Guertena escrita por KyonLau


Capítulo 14
O Retrato Esquecido


Notas iniciais do capítulo

Estou de férias! YEEEY /o/
Estudar na federal não é legal, gente.
Mas bem, para comemorar, nada melhor que um novo capítulo! Pessoalmente eu amei escrever esse daqui, então espero que vocês gostem também! ♥

Soundtrack: No One in Sight
https://www.youtube.com/watch?v=UnpGYAZf4Tk



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— Novamente, eu gostaria de lhe agradecer imensamente pela sua doação, em nome dessa nova Galeria que está para abrir suas portas, madame! Quando soubemos que um famoso artista teria morado na sua estalagem, e que ele chegara a lhe dar um quadro..!

Ilka apenas acenou com a cabeça, distraída. O galpão por onde ela e aquele empresário caminhavam era extremamente frio e estava abarrotado de várias coisas. Caixas de madeira, vários pacotes retangulares de diversos tamanhos, manequins por toda a parte. Ela achava difícil acreditar que tudo aquilo havia sido feito por uma só pessoa e quanto mais olhava para cada objeto, mais presa ao passado se sentia. Enquanto perdia-se em pensamentos, o seu acompanhante continuava a falar animadamente, caminhando na frente a passos largos.

— Você sabe, existem algumas de suas obras que estão sendo realmente difíceis de obter. Outras que nem sabíamos que existiam vão aparecendo aos poucos. É realmente impressionante! Os Noivos Abençoados, que você concordou em nos doar, são um bom exemplo disso — ele virou-se para Ilka com um sorriso de orelha a orelha visível debaixo dos bigodes — A senhora se importa em me contar o motivo de tê-los ganho?

— Eu mesma não sei ao certo — comentou Ilka com um suspiro — Eu estava para me casar, então vendi aquele hotelzinho que só me causou dor de cabeça. Tirei a casa dele. Ele me entregou esses quadros e essa foi a última vez que o vi na vida.

O homem que a acompanhava ergueu as sobrancelhas grossas, como se esperasse mais. Contudo, a senhora permaneceu calada. Eles prosseguiram por mais um bom tempo em silêncio, até que Ilka parou por conta própria na frente de um enorme espelho. Ela não entendia o motivo de ele estar ali, mas ao olhar seu reflexo conseguiu voltar ao presente. Seu rosto enrugado, que escondia seus olhos azuis, a encarava de volta. Seu corpo, que outrora recebera tantos elogios, estava murcho e torto dentro de suas roupas. Os cabelos ralos e brancos se soltavam fio por fio do coque que fizera naquela manhã. O tempo passara, e memórias se acumularam, uma por cima da outra, enterrando aquelas em que ele participava.

O empresário, que também parara ao ver que a senhora não mais o acompanhava, voltou alguns passos e olhou na direção que julgava que Ilka estivesse vendo.

— Ah! Você tem um bom olho! — exclamou ele erroneamente — Esse quadro é bem curioso, na verdade. Ainda precisamos confirmar isso, mas aprece que este foi o último quadro que ele pintou. Muito curioso, na verdade. Fico imaginando se era uma pessoa real ou não...

Ilka olhou na direção que ele apontava. Tratava-se de um quadro de formato octogonal numa moldura de madeira. Num vestido verde bem simples, uma garotinha de olhos de um azul profundo e cabelos loiros sorria, com rosas amarelas aos seus pés.

— Ele a chamou de “Mary” — contou o homem tomando os olhos arregalados de Ilka como um gesto de admiração — A madame por acaso já conhecia este quadro antes?

A velha senhora balançou a cabeça em negativa. Um sentimento curioso de solidão a assolava e ela não saberia dizer de onde. Por fim, conseguiu dizer algo.

— Não — respondeu — Não conhecia.

A sensação predominante era frio. Haviam outras, é claro, como o medo de não conseguir escapar, a agonia e a ansiedade... O alívio de não estar sozinho, de estar quase “lá”. Mas o que realmente superava tudo era o frio. A solidão. O que acontecera? Garry só se lembrava até certo ponto e o resto era um branco incômodo e cego. Havia algo... Mary. Mary era perigosa. Ela roubara aquela rosa vermelha... A rosa de Ib! Ib estava em perigo! Ele não podia permitir isso. Ela era uma criancinha apenas e não merecia sofrer.

