Tempo Ruim escrita por helenabenett, Lyra Parry


Capítulo 8
Paciência


Notas iniciais do capítulo

"Girl, I think about you every day now
Was a time when I wasn't sure
But you set my mind at ease"

Amar nunca é fácil. Admitir que se ama é mais difícil ainda. Cascão, depois de admitir a si mesmo sua inclinação por Maga tem que lidar com seus erros. Este capitulo é anterior ao passado e explica um pouquinho o que levou Maga aos braços de Luke. Agradecemos o carinho!



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Esse capítulo começa três dias antes do anterior.

 

Segunda-feira, 7:00, escola

 

Cas viu quando Magali e Mônica chegaram, sorrindo e tagarelando como sempre. É verdade que Maga havia passado um tempo retraída e distante, mas parecia estar se recuperando aos poucos.

Menos com ele.

Cada vez que eles pareciam se aproximar um pouco, ela inventava uma desculpa para ir embora ou mudar de assunto. Evitava-o o máximo que podia, com muito custo ele conseguira convencê-la a deixá-lo ir a academia, e depois do episódio com aquele rapaz alto – qual era mesmo o nome dele? – Cas duvidava que ela o quisesse por lá. Mas de jeito nenhum ele iria deixar de ir. Percebera muito bem que havia um clima entre os dois, só não sabia se era recíproco. Talvez por isso ela o evitasse, pois sentia o mesmo que ele. Cas tinha que admitir a si mesmo que inicialmente o que sentia por Maga o assustava tanto que havia deixado ela se afastar, e mudado ligeiramente os tratos com ela. Os abraços o assustavam um pouco, e tocá-la o deixava nervoso. Por isso preferira trata-la com mais parcimônia, como fazia com Mô e as outras meninas.

Quando as duas amigas chegaram até onde ele estava, Cascão as cumprimentou alegremente.

— Ei, baixinha – disse para Mônica, que respondeu, igualmente divertida:

— É fácil pra você falar isso, né, Cascão? Pra você todo mundo é baixo.

— Não tenho culpa se a mãe de vocês não colocava feijão o bastante no prato.

— E nós não temos culpa se você era guloso!

— Pensei que a gulosa aqui fosse a Maga. Né não, magrela?

Magali apenas sorriu sem graça, antigamente ele a teria abraçado alegremente – mesmo não fazendo isso com as outras meninas – mas ele já não a tratava mais assim.

— E então, que horas a gente vai pra academia hoje?

— Então é verdade? – interrompeu Mônica. – Você tá mesmo entrando nessa onda com ela?

— E por que não? – o rapaz deu de ombros.

— Você devia era tirar essas ideias estranhas da cabeça dela. Olha só como tá magra! Daqui a pouco vai sair flutuando por aí.

— Gente, eu tô aqui, tá? – falou uma incomodada, porém doce Magali.

— Você podia vir também, Mô – disse Cascão.

— Eu?! Tô fora! Chama a Cascuda, ela quem gosta dessas coisas!

— Já chamei, ela não quis vir.

— Chama de novo – sugeriu Magali.

Aquilo estava tomando um rumo bem diferente do que ele planejara.

— Tá bom – assentiu ele – vamos ver se dessa vez ela se convence.

 

9:15, intervalo

 

Maria estava guardando os materiais na mochila quando foi surpreendida por um beijo estalado do namorado em sua bochecha.

— Oi, Cas! – ela corou. Achava bonitinho ser tratada dessa maneira, mas não gostava de admitir que tinha um lado sensível. Não que Cas se importasse. Ele a espicaçava porque sabia que a deixava vermelha de vergonha.

— Oi, linda. Então, a Maga te chamou pra ir lá na academia com a gente.

— Já disse que não gosto de luta, Cas...

— Tem certeza? Pode ser divertido.

Maria andava calada e pensativa desde o fim de semana. Ele estava apreensivo. Talvez ela tivesse percebido alguma coisa. Não queria que ela pensasse coisas erradas a seu respeito. Queria conversar. Mas era impossível dialogar com ela fugindo daquela forma.

