Guertena escrita por KyonLau


Capítulo 5
Epílogo


Notas iniciais do capítulo

Hey-hey-hey~ pessoas :3
Não, não se enganem pelo título do capítulo, por favor. Esse não é nem de longe o final aushauhsauhsuahsuahsua ¬u¬
Como eu havia dito antes, por causa da faculdade eu acabei demorando um pouco para postar esse capítulo, e peço desculpas por isso x...x Mas estou meio que na reta final, então acho que agora só vou levar um tempinho mesmo para escrever o capítulo 6 e depois irei mais rápido, prometo u3u Talez até estabeleça um dia certo para postar, o que acham?
De qualquer forma, por favor, aproveitem~
Ah, e antes que eu me esqueça!

Soundtrack: "Goofball"
https://www.youtube.com/watch?v=nMKjTrwyryU



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O dia se apresentava fechado, com pesadas nuvens cinzentas que retiravam a cor de todo o resto da paisagem à medida que uma chuvinha fina e gelada ia caindo sobre os ombros e cabeças das pessoas reunidas ali naquele dia.

Como que para tentar contribuir com a falta de cor, todos usavam vestidos, xales, ternos e sapatos pretos. Seus rostos, todos exibiam a mais profunda tristeza, e quase se transformavam em caretas enquanto o padre falava solenemente em frente ao túmulo.

Toda essa cena se desenrolava em frente à Ilka, que apenas observava, um pequeno buquê de cravos amarelos espremidos em suas mãos pálidas e congeladas, o corpo rente e imóvel, como uma estátua. Há muito as pessoas pararam de tentar consolá-la, uma vez que não recebiam qualquer reação.

Aos poucos, as pessoas foram se dispersando, como se estivessem desaparecendo uma por uma.

Até que apenas um vulto, alto e magro, permaneceu parado em frente à lápide.

Ele não se movia e observando-o, Ilka pareceu despertar.

O homem retirou o chapéu e, abaixando-se, deixou uma pequena flor do campo deitada ao lado dos buquês luxuosos. Ela o reconhecia, mas parte de si desejava que não estivesse ali. Não em um momento tão pessoal.

No entanto, assim que acabou de prestar seus pêsames diante da lápide, a figura alta se levantou e afastou-se sem dizer palavra para a jovem logo atrás de si.

Ilka ficou observando-o ir embora, com a leve consciência de que a chuva estava começando a ficar forte demais.

 

Seus olhos estavam inchados e provavelmente vermelhos. O nariz escorria sem parar, mas Iza não fazia o menor esforço para secar toda aquela meleca. Fazia tempo que não chorava daquele jeito e quanto mais ela dizia para parar, mais lágrimas ela precisava derramar. Aos poucos, o choro descontrolado foi se transformando numa série de soluços copiosos, até que finalmente conseguiu parar completamente.

Novamente, ela encontrava-se num impasse.

O que faria agora?

Ficar naquele corredor escuro à espera de que aquele manequim amalucado voltasse estava fora de cogitação. Tampouco ela queria prosseguir. Se houvesse a opção de cavar um buraquinho na parede e se esconder ali seria o ideal, mas esse não era o caso. Portanto,  depois de esfregar violentamente o rosto para afastar o restante das lágrimas que ainda permaneciam teimosamente em seus olhos, ela se levantou e esticou os membros o máximo que pode, grunhindo.

Quando se sentiu melhor, Iza apanhou a mochila aos seus pés e, checando se nenhum zíper estava aberto e se a rosa estava bem firme em sua alça esquerda, jogou-a às costas e, ao invés de seguir pelo corredor, deu meia volta e começou a retornar.

Mesmo em seu passo lento e cauteloso, não demorou muito tempo até que chegasse novamente à bifurcação de antes.

Na sua frente, os dois longos corredores se estendiam, infindáveis, até tudo ficar escuro. Nenhum dos dois era particularmente convidativo aos olhos de Iza, mas ela calculava que teria chances melhores de jamais encontrar aquele manequim novamente se fosse pelo segundo caminho.

Dessa forma, lá se foi a menina, após alguns poucos segundos de hesitação, em direção ao outro corredor. Este era particularmente mais claro e mais largo que o anterior, o que foi uma mudança agradável. Também não havia pintura alguma ali, e só isso já era o suficiente para fazer Iza se sentir bem mais segura.

