Tempo Ruim escrita por helenabenett, Lyra Parry


Capítulo 5
Tudo ou nada


Notas iniciais do capítulo

Gradativamente nossos amigos caminham para importantes resoluções. É uma pena, porém, que nem todas elas estejam de acordo umas com as outras.
Agradecemos o carinho, e esperamos sinceramente que gostem. :D



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Sábado, 16:45, casa da Mônica.

—E foi isso, Mô. Estou confusa... eu quase não saio mais com o Cascão. E numa saidinha dessas...

—Menina, se a Cascuda descobre isso é capaz dela arrancar o couro do Cascão. E se brincar, o seu. É melhor você deixar o Cas esfriar a cabeça. Afinal vocês tem uma história... E da ultima vez que você ficou solteira, ele também estava e... Não sei.

—Você tem razão, Mô. Sabe, eu gosto do Luke. Ele é um cara bem legal, mas ele gosta de um lado muiito pequeno de mim. Ele gosta desse lado independente e é só. O Cas me conhece de verdade.

—Claro, vocês nasceram e cresceram juntos. O Luke só te conhece da academia. Dá uma chance pra ele, mulher! Ou vai só ficar por aí chorando pelos cantos. O Cascão nunca largaria a Cascuda por tua causa. Se fosse pra fazer isso já tinha feito há muito tempo.

Monica não tinha tido a intenção de magoar a amiga, porém o fez. Magali fechou os olhos em uma expressão de dor. Mas foi rápida. A velha Magali teria se entregado, a nova já tinha tido sua porção de dor e humilhação pública. Estava mais acostumada. Mônica mal notou a diferença. E meia hora depois Maga estava na rua. O sol batia em seu rosto, ela se sentiu feliz e quente. Decidiu dar uma volta pela pracinha. Chegando lá avistou Cascão e Maria se beijando. Ela se escondeu por instinto. Riam e estavam felizes. Como ela havia pensando em separá-los um segundo que fosse? E como ela estava ridícula naquela posição. Respirou fundo e foi de encontro aos namorados. Cascuda a olhou desconfiada, mas viu o rosto descontraído de Maga e se sentiu relativamente bem.

—Oi, Senhor e Senhora Cascão.

—Oi Maga. – Disse Cascuda educadamente, embora de maneira um pouco rude. Desde que Magali terminara com Quim ela notara que seu namorado demonstrava uma excessiva preocupação com a amiga. Falava dela com mais frequência e comentava, com uma irritação fora do normal, sobre “a maneira idiota que a turma tentava empurrá-la para outros caras. Será que é tão difícil entender que um namoro tão longo não se esquece de um dia pro outro? Eles deviam ter mais consideração por ela, principalmente a Mônica. Que melhor amiga é essa, afinal?”.

—Ela não quer que a Magali fique por aí choramingando como se fosse uma coitadinha, Cas, é isso – respondeu uma Cascuda muitíssimo estressada, tanto com a preocupação do namorado, que a deixou enciumada, quanto com o comentário propriamente dito. – Se o Joaquim pode desfilar por aí com aquelazinha— das garotas da turma, Maria era uma das poucas que não gostava de Sarah – por que é que a Maga tem que ficar de luto?

Eles discutiram sobre esse assunto, e acabaram se desentendendo, como sempre. Fazia alguns meses que Maria Cascuda notara que as brigas, que aconteciam de quando em quando, se tornaram rotina. Eles tinham períodos assim, em que tudo era motivo para discussão. Mas ela já estava cansada desse maldito vai e volta. Sempre que começava a acreditar que seu namoro ia bem e que finalmente ela e Cas conseguiriam se entender, alguma coisa acontecia e ele ficava distante, ou infantil, ou irritadiço, e ela perdia a paciência com o namorado.

