Tempo Ruim escrita por helenabenett, Lyra Parry


Capítulo 7
Um rapaz solitário


Notas iniciais do capítulo

"I'll be what I am
A solitary man"

Nossa heroína cria coragem e começa a tentar esquecer Cas. Nessa difícil jornada ela tem o auxilio de um rapaz solitário, porém, encantador.



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Noite de quarta-feira

Luke, apesar de não parecer, era um homem romântico. Ele gostava das mulheres de uma maneira diferente da maioria dos rapazes. Valorizava determinadas características que a maioria dos outros homens temia ou desprezava. Talvez pela sua história peculiar... Viera de uma mãe forte, determinada. Aos 15 anos ela engravidara de um homem com quase o dobro de sua idade. Ela nunca dissera a Luke se realmente fora por livre espontânea vontade que se relacionara com o pai dele, ou se ele forçara algo, pois não podia conceber que a bela e sensata Viviane teria caído nas garras de um conquistador, mas a verdade é que ele não queria saber. A família de sua mãe, apesar de rica, não queria um neto bastardo e mandou que ela abortasse. Mas ela se recusou. O pai de Luke, ela nunca nem tentou procurar. E quando desobedeceu a família, foi jogada para um velho convento de moças em situação interessante.

Ele nunca perguntara a sua mãe o porquê dela querer mantê-lo. Ela era uma mulher linda, mesmo agora no auge dos seus 36 era uma beldade. Alta, com longos cabelos cacheados e negros, olhos azuis intensos e uma pele branca como a neve. Ela poderia ter sido uma modelo, poderia ter casado com um homem rico. Poderia ter tido uma vida fácil, mas escolhera Luke. No convento ela aprenderia alguma profissão, estudaria, enquanto o bebê crescia em seu ventre. Aos 18 anos, terminara seus estudos e precisou sair do convento com um pequeno Luke de 2 anos e nenhum tostão no bolso. Uma mulher comum teria procurado família implorando ajuda, e ninguém poderia julgá-la por tal, mas ela não era uma mulher comum. Com sua beleza estonteante, um belo sorriso no rosto e com sua inteligência superior conseguiu um emprego depois de dois dias de procura. Vendera todas as suas roupas na rua para poder manter ela e Luke em uma velha pensão familiar até que o salário de secretária saísse. Enquanto a mãe trabalhava, a velha matrona da pensão o olhava com um carinho de avó. Pois ela era sozinha e Viviane a tratava como uma mãe, e que senhora idosa pode resistir aos encantos de uma mulher jovem e carinhosa?

Viviane cresceu rapidamente na empresa, em dois anos já era gerente da loja, mas aquilo era muito pouco para a Visão daquela bela mulher. Estudava durante a noite e pouco dormia para que pudesse melhorar de vida. E melhorou. Hoje com 36 anos, Viviane gerenciava uma cadeia de 30 hotéis, e tinha por si mesma vários pequenos empreendimentos. Como a academia que Maga e Luke frequentavam. Apesar de tudo, era uma mãe carinhosa e bondosa.

Com uma mulher como essa em sua frente, era difícil para Luke amar alguém abaixo. As vezes pensava que sua mãe o havia enfeitiçado ou hipnotizado, para que ele só amasse a ela. Ou alguém como ela. Tivera muitas namoradas... Mas nenhuma chegava perto de seu ideal e por fim, decidiu ouvindo o velho Cash que até que ela – a mulher ideal–  aparecesse ele seria A Solitary Man.

Quando viu Maga pela primeira vez na academia ele imaginou sonhar. Aquele rosto branco, austero, os olhos coloridos que destacavam com o cabelo negro e longo. Coloridos de uma forma diferente dos de sua mãe, é claro. Os da mocinha eram amarelos, e de sua mãe eram azuis e gelados. Os de Maga pareciam um mel claro e puro, o seu sorriso era belo. Mas ela raramente sorria. Seu rosto parecia estar sempre contraído e concentrado nos exercícios e nas lutas que praticava. Além da moça, só haviam duas mulheres que estavam no grupo de lutas da academia, e ambas eram fortes e truculentas. Mas a moça era suave, bela e pequena. Diferentemente de sua mãe que era alta e atlética. Por que ele sempre comparava as mulheres com sua mãe? Isso era no mínimo assustador.

