"O casamento é como enfiar a mão num saco de serpentes na esperança de apanhar uma enguia."

Leonardo da Vinci

Kings of Leon- Use Somebody

O ambiente fora decorado a perfeição. O maior salão de bailes do palácio real inglês reluz como novo apesar de ter mais de noventa anos, as janelas altas e largas com delicadas cortinas brancas as decorando reluzem e refletem as luzes do lustre suntuoso que lança a quantidade certa de iluminação, ajudado por velas alojadas em candelabros nas paredes douradas, o chão polido ao ponto de quase brilhar, uma mesa de mogno escuro coberta por uma toalha branca com detalhes dourados nas bordas serve como descanso para petiscos rápidos, vinhos leves e sobremesas deliciosas, outras se espalham pelos cantos para aqueles que desejam descansar e posteriormente para o jantar, o centro do salão deixado livre para os casais que desejam dançar ao som das clássicas melodias tocadas, câmeras discretas alojadas em pontos estratégicos gravam tudo, as pinturas de artistas famosos mortos a mais de 200 anos combinam com a imponência do ambiente, mas ao mesmo tempo as imagens concedem um ar quase caseiro ao ambiente, acolhedor apesar de tudo. Um evento dessa magnitude tem que ser tratado com toda pompa real e os ingleses obviamente conseguiram corresponder às expectativas.

Alguns nobres de diferentes nacionalidades já circulam pelo ambiente, conversando e bebendo com aparente simpatia, mas o clima tenso não pode ser totalmente dissipado, o peso daquele evento cobrando seu preço. Conforme a noite cai o ambiente se torna mais intrigante, quase mágico com todos os detalhes, quadros tão antigos que é um milagre que ainda estejam em tais condições, esculturas delicadas de graça e beleza, a iluminação forte e ao mesmo tempo aconchegante completa tudo. As família reais anunciadas uma a uma fizeram suas entradas sob um silêncio respeitoso mas ao mesmo tempo pesado e cheio de incerteza e dúvida sobre a aparente camaradagem deles, sobre a utilidade daquele processo.

Assim que todos se encontravam num dos cantos do salão numa mesa posta especialmente para eles e os príncipe mais a frente para recepcionarem e verem pela primeira vez suas selecionadas as garotas começaram a ser chamadas em ordem alfabética.

A jovem Aideen foi a primeira. Cabelos ruivos presos num coque elegante e vestido claro passando uma imagem de inocência só reforçado pelo sorriso tímido e nervoso em seus lábios, os olhos baixos porém a cabeça erguida passando uma primeira impressão se não boa então aceitável para os convidados. Da antessala onde as demais garotas aguardam e observam Bianca e Alasca sorriram com quase orgulho do ritmo calmo e contido da mais nova, apesar das mãos tremerem tinha a postura mais firme do que minutos antes quando parecia aterrorizada com a ideia de adentrar aquelas portas e ainda mais ser a primeira. Quando parou em frente aos príncipes fez uma reverência profunda, movimentos delicados sem esforço num charme adorável.

Edmund adiantou-se exibindo um sorriso diplomático que se mostrou mais gentil ao reparar no tremor das mãos da ruiva, devolveu a reverência e tomou a mão direita dela para ali depositar um beijo formal como manda a etiqueta de seu país, o sorriso se alargando ao ver o leve rubor no rosto da jovem que olhou nos olhos por alguns segundos antes que o príncipe lhe largasse a mão e a jovem se afastasse para onde deveria ficar até todas terem entrado. Os olhos de todos estavam fixos neles e por mais que isso não fosse novidade para Edmund ainda sentiu um imenso frio na barriga, nem pode sonhar com o nervosismo que Aideen deve estar sentindo então pode ser que tenha lhe segurado a mão por mais tempo que o necessário.

