Tomorrow Will Be Kinder escrita por RafaelaJ


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Gente, bem vindos. Primeiramente esse capítulo vai ser dividido em duas partes, e a segunda pretendo postar em breve. Esse capítulo se passa mais ou menos sete anos depois do ultimo capítulo do livro. Me desculpem se eu não segui a ordem cronológica que a S. Collins estabeleceu no epílogo, mas é que eu realmente acho que era tempo demais, hahaha.
Nos vemos lá em baixo.



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Apoiada contra a janela do quarto posso ver os pingos de chuva. Caindo, primeiramente, de modo ralo, como um chuvisco e em seguida, aumentando a intensidade. E, então, repetindo todo o processo novamente. Completamente inconstante.

Coloco minha mão sobre a janela tentando acompanhar as gotas que escorrem pelo vidro. Uma a uma elas desaparecem logo sendo substituídas por outras. Eu adoro a chuva. É como se ela fosse um banho que levasse toda a sujeira. E logo depois trazendo vida. Lavando a alma.

Como eu queria que pudesse ser assim realmente. Queria poder deitar sobre sob os pingos gélidos e deixar que eles levassem toda a sujeira que há em mim, e que com certeza não é pouca. Queria que eles pudessem retirar todos os atos imundos que já cometi, toda a vergonha que sinto por tudo o que fiz, toda a maldade em tudo o que eu causei. E, principalmente, todos os meus problemas. Queria que fosse simples assim como retirar a lama dos degraus da escada.

Quando sinto as lágrimas ameaçando eu desvio o rosto da janela. Pensamentos assim não me trarão nada de bom, somente dor. Mas talvez seja só isso o que eu mereça, sofrer por tudo o que já causei.

Olho para Peeta deitado na cama. Sonhos calmos o embalando, ou assim eu esperava já que nunca sei detectar seus pesadelos. Observando seus cabelos louros e seus olhos fechados, mas que a cor eu conheço mais do que qualquer outra, eu penso em como eu não sou boa para ele. Nunca fui. E essa é a verdade por mais que doa. Lembro-me de quando Haymitch me disse que não o mereceria mesmo que vivesse cem vidas e, nesse momento mais do que nunca, sei que ele estava certo. Porque, mais uma vez, estou prestes a cometer em ato egoísta e que eu sei que só o magoará. Mas ainda sim penso que o farei. Pois por mais que Peeta queira pensar o contrário, eu sou um ser humano desprezível e incapaz de fazer qualquer coisa boa.

Pego o papel já muito amassado na lateral da poltrona. Venho escondendo isso de Peeta há dois dias. Mais por vergonha do que por medo. Vergonha do que ele pensará de mim quando ouvir o que eu disser. Já li e reli o que está escrito nesse papel miserável mais de cem vezes e até agora não consigo acreditar que essas palavras possam ser verdadeiras. Eu estou grávida.

Faz anos que Peeta me pede para ter um filho. Eu já perdi a conta de quantas vezes já brigamos por esse assunto. E agora aqui estou eu, grávida por um deslize. O mero deslize que vai causar um tremendo impacto em minha vida. E não só na minha vida.

Eu sei que tenho que contar para Peeta. Sei que é do direito dele saber, mas a cada vez que me cobro uma atitude fujo da responsabilidade com alguma desculpa. Mas a verdade é que, se depender de mim, nunca vou achar o momento ou as palavras ideais que tanto procuro para conversar com ele. E eu sei que vou perdurar por quanto tempo puder. Porque nunca vou estar realmente pronta. Não vou estar pronta para a felicidade que invadir Peeta e ter consciência de que vou destruí-la por completo logo em seguida. Pois, por mais que eu tenha pensado no assunto, e não há um minuto que isso não aconteça, meus pensamentos ainda são os mesmos de cinco anos atrás. E eu não consigo, por mais que queira, imaginar essa criança. E no fundo não sei se a quero. E sei que isso vai destroçar Peeta. E toda a esperança que ele tem em mim vai ser despedaçada no momento em que eu lhe disser que não planejo tê-la.

Vejo Peeta se remexer na cama e peço que ele não acorde, porque ele com certeza notaria que tem algo errado comigo. Ele já está desconfiado e me ver nesse estado, praticamente a beira das lagrimas na janela, só vai confirmar o que ele já sabe. Mas apesar de meus pedidos logo posso ouvir a voz dele me chamando. Ele se senta na cadeira e esfrega os olhos me procurando pela penumbra do quarto. E, quando finalmente me vê, suspira aliviado.

