Percy

Percy acordou assustado. Ouviu um grito e instintivamente se levantou. Lentamente ele foi despertando e percebeu o que estava acontecendo. Quem gritava era Alec, isso acontecia com bastante frequência.

Ele esfregou os olhos e atravessou o corredor, entrou no quarto do irmão e se sentou na beirada da cama.

—Aquele pesadelo de novo? – perguntou.

Alec assentiu e se encolheu.

—Não consigo para de lembrar, Percy.

Três anos antes, Alec estava indo pra escola com a babá, na época, a mãe passava mais tempo no trabalho. No caminho, um motorista bêbado bateu no carro em que eles estavam. Alec só saiu com alguns arranhões, a babá quebrou o braço, mas nada mais grave. Já o outro motorista, morreu na hora. Alec não sabia dessa parte, mas sempre acordava gritando, e sempre porque sonhara com o dia do acidente de novo.

—Vem aqui - Percy se aproximou mais e abraçou o irmão. Não fazia isso com muita frequência durante o dia, mas sempre que os pesadelos vinham, ele acalmava o meio-irmão para não preocupar a mãe ou Paul. - Você precisa tentar esquecer aquele dia. Já faz um tempo, e nada demais aconteceu - Percy mentiu, consciente que falava de toda a vida de um homem.

—Eu não consigo - ele sussurrou em resposta.

—Vamos dar um jeito. Prometo. Agora volte a dormir - Percy se levantou e puxou as cobertas pra ele.

Ele deixou Alec no quarto e esperou alguns minutos no corredor. Quando voltou para o próprio quarto, eram quase seis da manhã, não compensaria voltar a dormir. Percy tomou um banho e desceu. Ficou falando com Dorot até a hora de ir pra escola.

Annabeth

Às 6:30 em ponto o despertador tocou. Annabeth não jogou o objeto na parede porque não ganharia um celular novo depois.

Desligou o aparelho, puxou uma toalha e foi tomar banho. Os livros sobre os quais ela adormecera ainda estavam na cama. Ela estudara até às três da manhã antes de dormir.

Ela pegou a mochila e desceu, a mãe já tinha saído e Jake comia uma pilha enorme de panquecas doces. Não importava quantos livros ela lesse, nunca descobriria como alguém conseguia comer tanto às sete da manhã.

—Bom dia - ela murmurou e pegou uma maçã.

—Bom dia? Tem certeza que está bom? Parece que passou a noite numa festa - ele riu.

—Quem me dera.

O fato de Jake ser mais novo e ter um carro seria muito injusto se ela tivesse perdido o medo de dirigir. A parte boa era que tinha um motorista particular. Bom, isso quando ele não estava ocupado com os amigos e a namorada da vez, com quem terminaria no fim do mês.

Quando eles chegaram na escola, cada foi para um canto, Jake foi encontrar os amigos do time - ele passara no teste - e Annabeth foi para a sala da primeira aula. Pretendia dormir até o sinal, mas nem teve cinco minutos.

—Bom dia, Annabeth! - gritou Thalia. Ela era sempre irritante mas preferia mil vezes irritar a loira do que qualquer outro.

—Vai se foder, Thalia - ela se virou para o outro lado.

—Não dá - ela deu de ombros - Luke ainda não voltou da casa do pai dele.

Annabeth esboçou um sorriso, ainda de olhos fechados. Depois de um tempo ela se acostumara com as piadas da amiga. Luke tinha ido passar a semana anterior com o pai, na cidade vizinha.

—Vou ver se consigo um café pra você. Mas só porque quero alguém pra conversar.

Depois que bebeu o café ela acordou. Sabia que quando o efeito passasse ela iria se sentir pior do que antes, mas por hora era o suficiente.

As horas foram passando, a última aula antes do almoço era do sr. McCown, o professor de matemática. Era um homem de meia idade de cabelos pretos e postura rígida. Ele tentava explicar alguma coisa mas desistiu quando todos começaram a guardar as coisas, esperando o sinal.

—Não esqueçam do trabalho para amanhã, vale um terço da nota. Podem sair – disse ele olhando o relógio. No segundo seguinte eles ouviram o sinal.

Annabeth teve a leve impressão de ouvir Percy chamando-a mas não estava com humor para discutir. Ela deixou os livros no armário e foi para a cafeteria. Bianca, Leo, Reyna e Thalia já estavam lá. Como em todos os dias normais em que a loira vivera perto das duas, Bianca e Thalia discutiam sobre bandas. Quem não as conhecesse pensaria que sairiam no tapa a qualquer momento.

—Vejam só quem chegou – Leo piscou pra ela e abriu espaço no banco.