Assim que a jovem norte irlandesa se afastou a segunda jovem foi anunciada. Aileen entrou demonstrando toda a confiança que faltou na ruiva, apesar de seu sorriso ser quase que igualmente nervoso sua postura permaneceu firme e seus olhos analisaram os presentes de modo similar ao que todos eles lhe avaliam, demonstrando uma segurança em si que agradou a alguns e arqueou as sobrancelhas de outros. Os cabelos tingidos de loiro foram cortados e deixados soltos lhe emolduravam o rosto destacando os olhos grandes e o sorriso agradável e quase que enérgico, seus passos talvez foram rápidos demais e sua entrada apressada, mas como ela não é familiar com a realeza a maioria fez vista grossa. Parada em frente a realeza fez uma mesura simples e respeitosa.

Alberich se adiantou para recepcioná-la, seu rosto numa máscara de calma e respeito mas nenhum sorriso foi dirigido a selecionada loira, simplesmente inclinou a própria cabeça em reconhecimento a ela e pegou a mão estendida, mas ao contrário do inglês não a levou aos lábios simplesmente simulou o movimento sem tocar, a frieza de sua pele contrastando com o calor da mão da loira que o olhava com curiosidade marcante. O norueguês lhe arqueou as sobrancelhas e a jovem desviou os olhos por um momento, mas logo ajeitou a postura e o olhou de volta. Eles se afastaram com mais lentidão do que o primeiro casal e talvez mais do que deveriam ter demorado.

Alasca parou por alguns segundos na porta quando anunciaram seu nome como se tomando coragem para enfrentar o que viria a seguir, mas uma vez que ajeitou a postura e recebeu um sorriso encorajador de Aideen começou a se mover com confiança e certeza, cabeça erguida e olhos fixos na frente, um sorriso cativante lhe tomando conta dos lábios e uma ou outra pessoa ao redor do salão não pode evitar de sorrir também ao ver o ar relaxado que ela parecia estar usando em volta de si. Como ocorreu com Aileen seus passos foram apressados demais e sua reverência feita num ritmo estranho, mas para uma moça que até aquele dia não tivera contato com a nobreza saíra-se bem o suficiente para ganhar murmúrios de aprovação, a jovem focava-se em pensar na família a assistindo.

Dimitri parecia talvez mais nervoso que a própria selecionada quando se aproximou dela para o cumprimento típico de seu país, o sorriso em seus lábios apesar de verdadeiro parecia incrivelmente tenso e ele teve que tomar uma respiração profunda antes de fazer a própria reverência e se aproximar de Alasca para lhe plantar um beijo em cada bochecha, o cheiro do perfume que ela usava tomando conta de seus sentidos e ele pode ter demorado um pouco demais para se afastar, o rosto pálido ameaçando ser tomado por um rubor a exemplo de Alasca que apesar de ter recebido um aviso do que esperar corara apesar dos esforços. Afastaram-se rapidamente.

Quando o rubor sumia do rosto de Alasca a terceira moça foi chamada. Alyona tinha a vantagem de estar acostumada aos holofotes de uma passarela e de pessoas a encarando atentamente mas nem isso afastava completamente o frio na barriga, não é uma das modelos mais conhecidas ou requisitadas tem um currículo bom o suficiente para lhe dar a confiança de andar como se estivesse numa passarela, algo que lhe ajudou a se acalmar e colocar um sorriso charmoso e ao mesmo tempo doce nos lábios, postura simples e cabeça erguida passando uma primeira impressão agradável aos demais, apesar das mãos inquietas demais e da mesura ter sido um tanto desajeitada.

Como fizera com Aideen o príncipe inglês se adiantou e fez uma leve referência para a moça morena notando o tom bonito de seus olhos e a curva dos lábios. Tomou-lhe a mão direita com a sua num gesto rápido e logo levou-a aos lábios depositando um rápido beijo e logo se afastando e retomando o sorriso diplomático apesar deste ser um tanto tenso- A União e o Reino Unido nunca tiveram boas relações, Edmund não exatamente como deve se portar em relação a selecionada. Alyona lhe devolveu o sorriso com graça e uma pitada a mais de nervosismo e foi rápida em dirigir-se de encontro as outras, as mãos ainda inquietas.

