A resposta de Mello me chocou um pouco. Deslizei para o chão, as minhas pernas pareciam ter-se tornado gelatina. Fiquei tão chocado que nem conseguia pensar bem… “Volta a ti Near! Então Mello disse que não te odiava, talvez ele tenha quase te beijado, mas isso não é motivo para ficares assim, bom talvez seja. Mas esse não é o ponto. O ponto é que você não pode se deixar influenciar por esses sentimentos. É assim que Mello funciona não você! Você usa seu cérebro. Resolve os problemas sem se envolver pessoalmente, se continuar assim você vai cometer algum erro e Mello passa a sua frente”

Desliguei da minha linha de pensamentos para ouvir as seguintes palavras de Mello

- Sabe Matt nas ultimas semanas eu não tenho conseguido odiá-lo, não como antes. Ele é apenas… Não sei, muito inocente ou algo assim. A maneira como ele anda por ai com aqueles animais empalhados e robôs. Ele parece tão…tão…adorável. – A voz dele quase que desapareceu ao dizer a ultima palavra. Ele achava-me… adorável?

- Uau, Mell, você realmente pirou. – Matt soou divertido e um pouco surpreendido.

- Você acha que eu estou louco? – Mello perguntou com um tom estranhamente vulnerável que eu nunca tinha ouvido antes.

- Não. Eu acho que você tem estado a confundir amor com ódio há demasiado tempo. Eu consegui perceber logo que você gostava dele desde o inicio. Mas você é simplesmente muito orgulhoso para o admitir… então usou o facto de ele ser melhor que você em tudo para o odiar. Estou certo? – Aquele foi o maior discurso que eu já tinha ouvido o ruivo falar. E Mello parecia mesmo ter considerado aquelas palavras pois não se ouviu mais nenhum som vindo daquela sala.

Eu ouvi uma raspagem de cadeira e percebi que um deles estava a sair, levantei-me e pensei em correr, mas eu sabia que era impossível sair dali assim tão rápido. E quem sabe o que Mello faria se ele me apanhasse ali, a ouvir a conversa. Mesmo se ele realmente me amasse.

- Eu vou deixar você pensar um pouco Mello. – A voz era de Matt o ruivo nunca fora muito violento ou assustador, não tanto quanto Mello, e agora eu entendia porque é que sempre que o Mello vinha atrás de mim ele apenas suspirava e abanava com a cabeça. Obviamente ele sempre soube da outra face do “ódio” de Mello sobre mim.

Fiquei imóvel colado à parede e prendi a respiração com esperança que ele não me notasse. Pela primeira vez, eu estava aliviado de usar sempre roupa branca, que combinava com a parede na qual eu estava espalmado. Graças a deus que eu tinha deixado a minha Optimus Pride na sala de jogos… ela teria arruinado completamente o meu papel de camaleão.

Matt saiu já colado à sua DS e afastou-se pelo corredor. Deixei escapar a minha respiração contida. Agradeço ao senhor por não ter sido apanhado.

Respirava fundo tentando me acalmar, espreitei pela porta inclinando-me sobre ela. O Chocolátra não tinha movido um musculo desde que o seu amigo o deixara.

Uma cortina de cabelo loiro caiu sobre o rosto dele escondendo-o de mim, ele estava a inclinar-se para a frente com os seus cotovelos sobre os joelhos.

A forma como ele estava sentado, com a sua pele dourada, bronzeada, suas roupas pretas e brilhantes cabelos loiros, ele parecia um anjo de luto que acabara de cair do céu. Balancei a cabeça. Não devia estar a pensar nele naquela forma, embora o fizesse todos os dias. Mello queria me matar. E ele tornava isso dolorosamente obvio.

Mas o que eu ouvi seria verdade? Poderia a única pessoa que eu realmente amara e que sempre me ignorara ter apenas sentimentos confundidos? Isso parecia impossível.

Devo ter feito algum barulho por que a cabeça dele se mexeu como se este tivesse acordado. Levantou lentamente a cabeça para olhar para mim enquanto eu me encontrava na mesma posição. Os seus olhos se juntaram aos meus e, ao falar, a sua voz era calma e áspera

- Near…

Continua…