Tomorrow Will Be Kinder escrita por RafaelaJ


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Gente desculpa por postar a essa hora, mas é que só acabei o capítulo agora e estava ansiosa demais para esperar até amanhã. Como prometido estou postando esse capítulo um pouco mais rápido.
Queria agradecer as lindas que comentaram, obrigada Zafira e NanyHutcher! Ah! Gente eu esqueci de avisar antes, mas aqui a Katniss e o Peeta já estão casados, ok?
Espero que gostem. Nos vemos lá em baixo!



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A claridade invadia o quarto me dizendo que a noite já havia acabado. Remexi-me na cama sem a mínima vontade de acordar. E quando minhas mãos pousaram no lado oposto de onde eu dormia – os lençóis frios e vazios – soube que estava sozinha.

Abri os olhos relutantes, e assim que vi o relógio fiquei surpresa. Já passava das nove horas, era óbvio que Peeta já deveria ter acordado. E até eu mesma já deveria tê-lo feito. Eu nunca dormia até tão tarde.

Levantei-me o mais rápido que pude e corri para o banheiro, mas me detive imediatamente ao passar pelo espelho. Era como se meu próprio reflexo me apontasse os acontecimentos da noite passada. Meus olhos, assim como meu próprio rosto, estavam vermelhos e inchados. Havia olheiras profundas demonstrando minha péssima noite de sono, não só essa mais as últimas passadas também. E meu nariz parecia a ponto de explodir, só não escorria mais porque eu suspeitava que houvesse acabado com todo o estoque de liquido em meu corpo.

Ignorando minha imagem horrível eu segui para o propósito original. Tirei minhas roupas colocando-as no cesto, Peeta odiava quando eu deixava as coisas espalhadas, e liguei o chuveiro. Regulei a água o mais quente que pude, parando em uma temperatura que quase queimava minha pele. Mas o que era uma marca a mais em uma pele tão danificada?

Enfiei-me ali dentro deixando que os minutos e a água transcorressem. Durante aquele tempo eu tentei ao máximo me acalmar, desviar meus pensamentos do ponto em que eles sempre insistiam em voltar: minha gravidez. E, principalmente, eu tentava desviar o foco de Peeta. Eu havia contado tudo a ele noite passada, fato. E ele havia me apoiado também, fato. Mas eu não sabia, e nem queria pensar, até onde esse apoio iria. A questão é: eu estava frágil ontem e era óbvio que Peeta me consolaria, é isso o que ele sempre faz. Por isso eu não sei o quanto suas palavras foram realmente reais. Quantas ele disse por vontade própria, e quantas e retiraria hoje.

Desliguei o chuveiro sem de fato ter cumprido meu objetivo de me acalmar, na verdade agora acho que estou pior do que antes. Enrolo-me em uma toalha e, novamente, me detenho frente ao espelho. Agora, olho minha imagem de corpo todo. E antes que possa perceber deixo a toalha deslizar até o chão. Com os pensamentos anteriores rondando minha mente eu me aproximo de minha própria imagem hesitante. Através do reflexo posso ver o medo em meus olhos. E com a mão tremendo aproximo-a do meu ventre ainda liso. No começo com um breve toque. Apenas um roçar com a ponta dos dedos. E então, quando vejo toda minha palma já está sobre ela. Hesitante, mas sem recuar. E, pela primeira vez, com a ficha finalmente caindo, posso acreditar que tem um bebê ali dentro. Um ser completamente indefeso. E totalmente dependente de mim. E por um curto momento a vontade de protegê-lo se apossa de mim. Mas antes que qualquer pensamento nessa natureza venha se apossar de mim quebro o contato.

Enrolo-me outra vez na toalha e saio a passos firmes do banheiro não deixando, em hipótese alguma, que eu me distraia novamente. Não sei o que deu em mim para fazer essa cena ridícula frente ao espelho, mas com certeza não irá se repetir. Entro no quarto e visto a primeira roupa que encontro, uma calça cinza de moletom e uma regata preta. Penteio meus cabelos e deixo-os soltos para que sequem. E quanto ao meu rosto, que ainda demonstra a noite anterior, não há nada que eu possa fazer.

Desço as escadas e ainda no meio delas um cheiro incrivelmente gostoso invade minhas narinas. E concluo que Peeta ainda está em casa. No caminho até a cozinha ouço algumas vozes e sei que temos companhia. No começo penso que possa ser Greasy Sea – atualmente ela só vem à tarde, para cozinhar para mim quando Peeta está na padaria, mas às vezes aparece para conversar um pouco – mas essa ideia é refutada assim que sinto um cheiro forte e amargo e logo posso ver Haymitch sentado à mesa. Ele e Peeta conversam em voz baixa e por um segundo imagino que meu marido está contando para ele sobre a gravidez. Mas rapidamente desfaço esse pensamento, Peeta me respeita demais para compartilhar algo da nossa privacidade. Principalmente algo desse nível.

