Love Kitsune escrita por BlackCat69


Capítulo 20
Capítulo: Futuro (parte 4)




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Apavorada, Karin interrogou:

— Como encontrou minha casa? Me seguiu até aqui seu bostinha?

— Agressiva como sempre. — Sorriu ele.

— Não fale como se me conhecesse há tempos. — Deu um passo pra frente e encostou a porta, sem deixar de mirá-lo.

Expressava-se irritada.

Agarrou o meio do braço direito de Suigetsu e o arrastou para longe da casa.

Puxava-o com tanta força que ele tropeçou no último degrau.

Perguntou ansioso:

— Aonde está me levando?

— À praia, respondendo sua primeira pergunta, estou pronta para ir até lá.

— Eba!

— E de lá voltarei sozinha. — Complementou Karin, determinada. — E se me seguir, chamarei minha galera.

— Sua galera?

— Minha família é conhecida em Konoha, se eu fizer um escândalo vão me acudir.

Os cidadãos defenderiam a neta de Mito.

Suigetsu revirou os olhos, assegurando:

— Não te farei mal nenhum, menina. Apenas quero o seu cordão emprestado.

— Eu não vou emprestar um presente da minha avó para um menino capaz de me espionar. — Subitamente, largou-o parando de andar, volveu-se a ele, pondo as mãos na cintura, perguntou-o: — E aliás, pra que quer meu cordão?

Suigetsu hesitou durante uns segundinhos, usando o lado do punho cerrado direito socou a palma esquerda, respondendo-a:

— Preciso nadar no fundo do mar para procurar algo. Tenho a habilidade de tornar coisas transparentes bem mais luminosas dentro da água.

Estranhando, a ruiva quis ver se entendeu:

— Quer usá-lo como lanterna?

— Sim, apenas não uso uma de verdade por que se não o fogo vai apagar.

— Lanterna não tem fogo.

— Claro que tem, ela é acendida à óleo.

A Uzumaki se silenciou pensativa, e então perguntou-o:

— Está falando das lanternas tradicionais?

— Acredito que sim. — Suigetsu respondeu, também pensativo. — Há outro tipo de lanterna?

— Sim. — A ruiva sorriu, virou-se de costas para ele, pusera as mãos atrás dos cabelos ruivos, continuou andando, agora em um ritmo tranquilo, dizendo-o: — Está atuando bem, como me falou que é um tritão, tem que fingir que não conhece bem o mundo da superfície. Parabéns, nota 10.

Suigetsu a seguia, caminhando no mesmo ritmo, e acelerou um pouco, somente para acompanha-la lado a lado.

Ele riu de boca fechada, e em seguida propôs:

— Se continua duvidando de mim, por que não fazemos uma aposta?

— Uma aposta? — ela ergueu uma sobrancelha, sorriu em assentimento para algumas pessoas a cumprimentarem-na de longe.

Entraram em uma das ruas mais movimentadas da pequena cidade.

A mais movimentada de Konoha equivalia a rua mais tranquila de Osaka.

Fato que somava o apreço da ruiva pela pacata cidade.

— Quando chegarmos à praia, entre comigo na água, você terá que mergulhar para ver minha cauda. Se eu estiver falando a verdade, você me empresta o cordão.

Rindo, Karin abraçou a barriga, ela não notou naquele instante, mas algumas pessoas sorriram e comentaram umas com as outras sobre avistarem a neta de Mito rir pela primeira vez desde a morte da avó.

Após o término da risada, a Uzumaki meneou em negação, rejeitando:

— Não tenho roupa de banho.

— Vai assim mesmo.

Ela se irritou:

— Eu não vou me molhar por causa de uma aposta boba.

— O quê que tem? É só água.

— Eu não quero perder tempo me secando, secar o cabelo demora mais. Desiste dessa aposta, e depois de hoje me esquece ouviu bem? — ela se tornava séria.

Suigetsu parou na frente dela, segurou-a pelos ombros pedindo:

— Na sua casa tem água? Se me deixar em algum lugar seguro dela, basta me molhar que lhe mostrarei.

— Não estou suportando mais esse assunto. — Karin afastou as mãos dele. — Já sei o que farei, vou lhe arranjar uma garrafa transparente, uma bem grande. E aí você vai mergulhar em paz.

