By The Sea escrita por Breatty, Ballus


Capítulo 11
Capítulo 11




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Vanessa

1 ano depois

O tempo realmente passa muito rápido, principalmente quando estamos curtindo cada segundo. Eu e Roland já temos um ano de casados, mas parece que foi ontem que estávamos no altar trocando alianças, bastante emocionados e entusiasmados. Nosso primeiro ano foi maravilhoso, um sonho, não nos cansamos um do outro um só segundo e parece que ainda estamos vivendo em plena lua de mel. Não sei se é porque ainda estamos no começo, ou é porque nosso sentimento é realmente verdadeiro e intenso, eu particularmente acredito na segunda opção, com toda a certeza.

Eu me mudei para o apartamento de Roland como havíamos acertado, vendi meu apartamento e com o dinheiro compramos algumas coisas para o nosso novo lar conjunto. Apresentei muitas peças novas, com grandes sucessos de públicos e tive que viajar bastante pelo mundo, algumas vezes Roland me acompanhou e praticamente assistia a todos os espetáculos, sinceramente não sei como ele ainda não se cansou de me ver dançar, eu acho que eu me cansaria. Roland vai muito bem com seu novo livro, ele decidiu fazer um livro maior e por isso acabou levando mais tempo, e os leitores adoraram ter um livro dele com o dobro de páginas. Enfim, nossa vida está fantástica.

É tão bom chegar em casa depois do trabalho e cair nos braços dele, seja para fazer sexo ou apenas ficar em seus braços, é tão reconfortante e faz alguns dos nossos dias cansativos no trabalho valerem a pena. Nós dois curtimos muito sair à noite, seja para dançar, ir ao cinema, ao teatro ou simplesmente degustar um bom jantar, é uma das coisas que temos em comum. Outra coisa muito boa que aconteceu, Roland me ensinou a dirigir! Ele insiste para que eu vá trabalhar de carro, mas ainda não me sinto segura para isso, por tanto por enquanto uso o carro só as vezes, quando vou sair para algum lugar perto ou quando estamos juntos. Mas aos poucos vou adquirindo mais confiança, faz pouco tempo que aprendi e ainda estou me adaptando.

Fomos jantar fora para comemorar nosso primeiro ano de casados. Roland fez uma surpresa para mim e reservou uma mesa em um restaurante bem romântico e aconchegante aqui da cidade, bem chique também, dançamos tango lá e degustamos vários tipos de comidas diferentes. Ele combinou com a banda para a bandar tocar uma música que é especial para nós dois, uma música que dançamos em nosso primeiro encontro no café, foi um momento bem lindo e fofo. Já estamos voltando para casa, já passam das 11 horas da noite, mas para nós a noite ou o dia está apenas começando. Eu também preparei uma surpresa para ele em casa, para quando voltássemos do jantar, preparei uma noite bem romântica com champanhe, morangos, chocolate e chantilly, coisas excitantes para aproveitarmos juntos.

Chegamos em casa, estacionamos o carro na garagem do prédio e subimos. Ele abre a porta do apartamento.

— Hora dos presentes. – diz.

Sorrio, e ele também, parece bastante empolgado.

Acho que ele vai até o quarto pegar o presente, eu vou até o escritório e pego os três presentes que comprei para ele, um deles é bastante pesado e carrego com dificuldade. Volto para a sala e ele surge atrás de mim carregando um embrulho enorme em um dos braços, e mais dois no outro braço. Ambos compramos três presentes, sorrio.

— Quer começar? – pergunto.

— Quero. – sorri. — Estou bastante ansioso.

— Estou vendo amor. – rimos.

Ele me entrega os três embrulhos, coloco no sofá pois não consigo carregar.

Abro o primeiro, é o maior: um quadro pintado à mão de nós dois abraçados em frente à praia. Reconheço o desenho, é uma fotografia que adoramos da nossa lua de mel, com o sol se pondo atrás da gente enquanto observamos o mar. Sorrio.

— Amor! Que coisa mais linda!

— Você gostou?

— Eu amei. Muito perfeito. Nossa foto preferida.

— Sim, nossa foto preferida. Imaginei ela em nosso quarto, perto de nossa cama.