Eu me faço presente com um pigarreio e logo a atenção dos dois homens se volta para mim.

— Katniss, que bom que acordou. Já estava ficando preocupado. – Peeta é o primeiro a falar. E fico angustiada ao ver minhas preocupações anteriores se confirmar. Peeta foi educado, polido, mas não carinhoso. Não havia aquele afeto sempre presente em sua voz quando ele fala comigo. E pelo muito que conheço dele sei que estava sendo frio. Ou pelo menos o máximo que conseguia.

— Eu estava muito cansada – rebati. Não é uma guerra, eu sei. Mas não me contive em responder de uma maneira pior que a dele. Realmente, educação era algo me faltava.

Fui até a mesa e peguei uma maçã, não tinha vontade alguma de comer – afinal, meu estômago estava revirando -, só queria provar para ele que estava bem e que não precisava que se preocupasse comigo. Uma atitude infantil, admito. Durante todo o caminho senti seus olhos me seguirem e sabia que estava acompanhando meus passos e que faria isso o dia todo. Era sempre assim, toda vez que eu e Peeta brigávamos, ele podia estar furioso comigo o quanto fosse, mas nunca deixava de se importar. No final, a bondade de Peeta o traía. Sentei em uma cadeira de frente a Haymitch e me esforcei para dar uma pequena mordida na maçã.

— Uau – assoviou Haymitch – O clima entre vocês está mesmo quente.
E é nesses momentos que eu odeio Haymitch. Eu sei que ele se importa conosco. Eu e Peeta somos o mais próximos que ele tem de uma família e vice-versa. Mas é nessas horas, quando Haymitch solta seus comentários provocativos e desnecessários que eu realmente tenho vontade de matá-lo. Ele claramente notou que minha situação e a de Peeta não está nada boa, mas ao invés de agir como uma pessoa normal e deixar quieto, não, ele faz questão de mexer na ferida.

Voto um olhar frio para ele como resposta esperando que ele tenha a decência de calar a boca.

— Docinho – provoca ele – Você não está com a cara nada boa. Problemas no paraíso?
E é nesse momento que eu explodo. Meu humor não está nada bom hoje e se não fosse Peeta na sala que eu sei que me impediria eu teria voado no pescoço de Haymitch. Mas, ao invés disso, eu me levanto e espalmo as mãos na mesa antes de começar a gritar.

— Sai daqui. Sai!

Posso ver o choque cruzar o olhar do meu antigo mentor. Ele nitidamente não esperava por uma atitude tão agressiva vinda de mim. E nem eu mesma esperava. Se fosse qualquer outro dia eu simplesmente devolveria suas provocações. Mas acontece que hoje não era um bom dia para ele tentar a sorte.

Antes que eu perdesse o resto da minha paciência – e compostura – e realmente avançasse sobre Haymitch, Peeta o leva até a porta sussurrando alguma coisa que eu não consigo entender. Eu subo correndo para o quarto não querendo ver nenhum dos dois. Ou melhor, não querendo ver ninguém.
Quando me deito na cama deixo algumas lágrimas escaparem. No entanto, dessa vez são lágrimas de raiva. Que direito Haymitch acha que tem para se meter em uma questão tão pessoal? Tudo bem que ele não sabia o que está acontecendo, mas ele deveria ter tido o bom senso de não abrir a boca hoje. E tem Peeta também. Agindo de uma maneira indiferente como se eu estivesse fazendo todas as coisas erradas. Ele não tem o direito de me culpar. Não quando eu estava pensando em...

Não deixo que o pensamento se conclua. Não quero mais um problema para pensar. E nem um novo motivo para minhas lágrimas. A única coisa que faço é me embolar nas cobertas e ficar lá até quase uma hora depois quando ouço a porta se fechando e sei que Peeta saiu.

Levanto-me e abro a porta levemente para ter certeza de que ele saiu. E quando o silêncio e tudo o que ouço decido sair. Desço a escada ainda embolada na coberta. Sem nada para fazer fico vagando a esmo esperando a chegada de Greasy Sea. Passo pela sala. Entro no escritório. Sigo para a cozinha e a sala de jantar. E só percebo que parei quando estou encarando atentamente a porta do quarto de Prim. Eu toco as marcas na madeira com as pontas dos dedos. E levo a mão à maçaneta e giro.