Por isso não gostou nem um pouco da aproximação de Magali: ela escolhera o momento mais inoportuno. Cascão acabara de lhe pedir desculpas pela última discussão – cujo pivô, aliás, era a própria Magali – e eles estavam aproveitando a companhia um do outro e sendo namorados normais. Apesar de tudo, Cascão era um fofo, isso ela tinha que admitir. E se orgulhava dele nesse aspecto, pois sabia que a maior parte das meninas da turma tinha um namorado idiota ou bruto, enquanto o dela era sensível e atencioso. Às vezes até demais, mas ela achava que não conseguiria conviver com um babaca, como as outras meninas faziam. Não durariam muito. Aliás, ela sabia que seu namoro só durara tanto tempo porque Cas, no final, sempre aceitava o que ela dizia – mesmo que, durante as brigas, ele fosse teimoso e intransigente. Isso a magoava, no fundo, pois, embora ela achasse que estava certa e defendesse seus pontos de vista com unhas e dentes, no fundo não se tratava de ter ou não razão, e sim de ser prática. Cascão dava atenção demais aos próprios pensamentos, e isso às vezes o fazia enxergar a realidade de modo distorcido, o que ela detestava. Para Maria, as pessoas têm de encarar a vida como ela é, e já achava que às vezes as coisas se complicavam demais sozinhas, não há necessidade de complica-las ainda mais com especulações, achismos e dúvidas.

Entretanto, quando Cas finalmente se decidia em algum ponto, ele era determinado. Isso ela admirava. Aquele dia, ele tinha dito a ela que lhe daria mais atenção, e ela sabia que ele estava sendo sincero, porque seu namorado era um péssimo mentiroso. E Cascão estava se esforçando: eles tinham saído pela manhã e tinham acabado de se encontrar na pracinha para namorar quando Magali apareceu.

—Querem tomar um sorvetinho? Eu pago.

Por que ela tinha que ser tão legal? Cascuda gostava de Magali, gostava mesmo. Ela era simpática, divertida, e uma das pessoas mais bondosas que Maria já conhecera. Mas havia uma coisa que a deixava com muita raiva da comilona: apesar de inteligente, Magali nunca fora a mais esforçada das alunas, de modo que Cascuda não se conformava que as duas tirassem sempre as mesmas notas. E agora que a magrela começara a treinar na academia, ela temia que a amiga se destacasse também nos esportes, deixando-a em segundo plano nisso também. Esse era o único motivo que a impedia de ser tão próxima de Magali: a competição. Para Cascuda, Maga não se esforçava para quase nada. Tinha uma casa confortável, enquanto ela morava numa casinha simplória de quatro cômodos; pais simpáticos, enquanto os seus haviam se separado e o pai fazia pouca questão das filhas; nenhum irmão para cuidar, enquanto ela vivia tendo trabalho com a irmã mais nova, que sofrera muito com a separação dos pais e acabara ficando rebelde. Comia sem engordar, enquanto ela tinha de ficar regulando as calorias numa dieta constante. E como se não bastasse, Maga ainda era inteligente, educada e, acima de tudo, linda, absurdamente linda. Não que Maria se achasse feia, mas sabia que sua força atlética não era páreo para a beleza delicada da amiga. E o pior de tudo, era que, mesmo com aquele jeito doce, Magali era forte, de um jeito que ela não sabia definir, mas respeitava.

Ou respeitara. Até Cascão começar a nota-la.

­– Claro, Maga – Cascão aceitou pelos dois o convite para o sorvete. Se dependesse dela, teriam ficado ali mesmo e dispensado a garota, mas ela não ia deixar a amiga saber que a encarava como rival. Tinha de demonstrar que não tinha medo da concorrência. Afinal, por mais que seu namoro com Cas não fosse um mar de rosas, ele era o namorado dela, portanto, se alguém tinha que dar um ponto final na história, tinha que ser ela. Não sairia perdendo. Não para aquela magricela.

Apesar de tudo, o encontro foi bastante agradável. Conversaram sobre várias coisas. Riram até o anoitecer. E naquele momento Magali desistiu totalmente de qualquer esperança de namorar Cascão. Mesmo que ele terminasse com a namorada, ela o amava demais, dava pra ver pela maneira que Cascuda olhava para ele. E Magali nunca trairia uma amiga.

O que Maga não imaginava é que aquele olhar significava nada mais que possessão. É verdade que Maria gostava de Cas, mas todo aquele esforço para retribuir os carinhos do namorado nada mais era do que uma maneira de demarcar território. Entretanto, Magali estava perturbada demais pelo comentário de Mônica, o que a impedia de ver o que estava acontecendo de fato.

Quanto ao sujinho, foi ali, vendo as duas juntas e suas grandes diferenças - a tranquilidade bondosa de Maga e o atrevimento de Cascuda; a intransigência de sua namorada e a modéstia da amiga; a força serena desta última frente à raiva desenfreada da primeira – que ele decidiu onde seu coração estava, e se perguntou como não percebera antes.

Infelizmente, sua resolução passou despercebida à pessoa a quem ela mais interessava.


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