Sorrio.

— Muito obrigada. Muito criativo e diferente. Vamos colocar perto de nossa cama com certeza.

Ele sorri.

Abro os outros dois embrulhos: um colar de pérolas e uma escultura de ouro rosa de tamanho médio de uma bailarina em posição de dança e um homem sentado ao lado dela admirando-a e segurando um livro em uma das mãos. Entendo o significado na hora: eu dançando e Roland me admirando segurando seu livro. Muito lindo. Presentes tão delicados. Estou boba com a escultura.

Me aproximo dele sorrindo e beijo sua boca.

— Amei tudo meu bem. São presentes muito especiais. Essa escultura, eu e você, não tem como ser mais perfeita.

— Ainda bem que gostou. Estava suando frio sem saber sua reação. Sim, eu e você.

Nós rimos.

— Agora vamos aos meus.

Entrego o primeiro embrulho a ele, o maior e mais pesado. Ele me olha curioso ao sentir o peso e começa a abrir o papel. Quando ele abre vê uma mala de madeira bem dura, abre a mala e dentro tem uma capa rígida vermelha, ele puxa o que tem dentro da capa, é uma máquina de escrever vermelha com as teclas pretas. Ele encara a máquina parecendo criança, me olha e sorri abertamente. Senta no sofá e apoia a máquina no colo, testa as teclas e olha fascinado.

— Nessa, uma máquina de escrever?! Uau! Estou fascinado. Que perfeita... essa é última geração, último lançamento, estava de olho nela... a minha está bem ultrapassada. – está empolgado e eu fico mais ainda.

— Eu sabia que você estava de olho em uma nova, mas não sabia qual, fui procurar na loja e o vendedor me indicou esse lançamento, me explicou vários benefícios dela, mas eu não entendo muito bem, mas você deve saber tudo já. Gostou?

— Se eu gostei? Eu amei baby. Você acertou em cheio. Além do mais amo vermelho, e agora não vou ter que ficar me preocupando se o papel vai emperrar ou não, ou se a tinta está falhando ou não. – ele sorri. — Muito obrigada.

Ele coloca a máquina de volta dentro da caixa com um cuidado extremo. Sorrio.

Entrego os outros dois embrulhos a ele: um relógio com a pulseira de couro preta e uma caneta de ouro bem pesada.

Ele me agradece e me beija. Nós abraçamos forte.

— Mas ainda falta uma coisa. – digo. — Você fez a surpresa me levando para jantar e pedindo para a banda tocar nossa música preferida... e agora é minha vez de te fazer uma surpresa também.

Ele me encara, seus olhos brilham.

— Ah, é? O que a senhorita, ou melhor a senhora preparou para mim?

— Já vai ver. Vem cá.

Seguro em sua mão e o levo para nosso quarto, coloco ele sentado na cama.

— Feche os olhos e só abra quando eu mandar.

— Já fechei.

Saio do quarto e vou até a cozinha, pego uma cesta de madeira e arrumo os morangos bem frescos, o chocolate que havia preparado, o chantilly e um champanhe gelado, pego as taças e sigo de volta para o quarto.

Ele está de olho fechado, quero rir. Coloco a cesta no lado vazio da cama e molho um morango no chocolate.

— Pode abrir os olhos.

Ele me olha, estou com o morango parado na frente da boca. Ele olha para o lado e vê a cesta, sorri safado.

Mordo o morango enquanto Roland me olha ansioso. Estou com um sobretudo preto por cima do vestido, tiro ele e jogo no chão. Escolhi um vestido que abre pela frente propositadamente antes de sair, então abro o zíper e vou descendo lentamente, os olhos dele acompanham o movimento. Quando o zíper está todo aberto, abro o vestido e estou com uma lingerie vermelha bem sensual, vejo Roland respirar profundamente, seus olhos estão acessos e famintos. Tiro o vestido e jogo em cima do sobretudo, ainda estou de salto, vou andando até o lado dele na cama apenas de lingerie.

— Bela lingerie. Belo corpo. Bela mulher. – sorri. — Minha mulher.

Ele diz, me arrepio toda.

— Quer morango? – pergunto.