Medo... Ele sentia muito medo, mas precisou fazer algo. Ele trocou as rosas. É verdade, a sua era da cor azul. Uma linda cor azul. Nas mãos de Mary...

Seus olhos se abriram lentamente e um cenário borrado o recebeu. Eles ardiam, mas nem forças para levantar a mão e coçá-los ele parecia ter. Piscou repetidamente até que sua visão voltasse ao normal. Sentia-se zonzo quando olhou em volta, perdido. O que acontecera? Onde estava Mary? E Ib?

Garry tentou se pôr de pé, mas suas pernas estavam bambas demais para tal tarefa. Seu coração martelava dolorosamente dentro de sua caixa torácica. Não. Não podia estar sozinho de novo. Tudo, menos isso...

— Ib? — sua voz saiu vacilante e ecoou pelo corredor vazio e escuro — IB?

Seus lábios tremiam. Não conseguia se lembrar! O que acontecera? Ele trocou sua rosa azul pela vermelha de Ib e... E o que?! Será que ela estava em perigo? Mary teria levado ela para algum lugar e a estava amedrontando? Se fosse isso, ele precisava agir, e depressa!

Ele sentia a cabeça rodar como um peão, mas ainda assim firmou os pés e levantou-se, apoiando-se na parede para não perder o equilíbrio e cair. Um passo de cada vez, como se estivesse aprendendo a andar, Garry avançou. Dobrou o corredor e subiu as escadas, indo parar numa antessala cuja porta, na outra extremidade, estava cercada por flores queimadas. Garry engoliu em seco, amedrontado. O que foi que aconteceu ali?

A porta estava escancarada, como que o convidando a entrar. O rapaz respirou fundo e entrou.

Restos queimados de um quadro octogonal jaziam do outro lado da sala. O chão estava repleto de brinquedos e desenhos em papéis amassados. Ib não estava ali.

Ela te deixou.

Algo parecido com mil unhas arranhando um quadro negro ecoou e, por mais estranho que fosse, Garry entendeu perfeitamente. Ele sabia de quem era aquela “voz”. Virou-se e viu a bonequinha azul desgrenhada que o prendera naquela sala, aterrorizando-o. Desde aquele incidente, podia ouvi-la sussurrando em seu ouvido, dizendo coisas ruins que ele tentava ignorar. Mas agora, sem nenhuma companhia para distraí-lo, era impossível.

— Ela não me deixou — retrucou para a boneca, tentando parecer desafiador — Provavelmente Mary a levou para algum lugar...

Uma risadinha infantil.

Errado. Mary morreu. Ib foi embora e deixou que você tomasse o lugar dela sozinho.

Garry sentia como se houvesse uma bola entalada no fundo de sua garganta.

 — Está mentindo! — gritou — Como sempre faz! Eu não acredito em você! Ib nunca me deixaria... Somos amigos!

Não estamos mentindo. Pode olhar por si mesmo. Ela não vai estar em nenhum canto nesse Mundo Fabricado. Ela te esqueceu.

O rapaz balançava a cabeça veementemente. Como se o ar tivesse ficado mais pesado, ele começou a respirar com força, como se não estivesse conseguindo oxigênio suficiente. Era mentira. Aquilo tinha que ser mentira, mas... Por que ele não conseguia dar um passo para frente? Para procurar Ib?

Ela te abandonou, Garry. Mas não se preocupe! Você tem a nós! Nós podemos ser suas amigas e nunca vamos te abandonar ou esquecer de você...

Um barulho abafado indicou que Garry caíra de joelhos no chão. Ainda respirava como se estivesse se asfixiando e os olhos voltaram a arder. Seu peito doía, como se alguém tivesse enfiado a mão nele e arrancado seu coração, pedaço a pedaço. Sua visão se embaçou.

Você foi esquecido, Garry.

Você foi deixado para trás...

 Ela te esqueceu!

Ele cobriu o rosto com as mãos trêmulas, os olhos derramando lágrimas e mais lágrimas. Não, era mentira. Ele não queria ver! Não queria ouvir!

Garry abriu a boca e gritou. Um grito assustado, que rasgava caminho por todos os lugares...

Ah, não chore, Garry. Nós vamos brincar muito. E você... Você será nosso novo "Rei".


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Notas finais do capítulo

Não se esqueçam de contarem o que acharam para mim u3u
Beijos e até o próximo capítulo~



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