Alyssa parecia mais nervosa do que as demais meninas ao fazer seu caminho até a realeza, não tem a confiança de Aileen ou de Alasca, a familiaridade de Alyona em ser o centro das atenções e nem mesmo a resistência de Aideen para olhares críticos, tem uma vida comum com pais que a amam e nunca lhe pressionaram para fazer aquilo que a assusta. E andar por um corredor sentindo os olhos de incontáveis nobres e diplomatas fixos nela definitivamente lhe assusta não importa que tenha sido avisada do que aconteceria. Seus passos foram rápidos, as mãos abrindo e fechando ansiosamente e a mesura apressada e um tanto longa demais, tinha a vantagem de ser uma jovem comum jogada num mundo diferente do seu sem tempo para preparativos, mas não foi a mais aprovada das selecionadas da noite.

Anthony dirigiu um sorriso caloroso a ela quando estavam frente a frente, a expressão simpática ao nervosismo da garota apesar de não ser familiarizado com o sentimento. Tomou-lhe a mão- Surpreendentemente firme dado seu óbvio nervosismo- e deu-lhe um aperto leve de encorajamento, como costuma fazer com Sienna, antes de ali depositar um respeitoso beijo. O sorriso alargando-se em algo mais divertido e convencido ao ver o rubor se espalhando pelo rosto da garota. Se afastaram com fluidez e apesar do rosto corado os passos de Alyssa estavam mais contidos agora que o pior passara.

A entrada de Amaterasu logo rendeu burburinhos contidos pelo salão, comentários entre aqueles que já ouviram falar da filha bastarda do Duque de Torfaen, mas se a jovem se incomodou ou mesmo percebeu as reações curiosas nada foi demonstrado em seu rosto conforme fez seu caminho pelo ambiente. Passos lentos na medida certa, postura perfeita com a cabeça erguida e olhos azuis intensos decididos, expressão serena passando uma imensa impressão de calma e maturidade típicas de alguém familiar tanto com a pressão da nobreza tanto com comentários feitos a suas costas. Apesar do status de bastarda sua entrada foi aprovada por vários dos presentes, a mesura delicada sem deixar transparecer submissão ou receio algum. Nenhum deles tem noção do esforço feito pela jovem para manter o equilíbrio, nunca um de seus pontos fortes.

Anthony sorriu quando percebeu que a jovem no vestido azul profundo é uma de suas selecionadas- Sempre ouvira da família que precisa de alguém maduro ao seu lado para controlar sua própria impulsividade, mas principalmente o príncipe gosta de pessoas sérias porque são sempre as mais divertidas de provocar. Quando tomou a mão estendida da jovem na sua e levou-a aos lábios fez questão de manter o contato visual- Como não fizera com as outra, pobre menina ansiosa- e demorou alguns segundos a mais do que seria próprio. Achou a ação justificada pelo quase imperceptível rubor no rosto arredondado e pelo olhar de repreensão que recebera como resposta.

A entrada da ruiva Amelia também resultou em comentários entre aqueles que conhecem a fama de rebelde da jovem Lady, mas a exemplo da selecionada anterior qualquer desconforto ou importância que a jovem possa ter dado para eles não foi refletido em seu rosto. Em fato Amelia ganhou muito mais olhares por seu modo de se portar do que por sua linhagem, tinha um jeito despojado e feminino de se mover- Quase sexy ao combinar com o vestido- demonstrando uma confiança contagiante que ganhou alguns acenos, o sorriso em seus lábios parecendo iluminar suas feições por parecer tão genuíno. Uma vez em frente a realeza fez uma mesura formal porém rápida, e não quebrou o contato visual com o príncipe enquanto este se aproximava.