Ele pega um morango e mela no chantilly e no chocolate e leva até a boca. Pega outro e faz a mesma coisa, dessa vez ele leva até minha boca, eu mordo comendo o chocolate e o chantilly.

— Champanhe? – pergunta.

Faço que sim. Ele estoura o champanhe e serve nas taças.

Fazemos um brinde.

— A nós dois, e ao nosso primeiro ano de casamento e a muitos que virão. – ele diz.

— A nós. – digo.

Brindamos.

Viro o champanhe de vez na boca depois coloco a taça de volta na cesta e ele faz o mesmo.

Deito em cima dele e suas mãos seguram minha bunda com vontade. Beijo sua boca chupando sua língua, suas mãos continuam explorando meu corpo. Sinto seu membro encostar em mim, ele está cada vez mais excitado. Tiro a roupa dele, apenas deixando ele de boxer.

Ficamos nas carícias por um tempo, comendo morango com o chocolate e chantilly. Secamos a garrafa de champanhe e estávamos tentando prolongar ao máximo nossas carícias, mas meu corpo já estava em chamas e muito sensível, já queria me livrar da lingerie e sentir Roland dentro de mim. Ele então, como se me escutasse, tira meu sutiã e depois desce para a calcinha, em segundos estamos pelados abraçados e rolando pela cama.

Deitamos de lado um de frente para o outro, apoio minha perna em sua cintura e ele me penetra com vontade. Suspiro. Abraçados nos movimentos juntos e sem pressa, aproveitando o momento e as sensações. Ele me estimula também com um de seus dedos, são tantas sensações ao mesmo tempo, tento me concentrar em cada uma delas. Meus seios roçam em seu peito e começamos a nos movimentar mais rápido, ele me penetra e eu movimento meu quadril de encontro a ele. Nos beijamos enquanto nossos corpos estão agarrados, suas mãos já estão em minha bunda e ele aperta com vontade me estimulando a ir mais fundo, eu obedeço enquanto acaricio suas costas. Eu não consigo mais segurar e gozo gemendo bastante em sua boca, vejo a satisfação estampada em seu rosto e ele me aperta e continua a se movimentar mais depressa, suas mãos apertam minha coxa e ele goza em seguida sussurrando e apertando minha bunda.

Nos abraçamos mais forte e recomeçamos tudo de novo. Ainda não estamos satisfeitos.

 

Roland

5 anos depois

Fui buscar Vanessa na escola de balé, hoje ela ensaiou até tarde e parece que está exausta, ela está cochilando ao meu lado enquanto eu dirijo indo para casa.

Paro em um sinal e olho para ela, já temos seios anos de casados. Seis maravilhosos anos. Temos brigas, estresses e discussões como todo casal, mas somos perfeitamente felizes, sem essas coisas não existe casamento. As brigas e discussões podem ser ruins, mas são naturais de uma relação e são esses momentos que nos ajudam a nos fortalecer mais e entender mais um ao outro.

Eu conheço Vanessa completamente, todos os detalhes, todas as expressões e tudo o que envolve ela. Nós somos muito próximos e íntimos, ela me conhece mais do que qualquer outra pessoa e na mesma intensidade que eu a conheço, além de amantes somos melhores amigos e isso é fundamental. Vivemos muito bem juntos, temos nosso trabalho e somos satisfeitos com tudo o que construímos.

Somos um perfeito casal de Nova York, mas não um perfeito falso, e sim de verdade, com defeitos e tudo o mais, mas plenamente felizes. Viajamos muito e aproveitamos nossa vida.

Mas ultimamente venho sentindo a necessidade de algo mais, quero expandir a nossa família, quero ter filhos com ela, com a mulher que amo e escolhi para ser mãe dos meus filhos. Acho que já está na hora de darmos esse passo, eu sonho com isso e sei que Vanessa também, conversamos várias vezes sobre ter filhos, mas sempre decidíamos esperar mais um pouco. Mas agora sinto que é o momento certo, e não temos porque esperar mais nada, quero me tornar pai e sei que Vanessa também quer se tornar mãe.

