Atendimento #161: Vesícula

Igor Alastor deixou a operação aos pedaços, literalmente falando. O caso foi parar em vários programas televisivos, sim sabe aqueles que o apresentador pede pra foca nele ou então pra por imagem na tela? Pois é agora imagine um helicóptero filmando um andar cheio de fumaça em um grande conjunto de prédios em formato de octágono.

As imagens que foram guardadas naquele dia poderiam ser consideradas de tristeza, não fosse a felicidade os atendentes que pularam, gritaram, saíram correndo pelados e esperneavam de pura felicidade de ver que ficaram algum tempo sem trabalhar.

— A cara ele é meu herói! — Amanda se esticava na cadeira nova enquanto se preparava para iniciar o dia de atendimentos.

— Pois é, quem diria que o Igor conseguiria quarenta dias de folga para todo mundo. — Ezequiel parou para pensar um pouco. — O caso foi tratado como acidente por falha elétrica e ninguém foi tratado como culpado. — Balançou a cabeça.— Como esse cara arquitetou tudo isso por anos sem ninguém perceber?—  Colocou um caderno de capa negra e uma caneta sobre ele, este seria o objeto onde os “B.O’s ” seriam anotados por ele tinha o nome “caderno da morte” impresso.

Todo o lugar tinha sido reformado em tempo recorde; mesas, cadeiras, computadores tudo era novo. Sabe aquele cheiro de produto novo recém saído da caixa? O lugar estava impregnado disso de tal forma que nosso herói parecia um cão farejador, ventiladores, vidros, vasos sanitários, não esse ultimo item não tinha o cheiro de novo, al guém já tinha estreado eles com o resultado de uma feijoada carregada.

— Você vai atender, mocinha? — Amanda falara isso ao perceber que seu amando colocara o headphone na cabeça.

— Ninguém me promoveu ainda, e tem de trampá né fia? Ou você acha que esses dois moleques vão se criar sozinhos?

— Falou o cara que extorquiu meio milhão de um jornal...— Murmurou ela com os lábios unidos fazendo um bico de peixe.

— Não tô te ouvindo. — Ezequiel atendeu a chamada que apareceu em seu telefone. — Ezequiel bom dia com quem eu falo?

— Eu só quero que me diga que bruxaria é essa? — Revoltado o cliente nem se quer dissera seu nome.

— Certo, vamos começar. — Estralou o pescoço de maneira assustadora até mesmo para o cliente, este que sentiu um calafrio percorrer todo o corpo. — Aqui funciona assim senhor, a ligação é minha e eu mando nela. As regras são as seguintes primeiro têm de confirmar que o senhor está entendendo, para isso você vai ter de falar uma palavra.

— A cara você não vai fazer isso…

— A palavra é vesícula.

— Ele fez… — Amanda levou a mão ao rosto decepcionada com a infantilidade do marido. — Você passou as férias inteirinhas falando que iria fazer isso, qual a graça?

— Xiu! — Interferiu ele no mute. — Só presta atenção…

O cliente do outro lado da linha parecia um suricate ao ver que não têm nenhum companheiro ao seu redor; olhava para um lado e para o outro como que procura um sentido para aquilo. Quase queimando um fusível mental de tanto pensar o cliente resolveu fazer o óbvio.

— Vesícula. — Falou dando de ombros. Ezequiel segurava a risada como se essa fosse uma flatulência daquelas silenciosas porém mortais. Sua esposa o encarava como se ele fosse uma criança idiota fazendo alguma brincadeira com os colegas de classe ramelentos. — Mas o que quer dizer essa palavra?

Ele não resistiu… teve de coloca no mute para se acabar de rir.

— O cara nem sabe o que e só falou por que eu mandei! Que animal retardado! — Voltou a chamada ajustando o timbre da voz de forma a dar a entender que nada acontecera.  — Certo eu vejo que o senhor têm alguns produtos de nossa empresa. Para qual deles seria a ajuda?

— O micro-ondas, ele têm feito uma coisa estranha. Eu vou até repetir agora só pra ter certeza.   

Ezequiel tinha uma ideia do que seria o problema do cliente, entretanto ele não queria realmente confirmar suas suspeitas. Ainda tinha alguma fé na humanidade.

— Eu coloco o ovo cozinho ele para esquentar e depois de uns quarenta ele. — O cliente parou de falar quando o alimento explodiu dentro de seu micro-ondas.

Como eu disse...Ezequiel TINHA alguma fé na humanidade.

— Senhor… — Nosso herói abrira um sorriso entre dentes que teria feito seus filhos chorarem de medo.— Quantos ovos o senhor tentou esquentar em seu micro-ondas antes de ligar para nós?

— Olha no oitavo eu percebi que tinha alguma coisa errada, mas foi só depois do numero onze que eu resolvi ligar...