O mais velho dos gêmeos não pode deixar de achar divertido a coincidência de ter três selecionadas seguidas e que as três sejam tão diferentes em seu modo de se portar pelo menos a primeira vista. Sorriu galanteador para a norueguesa e não fez muita questão de esconder o modo que seus olhos seguiram as curvas de seu corpo, pegou a mão dela na sua achando engraçado um gesto tão singelo após uma encarada nada ingênua de sua parte. Quando ajeitou a postura foi surpreendido por uma discreta piscadela da ruiva que já se afastava e depois de um segundo para processar o que acontecera lançou lhe um sorriso malicioso e deu-lhe uma última avaliada- Que lhe rendeu uma discreta cotovelada de Edmund quando retornou ao seu lugar.

Quando Arabella adentrou o salão com suas feições angelicais e o vestido com detalhes e um tom tão delicado ocorreu um enorme contraste com a postura exibida por ela e principalmente a expressão num rosto que deveria ser tão adorável se não fosse a dureza nos olhos claros, não desmentida nem pela curva dos lábios em um sorriso digno de um estrela de cinema. A inglesa adentrou o salão do mesmo modo que uma atriz entra em uma premiação que já sabe ter ganhado, passos confiantes, sorriso de uma já vencedora e um brilho no olhar, mas nem esse comportamento orgulhoso foi capaz de apagar a graça de seus movimentos, a perfeição que saiu sua reverência perante a realeza e o sorriso conquistou alguns dos convidados julgando a moça como decidida e pronta para entrar de cabeça na competição.

Ao vê-la se aproximando a mente de Dimitri entrou em pane, uma coisa é cumprimentar uma moça como Alasca com um sorriso espontâneo outra é fazer o mesmo com uma que parece tão segura de si como Arabella. Mas com as palavras do pai ainda lhe martelando a mente forçou-se a se mover com um sorriso que espera ser cordial lhe decorando os lábios, não pode fazer algo errado justo nessa noite tão especial e portanto usando de toda coragem conseguiu dar os dois castos beijos na jovem inglesa em um tempo aceitável e em sua defesa não sentiu as faces corarem até que sentiu os lábios dela roçarem em seu rosto também. Afastaram-se ele com uma expressão forçadamente neutra e ela com o mesmo sorriso imutável.

Aria entrou em seguida toda delicadeza nervosa e olhos inocentes vagando por todo salão, cumprimento rápido da parte de Alberich- Bem mais rápido do que fora o de Aileen ele percebeu quando a selecionada se afastava. Berg foi bem até a metade do caminho quando tropeçou em seus próprios pés- Que achou uma boa ideia lhe dar aqueles saltos? - e quase que caiu de cara no chão, Patrick sentiu certa simpatia por ela principalmente quando reparou em seus olhos marejados e lhe ofereceu um fantasma de um sorriso ao se cumprimentarem.

Bianca adentrou o salão de festas com um sorriso amigável e ligeiramente tenso nas bordas, os ombros tensos e sua timidez atacando com força total ao perceber que estava em meio a algumas das pessoas mais poderosas da Europa e prestes a cumprimentar um herdeiro, mas seus passos desaceleraram e a postura relaxou minimamente quando reparou que Aideen lhe lançava um sorriso de encorajamento e Alasca fazia movimentos discretos que Bianca entendeu como uma dica para respirar profundamente, ao menos tem duas pessoas lhe apoiando e se a tímida Aideen teve que fazer isso então Bianca se vê no quase dever de fazer também. Acenou com a cabeça para algumas das pessoas mais próximas que lhe observavam e sua simpatia em conjunto com a expressão doce em seu rosto rendeu alguns pontos que compensaram a rigidez extrema do começo.