Essa semana ainda não tive tempo de falar sobre isso com ela, pois eu viajei para assinar um contrato com uma nova editora e só voltei ontem, foi uma viagem rápida, mas foi durante a viagem que pensei bastante sobre ter essa conversa novamente com ela, para finalmente a gente realizar nosso sonho.

Chegamos em casa e estaciono na garagem do prédio, acordo Vanessa delicadamente e ela saí do carro meio sonolenta, abraço ela e subimos até nosso apartamento.

— Hoje pelo visto você está bem acabada.

Ela ri. Entramos em casa.

— Definitivamente muito acabada.

Ela se joga no sofá. Continua.

— Hoje o ensaio foi bem pesado, esse novo diretor tem um gás que me tira do sério as vezes. – faz cara feia. — Esse novo espetáculo que vai estrear vai ser totalmente diferente, estou concentrando todas as minhas forças nele, muito focada, e muito animada apesar de bastante cansada.

Sento ao lado dela.

— Sei que vai se sair bem como sempre. Além de que você é sempre focada. Mas acho que vou reclamar com esse diretor novo, não quero ele pegando no seu pé.

Ela sorri sonolenta e bastante linda. Continuo.

— Mas vem cá, vai ter muita pegada nessa peça?

— Como assim?

— Você sabe o que estou falando Nessa...

— Com outro dançarino?

— É. – faço cara feia.

— Não muito.

Ela ri.

— Não muito? Já não gostei dessa sua resposta. Ai ai.

— Para Roly. Deixa de besteira.

— Sim, eu sou besta mesmo, posso? Obrigada.

Sorrio.

— Estou com fome. – diz.

— Vá tomar um banho para espantar esse sono, vou preparar algo para a gente jantar.

Trocamos um beijo e ela vai tomar banho, eu me levanto e vou para a cozinha. A moça que trabalha aqui em casa, Emily não vem dia de hoje, sexta, então hoje é o dia que o jantar é por minha conta, mas eu mando bem nos cardápios. Decido preparar uma macarronada caseira e simples, a gente adora.

Desde que Patrick foi para outra companhia de dança a alguns anos atrás, muitos dançarinos novos chegam e saem, muitas vezes eles só ficam uma temporada, Vanessa diz que é porque não estão encontrando dançarinos homens muito bons. Mas eu particularmente não gosto dessa rotatividade, eles sempre acabam ficando encantado com ela, trazendo café e água para ela as vezes, querendo agradar ela, um monte de babacas. Ela me conta essas coisas de propósito para me perturbar, diz que é gostoso ver meus ciúmes bobos. Apimenta a relação.

Às vezes eu perturbo ela também, conto que algumas leitoras e fãs minhas me pararam para pedir autógrafo e fazer elogios. Quando a editora me manda as cartas que recebo dos leitores, ela fica de implicância com as cartas de algumas leitoras sonhadoras, eu fico rindo porque ela começa a ler fazendo uma voz melosa. A gente se diverte.

Após alguns minutos Vanessa entra na cozinha já tomada banho, o seu cheiro se mistura com o cheiro da macarronada já pronta.

— Aí que cheiro bom amor. – diz.

— Acho que caprichei hoje.

Ela pega os pratos e eu sirvo a macarronada, para acompanhar tomamos um suco de morango. Decidimos ir comer na sala, o sofá é mais confortável e gostamos de comer à vontade.

— Não sei como não engordei depois desses anos todos com você fazendo esses pratos maravilhosos. Eu sempre como em dobro quando você preparada.

— Você gasta muita energia também, além de que acho que precisa de muito para você engordar.

Ele ri.

— Ainda bem né.

— Você vai engordar um pouco quando estiver grávida, aí sim. Porque vou encher você de pratos deliciosos, então se prepare. Será a grávida mais linda.

Ela come o macarrão e me olha, sorrio. Ela sorri.

Continuo.

— Está preparada?

— Para que?

— Engravidar?

— Porque a pergunta?

— Acho que já está na hora, Nessa. Pensei sobre isso na viagem novamente, e acho que já tivemos todo o tempo para esperar... conversamos sobre isso as vezes e decidimos adiar, mas sinto que agora é o momento perfeito, tudo está em perfeita harmonia para isso.

Ela continua comendo o macarrão, sinto que ficou tensa.