— Teve um pesadelo?

Balanço a cabeça em confirmação não querendo que ele saiba que nem ao menos fechei os olhos esta noite. Ele estende seus braços para mim e eu, como habitualmente faço, deslizo para eles. E sabendo que esse conforto durará pouco aproveito por cada minuto que posso. Me aconchego contra seu peito sentido seu cheiro amadeirado. Ele passa a mão por meus cabelos em um suave cafuné e por um momento me pergunto como seria ficar sem os seus braços em minha volta, sem a segurança e o conforto que eles me oferecem, e percebo que não conseguiria.

— O que foi? – Peeta pergunta calmamente. A voz suave que ele sempre usa depois que tive um pesadelo. E quando ele não recebe resposta alguma sinto seus dedos em meu rosto levantando-o. – Katniss, você está preocupada com alguma coisa. Não foi só o pesadelo, não é?

Olho em sua íris completamente azul e sinto a agonia me consumir. Sinto como se meu peito fosse explodir, e por alguns segundos uma dor excruciante me invade, e sei que só há um jeito de me livra dela. Nesse momento as lagrimas já cansaram de meus olhos e se espalham por todo meu rosto. Peeta me olha alarmado, provavelmente pensando que se trata de uma das minhas crises, mas antes que qualquer palavra possa sair de sua boca, eu falo.

— Eu estou grávida.

Posso ver as emoções passar pelo rosto de Peeta como eu mesma imaginei que seria. Ele começa na surpresa, passando pela aceitação da noticia e seguindo direto para a alegria. Sei exatamente como ele deve estar se sentindo. Um sonho de infância se realizando. Nunca foi segredo para ninguém que Peeta queria uma família. Ele tem um jeito enorme com crianças. Ele as adora assim como elas sentem o mesmo por ele. Eu sei, mais do que todos, que ele mais do que as queria. Ele idolatra essa idéia. Porém, ele também sempre soube que eu era contraria a isso. E quem podia me culpar, afinal. Depois de passar por tudo o que eu passei. De ver tudo o que eu vi. De presenciar o pior da natureza humana. Como eu poderia querer que crianças inocentes nascessem para isso? Para viverem na incerteza de um futuro cruel. Não, eu prefiro que elas permaneçam somente na idéia, nunca nesse mundo.

— Você tem certeza? – Peeta pergunta depois de um tempo de completo silencio. Suas feições mudaram, o sorriso que antes habitava seu rosto desapareceu. Ele deve ter notado pelo meu estado que algo não está certo.

Estendo para ele o papel amassado. Ele desliza os olhos por todo ele antes de me entregar novamente. Eu não sei o que dizer a seguir. Peeta sempre foi o bom com as palavras, não eu. Penso eu qual deveria ser a minha reação. Deveria pular, gritar e sorrir? Deveria dizer que amo Peeta e que seremos os melhores pais do mundo? Sim, deveria ser assim que eu agiria. Mas nossas circunstancias são diferentes por isso não sei como reagir. Permaneço parada, somente as lagrimas escorrendo agora cada vez mais escassas, até que ele resolve quebrar o silencio.

— Como você se sente?

Meu ímpeto é dizer que estou bem. Afinal, não tenho sentido dores, enjôos ou nada sobre o que as grávidas reclamam, mas então percebo que não é isso o que ele perguntou. Ele quer saber como estou lidando com essa idéia. Ele sabe que nunca aprovei a idéia de filhos e, mesmo que eu esteja estragando seu momento de felicidade, ele quer saber como me sinto. E, então, posso ver que a bondade de Peeta não acaba nunca.

Eu esfrego as lágrimas, agora quase todas secas, de meu rosto antes de responder.

— Mal – Uma resposta egoísta, mas eu de fato nunca fui gentil. – Quer dizer, eu não sei o que eu quero, eu não sei o que fazer. Estou perdida.

As lágrimas voltam a descer quando admiti, finalmente, como me sinto. E, como uma revelação para mim mesma, vejo como estou frágil.

— Há quanto tempo você já sabe? – a voz de Peeta continua estável, calma, mas eu vejo seu nervosismo no modo como ele passa as mãos, de modo quase frenético, pelos cabelos.