Apresentara-se delicadamente a ela, depois de uma semana observando-a intensamente. A moça parecia cansada e suava muito. Ele aproveitou para puxar conversa:

—Parece cansada! Está muito quente hoje. Meu nome é Luke, prazer.

Ela o olhou de modo tão desconfiado que ele se retraiu um pouco. “Com medo de uma menina? Que vergonha, Luke”. Mas não se tratava de uma menina, se tratava de uma mulher inteligente e forte. Sim, ele poderia reconhecer isso de longe. Convivia com uma mulher forte e decidida todos os dias, e poderia reconhecer outra a quilômetros de distância.

—Prazer, Magali. — Disse a moça educadamente, porém, de modo receoso.

Durante várias semanas, trocaram banalidades. Outros rapazes se aproximaram dela de maneira mais agressiva. Mas ela havia sido clara, embora não rude, que não se interessava por nenhum deles e que seria mais saudável que se afastassem. Ele nunca tentara nada até aquele dia em que a vira bela e tranquila no shopping. De inicio ficara com ciúmes do rapaz ao lado dela, imaginando se não era seu namorado. Mas ouviu o rapaz meio careca comentando da namorada do seu possível rival e se tranquilizou. “Se ele quer a Maga, não a pode ter, pois tem namorada. Pelo menos por enquanto. É hora de agir”. Luke tinha ciência que era belo. Muito mais que o rapaz ao lado da moça, mesmo que ele tivesse que admitir que o mesmo era um rival a sua altura.

Agira e fora vagamente bem sucedido. Não sabia se Maga o aceitara por pressão ou por vontade própria. Mas não se importava. Agora, dirigindo até a casa da moça, começava a pensar como iria agir. A levaria, primeiro a um bom restaurante no centro e depois... Ela era nova demais para que ele pensasse muito no depois. “Eu já tenho vinte e um anos.” Pensou Luke, amargamente. Já estava terminando sua faculdade de Engenharia Mecânica e estava saindo com uma moça que nem ao menos completara o ensino médio. Sentia-se um pouco devasso, mas não podia resistir a tentação que Magali lhe representava. Chegando a casa da moça, tocou o interfone e a mesma abriu o portão rapidamente. Ele estava bem vestido, com roupas bem escolhidas apesar de simples. A moça parecia ter pegado a primeira roupa que vira no guarda-roupa. Ele se sentiu constrangido, e quando caminhou até o carro Magali o interpelou:

— Não iremos de carro, Luke. Afinal só vamos até a sorveteria.

Ele que queria um encontro especial... Queria causar boa impressão. Mas ela não era como as moças tolas que costumava sair, que bastavam ver seu carro novo, suas roupas de marca e seu belo rosto para fazerem o que ele queria. Não, ela não entraria em um carro com ele tão cedo. E ele sorriu sem graça, desculpando-se.

—Pensei que iriamos naquele restaurante que lhe falei.

—Prefiro um lugar que possamos ir a pé.

Ele entendeu o que ela queria dizer. “Não confio o suficiente em você, para que lhe possa deixar me levar pra qualquer lugar de carro”.

Maga porém não podia negar a atração que sentia por um rapaz tão belo. Enquanto andavam até a sorveteria, todos olhavam para ele admirados. Mulheres e até homens. Ela também não deixou de notar o carro de luxo que ele dirigia e as roupas caras e de marca, mesmo sendo um rapaz tão jovem. É obvio, portanto, que ele vinha de família rica. Eles nem ao menos estavam de mãos dadas, ao contrário, estavam até bem distantes. Porém todas as moças a olhavam com admiração e inveja. Isso nunca acontecera quando estava com Quinzinho. Não que desejasse a inveja alheia, longe dela. Só achava aquilo diferente. Os dois conversavam animadamente, e devagar ele foi se aproximando e por fim, quando a moça notou, segurava o braço do rapaz e ria cordialmente de todos os seus comentários e piadas. Ele era inteligente, instruído, bonito e rico. Ok. O que ele pode querer comigo? Ela não sabia dizer. Não se achava bonita. Nem particularmente inteligente. Mas olhando para o rapaz que tinha ao seu lado, começou a se perguntar se ela mesma não tinha um conceito errôneo de si.