— Nessa?

— Roly, não acho que devemos falar sobre isso agora.

— Porque não?

— Não acho que ainda seja o momento perfeito.

— Porque não? Me dê motivos para não ser o momento ideal.

— Ainda não me sinto preparada...

— Sei que não é por isso Vanessa... você quer ter filhos também, sempre conversamos sobre isso, temos esse sonho juntos. Não é?

— Sim, claro, é óbvio que quero ter filhos com você. Quero ser mãe dos seus filhos e quero que seja pai dos meus filhos.

— Então porque não agora?

— Não me sinto preparada ainda.

Ela me olha, olho de volta desconfiado, já esquecemos da comida.

— Não é por isso. Seja sincera.

— Eu estou dizendo como eu me sinto, não estou preparada ainda.

— Não está preparada? Já temos seis anos de casados Vanessa, já adiamos isso várias vezes... quando é que você vai estar preparada? Em?

Nossos tons de voz já estão elevados.

— Quando eu me sentir preparada Roland, eu não posso controlar isso. Não me pressione dessa forma.

— Não estou pressionando você, nunca fiz isso... sempre conversamos e adiamos, sempre em comum acordo, mas acho que agora chegou o momento. Não é possível que você não sinta isso.

— Não é que eu não sinta, mas acho que devemos esperar mais um pouco.

Me levanto do sofá colocando o prato na mesa de centro. Estou irritado e nervoso.

— É por causa do seu trabalho, não é?

— Não é.

— É sim, não tente me enrolar, seja sincera, sempre conversamos sobre isso.

— O que você quer que eu diga? Para fazer o que eu faço eu não posso estar grávida.

— Então dançarinos não podem ser pais, isso?

Pergunto sarcástico. Ela me encara, está em alerta. O clima passa de agradável a tenso.

— Você sabe que não é isso, Roland. Mas para engravidar eu preciso parar de dançar por um período de tempo, e isso eu não posso fazer agora... eu quero engravidar, mas agora não posso parar de trabalhar para me concentrar nisso, por isso estou pedindo para adiarmos mais um pouco, é só isso.

— Claro, por causa da sua nova peça?

— Sim, Roland. Por favor, seja sensato, estou prestes a estrear uma nova peça, não posso aparecer grávida agora. Senão não poderei dançar, e não posso fazer isso com a companhia e nem comigo mesma, é importante para mim essa nova peça, é algo diferente e que quero concretizar.

— Sei que é importante para você, não estou julgando isso, mas você nesse tempo todo já estreou várias novas peças, e sempre que conversamos sobre ter filho você me dá essa desculpa...

Ela me interrompe irritada.

— Isso não é uma desculpa!

— Então é o que?

— É o meu trabalho.

Ela levanta do sofá e coloca o prato na mesa de centro também.

— Sei que o seu trabalho, mas pessoas trabalham e tem filhos também.

— Quer parar de dizer isso?

— Não, não vou, tenho direito de me expressar e debater isso com você, não acho que estou errado, pelo contrário.

— Roland, tem dançarinas que tem anos e mais anos de experiência, e apesar de eu não ser nova nisso, eu ainda falto muito para chegar em um nível totalmente sólido no que faço... praticamente ainda estou em ascensão. Você já é um escritor consagrado, tem anos a minha frente, só quero me solidificar também. Dançar é minha paixão, sempre foi, é o que sempre sonhei.

— Vanessa, você já é bastante consagrada, é uma das melhores dançarinas. Sei que é o que você ama, e eu apoio totalmente, mas desse jeito você nunca vai querer parar de dançar para engravidar. Estou pensando em nós dois, mas você parece só pensar em você.

— Você está sendo egoísta. – ela anda pela sala. — Quer que eu pare tudo agora? Já imaginou como isso ia ser feio para mim como profissional?

— Você não me escuta, Vanessa. – grito e ela se assusta. — O egoísta aqui não sou eu. Você só fica tocando nessa tecla de trabalho e trabalho, você não é nenhuma dançarina iniciante, você já tem anos nisso, tem seu prestígio e seu lugar no balé clássico.