Alberich se aproximou dela e retribuiu a mesura com uma mais fluída vinda de anos de prática, mesmo que as mãos da selecionada estivessem gélidas por seu nervosismo elas não tremiam e o sorriso dela se alargou um pouco quando ele pegou a direita e novamente simulou o movimento de um beijo sem realmente tocar. E havia algo na expressão dela, um tipo de força meiga que inevitavelmente o recordou do sorriso de sua irmã- Mesmo que Freya nunca tenha parecido tão ansiosa e talvez isso seja parte do motivo ou então ele ia justificar-se depois- que o levou a dar-lhe um aperto gentil de encorajamento na mão antes de soltá-la, o rosto relaxando minimamente mas sem formar um sorriso, somente uma expressão mais aberta e menos intimidante antes de se afastar.

Após a entrada da irlandesa Brenda- Que ocorreu seguindo a mais perfeita ordem, a primeira da noite e talvez a última- foi a vez de Charlotte, recepcionada assim como as outras nobres com o som de murmúrios do salão apesar de que os dela eram bem mais lisonjeiros que os anteriores, a filha adotiva do duque sim mas uma garota inteligente e de bons modos como provado por sua entrada impecável. Não podia ser notado um erro sequer em sua postura, no ritmo de seus movimentos e nem mesmo na mesura que realizou em frente a realeza, todos sinais de uma garota que tivera uma educação de qualidade e que fizera o impossível para assimilar tudo, o leve sorriso em seus lábios se alargou e tornou-se mais sincero quando encontrou os olhos da rainha inglesa que lhe dirigiu um sorriso amigável e um aceno de cabeça. A troca não passou despercebida e a aprovação pela jovem aumentou, é sempre bom ter uma rainha com conexões.

Patrick sentiu-se aliviado em não ter que lidar com uma selecionada estressada e nervosa como Berg, Charlotte lhe pareceu incrivelmente contida e madura e isso foi algo que o agradou conforme parou em sua frente e respondeu a mesura dela. Ao contrário da intimidade dos demais herdeiros seu cumprimento foi mais formal e tradicional, um aperto de mão que os deixa no mesmo patamar como iguais. E se Patrick permitiu-se alguns segundos a mais no gesto, sentindo-se aliviado por ter ao menos uma selecionada com conhecimento político, se eles se afastaram mais lentamente do que deviam, então bem ninguém irá dizer nada.

Alberich sentiu-se aliviado quando suas duas últimas selecionadas foram anunciadas uma após a outra. Darya foi toda sorrisos e andar informal como se estivesse em uma boate ao invés de um baile, mas havia algo de cativante em seu sorriso e em seus modos, o norueguês cumprimentou-a rapidamente e ela não pareceu ofendida ou decepcionada, o contrário é claro da outra garota. O nome de Elizabeth lhe é familiar pelo status da garota é claro e ele tem vagas recordações de já ter conversado com ela algumas vezes mas não se recorda de seu jeito e ficou surpreso pelo rubor no rosto dela e pelo olhar quase decepcionado em seu rosto quando o cumprimento deles acabou tão rápido quanto o de Darya.

Hannah foi a próxima em toda sua doçura e sorriso tão gentil que levou algumas das pessoas próximas a ela a lhe sorrirem de volta, apesar do título de nobreza não andou com a mesma postura impecável de Amaterasu ou Charlotte, mas sim parecia quase saltitando numa felicidade contagiante como se estar ali fosse a solução de seus problemas, os mais pessimistas franziram as sobrancelhas em desconfiança, mas os mais otimistas acharam a doçura em sua expressão como um bom sinal de uma possível rainha bondosa. A mesura foi suave e impecável como apenas a de uma nobre é.

Dimitri não pode evitar achar a energia que ela transmite adorável e contagiante e seu sorriso apesar de tímido transmitia um calor não muito associado ao herdeiro. Na hora do cumprimento típico ele o fez de forma rápida, um beijo tão leve quanto uma borboleta em cada bochecha e logo se afastava vendo um rubor leve se espalhar pela face da garota e o sorriso dela se alargar apesar de timidamente. Por um momento Dimitri sentiu pena dela, pena por estar sendo envolvida na rede de mentiras e problemas que é sua vida e a corte russa, mas antes que a pena lhe aparecesse no rosto afastou-se de Hannah e voltou a seu lugar.