— Pra você certamente é muito divertido – disse ela, rispidamente, adivinhando que se tratava apenas de uma oportunidade de estar mais perto de Magali. Ela não era obrigada a assistir àquilo, era?

Quando o namorado a olhou com cara de ponto de interrogação, porém, Cascuda voltou atrás:

— Você sempre gostou dessas coisas. Eu sou mais de ficar na minha, você sabe.

— Tá bom – ele não gostou nada daquele tom. – Eu já vou indo pra aula, então.

— Tá.

Cascão ficou parado por alguns segundos, pensando se devia dar um beijo de despedida na moça. Como ela voltou a se ocupar de seus materiais, ignorando sua presença, ele se sentiu expulso e saiu, chateado.

***

Mônica e Magali se sentaram juntas para fazer o lanche, e no instante em que Mô comentava sobre os novos hábitos alimentares da amiga, que envolviam uma dieta a base de proteínas que excluía o máximo possível de carboidratos, elas viram Joaquim e Sarah entrarem de mãos dadas no refeitório. Denise e seu pequeno séquito logo se sequestraram a namorada de Quim e a inseriram em seu seleto grupo de fofoqueiras.

— Eu acho um absurdo elas tratarem aquela garota assim! – vociferou Mônica. –Parece até que se esqueceram de que você é que é nossa amiga há anos, e não aquela ladra de namorados idiota!

— Não se preocupe, Mônica – disse Magali, desinteressadamente. – Elas nunca gostaram muito de mim, de qualquer forma.

— Magali, como você fala uma coisa dessas? Todo mundo gosta de você!

— Depois que me afastei, elas não fizeram nenhuma questão de retomar contato. Mas é compreensível. Eu nunca gostei de fofocas, nem de maquiagem, nem de shopping. Você gostava, assim como elas. E eu gosto de você. Sempre fui penetra nesses assuntos, elas só me aturavam por sua causa. A Sarah não, ela já é mais sociável. Elas devem estar felizes por ter uma amiga nova pra conversar.

— Não deixa de ser trairagem.

— Esquece isso, Mô.

— É verdade. Quem liga pra elas? Você é a minha melhor amiga. É o que importa.

— Obrigada!

E elas sorriram, aquele sorriso cúmplice que só as melhores amigas podem trocar.

Mas então DC apareceu, jogando um balde de água fria no coração de Magali, que mal tinha começado a se aquecer.

—Interrompi alguma coisa? – perguntou o rapaz, vendo que Magali desfizera o sorriso assim que ele se sentou ao lado de Mônica.

— Não, não. Eu já estava de saída – respondeu ela.

— Ei, Maga, espera aí! Onde você vai?

— Deixar vocês namorarem em paz – ela piscou o olho e saiu. Mônica não percebeu que na realidade ela estava triste, mas Mô nunca tinha sido muito boa em reparar nas emoções dos outros. Cascão era. Mas não, ela não devia pensar em Cas.

Falando no diabo...

— Oi, Maga! - disse Cascão, que vinha pelo mesmo corredor em que ela estava, no sentido contrário. 

— Oi, Cas! E então, falou com a Cascuda?

— Falei... - ele pareceu desapontado. - Ela não quis vir.

— Que pena... Fica pra outro dia, então.

— Mas hoje eu vou. Quem sabe não a convenço por insistência.

— OK. Te encontro lá às 14, pode ser?

— Fechado.

Ela já ia continuando seu caminho até a sala quando ele perguntou:

— Ei, aconteceu alguma coisa?

Como odiava que ele agisse assim! Preferia o antigo Cascão, que a tratava de modo carinhoso, ou um que fosse realmente frio e distante, não aquele meio termo que a confundia e deixava arrasada por dentro.

— Não, não foi nada. Tchau – e saiu andando.