As íris arroxeadas do menino se inquietaram, perdidas. E então respondeu-a, desesperado:

— Seu cristal é melhor, é cristal puro! Vale por um milhão de garrafas, e é mais prático por que poderei leva-lo no pescoço. Precisarei usar as duas mãos quando encontrar o que procuro. Com seu cristal será mais rápido de eu encontrar, e mais rápido devolverei para você.

Karin realizou uma careta, e recuou três passos, tombou em alguém. Virou-se e se desculpou com uma senhora que lhe passou a mão na cabeça, dizendo-a estar tudo bem.

Após a partida da Senhora, a ruivinha se concentrou no menino novamente:

— Não fique tão perto, dá pra sentir o pitiú. — Abanou a mão na frente do nariz, após abaixá-la, acusou: — Tá levando essa história de tritão a sério demais, dormiu em um barril cheio de peixe?

Agora era Suigetsu quem perdia a paciência:

— O que é pitiú? Bem, não importa. Se vai insistir que é mentira, não é melhor aceitar logo a aposta, aí você se livra de mim, pois prometo não ir atrás de você.  

Karin fechou as pálpebras, batendo o pé direito repetidas vezes contra o solo sem desgrudar o calcanhar do mesmo.

De braços cruzados, pensou durante um minuto, e no fim imobilizou-se inteira.

Descruzou os braços e assentiu, dando de ombros:

— Que seja.

Suigetsu deu um pequeno salto, batendo seus pés no ar, contente. Ele perguntou-a:

 — Voltamos para sua casa?

— Não, vamos pra praia. Quero você bem longe da casa de minha avó.

— Credo, como quiser.

Os dois retornaram a andar lado a lado.

Karin criou um pouco mais de distância, não querendo correr o risco de sentir o pitiú.

Com mais alguns minutos de andança pela cidade, o menino comentou:

— É tão maravilhoso, ninguém está reparando em mim. Normalmente, tenho que tomar cuidado mesmo na minha forma humana.

— Aparências incomuns para o resto do mundo é o que mais tem em Konoha. — A ruivinha observou o perfil dele. — Seus cabelos quase grisalhos, olhos roxos e esses dentes pontiagudos causariam perplexidade em Osaka.

— Quem é ela?

Humpf, ele continuava fingindo desconhecer o mundo fora da água, pensou a Uzumaki, mas ela não se embraveceu, entraria no jogo dele, por enquanto. Pacientemente, respondeu-o:

— É a cidade onde moro.

— Não mora em Konoha?

— Não, vivo em Osaka com a minha mãe.

— Ah, foi a cidade grande que sua mãe mencionou ontem.

Refletindo, a ruiva se lembrou de uma fala de Karina:

“O bom é que os preços de Konoha são mais acessíveis que na cidade grande”

— Sim, essa mesma. — A ruivinha confirmou, quando o derrubasse da mentira, exigiria que ele lhe mostrasse como fez para escutar, por meio da concha. 

Um tempo mais tarde, avistavam a areia da praia.

A Uzumaki se aliviou em saber que logo estaria livre daquele sujeitinho fedorento a peixe.

Antes de chegarem à areia, ela perguntou:

— Onde arranjou essas roupas?

— Eu encontrei estendidas por aí.

— Você as roubou.

— Não tinha ninguém perto, achado não é roubado.

— Elas foram deixadas para secar no varal, gênio.

— Então é melhor eu ir logo pro fundo do mar antes que comecem a procurá-las.

Entraram no campo arenoso, deixaram suas pegadas na areia em direção ao mar.

Pararam a uns dez metros distante da extensão aquosa.

Suigetsu se livrou dos chinelos amadeirados, ele também jogou o chapéu contra a areia e não se importou de o vento leva-lo.

— Não vai tirar sua roupa? — ele perguntou.

— Sim... — Karin desprendeu o macacão jeans e retirou seus calçados. 

Por sorte, não costumava usar somente calcinha sob o macacão, costumava usá-lo com um shortinho por baixo. 

Suigetsu observou a estampa do pequeno short, comentou risonho:

— Então você gosta de peixe.