A jovem Lilian foi a próxima e a exemplo de Hannah entrou esbanjando uma jovialidade e felicidade contagiante que fazem jus a idade dela, a postura ereta e a cabeça erguida apesar dos olhos nunca pararem num único ponto avaliando o salão e todos os presentes como se pudesse e quisesse memorizar tudo para sempre, apesar do sorriso em sua lábios ser amigável e incrivelmente divertido o brilho de inteligência e maturidade em seus olhos afastava dos mais atentos a impressão de menina avoada e ingênua. Ganhou alguns acenos de aprovação, mas a maioria se viu intrigada tentando decidir se a imagem projetada por seus movimentos é seu verdadeiro eu ou se tem algo a mais como indicado pelo brilho inteligente em seus olhos.

O príncipe irlandês fez uma expressão mínima de surpresa ao ouvir a idade da selecionada galesa, sabe que a idade mínima para inscrição era dezessete anos mas nunca realmente esperou que uma dessa idade fosse selecionada para si- Patrick tem quase 21 anos, a menina não tem nem idade para dirigir em seu país! Mas sabe melhor do que julgar pelas aparências então manteve a expressão neutra mas amigável ao se aproximar dela, um pequeno sorriso ao ver aquele adornando a face de Lilian quando suas mãos se tocaram.

Maeve foi a próxima a ser chamada depois de longos minutos de agonia esperando sua vez, mas quando pisou no salão de festas todo sentimento de exasperação pela demora aparentemente interminável desapareceu como se nunca tivesse surgido e por alguns momentos ela ficou parada olhando todo aquele mundo novo como se visse pela primeira vez, mas logo percebeu que deveria estar se movendo e não atrasando a todos e se pôs em movimentos, andando mais rápido do que deveria e chegou a ameaçar cair duas vezes mas ao contrário de Berg conseguiu felizmente evitar uma queda completa algo que a deixou muito aliviada, mas não evitou que um sorriso envergonhado fosse dirigido a todos os presentes, os de coração mais mole se derretendo diante da meiguice tão natural da garota. Sua mesura foi desajeitada, típica de alguém não acostumada ao ato.

Novamente Dimitri não pode evitar de retribuir o cativante sorriso que a selecionada lhe lançou, mais tímido do que o de Hannah havia sido porém igualmente contagiante e delicado, os olhos dela cintilando como joias num tipo de inocência que ele nunca viu nos olhos de alguém. Os beijos depositados no rosto dela foram um tanto mais demorados e com um gosto de arrependimento porque Dimitri sabe que a selecionada não vai ser capaz de sair de lá com os mesmos olhos inocentes, alguns segundos demais de atraso e os dois se separaram, ela ainda com um sorriso gentil e ele a olhando com algo próximo a tristeza enquanto se separavam.

Maryia recebeu sua vez com o mesmo entusiasmo que um condenado ouve sua sentença, um suspiro ameaçando lhe escapar dos lábios delineados por batom vermelho mas impediu-o de sair lembrando-se que deve sorrir, deve agir como se estar ali é a melhor coisa que já lhe aconteceu e é apenas tímida demais para demonstrar tudo isso. O pensamento lhe trouxe sim um sorriso irônico nos lábios, uma diversão vinda da ideia de estar ali para qualquer coisa que não criar o caos que lhe é tão familiar, ajeitou a postura ao começar a caminhada e apesar da tensão fazê-la rígida demais o modo como os olhos permaneciam fixos no chão com apenas algumas olhadelas ao redor lhe davam um ar de timidez tão contrário ao que sentia, o sorriso irônico ainda em seus lábios mas tingido com cores de timidez e deslumbramento. Passou batido pelas pessoas assim como esperava, nem acima da média estabelecida e nem abaixo.