"Droga!", pensou Cascão, profundamente irritado. Lembrou-se das semanas do término com Quinzinho, em que ela procurara abrigo nele, chorara em seu ombro, e das vezes que a surpreendeu lutando de madrugada. Ela o viu numa dessas vezes (ou pelo menos ele achava que tinha visto), mas nem ligou. Depois ele não voltou mais, porque ficara sem graça. Foi a última vez que conversaram. Desde então ela passou a se ocultar, como uma ostra dentro de sua concha, ou uma tartaruga sob a carapaça.

O que acontecera? Será que Maga tinha se assustado quando o flagrara observando-a pela janela de seu quarto? Queria perguntar a ela, mas mal conseguia cumprimentá-la, imagina conversar.

"Quem sabe hoje mais tarde", pensou ele.

E aquelas últimas aulas demoraram uma eternidade para passar.

 

14:00, academia

 

Maga detestava admitir, mas Cascão ficava muito bonito de camiseta cavada e short curto. Ele era bastante atlético, e aquelas roupas deixavam seu físico em evidência.

Tentou olhar para ele o mínimo possível, embora percebesse que ele tentava puxar assunto de todas as maneiras. Quando já estava ficando sem graça de ser tão evasiva e começando a se culpar por sua atitude, Luke apareceu para salvar a pátria.

— Oi, Maga! Tudo bem?

— Oi, Luke! - ela desceu da esteira para cumprimentá-lo, enquanto um Cascão estarrecido continuava sua corrida. - Tudo ótimo, e você?

— Queria saber se você pode sair algum dia essa semana. Sabe, daquele convite que você me fez.

— Claro, posso sim! Que dia fica bom pra você?

— Eu ajudo minha mãe aqui pela manhã, mas a noite estou disponível sempre.

— Então pode ser na quarta? – ela se arrependeu imediatamente de ter dito isso. Agora você está parecendo desesperada, Magali. Que idiota.

— Combinado. A que horas?

— A gente marca depois. Preciso ver com a minha mãe se ela não vai precisar de mim, e terminar as tarefas da escola.

— Certo - só então Luke percebeu que Cascão estava lá, visivelmente desagradado da conversa que acabara de ouvir. – Ei, então você vai continuar aqui com a gente? – perguntou ele, por educação.

— É, acho que vou – respondeu o outro no mesmo tom.

— Que bom. Quando vier acertar lá no caixa fala comigo antes. Os amigos da Magali têm desconto – e dizendo isso olhou para a moça de modo bastante sugestivo, sem ser inconveniente.

— É muita bondade sua, Luke – respondeu Magali secamente, de modo que era impossível saber se a lisonja a agradara ou ofendera.

— Valeu – respondeu Cas, sem saber mais o que dizer. Luke então saiu e Magali voltou para seu exercício. Logo terminaram o aquecimento e partiram para a luta, mas embora ela já não estivesse mais sendo evasiva, estava aérea, provavelmente tecendo planos para a noite de quarta-feira. Se sentindo humilhado por Luke e desprezado por Magali, Cascão estava prestes a abrir um buraco no chão e se enterrar, quando, ao voltarem para casa, os dois amigos toparam com Cebolinha.

— Oi, Cascão! Oi, Magali!

— Oi! - responderam eles. O trio foi até a sorveteria e conversaram sobre amenidades até Magali decidir voltar para casa, dispensando a companhia dos garotos por ainda ser dia. Quando os dois rapazes ficaram sozinhos, Cascão perguntou:

— Posso dormir na sua casa, Cebola?

— Hoje não vai dar. – e, após uma pausa constrangedora, acrescentou: – Vou sair com uma garota.

— Olha só Cebola Júnior arrasando corações! - provocou Cas, falando alto só para o amigo ficar envergonhado.

— Fala baixo, cara! Não conta pra ninguém não. A gente se conheceu semana passada, é só um cineminha, nada demais.

— Sei. Mas e amanhã, tá de pé?

— Só se você jogar comigo aquela partida de futebol que está me devendo há séculos!

Para desgosto de Cas, a partida seria no videogame, mas ele tinha feito essa promessa ao amigo há tanto tempo que nem se lembrava mais.

— Beleza.

E ficaram combinados.


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