Corando, a Uzumaki justificou:

— Não escolhi todas as minhas roupas. — Nervosa, dobrou seu macacão e sobre ele colocou seus óculos.

— Vamos rápido, para eu poder catar minhas coisas. — Ela avançou contra o mar.  

— Não vai tirar a camisa? — ele a seguia.

— Não. — Ela não quis explicar, mas se dava pelo fato de não usar sutiã, seus seios não se desenvolveram, todavia desgostava se apresentar sem camisa em público.

Juntos entraram na água, pararam quando ela batia na cintura.

— Me mostra aí a sua ca... —Karin sequer terminou sua frase.

De cada lado do pescoço do menino se exibia um par de fendas.

Ele observou se havia alguém perto, como não, continuou exibindo aquela particularidade de sua espécie.

— O q... q-q... — A Uzumaki empacou.

O sorriso de dentes afiados engrandeceu.

A menina notou que existiam mais dentes naquela boca além do número natural de um humano.

— Legal não é? — Suigetsu se divertia com a reação dela. — São as minhas brânquias, eu posso escondê-las. — No segundo a seguir, as fendas se fecharam. — Impressionante, não? Gostaria de ver minha cauda agora?

Karin permanecida muda, não conseguia agir.

Por ela demorar tanto sem fazer nada, o menino peixe pegou as mãos da menina e as colocou abaixo de sua cintura, para ela sentir as escamas duras da cauda.

Com a transformação, o short que usava rasgou se tornando uma saia.  

— O que acha? — ele perguntou.

Sem resposta, apenas uma boca trêmula e olhar atordoado saíam da Uzumaki.

Suigetsu deu de ombros, colocou a mão no cordão da ruivinha.

— Trato é trato, vou pegar emprestado. — Ele puxava a corda do pingente para cima.

O ato de ele encostar no objeto retirou Karin daquele transe.

— NÃO! — ela gritou, agarrou a pedra cristalina e usando a ponta dela, arranhou os dedos de Suigetsu.

— Ai! — ele recuou a mão direita. 

A ruiva se impulsionava pra fora da água, pensando apenas em fugir.

Sentiu seu tornozelo ser agarrado, e pela mesma mão a qual arranhou com o seu pingente.

Os globos de Suigetsu se avermelharam inteiramente, apertando o tornozelo dela com bastante força, vociferou:

— Sua mentirosa! Fizemos uma aposta! Não vai cumprir?!

Apavorada, a Uzumaki não enxergava o mesmo menino de antes. Gritou-o:

— FIQUE LONGE DE MIM!

Voltou-se com tudo pra frente dele, acertando-o novamente com o cristal, só que dessa vez na brânquia inferior do lado direito do pescoço.

Suigetsu gritou, atordoado.

— SOCORRO! ELE QUER ME PEGAR! SOCORRO, ELE ME MACHUCOU! — aos berros ela saiu da água, pelo caminho catou suas sandálias e seu macacão. Quase deixou seus óculos para trás. Agarrou a armação e enfiou na cara quando terminava o caminho de areia. — ELE É UM MONSTRO, CUIDADO!

Àquela altura já havia gente olhando para ela, e para o menino que estivera com ela. 

Suigetsu não encarou ninguém, manteve a cabeça baixa até se sentir controlado.

Quando ergueu sua face, seus orbes retornaram a serem arroxeados.

Soltou uma risada, antes de sair da água transformou sua cauda em pernas, e andando pela areia, com uma mão tampava sua brânquia atingida.

Doía bastante. 

— Assim não vale Karin, está na sua vez de ser o monstro! — gritou, fingindo naturalidade.

Descalço correu atrás da ruiva, avistava-a ir na direção da floresta.

Seu chapéu continuava indo de um lugar a outro, movido pelo vento.

Não quis conferir se o pessoal acreditou, porém como ninguém veio em sua direção, supôs que conseguiu convencer de que ele e a ruivinha apenas brincavam.

~NH~

Desesperada, a Uzumaki não pensou muito enquanto corria, o medo era a única coisa a dominar sua mente, e quando se deu conta estava introduzida na floresta.

Deveria ter pedido ajuda para qualquer um banhista.

Mas simplesmente não conseguiu parar de correr, suas pernas se moviam sozinhas, seu cérebro objetivava deixa-la o mais longe possível daquele.... monstro. 