Dimitri relaxou os ombros assim que percebeu que a selecionada da vez é a última de suas cinco, assim que cumprimenta-la vai estar livre dos olhares fixos de todos os convidados que parecem estar olhando sua alma. O sorriso que dirigiu a Maryia saiu então mais aliviado do que pretendia e ela lhe respondeu de modo similar, quando se aproximou para cumprimenta-la não se assustou quando esta lhe retornou os beijos com um mero roçar dos lábios em seu rosto- São afinal compatriotas, esse é um cumprimento ao qual Maryia está acostumada. Se afastaram com leves sorrisos e se dirigiram aos locais indicados.

A única que pode se comparar a Alyssa em termos de nervosismo é com certeza Melissa, a jovem tivera mais tempo que a inglesa para se preparar é verdade mas em contrapartida é mais tímida que a outra e por isso o tempo extra não fez nada além de piorar seus nervos sabendo que seria comparada a todas as outras. E comparada ela foi é claro, seus passos foram rápidos porém felizmente firmes e não tropeçou nenhuma vez, uma postura confiante para os padrões normais e com um pouco de treino uma pose típica da realeza, mas sua expressão deixou a desejar aos olhos dos mais críticos, o sorriso apesar de honesto era pequeno demais e deixava claro seu desconforto e uma rainha deve saber esconder melhor suas emoções. Sua mesura foi dentro do padrão esperado pelos nobres ao menos.

Patrick novamente sentiu simpatia por sua selecionada apesar de uma leve exasperação também, tanto por aquelas pessoas julgando tão duramente uma moça que não faz parte do mundo deles e por aquela selecionada por ter se inscrito em algo assim com essa timidez, ao menos ela não tropeçara como a japonesa. Patrick a cumprimentou com um aperto de firme que foi retribuído em pé de igualdade por ela e isso o agradou um pouco percebeu enquanto se separavam.

Do mesmo modo Edmund ficou agradavelmente surpreso com a firmeza dos passos de Mirela e a maturidade de suas ações que conflitavam com o sorriso divertido nos lábios dela. Mas o que tinha de maduro na garota claramente faltou em Mikaela, se a jovem ficou nervosa ao entrar no salão não demonstrou nada somente alargou o sorriso excitável e se colocou a andar com passos despojados como quem anda numa festa entre amigos, coisa que dividiu opiniões uns aprovaram a ação outros franziram o nariz pela falta de formalidade, de seu lugar na linha Amy sorriu para a nova amiga e deu-lhe um sinal de aprovação que quase provocou um riso na outra. Apesar disso a mesura da loira foi simples e bem feita tal como Julia a havia ensinado.

O príncipe inglês se aproximou dela aliviado pela provação estar finalmente terminando e ao ver a expressão alegre e excitável de Mikaela como se tudo aquilo já fosse suficiente maravilhoso para ela não pode evitar de sorrir um pouco mais largamente e o modo como ela tentou forçar a expressão em algo mais sério quando ele pegou a mão dela na dele- As unhas roídas o divertiram mais do que deveriam- fez o sorriso ficar ali mesmo quando seus lábios encostavam na mão dela. Se separaram com mais uma mesura leve, apenas um inclinar de cabeças.

Quando sua vez chegou Nikolaevna estava presa em um misto de medo e satisfação, a espera mais demorada do que pensara a princípio porém não o suficiente para tirar dela as borboletas no estômago quando pensa em estar em meio a todo aquele luxo, uma mistura de excitação e medo. O rosto sempre tão aberto demonstrou todas suas emoções conforme fez seu caminho em meio aos convidados que a olhavam de cima a baixo a julgando, mas nobres a olhando como se fosse inferior não é uma novidade e Nikolaevna não se deixou intimidar continuando a andar com a cabeça erguida e os olhos bebendo cada detalhe daquele cômodo luxuoso, a casa de seu patrão nem pode ser comparado a tudo aquilo. O sorriso somente aumentou e apesar ser açoitada por um imenso nervosismo ao ficar de frente a tantas famílias reais sua reverência foi perfeita resultado de anos como empregada de um duque finalmente lhe dando vantagem sobre outras garotas.