No entanto, isso teve o efeito colateral de mergulhá-la no tédio. Já fazia bastante tempo que ela caminhava naquele corredor que se estendia indefinidamente e, sem nenhuma mudança na paisagem, fazia parecer como se ela nunca sequer tivesse saído do lugar, para inicio de conversa. Logo os passos cautelosos toraram-se um arrastar de pés desleixado enquanto Iza se obrigava mentalmente a continuar caminhando.

Essa monotonia que pressionava seus ombros para baixo quase fez passar despercebida a sua quebra.

Somente quando já havia passado por ele é que o notara: um grande espelho que ia do teto ao chão, encaixado numa moldura de metal cromado. Iza parou abruptamente ao vê-lo e deu ré quase que mecanicamente até parar em frente à superfície refletora.

Sua imagem a encarava, pálida, descabelada e de aspecto absolutamente exausto.

Iza bufou, tentando ajeitar os cachos que começavam a se formar com insistência, mas logo depois suas mãos foram perdendo a força e ela parou de levar uma mecha para trás da orelha na metade do caminho, sentindo-se estranhamente oca por dentro.

Qual era o sentido daquilo, afinal?

Ela ficou parada algum tempo, se encarando, quando repentinamente, a garota sentiu como se alguém tivesse acabado de tocar seu ombro. Assustada, ela virou-se para trás abruptamente, mas não havia nada atrás de si que pudesse ter feito qualquer coisa.

Contudo, a sensação havia sido real demais para ela simplesmente ignorá-la e, nervosa, Iza voltou-se novamente para encarar seu reflexo bem a tempo de ver um pequeno vulto azul escuro e absolutamente descabelado remexer na sua mochila, dependurado em seu ombro esquerdo, bem acima da rosa.

 Assim que percebeu que estava sendo observado, o vulto ergueu os olhos esbugalhados para Iza, onde a parte que deveria ser branca era escarlate e as minúsculas pupilas negras se mexiam loucamente em suas órbitas. Era uma boneca. Uma boneca com um sorriso costurado perturbador.

No momento em que seus olhares se cruzaram, Iza soltou um grito agudo e, contorcendo-se, tentou expulsar a boneca de cima de suas costas, realizando giros impressionantes e pulinhos frenéticos.

Na medida que ela batia no ombro e tirava a mochila das costas, a garota foi percebendo que de fato, não havia nada, tanto em cima dela, quanto no chão, jogado após aquele ataque histérico.

Seus gritos foram se silenciando e seus olhos se arregalaram. Em lugar algum havia sinal da boneca azul horrorosa.

— Que merda foi essa? — Iza não conseguiu segurar um pequeno tremor perpassar por sua espinha dorsal, tornando a encarar seu reflexo mais assustado do que nunca no espelho mais uma vez.

Não havia nada lá.

— Eu não imaginei isso! — ela disse firmemente ao próprio reflexo, como se ele estivesse acusando-a de ser maluca.

Com um suspiro, ela tornou a apanhar a mochila, jogada à um metro de si. Milagrosamente, a rosa não sofrera nenhum amassado, e Iza precisou se censurar fortemente por ter sido tão descuidada.

Ela então prosseguiu seu caminho, satisfeita em deixar o enorme espelho para trás na medida que avançava, os passos agora curtos e rápidos, totalmente decidida a nunca mais parar para observar nada. Nem seu próprio reflexo.

O tempo passou e se fez sentir, mas Iza não diminui o passo nem olhou em qualquer outra direção, até que por fim quase deu de cara com uma porta azul que praticamente se camuflava com o resto da parede.

Era o fim da linha.

Ela levou a mão até a maçaneta dourada e redonda e, fechando-a em torno dela, tentou girá-la, mas como de praxe, nada aconteceu.

Parecia que toda e qualquer porta estaria sempre fechada para Iza, e isso a estava irritando enormemente. Era como se toda aquela Galeria estivesse decidida em levá-la à loucura. E, para ser sincera, nem a garota poderia dizer com certeza que ela ainda não tivesse alcançado o seu objetivo.

Transtornada, Iza olhou à volta, mas em vão. Não havia muito o que pudesse fazer, para ser sincera. Não tinha confiança suficiente em sua força para tentar arrombar a porta, mas voltar parecia estar fora de cogitação. Não era só pelo longo caminho que teria que percorrer todo de novo, mas algo simplesmente lhe dizia que ela não deveria tentar voltar. Simples assim.

Cansada de tudo aquilo, Iza tirou a mochila novamente. Depois de correr, pular se afogar e correr mais um pouco, ela parecia pesar vinte vezes o que deveria. Por um momento, pensou se não deveria simplesmente largá-la ali e prosseguir. De fato, se ela fosse precisar correr novamente (e alguma coisa lhe dizia que ela provavelmente precisaria), a mochila a atrapalharia mais do que ajudaria... Mas...