Sua pele inteira jazia pálida.

Seu coração não parava com aquela aceleração anormal originada pelo pânico.

Ele realmente era um tritão! 

Quando foi perdendo a força em sua correria, ofegante e de mãos trêmulas, vestiu seu macacão.

Levou uma eternidade para abotoá-lo e calçar suas sandálias, tanta demora por conta do choque que não a largava.  

Seus óculos quase escorregaram para fora do rosto. 

— O que está acontecendo?

Sussurrou em rouquidão.

— NÃO ADIANTA FUGIR, EU SEI QUE ESTÁ POR AQUI!

A voz do tritão a espantou, e a fez buscar forças na alma para dar seguimento na correria. Instintivamente, segurava seu pingente, de modo protetor.

Com poucos metros adiante, tropeçou em umas grossas raízes, caindo de peito contra o solo.

Um homem escutou o barulho, ele sustentava material de pesca nas costas. E se aproximou dela, perguntando-a:  

— Menina, você está bem? — ajudou-a a se levantar.  

— Tem um mons... — Karin travou sua explicação, seus orbes se arregalaram ao observar em volta. — O que são?!

— O que são o quê? — o homem seguiu o olhar dela, mas não via nada além de mato, árvore, pedra e alguns insetos.

— O que são esses negócios? Por que nos encaram? — sua pele retornava a empalidecer.

— Você deve ter batido a cabeça, por isso está vendo coisas.   

Karin começou a gritar e se sacudiu para tudo quanto foi lado.

— Menina qual o seu problema?

O homem perguntou, mas já havia sido esquecido pela ruiva que era devorada uma nova vez pelo pânico, fazendo-a chorar.

O que ela enxergava eram pequenas criaturas brancas a lhe chegarem na altura dos joelhos, a boca e nariz de cada uma eram círculos tortinhos.

Aqueles seres começaram a se aglomerar em torno dela.

— TE PEGUEI!

Suigetsu gritou abrindo caminho no meio daquelas criaturas e agarrou os braços da Uzumaki. Desejou:

— Kodamas, me levem de volta ao meu irmão!

Karin consumida de temor, fechou os olhos, e seu colar brilhou.

Cerrando suas fileiras de cílios, o homem colocou o dorso da mão aberta virado para frente da cara, protegendo sua vista do grande raio de luz que se expandiu, e quando a luz se apagou, ao reabrir as pálpebras testemunhou o sumiço das crianças.

~NH~

Karin caiu no chão com o peso do menino peixe por cima de seu corpo.

Meio tonta, ela foi abrindo as pálpebras e assistiu o grupo de seres chamados de kodamas por Suigetsu, os kodamas foram se esconder atrás de folhagens e galhos nas copas das árvores.

O pequeno tritão se levantou, massageou a cabeça e a brânquia que ainda jazia dolente, por conta da agressão de Karin.

— O q... que fez com o homem? — ela perguntou ao olhar em volta e notar a ausência do pescador.

Embravecido, Suigetsu ignorou a pergunta dela e puxou o cordão de uma vez.

— Devolve!!! — ela avançou contra ele, feito uma leoa.

O menino peixe fez emergir escamas no dorso de sua mão direita e com ela bateu no rosto da ruiva, fazendo-a cair brutamente no solo.

— Isso foi por me machucar. — Disse ele antes de correr.

Karin se levantou chorando, querendo seu cordão de volta.

Tentou segui-lo.

Já muito cansada, não correu nenhum quilometro.

Perdeu-o de vista.   

Sentia uma ardência horrível na face, quando encostou na região dolorida confirmou o que sabia: sangrava bastante.

Olhou para cima, os kodamas a espiavam e devagar foram descendo, flutuantes.

Ela sentou debaixo da árvore na qual a maioria deles se escondiam.

Alguns a observavam de longe, outros ficavam pertinho, com aquelas expressões indecifráveis.

Pela linguagem do comportamento, a ruiva crer que estavam apenas curiosos.

Eles não a assustavam.

Ela já não queria entender o que acontecia, apenas lamentava pelo roubo do seu precioso presente.

— Obaa-chan... sinto muito...sinto muito...

 

 


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