Patrick não pode deixar de reparar na beleza da garota é claro- Ele sempre tivera um fraco por ruivas lembrou quase amargamente-, mas o que mais chamou a atenção dele para ela foi o sorriso de covinhas e os olhos brilhando de excitação, havia algo de adorável em quão fácil é perceber o que ela sente e ele deixou um pequeno sorriso lhe tomar os lábios quando estendeu a mão para cumprimenta-la. Não percebeu que demorara mais que o esperado até que Nikolaevna o olhasse nervosamente- Ela parecia agradavelmente surpresa pelo cumprimento dele e a maquiagem não escondia as leves sardas em seu rosto- e quando o fez afastou-se com um movimento suave logo retornando a seu lugar.

Springer se não fosse por sua imensa paciência estaria incomodada em ser a penúltima a ser chamada, mas felizmente este não é o caso então quando se nome foi chamado ela estava incrivelmente calma e decidida a fazer o seu melhor e orgulhar não apenas a si mesma mas também seu pai. Não precisou de ajuda para sair da antessala e recusou-se a dar atenção aos murmúrios que estouraram pelo salão assim que ela surgiu com sua bengala na mão e claramente usando-a para se locomover, sua postura perfeita com a cabeça erguida e olhos cegos fixos a frente, toda sua atenção focada em caminhar em linha reta como Vivian lhe tinha instruído, contando os passos na cabeça e parando quando atingiu o número indicado pela tutora. Sua mesura foi também perfeita digna da filha de um duque e apesar de chocados com sua deficiência ninguém perdeu esse fato.

Edmund não pode evitar um arquear de sobrancelhas ao perceber a cegueira de sua última selecionada, mas logo se castigou mentalmente por isso e arrumou a expressão para algo diplomático e simpático mesmo sabendo que Springer não poderá perceber. Aproximou-se dela com passos calmos e deu um olhar zangado a alguns convidados que a encaravam com desconfiança, debateu com a ideia de informar o que faria mas mudou de ideia decidindo trata-la como fizera com as outras selecionadas sendo assim levou-a sua mão direita aos lábios em silêncio respeitoso antes de se afastar e vê-la fazendo o mesmo.

Quando sua vez chegou Valentina sentiu-se aliviada e pisou no salão com toda pompa e formalidade de uma moça de sua posição social, uma postura formal mas ainda delicada e feminina deixando transparecer um tipo de fragilidade reforçado pelo sorriso em seus lábios e desmentido pelos olhos inteligentes e analíticos, por onde passava pessoas lhe acenavam e lhe sorriam- Conhecidos de suas viagens como diplomata, hospedes recepcionados por ela em Minsk- e ela volte e meia acenava com a cabeça de volta em sinal de reconhecimento, mas sua atenção estava focada nos tios e no primo seu sorriso se alargando conforme fica mais perto de poder finalmente vê-los de novo.

Anthony deu graças aos céus quando o nome da última selecionada foi anunciado, mas sentiu um enorme nervosismo ao vê-la se aproximar, a sobrinha da Czarina selecionada da União Russa, metade dos conselheiros deseja que ele se case com ela e a outra quer que a mande embora na primeira eliminação ambos os lados pelo mesmo motivo. Aproximou-se de Valentina com um sorriso diplomático simples e deu-lhe um casto beijo na mão não perdendo o modo como Valentina o analisa tão intensamente quanto o inglês faz com ela. O que quer que aconteça entre elas certamente será interessante.

Uma vez que a russa se afastou do príncipe e juntou-a as selecionadas os príncipes voltaram para junto de seus parentes ao mesmo tempo que o casal real inglês pegava cada um uma taça de vinho e as levantava simulando um brinde com os convidados. E com esse simples gesto o baile recomeçou, as selecionadas se misturando entre nobres e diplomatas e os príncipes dirigindo-se a festa para começar a conhece-las propriamente.

Uma moeda foi lançada, o destino alcançou um ponto de não retorno.