Ele a olhava com tanta admiração que ela corou momentaneamente. Ela não estava totalmente desacostumada com aquilo, afinal, Quim a olhara dessa maneira durante o namoro inteiro. Porém, não se tratava exatamente do mesmo olhar. Não era nada suplicante, como o do ex-namorado. Era confiante, cheio de desejo e expectativas. Não era exatamente assim que queria ser olhada por um homem, pelo menos não sempre. Sem querer a imagem dos olhos negros cálidos e preocupados de Cas vieram na sua cabeça. Ela tentou expulsar a imagem de sua cabeça, mas era realmente difícil não pensar nele. O rapaz notou que ela parecia ter ficado triste de repente e perguntou:

—O sorvete não lhe agrada, minha linda?

Quanta intimidade, pensou a moça. O rapaz viu o rosto da moça anuviar-se e notou que ela não gostara do modo como a chamara. Ele falou de banalidades e anedotas para desviar da cabeça da Magali as palavras impensadas. Eles estavam se dando bem, mas havia alguma coisa que não havia sido dita por ela. E ele sentia. Luke era um homem inteligente e sensível. Sim, ele imaginava o que estava acontecendo. Ela amava aquele rapaz alto e moreno daquele dia no Shopping. Qual era o nome dele mesmo? Luke se esquecera. O importante é que já ouvira da boca do amigo meio careca e mesmo de Magali que ele tinha uma namorada. Ele acreditava que o rapaz também estava apaixonado pela moça, mas era fraco demais para largar a namorada e entender-se com a magrela. “Melhor para mim” pensou o rapaz. “Mas será que é o melhor para Maga?” ele tentou afastar essa ideia da cabeça.

Quando voltavam para a casa da moça ele notou alguém se movendo na escuridão das árvores a sua frente, a pessoa estava semi –oculta, claramente se escondendo. Ele colocou a menina atrás de si, ela queria protestar, mas notou também o estranho. Ao se aproximarem, notaram que era apenas o Cascão. Como estavam na frente da casa da Maria, Magali entendeu que ele acabara de deixa-la. “Maldito garoto” pensou Luke, “Sempre aparecendo nas horas mais inoportunas”.

—Que bom ver os dois aqui! Assim não preciso ir pra casa sozinho!—Cascão sabia muito bem que se tratava de um encontro, e que ele estava sendo extremamente inoportuno. Mas lhe deixava possesso a ideia da Magali estar andando uma hora daquelas sozinha com aquele mauricinho.

—Você nos assustou, Cas— Disse a menina. Luke não pode deixar de notar como os olhos dela brilhavam ao olhar pro rapaz e como sua voz estava suave e confiante, até mesmo a postura da moça mudara. Ele imaginava se um dia ela poderia ser assim com ele.

Chegaram rapidamente a casa de Maga que ficava 4 quadras antes da de Cas. Luke que esperava um beijo de boa noite, mesmo que fosse um singelo selinho, viu suas esperanças frustradas pela presença de Cassio. Sim, ele havia se apresentado assim para o rapaz. Maga lhe deu um beijo no rosto e um abraço. Ele pode sentir o olhar raivoso de seu rival nas suas costas e se sentiu feliz. A moça estendeu a mão para o sujinho, mas ele a puxou para junto de si e deu um beijo em seu rosto. Ela ficou sem graça e entrou rapidamente. Ali ficaram os dois. Um olhando para o outro por alguns instantes, até se lembrarem, que deveriam manter a mínima cordialidade entre si.

—Você segue reto, imagino. Eu desço essa rua até a T-63, posso leva-lo se quiser.

Cas olhou para o carro esporte do rapaz com desprezo e recusou educadamente a carona. O outro deu de ombros e foi embora. Então era verdade? Sua Magali estava saindo com aquele babaca. Ele estava com raiva e ferido. “Ela não é sua. De fato, não é de ninguém”. Ele olhou amargamente para a casa da moça e foi para embora atormentado. Não havia como não perde-la para aquele imbecil. Ele esperara demais.


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