Atendimento #215: Esprosão de amor

Dos defeitos que um produto pode apresentar um dos piores é a explosão. O que? você não acha possível? Acha que a tecnologia avançou tanto que isso não acontece mais? Sinto te dizer que é justamente o contrário.

— Meu produto esprodiu enquanto carregava! — Viu? Como eu disse não é impossível…

A cliente que fazia de tudo para se vestir rapidamente presenciara seu aparelho celular de ultima geração voar em mil pedaços em um estrondo maginifco. Claro que o barulho que ela ouviu foi o suficiente para assustá-la, ainda mais porque não estava em casa e muito menos fazendo algo certo.

— Calma senhora, alguém se feriu? As faíscas saíram com sangue?— Ancelmo tentava acalmar a cliente que eufôrica não raciocinava direito.

— Não, não, eu não acredito que essa coisa esprodiu do nada! — A cliente chorava, mas nem ela sabia ao certo se era pelo dispositivo que em farelo se transformou, ou pelo estrago que o mesmo causou. — Meu Deus, e agora?

A mulher andava de um lado para o outro pelo quarto que ela estava, desconcertada ela nem se quer percebera que o aparelho explodiu perto de uma cortina que começou a pegar fogo. Para a sorte da mesma seu companheiro de quarto tratou de apagar o incêndio recém iniciado.

— Senhora, eu vou chamar meu encarregado, peço que aguarde em linha para que ele resolva o caso.

Ezequiel observou o subordinado com ódio, não estava distante e conseguiu ouvir cada palavra dita em linha. Sim a crise atingiu a operação de nossos heróis o que forçou Ezequiel voltar a atender enquanto exercia a função de supervisor.

— Você é um desgraçado sabia? — Teria dado uma paulada na cabeça do subordinado, mas como não tinha nenhuma madeira em mãos desistiu da ideia.

— É sinistro chefe…

Sinistro é todo problema absurdo que venha acorrer em um dispositivo, se seu produto te xinga, explode, cria vida e vai embora, se ele sequestra sua mulher, ou se canta ilariê pode ter certeza que isso é sinistro...
— Afê, passa. — Nosso exterminador de tretas das chamadas derrubou o cliente que atendia, por que seus deveres de supervisor são maiores que os de atendente, e recebeu a chamada de Ancelmo. — Senhora aqui é o Ezequiel sou o supervisor e blábláblábláblá conta ai o que deu.

— Eu comprei um celular e ele esprodiu enquanto estava carregando.

— “Esprodiu?” — Ezequiel estranhou a expressão incorreta mas conteve-se e não atacou a cliente com um golpe de dicionário na cara.—  Tá, a senhora está em casa? Algum dano foi causado a senhora ou a outra pessoa próxima?

— Por que essas perguntas?

— Não, porque é só isso que interessa. — A cliente travou ao ouvir a resposta do supervisor. — Sério mesmo senhora, geralmente quando os celulares explodem eles fazem isso no bolso do cliente, sendo assim nos temos de perguntar se a senhora se machucou, se sim nos somos obrigados a cuidar de sua saúde entende? — A cliente nada respondeu, naquele momento ela olhava para o ambiente todo destruído que seu celular causara. — Eu também sou obrigado a perguntar se ele destruiu alguma coisa na sua casa, se ele assim o fez precisamos mandar um técnico para que ele avalie os danos.

— Então...ele destruiu um cômodo inteiro com a esprosão.

— Esprosão não senhora! — Remoeu-se Ezequiel colocando no mute. Retornou.— Tá qual cômodo da casa da senhora era esse senhora? Cozinha? Quarto?

— Na verdade não é minha casa e…

— Não é sua casa? Beleza então senhora, não podemos fazer nada, quem deve entrar em contato conosco é o proprietário do imóvel com a sua nota fiscal, sem isso nós não...— Ezequiel fez o que a empresa manda, ou seja, enrolou.

Sim se você não sabe a empresa sabe que seu produtos podem dar um ruim tremendo, entretanto, nenhuma delas está lá se preocupando realmente com os danos, por isso que criam diversos artifícios para não se ferrarem, por exemplo:

— Como assim vocês não podem me ajudar aqui só por que ninguém se feriu e a casa não é minha?

— Senhora é simples… se ele explodiu e não deu nenhum dano à senhora ou mesmo a seus produtos não temos nada a ver, apenas será pago o produto e mais nada.

— E eu que me lasque para pagar o quarto do motel é isso?

— Motel?

— É ué eu estava aqui no motel e ele explodiu destruindo parte da suíte! Agora eles não querem me deixar sair até eu pagar.

Ezequiel conferiu a última localização do celular da cliente  e verificou que ela realmente falara a verdade.

— Mas aí é só a senhora sentar com seu marido e trocar uma ideia com os dono do motel dona, aí eles ligam juntos e resolvem esse problema. — Ezequiel verificou que o produto era de titularidade do marido da cliente. — Se eu puder falar com ele eu posso explicar.

— E quem disse que eu estou com meu marido aqui?

Ezequiel ficou em silêncio cerrando a visão em direção ao telefone.

— Então tem mais é que se lascar mesmo dona.