O quarto continua idêntico. Apesar dos seis anos que se passou de sua morte nunca tive coragem de mudar um único objeto de lugar. A única coisa que permito é que, de tempos em tempos, Greasy Sea entre para limpar tudo. As cores da parede continuam rosa. A cama arrumada. E, sendo imaginação ou não, ainda consigo sentia o cheiro da minha patinha aqui.
Entro no quarto, cautelosa. Vou até a cama, mas não me sento. Toco-a suavemente como se pudesse se partir. E fico apenas observando enquanto as lembranças me invadem. Foram poucos os momentos que passamos aqui, mas todos preciosos. Deu um pulo ao ouviu um miado atrás de mim. Viro-me e vejo Buttercup, o gato horrível resolveu me fazer companhia no momento. È incrível como ele sempre sabia quando devia aparecer.

Ele aproximou-se de mim e eu me abaixei para passar a mão em suas orelhas. Eu nunca admitiria isso em voz alta, mas com o passar do tempo eu parei de odiar tanto esse gato.

— Você também sente falta dela não é?

Sinto-me uma idiota por conversar com um gato, mas quando ele faz um barulho sofrido penso que talvez ele me entenda. Faço um último carinho nele agradecendo a Prim por tem me impedido de matá-lo, no final ela estava certa. E essa era mais uma dívida que eu tinha com ela e que, infelizmente, nunca poderia pagar.

Observo alguns dos bichinhos de pelúcia que comprei para ela. Penso na sua infância roubada. E no seu futuro que lhe foi roubado. Ela queria ser uma medica. E teria conseguido, teria sido uma ótima medica. Se ao menos eu tivesse conseguido protegê-la. Contudo, não havia nada que eu pudesse ter feito, ela está fadada. Enquanto permanecesse perto de mim esse seria seu destino. Porque é isso que acontece com as pessoas que eu amo. Elas sofrem.
Saio do quarto assim que ouço um barulho na casa. Vou à cozinha e vejo que Greasy Sea chegou. E enquanto ela prepara meu almoço eu me sento a mesa, em um silencio reconfortante. Durante todo o tempo ou estamos em silencio ou conversamos sobre coisas leves. Ela não parece notar meu estado, ou se nota não comenta. E sou grata a ela por isso.

Nós almoçamos calmamente e ela me informa que hoje ficará até mais tarde, pois é dia de faxina. Ela me pergunta se vou caçar e respondo com um simples aceno que não. Fico mais algum tempo ali enquanto ela lava a louça e arruma a cozinha, e depois subo avisando-a que vou tomar um banho.

Abro a torneira da banheira esperando que ela se encha. Tiro minhas roupas e entro sentindo a água quente me envolver cada vez mais. E aos poucos vou me desligando de tudo me concentrando somente na quentura que banha minha pele. Fico lá o que parecem longos minutos até um incomodo me invadir. Sinto uma pequena dor que gradualmente aumenta em meu ventre. Eu levo a mão até a região fazendo uma pequena massagem esperando que passe. Entretanto quando a dor não passa, só fica mais forte, eu me sento. Assustada eu encaro uma mancha vermelha na água. Passo os dedos por onde o sangue sai e instintivamente sei que aquilo não é normal.

A próxima coisa que estou fazendo é gritar por Greasy Sea. Eu não ouso nem mesmo me mexer com medo de que só possa piorar a situação. E um pensamento súbito me vem à cabeça. Eu estou perdendo meu bebê.

Grito o mais alto que posso completamente amedrontada. E, então, para minha surpresa é Peeta que invade o banheiro. Com as feições preocupadas ele me encara procurando o motivo de meus gritos. Mas eu não preciso dizer nada, pois quando ele vê o sangue na banheira já sabe do que se trata.

Rapidamente, e penso eu que por instinto, ele vem até mim. Delicadamente ele me tira da banheira murmurando meu nome diversas vezes. Ele grita algo para Greasy Sea que eu não entendo enquanto me envolve em um roupão. Eu penso em me fixar no chão, mas minhas pernas tremem tanto que acabo desistindo e só me agarro mais a Peeta.

Peeta me prende em seu colo e me leva até a cama. Seu olhar agora passou de preocupado para aterrorizado.

— Katniss – ele passa a mão em meus cabelos – Vai ficar tudo bem. Você vai ficar bem.

Procuro em seus olhos e vejo que ele realmente tem certeza disso: eu vou ficar bem. Porém, não é isso o que me preocupa agora. Sinto um pouco mais de sangue escorrer por minhas pernas e compreendo que o que me aterroriza é a idéia de perder esse bebê. Há menos de um minuto eu não conseguia sequer imaginá-lo, e até ontem nem mesmo considerei real sua existência, mas agora não consigo me imaginar perdendo-o.

