Mesmo se não der certo escrita por prr


Capítulo 1
1 - O jogo




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O campeonato de futebol masculino das escolas da cidade estava para começar. A estreia do campeonato feminino havia acontecido duas semana antes. Os times eram compostos por alunos de diferentes idades, havendo equipes de futebol feminino e masculino de todas as escolas da cidade. Outros esportes como vôlei e basquete também tinham seus campeonatos na cidade, contudo, em outra época do ano.

Os dois times eram igualmente bons, guardando alguns jovens talentos do futebol de campo. Os alunos já enchiam as arquibancadas, levando faixas e cartazes. No vestiário, Denis terminava de se aprontar, ansioso como os demais colegas, que a todo tempo ajeitavam a meia e andavam em círculos, impacientes. Era o primeiro jogo do time e estavam todos muito ansiosos para fazer uma boa estreia.

Denis tinha 14 anos, um menino moreno, com cabelos quase raspados e mais alto que os demais colegas. Ele era o goleiro do time Arsenal, e sua altura era bem útil para conseguir agarrar as bolas mais altas. Podia-se dizer que Denis era o melhor goleiro da escola, e seu grande sonho era jogar futebol em um time profissional, o que não demoraria a acontecer se ele continuasse jogando tão bem.

Todos os jogadores encontravam-se em fila à porta do vestiário. O coordenador do campeonato começou a falar ao microfone, coisas comuns que todo diretor ou professor fala quando se reúne um grupo de alunos, do tipo não façam muita bagunça, não gritem demais, controlem as emoções senão não tem mais campeonato.

— Recebam os meninos dos times: Arsenal e Elétricos!

A voz do coordenador foi sobreposta por gritos e vivas. Faixas vermelhas balançavam do lado da arquibancada dos torcedores do Arsenal, e faixas azuis do lado dos torcedores do Elétricos. Os jogadores entraram em campo e se posicionaram. Após cantarem o hino nacional e o da cidade, bem como os gritos de guerra de cada time, o apito soou e começou o jogo.

A vontade de vencer o campeonato e receber toda a glória na escola, fazia com que os garotos se empenhassem ainda mais. A torcida gritava feito louca, fazendo com que os professores andassem de um lado para o outro nas arquibancadas pedindo para os alunos se controlarem. Os gritos cessaram, a atenção de todos se voltou para um grupo de jogadores no campo, a bola no meio deles, e de repente “Goooooool do Arsenal!”.

O primeiro tempo do jogo passou, nenhum dos times conseguia chegar com facilidade perto do gol, estavam todos dando o seu melhor para impedir que isso acontecesse. Com isso, a única tentativa de se chegar ao gol foi aquela em que houve gol do Arsenal. Fim do primeiro tempo, 1x0 para Arsenal. Os garotos entraram no vestiário para recuperar as forças. Cachorro-quente e latas de refrigerante eram distribuídas nas arquibancadas. Os gritos da torcida deram lugar a sons de conversas aleatórias por todo o lugar.

Em pouco tempo os jogadores já estavam posicionados e quando o apito soou novamente, deu-se início ao segundo tempo de jogo. Poucos minutos depois do início do segundo tempo, uma confusão se deu no meio do campo, em que os garotos tentavam manter a posse da bola. Um jogador do time Arsenal foi pego empurrando outro do time adversário e logo o juiz, marcou falta.

Agora a responsabilidade era toda de Denis. Ele nunca deixará um pênalti entrar, seus colegas desejavam que isso permanecesse. Quando o garoto do Elétricos chutou, a bola descreveu uma curva torta, saindo do centro e indo ao lado da trave, mas ainda assim do lado de dentro. “Goooooool do Elétricos”. Denis chutava a grama ao seu redor, cheio de raiva de si mesmo. O jogo prosseguiu.

Cinco minutos para encerrar a partida, os garotos estavam todos exaustos, mas tentavam ao máximo levar a bola ao gol. Em um momento de desespero, o atacante do Elétricos, que estava praticamente no meio do campo, chutou a bola em direção ao gol. A bola voou com o impulso recebido e foi perdendo forças ao chegar próximo ao gol. A torcida calou. Os jogadores no campo paralisaram. Um grito “Goooooool do Elétricos!” e o som de um apito. Fim de jogo. O comentarista, que era aluno da mesma escola de Denis, em meio à euforia da torcida, falava: “Foi o lance mais maluco que aconteceu nesse campeonato galera. O cara chutou do meio do campo e a bola entrou. No último segundo, quando estávamos prestes a ver um empate, que daria a vitória ao Arsenal, o Elétricos vira o jogo!”.

Denis entrou para o vestiário de cabeça baixa e irritado. Seus colegas de time também não estavam nenhum pouco satisfeitos.

— Cara, como você não conseguiu agarrar aquela bola? – Falou Jorge, o atacante do time, um garoto alto e forte, do tipo que gosta de arranjar briga, principalmente quando se tratava do não tão seu amigo Denis.

— A bola tava ali, era só encostar o dedo que ela parava. – O lateral do time, Bruno, um garoto baixo e corpulento, que fazia piada de tudo, entrou no vestiário bebendo água como se tivesse com sede há dias, molhando sua camisa.

— Deixa o cara. A gente também vacilou. – Pedro, um garoto magro e de estatura mediana, melhor amigo de Denis e capitão do time entrou no vestiário.

— É. – Victor, o galã do time, que estivera ali o tempo todo apenas ouvindo a conversa, foi tentar acalmar os colegas. – Eu até agora não sei como errei aquele chute. Era pra ter feito um belo gol.

Todos no vestiário reclamavam a derrota, alguns mais do que outros, mas todos de alguma forma culpavam o goleiro. Denis estava quieto no seu canto, de cara amarrada, trocando de roupa.

— Pra mim já deu! – Gritou Denis. – Eu não vi pra que lado foi a porcaria da bola.  – E saiu batendo a porta, com a camisa ao avesso.

Pedro saiu atrás do amigo. Os outros garotos continuaram no vestiário.

— Denis, volta aqui, cara. – Pedro corria atrás de Denis que não fazia sinal de que ia parar. – Tudo bem, você podia ter pego a bola, mas não pegou. Todo mundo erra. É só um jogo. Era pra ser só diversão, cara.

— Não era diversão pra mim. Tinha um olheiro lá. Meu pai me inscreveu numa escolinha profissional e eu vi um homem lá hoje, ele tava lá pra me ver. E eu ESTRAGUEI TUDO! – Denis parecia ainda mais irritado. – Quer saber? Vou pra casa.

Denis virou de costas ao amigo e continuou andando, dando passos pesados e longos. Pedro não soube o que dizer, ficou ali parado, era melhor deixar a raiva passar, mais tarde ele ia na casa de Denis conversar.

— Quem colocou essa porcaria de meio-fio aqui? – Denis acabara de tropeçar no meio-fio e cair.

— Ei, bem? – Pedro correu ao encontro do amigo que se levantava.

— Beleza. – Respondeu com sarcasmo.

— Você não parece bem cara. Vou só pegar minha mochila e vou até na sua casa com você.

— Sério, de boa. Só quero chegar em casa e ficar sozinho.


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