— Dois dias – abaixo a cabeça em vergonha por ele perceber que sei disso há algum tempo e o mantive na ignorância. E o pior é que esse tempo não me serviu de nada, além de me causar mais duvidas e inseguranças.

— Dois dias – repete ele – Você sabia disso por dois dias e não me disse nada. Por quê?

Quero chorar, mas eu não consigo e sei que já devo ter esgotado todo o meu conteúdo de água em meu corpo. Sinto-me fraca e imponente. E não sei desde quando me tornei tão sentimental. Lembro-me, então, de Finnick, na segunda arena, dizendo-me que eu não conseguia parar de chorar por causa dos hormônios da gravidez. Quase quero sorrir ironicamente por isso. Esse bebê já quer se fazer presente de uma maneira ou de outra.

— Eu não sei Peeta. – eu estou quase gritando – Porque eu sou uma idiota, por isso. Eu estava com medo da sua reação. Eu sei o quanto você quer isso, quer um bebê. Mas eu não sei se consigo fazer isso. E não queria ver a sua cara de decepção quando eu lhe contasse.

As palavras se formam em minha boca antes que eu pudesse conte-las e quando vi já tinha jogado-as nele. Agora é a minha vez de passar as mãos pelos cabelos, nervosa. É agora que ele percebe a pessoa ruim que eu sou. Que sou tão egoísta que não posso me desprender de meus medos nem para dar o que ele mais deseja.

Ele me encara durante alguns segundos que mais parecem horas. E confesso que estava até me preparando para caso ele tivesse uma crise. Mas, o fato de olhar dele ir gradualmente se suavizando me surpreende. Ele me olha com algo que eu encaro como compreensão. Ele se aproxima de mim e mesmo relutante deixo que ele prossiga. Lentamente ele vai passando mãos por meus cabelos e antes que eu perceba estou completamente agarrada a ele novamente. E mais uma vez ele me consola. Só então eu percebo o quanto precisava disso. Desde o começo eu precisa ter dito a Peeta e encarado a situação fosse como fosse.

Ele nos deita novamente na cama e continua com suas caricias. Não sei quanto tempo se passa, mas quando estou prestes a fechar os olhos e tentar dormir novamente Peeta quebra o silencio.

— Você não quer esse bebê. Real ou não real?

— Eu não sei. - E a sinceridade nessa resposta me assusta.

— Katniss, eu só quero que você saiba que eu quero esse filho. E quero muito. Mas eu vou respeitar qualquer decisão que você tomar.

E depois de ele dizer isso posso perceber o quanto realmente ele me ama. Seu sentimento por mim é o suficiente para fazer com que ele respeite minhas escolhas mesmo se isso fosse feri-lo. E mesmo eu sabendo o que ele sente por mim isso me surpreende. E, como sempre, Peeta acaba superando as minhas expectativas. E ali, aconchegada em seu abraço, penso que gostaria de retribuir isso. E, pela primeira vez, realmente considero as minhas opções.

Antes de dormir, no estado praticamente de inconsciência, penso em todas as coisas ruins que já presenciei neste mundo. A morte de meu pai. A fome. A colheita de Prim. Meus próprios Jogos Vorazes. E as mortes que ali vi e contribui. A crueldade de Snow. A depreciação de Haymitch. O Massacre Quaternário. As mortes de Megs, Wiress e a morfinácea. As crianças maltratadas no Doze. A destruição do meu distrito. A guerra. Penso em Prim e no futuro que ela deveria ter tido. Futuro esse que eu não consegui proteger. E é com esses pensamentos que eu adormeço. Refletindo sobre, depois de tudo o que eu passei, que tipo de mãe eu seria.

E por fim, a imagem de uma campina me vem à mente. Com a grama fofa e repleta de flores. E o mais importante, completamente segura, como aquela que cantei para Rue uma vez.


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Notas finais do capítulo

Muito obrigada a todos que leram, e como eu já disse o próximo capítulo já está vindo. Espero que tenham gostado, e adoraria ler um comentário de vocês. Elogios e criticas, aceito todas porque assim vocês me ajudam a melhorar cada vez mais. Como essa fanfic é de capítulos independentes se quiserem pedir por um momento especial sintam-se a vontade, vou fazer o máximo possível para agrada-los. E se acharem algum erro não hesitem em me avisar.
Beijos e até mais!



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