Um senhor vestido de branco aparece no quarto tirando-me de meus devaneios. Ele é um médico, presumo. Ele diz algumas coisas a Peeta com as quais não me importo e meu marido balança a cabeça em discordância e agarra minha mão.

O medico me examina por alguns minutos até que um suspiro irrompe de seus lábios.

— Srta. Everdeen, você teve realmente muita sorte. – eu ouço paralisada cada palavra que ele diz – A senhorita teve um inicio de aborto espontâneo, mas, não sei como, não perdeu seu bebê.

Um suspiro aliviado sai da boca de Peeta. E, antes que eu possa impedir, esboço um sorriso singelo. Pensamentos rodopiam minha mente, mas tudo o que foco agora é que meu bebê está bem, seguro.

— Trata-se de um lutador. – o medico completa.

Ele diz algumas coisas a Peeta, recomendações eu acho e meu marido o acompanha até a porta. E tudo o que faço é colocar a mão sobre minha barriga. Porém, dessa vez o gesto é carinhoso. E me esbaldo no pensamento de que meu bebê está seguro. E, a partir desse segundo, compreendo algo que estava lutando para não ver. A partir do momento em que essa criança passou a existir, eu não poderia mais viver sem ela.

— Você está bem? – Peeta pergunta se sentando ao meu lado. E posso ver em seu olhar que ele ainda está preocupado.

— Sim. O que o medico disse?

Ele solta um suspiro.

— Disse que você vai ficar bem, mas que vai precisar se cuidar mais. – ele fez uma pausa e pude ver sua hesitação – E disse também que o aborto provavelmente foi causado por emoções fortes.

Eu abro a boca para falar, mas Peeta logo me interrompe.

— Katniss, me desculpe. Eu sinto muito pelo modo como te tratei mais cedo. – ele passa a mão pelos cabelos, nervoso. – Eu disse ontem que respeitaria sua decisão, mas não foi isso o que eu fiz, me desculpe.

— Peeta – disse fazendo com que ele me olhasse – admito que fique chateada mais cedo, mas eu compreendo que você estava apenas demonstrando seus sentimentos, assim como eu.

Ele passa a mão pelos meus cabelos carinhosamente. E vejo o alivio cruzando seu olhar.

— Eu estava tão preocupado. Quando eu te vi naquela banheira não soube o que pensar.

— Está tudo bem agora.

— Sim, está tudo bem com você... e com o bebê.

Ele diz a última frase hesitante, sondando o caminho. Eu não sei o que ele espera de mim, mas a surpresa assume seu rosto quando eu esboço um sorrido. Eu levo minha mão até a barriga, um caminho que agora parece familiar para mim, e vacilo antes de dizer as palavras.

— Eu quero esse bebê.

E agora não há como voltar atrás. Porém, surpreendentemente, eu também não quero.

— Você tem certeza? – Peeta pergunta receoso e quando eu aceno em confirmação ele demonstra felicidade genuína.

O sorriso, que antes ele não pode dar por minha causa, agora aparece em seu rosto. E antes que eu perceba seus lábios estão grudados aos meus. E eu correspondo ao beijo sentindo todo o sentimento que ele pôs ali.

— Eu te amo – ele sussurra.

— E eu te amo – digo as palavras um pouco mais baixo, sentindo que elas se encaixam no momento.

À noite quando nos deitamos para dormir Peeta afaga meus cabelos. Com cuidado ele leva a mão até minha barriga e a acaricia.

Um sorriso surge em seus lábios quando, apenas para confirmar mais uma vez, ele me pergunta.

— Vamos ter um bebê. Real ou não real?

Encaro seus olhos azuis, os mais lindos que já vi, e penso que quero que essa criança herde isso dele. E assim seria o segundo par que eu mais amaria nesse mundo.

— Real.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Se tiverem alguma critica ou sugestão eu adoraria ouvir. Deixem um comentário por favor, cada um que eu recebo me alegra muito. O próximo capítulo pode demorar um pouco mais (já que as as aulas começaram de verdade agora - acabou moleza de começo de ano - vou ter menos tempo para escrever) , mas vou tentar postar tão rápido quanto eu puder, talvez no próximo fim de semana mesmo. Deixe sua opinião sobre o capítulo e se acharem algum erro não deixem de me avisar. E, novamente, se quiserem pedir por um momento especial estou a disposição.
Beijos e até mais!
Rafa.



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