— Eu não quero discutir sobre isso, não vamos chegar a lugar algum. Eu quero engravidar, vamos ter filhos, eu só peço um pouco mais de tempo. Só isso.

— Só isso? Só isso?

Jogo as mãos para cima e fico rindo de nervosos e sarcástico.

Continuo enquanto ela me encara.

— Quantos anos mais você quer? Dois anos? – pergunto sarcástico.

— Roland...

Já perdi a paciência, estou nervoso e ela também, assim não vamos resolver nada.

— Me escute. – ela pede.

— Não, no momento eu não quero mais escutar nada. Se for para você continuar dando suas explicações e querendo ter razão, eu não quero mais escutar. Sempre resolvemos nossos problemas, mas você não quer me escutar, você não está pensando em mim e no que quero também.

— Roland, para! Assim não dá para conversar.

Ela grita. Eu imaginei uma conversa, mas já estamos brigando e discutindo.

— Realmente Vanessa, não dá para conversar assim. Pelo visto não tenho o direito de argumentar com você, e é impossível você ver o meu lado.

Antes que ela possa falar eu saio da sala e me tranco no escritório. Odeio brigar com Vanessa assim, não gosto de sair assim e deixar o clima entre a gente tenso, mas no momento não quero ouvir mais nada. E é melhor assim, íamos acabar brigando mais pesado ainda. Sento na poltrona e apoio a cabeça no encosto, aperto os olhos e passo a mão no cabelo, minha cabeça começa a doer.

 

Vanessa

Roland saí da sala e se tranca no escritório, ele tem essa mania quando discutimos. Me sinto péssima, muito muito péssima, me jogo no sofá. Eu não aguento e começo a chorar baixinho, estou tensa, nervosa e estressada. Meu dia foi estressante, imaginei chegar em casa e descansar nos braços de meu marido, mas acabamos brigando feio desse jeito.

Sempre conversamos sobre o momento certo de termos filhos, esse é um desejo que eu e Roland sempre tivemos, de sermos pais. Sempre sonhei em ser mãe, e ao encontrar Roland eu tive mais certeza ainda do meu sonho, é com ele que quero realizar, quero ser mãe dos seus filhos, quero construir uma família com ele. Das outras vezes que conversamos sempre encontramos uma solução e concordamos em esperar um pouco mais, mas nunca esse assunto terminou em briga como foi hoje.

Só quero que Roland entenda que agora não posso, estou nos ensaios finais de uma nova peça, e essa peça é diferente e totalmente renovada, pois o diretor é novo e ele está com novas ideias, vamos apresentar em novos países e vai ser muito bom para mim. Não posso tentar engravidar agora, porque serão muitos espetáculos e é uma rotina muito desgastante e cansativa, eu grávida não poderei levar essa rotina, pela saúde do bebê e pela minha também. Serão quase três meses da nova peça em cartaz, não posso me apresentar grávida, quero curtir minha gravidez e não quero colocar o bebê em risco. Será que Roland não pode entender isso?! Só peço um pouco mais de tempo.

Passo a mão no cabelo, minha cabeça já estava doendo e piora. Enxugo o rosto e paro de chorar, respiro fundo e recolho os nossos pratos do jantar levando de volta para a cozinha. Vejo a tigela do macarrão bastante cheia, sinto fome pois deixei metade do meu prato envolvida na discussão. O macarrão está uma delícia do jeito que eu gosto, então coloco um pouco mais no prato e sento na mesa para comer. Termino de comer, estou desanimada, lavo os pratos e sigo para o quarto. No caminho passo pelo escritório, a porta continua fechada, não escuto barulho algum, decido não bater na porta, acho que não é a melhor opção.

Entro no quarto e me deito na cama. Pego o copo d’água que deixo no criado-mudo e tomo um remédio para dor de cabeça. Estou morrendo de sono e cansaço, tento esperar ver se Roland vem para o quarto, mas acabo pegando no sono.

Sinto frio e sinto uma coberta sendo colocada em cima de mim, abro os olhos e o quarto está escuro, apenas a luz do abajur acessa, Roland está perto de mim me cobrindo.

— Roly?

— Amanhã.

Decido não insistir, fecho os olhos e tento dormir novamente.

