Atendimento #187: Escalada

Uma coisa que todo mundo sabe, ou ao menos deveria saber, é que não importa onde você vai trabalhar sempre você têm de começar de baixo. Os atendente sempre são aqueles que começam de baixo, entretanto, em muitas empresas não existe nenhum tipo de incentivo para galgar uma posição melhor.

Você já deve ter ouvido falar que para ser bem sucedido você deve ser um puxa saco, correto?. Bom, ai que tá... isso é verdade, mas não quer dizer que você não possa alcançar o que pretende sem ter de mudar sua orientação sexual.

— Peçam um momento seus pivetes! — Igor deu um grito que abalou a operação. — Eu só voltei pra passar o chicote pra mão daquele que vai botar pra lascar pra cima de vocês, seus bando de aspira.

Naquele momento Ezequiel estava ao lado dele sorridente encarando os colegas, que ouviam atentamente o discurso de Alastor.

— O pivete que não precisou ficar tirando pentelho de saco dos dentes, este é o moleque que vai reger esse baile funk. — Passou o braço pelo ombro de nosso heroi. — Apresento pra vocês o ex aspira e agora supervisor, Ezequiel.
Com uma salva de palmas os atendentes, com excessão de Kauã que havia sido transferido para um setor diferente, recepcionaram o novo encarregado pela operação.

— Valeu galera, agora eu quero dizer que eu vou correr com a galera da gestão para colocar uma coisa em prática que a muito eu queria, o projeto escalada.

O projeto em questão visava motivar o atendentes colocando metas, que se fosse cumpridas com louvor, resultariam na promoção do atendente para outras vagas superiores, como por exemplo transformar um atendente em um monitor de qualidade.

— Eu posso fazer coisinhas com o supervisor? — A voz anasalada não foi reconhecida logo de primeira, isso fez com que todos se virassem para Jailson. O monitor de qualidade ergueu as mãos imediatamente buscando se isentar.

— Não fui eu-eu furo, a Amandfa me mafaria se eu difeffe iffo.
— Eu acho que vou subir de cargo rapidinho dando em cima dele. — Rapidamente todos se voltaram para a origem da voz e perceberam que a esposa do novo supervisor falava com o nariz tapado.— O que? Ele é meu mesmo.

— Enfim, de agora em diante se deu ruim quem vocês devem chamar?

— Os caça fantasmas? — Cássio se levantou da cadeira com o dedo indicador erguido. — Não...o lema é diferente...— Notou que era observado por todos. — Continuem ai, finjam que eu não disse nada.

Ancelmo ergueu a mão chamando o novo encarregado. Ezequiel sacou do bolso um pequeno pacote de um doce em formato de tubo, algo como alcaçuz e ofereceu um para o subordinado.

— Que foi chefe? — Perguntou ele mastigando o doce.

— Essa cliente tá de xilique aqui porque a conta dela não chegou na casa dela. — Ancelmo mostrou no sistema uma informação interessante que apresentava claramente a decisão da cliente de não mais receber as contas via correios. Sim você pode fazer essa configuração na maioria das suas contas, basta apenas ir no site e configurar para recebê-las via E-mail.— É isso mesmo meu amigo namaguederaz.

— Ela tá de graça com você né?

— Sim, já insultou, já ameaçou, já falou mau da minha mãe, enfim...

Igor acompanhava a iniciação do novo supervisor com muito interesse, estava ansioso para saber o que seu ex subordinado faria, pois isso definiria como seria sua gestão da operação.

— Tá,— Ele buscou a racionalidade. — explica pra ela que só ela pode ter alterado as configurações de conta dela, ou seja, se ela quiser receber a conta vai ter de mudar no sistema, nós não temos culpa de nada.

— Tranquilo senhor. — Ancelmo respondeu batendo continência.

— Para com isso cara, sou operador igual a todo mundo. — Respondeu nosso herói tocando em seu ombro. O coração de Ezequiel estava acelerado, sua ansiedade e o medo por estar responsável por uma equipe o fazia tremer.

— Ah! Antes que eu me esqueça. — O domador de clientes fez com que nosso herói parasse onde estava. — Ela falou que o nosso trabalho é desprezível.

Aí não... desprezar o trabalho de quem quer que seja é um ato extremamente covarde. Fazer isso via telefone é pior ainda.

— E agora em cara? — Perguntou alastor cruzando os braços.

Ezequiel se viu com a paciência esgotada.

— Certo galera! — Gritou ele chamando o foco para sí. — O negocio é o seguinte. Se fugiu do foco da ligação, se começou a xingar, ou melhor, se você se sentir minimamente incomodado com o cliente, transfere para mim. — Estralou o pescoço. — O projeto escalada está aberto! A partir de agora para completar a primeira etapa vocês devem mandar todos os clientes que encherem o saco ir à merda! E isso inclui você — Apontou para Ancelmo.

— Mas isso é agressivo de mais cara...

— Agressivo? — Sorriu se aproximando da mesa do subordinado. — Vocês são minha responsabilidade, a felicidade de vocês está acima de qualquer cliente babaca. Se você acha que não consegue fazer isso. — O supervisor retirou o telefone de Ancelmo do mute. — Senhora, você insultou meu atendente, não deu-lhe chance alguma de explicar o ocorrido e ainda pra piorar a culpa é sua, sendo assim eu sou obrigado a mandar a senhora a merda. — Ficou um silêncio no ar que durou uns dois segundos. A chamada caiu logo em sequencia.

As palmas de toda a operação eram o aval e o "bem vindo" que comprovava a aceitação do novo supervisor.