—Quer ir lá comprar algo pra mim? – ela encostou a cabeça no ombro do amigo e colocou o dinheiro na mesa.

—Você não cansa de ser folgada, garota? – ele empurrou a cabeça de Annabeth e se levantou para fazer o que ela pedira.

Leo era assim, o amigo por quem todos pediram, sempre estava lá. Eles moraram na mesma cidade até os cinco anos, até Leo se mudar, então tinham se reencontrado no ano anterior. Ele ensinara Annabeth a andar de bicicleta, ocasião em que ela quase fora atropelada, ela se lembrava exatamente dos detalhes daquele dia.

As mesas da cafeteria ficavam espalhadas, sem uma ordem exata, do outro lado ficava a mesa do que se chamaria de “populares”, do lado deles ficavam vários rostos conhecidos.

Leo estava voltando com o almoço dela. Annabeth sentiu alguém segurar seu braço e se virou. Ela não estava disposta a discutir com Percy Jackson tão cedo e arruinar ainda mais sua manhã.

—Agora não. Sério, Jackson, escolha outra hora pra me encher o saco, só não agora - ela se virou suplicante para Thalia.

Thalia conseguia botar medo em praticamente qualquer pessoa, mesmo Percy Jackson.

—Vaza - ela encarou Percy. Por alguns segundos eles ficaram se encarando, até ele desistir.

—Não pode fugir de mim, a escola é enorme. Temos realmente que conversar.

Ele soltou o braço dela devagar e saiu. Ela não comentou que o fato da escola ser enorme facilitava que ela o evitasse. Leo chegou com a lata de refrigerante e os salgadinhos, eles dividiram e repassaram a agenda de provas com Reyna.

Leo tinha uma quedinha secreta por Reyna. Bom, era secreta pra ela, já que o resto da escola sabia. A vida amorosa deles era realmente complicada, já que Reyna gostava de Luke Castellan, o ex-namorado de Annabeth, que agora tentava a todo custo fazer Thalia gostar dele. Ele já alcançara o objetivo, só não sabia ainda.

—Bom dia - disse Rachel Dare, jogando um papel dobrado na mesa deles, com um sorriso malicioso direcionado a Annabeth.

Rachel nunca falava com eles, a não ser que precisasse de informações pra alguma pesquisa.

Depois que ela saiu para distribuir cópias para outras pessoas, Reyna pegou o papel e começou a ler. A boca dela ia abrindo conforme os olhos avançavam. Devia ser algo surpreendente. Ela terminou de ler e passou para Bianca, que começou a olhar Annabeth prendendo o riso. Os amigos fizeram-na esperar de propósito, enquanto isso, cabeças se viravam na direção dela por toda o local, todos cochichando. Leo puxou o papel e começou a rir, rir muito. Ela perdeu a paciência e puxou a impressão do jornal da escola da mão dele.

Opa, opa, temos um casal novo?

Nossos amigos aqui da redação ouviram ~muitoooos~ boatos de que [o lindo] Percy Jackson, do time de basquete e atual capitão da equipe de natação, estaria "conhecendo melhor" (se é que vocês me entendem, girls) a loira, Annabeth Chase, líder de turma do último ano.
A gata foi vista entrando na casa do boy várias vezes, e nós sabemos muito bem o que pode estar acontecendo lá no segundo andar. E aí, vocês acham que temos aquele famoso clichê "da nerd e do badboy" acontecendo bem aqui? Se é verdade ou não, ainda não sabemos, mas que shippamos MUITO esses dois todos já sabem, mas pedimos aos envolvidos que sejam mais originais, todos já conhecem essa história.
Mais notícias sobre o mais super-fofo novo casal, no decorrer da semana, primeiramente pra vocês.
Ps.: Qualquer um dos envolvidos, ou alunos que saibam de mais detalhes, podem se sentir à vontade para procurar um membro de nossa equipe.

Beijinhos, até a próxima Sweets! XoXo

Annabeth ficou olhando aquilo, espantada. Aquilo só podia ser coisa de Percy. Segurou a folha tão forte que amassou boa parte. Levantou tão rápido que os amigos nem tiveram tempo de impedi-la. Ela atravessou a cafeteria num raio, passou pela mesa do time e sentiu uma mão segurar seu braço. Quem ousaria adiar a morte de Percy?

—Isso é verdade? - Jake perguntou, ainda sentado.

—O que você acha, Jake? - ela gritou, puxou o braço e continuou andando.

Eram duas mesas de distância, o alvo estava de costas pra ela. Os amigos dele a viram se aproximando, primeiro começaram a falar em voz baixa, depois tentaram disfarçar. Alguém murmurou "se fodeu" e fingiu estar falando com o garoto do lado. Quando Percy entendeu o que estava acontecendo, Annabeth já estava atrás dele.