Não. Ela não podia. Tinha medo. Parecia patético, mas não queria largar da mochila.

Enquanto pensava no que fazer, Iza foi mexendo distraidamente em seu conteúdo. A bem da verdade, tinha muita inutilidade ali dentro. Alguns papéis amassados com rabiscos seus e de seus colegas nas horas mais tediosas das aulas de química, uma lixa de unha que Iza nem se lembrava de ter colocado ali, uma escova e pasta de dentes e uma garrafinha térmica com absolutamente nada dentro. Iza foi tateando, um pouco entretida.

Acabou encontrando o panfleto da exposição e ficou encarando-o por algum tempo. Sentiu uma imensa vontade de amassá-lo e jogá-lo contra alguma coisa. Talvez aquele espelho imbecil. Mas em vez disso, tornou a colocá-lo lá dentro e, quando o fez, passou a ponta dos dedos por uma superfície gelada e áspera.

Curiosa, Iza abriu um pouco mais a mochila e espiou lá dentro.

— O que..?

Lá dentro, entre toda a tralha que ela carregava, havia uma pequena chave de metal.

Iza a agarrou e examinou-a, estranhando. Era azul como a porta, e não havia dúvidas do que ela abria.

— Como você veio parar aqui..? — perguntou, sem conseguir entender.

Iza girou a chave por entre os dedos algumas vezes, mas no final, simplesmente deu de ombros. Estava começando a entender que não podia levar as coisas muito à fundo por ali.

Com a mochila novamente nas costas, Iza colocou a chave no pequeno buraquinho debaixo da maçaneta e girou. Como imaginara, a porta se abriu com um leve clique, permitindo que a garota finalmente passasse, entrando dessa vez numa área tão verde quanto a relva.

A primeira coisa que entrou no campo de visão da adolescente foi um pequeno quadro, pendurado na parede bem na sua frente. Era um bem sem graça, na opinião da garota. Era pequeno e exibia algo que se parecia um pequeno ovo de inseto num fundo completamente branco e emoldurado em madeira velha e tosca. Bem debaixo, a plaquinha indicativa informava: Prólogo.

Iza balançou a cabeça com raiva. Dissera a si mesma que não iria mais parar para ficar olhando essas coisas.

Prosseguiu então, decidida. Mas logo em seguida veio outro quadro, do mesmíssimo tamanho que o anterior e igualmente chato. Dessa vez, tratava-se de uma pequena lagarta verde que se arrastava por outro fundo completamente branco. Debaixo desta estava escrito apenas "Capítulo 1".

Outras parecidas vieram. E dessa vez Iza já estava parcialmente esquecida da promessa que fizera a si mesma, e olhava com um misto de desinteresse e curiosidade as cenas seguintes. O "Capítulo 2" dava continuidade, e tratava-se de um casulo e, logo em seguida, o "Capítulo Final", retratando uma borboleta de asas amarelas e sem graça.

Aquela era a última pintura e Iza a ficou encarando, sentindo-se um pouco aborrecida por ter gasto seu tempo olhando o ciclo da vida de uma borboleta estúpida.

Enquanto observava um grito irrompeu de sabe-se lá que lado e, quando a garota deu por si, viu-se jogada no chão frio com um garoto baixote sentado em cima de seu peito enquanto brandia um bastão de beisebol de plástico azul. Havia lágrimas no seu rosto enquanto ele gritava.

— Toma isso, seu monstro! — berrou e abaixou com todas as suas forças o brinquedo no rosto de Iza.

A garota teve que levantar os braços para se defender do ataque mais do que repentino.

— Ai! — gritou ela — Ei, espera aí!

Mas o garoto não ouvia enquanto batia repetidamente o bastão na outra. Cansada, Iza agarrou o brinquedo no momento que o menino ia baixá-lo mais uma vez, fazendo-o se engasgar.

— Quer parar com isso? — pediu ela, zangada— Qual o seu problema?

A expressão surpresa no menino era evidente. Ele finalmente abaixou o brinquedo, deixando-o cair no chão próximo aos dois, os braços balançando molemente ao lado do pequeno corpo.

— V-você não é... Não é um daqueles monstros? — perguntou por fim, completamente embasbacado.


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Notas finais do capítulo

Lembrem-se de me contar o que acharam, ok?
Até o próximo capítulo~