Acordaram bem cedo no dia seguinte. É claro que não acordaram tão facilmente, mas depois de muitos resmungos e deixa eu dormir mais, os três garotos estavam prontos para a próxima viagem. Tomaram café da manhã no hotel e chamaram um táxi para ir para a rodoviária. Foi uma sorte terem comprado as passagens pela internet no dia anterior, uma vez que chegaram faltando poucos minutos para o ônibus sair.

Essa foi uma viagem mais tranquila que a primeira. Enquanto Leonardo passou boa parte dela lendo, Pedro e Denis passaram dormindo. Denis não tinha dormido muito bem durante a noite, pensando no garotinho na praça. Pedro também teve problemas para dormir, em razão de um mosquito que ficou voando ao seu redor durante a noite.

A cidade onde chegaram não tinha parque de diversões ou uma sorveteria, como a cidade anterior, mas tinha um grande shopping que naquela semana contava com uma pista de patinação, além de boliche, vários brinquedos e lojas.

Tinham ido a pé para o shopping, pois diziam ser perto do hotel onde deixaram as mochilas, mas ninguém contou que tinha um morro enorme no meio do caminho. Assim que chegaram no shopping, a primeira coisa que fizeram foi sentar no primeiro banco que encontraram.

— Onde vocês querem ir primeiro? – Leonardo perguntou, depois de alguns minutos de silêncio em que recuperavam o fôlego.

— Qualquer lugar que não tenha morro. – Denis falou parecendo ainda exausto.

— Acho que seria uma boa a gente ir no quiosque da frente e comprar milk shake. Ai depois a gente decide o que fazer.

— Só se for agora. – Denis deu um pulo do banco e foi para o quiosque, seguido dos outros dois.

— Li ali que a pista de gelo só abre às 15h. A gente podia ir no boliche agora. Porque senão depois não dá prazo para fazer tudo.

— Olha só Pedro! Esse irmão meu é ou não é demais? – Denis deu um tapa forte no ombro do irmão. – Sabe de tudo esse garoto.

O boliche também não estava aberto, mas abriria mais cedo que a pista de patinação. Os garotos foram então para o playground do shopping. Eram um grupo engraçado, porque eram grandes demais para estarem brincando sozinhos em brinquedos para crianças. Ficaram um bom tempo jogando fliperama e depois foram brincar em outros brinquedos eletrônicos. Por volta das 11 horas, foram para o boliche.

— Quem vencer, ganha o que? – Pedro quis saber, enquanto se preparavam para jogar.

— Quem vencer não ganha nada. Quem perder deve fazer alguma coisa que o vencedor determinar.

— Nesse caso, Denis, o vencedor ganha o direito de escolher uma prenda para os outros dois que perderem. – Leonardo corrigiu a fala do irmão, como costumava fazer antes.

— Que seja. Vamos começar então, que estou doido para ver vocês dois seguindo minhas ordens.

— Não me leve a mal, mas quem vai ganhar aqui sou eu. – Pedro deu um sorriso confiante.

Os três começaram a jogar e estavam se divertindo muito, principalmente porque as primeiras jogadas foram cada uma pior que a outra. Tinham jogado boliche de verdade duas outras vezes apenas, jogando mais apenas no vídeo game. Jogaram três partidas ao todo, parando quando já estavam com muita fome. Das três, em duas Pedro havia ficado em primeiro lugar e Leonardo uma vez. Sendo que Denis ficou em último lugar duas vezes. O problema de Denis não foi nem tanto não enxergar muito bem, uma vez que ele enxergava o suficiente para visualizar os pinos do boliche, a pista e a bola na sua mão. Mas com o dedo machucado, manusear a bola foi um pouco complicado.

— Vamos almoçar. Enquanto isso penso no que os dois terão que fazer.

— Você não sabe o quanto fico feliz em ouvir isso. – Denis falou batendo a mão na barriga. – Estou quase morrendo de fome aqui. Acho que se demorar mais a ir almoçar, vão ter que buscar comida pra mim, porque não vou nem conseguir andar.

— Exagerado você não é, né? – Denis fez uma careta para o irmão, que retribuiu. – Mas Pedro, tem um limite no que você decidir e ser aprovado pela maioria. Porque não vou fazer nada constrangedor demais.

— Não se preocupe. Vou pensar nisso com carinho. – Pedro deu uma risada, tentando fazer uma risada maquiavélica.

Depois de escolherem onde iriam almoçar, os garotos fizeram seus pedidos, esperaram o que para eles pareceu uma eternidade e então se sentaram para comer. Depois que todos terminaram de comer, Pedro deu o veredito da tarefa que os outros dois teriam que cumprir.

— Léo, como você ficou em segundo lugar, você paga menos que o Denis, que ficou em último. – Pedro começou, fazendo-se de misterioso. – Eu pensei muito no que vocês poderiam fazer. Não foi fácil...

— Fala logo ou eu vou desistir de fazer qualquer coisa que você me peça.

— Já que está com pressa Denis, vamos no seu primeiro. É bem simples. Você vai chegar naquela mesa, onde está aquela família, se sentar, conversar e pegar uma batata frita deles.

— Só isso? – Denis sorriu e se levantou. – É pra já, meus caros.

Denis caminhou tranquilamente, sob os olhares atentos de Pedro e Leonardo, que o observavam ainda à mesa. Quando chegou na mesa indicada por Pedro, puxou uma cadeira e se sentou.

— Olá, tudo bem? – Denis cumprimentou as pessoas da mesa e pegou um palito de dente. – Shopping agradável esse, não acham? Hum, adoro batata frita!

— Ei! Vai comprar suas próprias batatas, garoto. – O homem na mesa se levantou e olhou bravo para Denis.

— Ok. Estou indo. – Denis pegou mais uma batata e piscou para os dois filhos do homem, que abaixaram a cabeça para rir sem que o pai e a mãe vissem.

Denis voltou para junto de Pedro e Leonardo tranquilamente. Como se nada de estranho tivesse acontecido. Os outros dois estavam se acabando de rir e Denis entrou na risada também, imitando a cara de bravo que o homem havia feito para ele.

— Leonardo, agora sua vez. Mas para isso vamos andando. – Os três se levantaram e foram caminhar pelo shopping. – Você vai chegar em três pessoas, dar um abraço e falar “parabéns”.

Leonardo era mais tímido que o irmão e teve certa dificuldade em chegar nas pessoas andando pelo shopping e abraçá-las, mesmo que ele tivesse sugerido que fizessem isso um dia antes. Mas não levou bronca igual Denis. Duas das pessoas que Léo abraçou, ficaram olhando para ele como se ele fosse completamente louco. A outra, era uma senhora, que depois do abraço de Leonardo, abraçou ele de novo e também Denis e Pedro.

No restante da tarde, visitaram as lojas do shopping. Entraram em várias lojas de roupas, experimentando roupas e tirando fotos, até algum funcionário da loja chamar atenção e terem de ir para a próxima loja. Nas lojas de brinquedos, fizeram a festa na seção com bonecos de ação e máscaras, experimentado todas, é claro. Mais tarde, foram para a pista de patinação, onde ficaram pouco tempo, porque era caro dar uma volta e nenhum dos três estava se equilibrando muito bem nos patins.

Depois de lancharem, foram para o hotel. Foi só o prazo de todos tomarem banho e ligar para os pais dizendo que estavam bem, para capotarem nas camas e dormirem até a manhã do dia seguinte.