—Você tem três segundos para me dar um bom motivo pra não te matar aqui mesmo - ela jogou a folha pra ele.

—Tem testemunhas demais e você seria presa? - ele se virou devagar, como se assim fosse evitar que ela batesse a cabeça dele no piso várias vezes.

Ele nem mesmo olhou a folha, o que provava que tinha feito alguém, com certeza Rachel, escrever aquilo.

—Quem você pensa que é pra...

—Me dê cinco minutos - ele pediu se levantando. - Todo mundo tá olhando pra gente.

Ela desviou os olhos por dois segundos e viu que, dessa vez, ele falava a verdade.

—Você tem três.

Percy se dirigiu para o lado de fora, os outros continuaram a olhá-la.

—Voltem a comer! - gritou e seguiu o mesmo caminho que o garoto.

Ele era do tipo de garoto que achava que podia resolver qualquer coisa com um rosto bonito, um sorriso e dinheiro. Estava parado no corredor com as mãos nos bolsos.

—Olha, eu não disse... isso...  pra ninguém - ele começou.

—Não disse "isso" mas disse alguma coisa. Esse tipo de idiotice não se inventa sozinho. E tenho certeza que Rachel estava na sua casa na segunda-feira em que dei aula pro Alec. Dê seu jeito, não é o único com uma reputação a zelar.

Ele abriu um sorriso malicioso.

—Pelo menos agora acham que você ficou alguém atraente.

Annabeth não costumava ser uma pessoa descontrolada. Era quase sempre calma, a última vez em que se descontrolara desse jeito fora quando um professor da sétima série jurara que Afrodite era uma deusa romana. Ela simplesmente não conseguiu controlar a mão que foi de encontro com o lado esquerdo do rosto de Percy. Os dedos dela ficaram marcados ali, até ele se dar conta e levar uma mão ao rosto.

Percy

Tapas de garotas loiras aparentemente incapazes de machucar uma formiga doem. Principalmente quando você não espera. Percy desconfiava que reclamar não fosse ajudar. Por que Jason tinha que estar sempre certo?

—É o seguinte, você pode continuar me odiando, não importa. Posso fazer com que todos parem de te encher o saco, mas com uma condição. Minha mãe vai te pedir pra ir à minha casa hoje e você vai dizer sim.

—E o que eu ganho com isso? Não tenho problema nenhum em agredir pessoas, como você com certeza notou.

Percy queria pedir pra ela quieta e ouvir o que ele queria dizer. Tentou elabora uma frase tão educada quanto possível.

—Quero propor um acordo - ele olhou para os lados - mas não posso falar aqui. Esteja na minha casa meia hora antes do que minha mãe disser. Vai ser benéfico para ambas as partes - Percy sorriu.

Ela ficou analisando a ideia, quase dava para ver o cérebro dela trabalhando.

—Vou levar sua oferta "benéfica" - ela zombou - em consideração.

Annabeth se virou e voltou para dentro da cafeteria.

—Problemas no paraíso? - Luke perguntou quando Percy voltou para a mesa. Ele tinha chegado no meio da segunda aula.

—Nunca entendi essa frase.

—E o que você entende? - Jason riu.

—Vai se foder, Aurora.

—Ainda vai pra Londres? - Nico perguntou.

—Vou - Luke arremessou uma bala no ar e pegou com a boca. - Saímos no sábado de manhã.

—E por isso ele precisa de uma festa de despedida - Jason trocou um soquinho com o garoto do lado dele.

—É só por um mês - Luke revirou os olhos.

Percy parou de prestar atenção na conversa dele. Precisaria de um plano B e sabia quem era a pessoa certa para o que ele precisava.

Ele se levantou da mesa e foi para o lado de fora, debaixo da escada. Aquele lugar era conhecido como o quartel general dos Stoll. Travis e Connor Stoll se instalaram lá na sétima série, passavam todo o intervalo lá com uns amigos nerds na frente de computadores e celulares. Percy não sabia como eles faziam pra tanta gente caber lá.

Ele ficou parado lá por uns dois minutos até Travis vir até ele.

—O que posso fazer pela princesa dos mares hoje?

—Preciso pedir algo. Mas isso não pode sair daqui.

—É claro. Mas primeiro vamos falar de pagamento – Travis sorriu e entrou numa sala de aula vazia.

—Drew Tanaka me deve um favor. E Katie está na equipe de torcida, soube que talvez que ela goste de você. Posso convencê-la a sair com você – Percy pegou o celular, mandou uma mensagem para Drew e mostrou para o Stoll.

—Fechado. Do que você precisa?

—Descubra qualquer coisa que eu possa usar contra Annabeth Chase.