Abro os olhos e o quarto já está claro inundado pelo sol, Roland dorme ao meu lado tranquilo. Olho o relógio e são 7 horas da manhã. Me levanto, escovo os dentes e vou para a cozinha fazer um café, espero o café terminar de fazer enquanto estou sentada na mesa, alguns minutos se passam. Levanto e coloco um pouco de café na xícara, Roland entra na cozinha e passa por mim.

— Bom dia. – diz.

— Bom dia.

Ele bebe um copo d’água, sento na mesa e tomo meu café bem forte, do jeito que gosto.

Não falamos nada, ele está encostado na pia olhando para o nada.

Termino meu café e me levanto, não suporto mais esse gelo entre nós.

Me aproximo dele. Ele me olha.

— Roland. Desculpa.

Ele continua me olhando.

— Eu não quero insistir nisso, mas só quero que entenda que agora no momento eu não tenho como engravidar. Essa peça ficará quase três meses em cartaz, eu quero aproveitar a gravidez, e dançando eu não vou poder fazer isso... tenho medo pela saúde do bebê também, você sabe que minha rotina de apresentação é exaustiva, e não faria bem para o bebê, tenho certeza, e nem faria bem para mim também. Só peço um tempo a mais, sei que já esperamos de mais, mas é por uma boa causa, para que a gente tenha um momento perfeito para aproveitar nosso filho. Por favor, tente entender, não é que eu não penso em você, eu sempre penso em você amor, o que você quer e o que você pensa importa muito para mim... eu fico muito mal quando a gente briga e você saí e eu fico sozinha, me sinto péssima e sem chão, não quero que fique triste comigo.

As lágrimas começam a cair pelo meu rosto, tento controlar o choro, que raiva, não quero chorar agora, mas é inevitável, não consigo controlar.

Roland me olha, vejo ele marejar, ele odeia me ver chorar. Ele me abraça forte e eu apoio a cabeça em seu peito.

— Não chore amor, por favor. Odeio ver você chorar, você sabe disso.

Ele me diz e aos poucos as lágrimas vão parando.

Continua.

— Olha, me desculpa pelas coisas que disse ontem, eu estava nervoso, ok? Não gosto de brigar com você assim. Mas só queria que você me escutasse, as vezes parece que você não me escuta, mas eu entendo seu lado também, não pense que eu não entendo. Mas eu sei que você me entende também, nós temos cumplicidade um com o outro, ontem estávamos nervosos, eu só queria ter uma conversa como qualquer outra, não imaginei que ia chegar naquele ponto. É só que eu quero muito que você engravide, não tenho culpa.

Ele sorri meio sem graça, sorrio também.

— Eu sei, me desculpe...

— Ei, não vamos mais prolongar essa discussão, certo?

— Então você vai aceitar o que pedi?

— Sim, vou. Vamos esperar seu novo espetáculo acabar e aí conversamos novamente sobre isso, certo? Não tem porque a gente ficar discutindo e discutindo e não chegar a lugar algum... eu olho o seu lado e você olha o meu, como sempre fazemos.

— Certo. Obrigada amor, e me desculpa de novo, eu amo você.

— Também amo você Nessa, muito muito.

— Você sempre sendo bom comigo, mesmo as vezes eu não merecendo.

Sorrio sem graça. Ele passa os dedos em meu rosto e sorri.

— Vamos acabar com esse clima tenso, foi difícil dormir desse jeito. – diz.

— Mesmo bravo comigo, você foi lá e me cobriu de madrugada.

Sorrio.

— Não ia deixar minha esposa com frio, mesmo bravo com ela. Eu sou muito romântico para deixar de fazer uma coisa dessas.

Trocamos um selinho meigo.

— Mas só para deixar claro, quando eu for te engravidar vou fazer logo dois filhos de uma vez para compensar a espera.

Ele diz e eu caio na risada.

— Acho uma ótima ideia. – respondo.

Ele sorri.

— Vem, vamos tomar um banho. Hoje é sábado e vamos aproveitar. – diz.

— Vamos.

Saímos da cozinha indo para o quarto.

Já me sinto mais aliviada.

No fim a gente sempre se entende. Temos a nossa própria maneira.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Comentem. Beijos.



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