— Vocês não gostam de passar protocolo? Agora é hora de saciar essa vontade louca de vocês. — falou ela de uma forma prepotente. Luiza conseguira o que queria, o atendente teria de passar digito a digito, protocolo por protocolo.

— Legal. — Respondeu o atendente já fora do mudo. — Você que sabe senhora. — Ele observou o DDD da mesma, o numero vinte e um indicava que a cliente se encontrava na capital do Rio de Janeiro. O atendente voltou ao mudo. — Sabe que isso vai demorar um bocado né? — A pergunta fora para Jailson.

— Eu sei, mas infelizmente tanto você como eu temos de fazer isso né? — O monitor ergueu os ombros em tristeza. — Começa ai…

— Eu vou reverter isso, você vai ver. — Sorriu o atendente malicioso pronto para começar a listar os números.

Quarenta protocolos e quase cinquenta minutos depois a cliente começava a se preocupar com algo.

— Ei Ezequiel me responde uma coisa.

— Olha só, lá vem a hora de reverter a situação, presta atenção. —  Nosso herói chamou a atenção do monitor que quase desabara de sono. Retomou a chamada. — Estou aqui senhora, posso falar o próximo protocolo?

— Não, minha dúvida é outra coisa.

— O que seria senhora?

— Essa ligação não têm custo para mim não é?

Com as mãos tapando a boca o monitor percebera finalmente o que o atendente tinha feito, não teria como puni-lo, mas fora um troco muito bem arquitetado. Uma vingança que a acertaria onde mais doi…no bolso.

— O que você acha senhora? — Ficou quieto esperando resposta, essa não veio. — Claro que não né senhora. — Reiterou com o sorriso na voz. — Mas não se preocupe ainda têm muito protocolo pela frente e eu ainda não saciei a vontade de passar eles pra você.