A lua brilhava acima do belo casal deitado no parque. Eles não conversavam, apenas admiravam a beleza da noite, enquanto se abraçavam calidamente. Cas nunca havia sentido tanta paz.  Estavam juntos havia pouco mais de um mês. É claro, quase ninguém sabia do envolvimento dos dois. Cassio havia comentado apenas com Cebola, e Magali guardara apenas para si. Ele pensou na diferença de conviver com Maga em relação a Maria. A primeira tinha uma paz natural de espírito, uma alegria tranquila e um modo simples de ver a vida. A outra era intensa, dinâmica e levemente selvagem. Ele não podia negar que amava ambas, admitira até mesmo para Maga, que aceitara e entendera. Maria teria tentado mata-lo.  Apesar dos sentimentos ainda controversos ele nunca se sentira tão feliz. Tinha o delicado rosto da moça em seu peito e sentia o leve perfume de seus cabelos e o calor de seu corpo macio em contraste com o vento frio da noite. Pensou que o paraíso deveria ser próximo disso.

—Você sabe, Cas – disse Maga quebrando o silêncio– que nada será fácil para nós dois, não é?

—Eu sei. Mas não acha que vale a pena, meu bem?

A moça sorriu e se recostou confortavelmente no peito do rapaz. É claro que valia a pena. Ela amava Cassio. Sua coragem, determinação e energia eram admiráveis. Os modos carinhosos e preocupados do rapaz, bem como sua intensidade, a deixavam completamente sem fôlego. Sim, ela o amava. Mas mesmo estando dentro daquele sonho apaixonado, ela era uma mulher prática. Via de longe as dificuldades que os esperavam, e imaginava que seriam necessários vários meses, talvez até um ano, para que pudessem ser claramente um do outro. Ela não contara a ninguém sobre o que havia entre os dois, e imaginava se Cas havia tido o mesmo bom senso. Ela sabia, porém, que ele sempre tivera uma boca grande, e temia que ele tivesse falado algo para alguém... Principalmente se esse alguém fosse o troca-letras.

—Cas... Você falou sobre nós para alguém?

—Só pro Cê. Imagino que você tenha falado para a Mônica também. Mas eles não vão falar nada para ninguém, poxa. São nossos melhores amigos.

A moça se empertigou. O rosto antes descontraído parecia agora preocupado e desgostoso.

—Eu não contei nada a ninguém. E você deveria ter feito o mesmo.

—Desculpa, Maga. Mas eu confio na discrição do Cê.

—Não é a discrição dele que temo. E sim sua incapacidade de não se meter na vida dos outros.

—Relaxa, meu bem. –Disse o rapaz dando um leve beijo em sua boca. – Não vamos desperdiçar o pouco tempo que temos sozinhos tratando dessas besteiras, vamos?

A moça sorriu. E acabou por se entregar novamente aos beijos cálidos e ao abraço do amado. Antes da tempestade, sempre temos a calmaria.

Cebola não ficara surpreso quando Cassio lhe contara sobre seu envolvimento com Magali. Sua única dificuldade era saber se devia ou não intervir. Ele gostava de verdade da Maga, mas ele não achava que a moça era o ideal para Cas. Mesmo o rapaz estando tão feliz ao lado da Comilona. Mas quanto tempo duraria essa felicidade? Bastava um leve deslize para que todos da turma soubessem do envolvimento dos dois – Cassio nunca fora bom em guardar segredos – e a partir daí o pequeno paraíso de seus dois amigos se tornaria um inferno, e definitivamente não seria do tipo particular. Aquilo afetaria toda a turma, e provavelmente a dividiria. Não, ele não estaria sendo justo com os dois se ficasse de fora. Magali também intervira entre ele e Mô quando percebera que era necessário. Ele deveria retribuir o favor a amiga e impedi–la de sofrer ainda mais. Isso é claro, era a justificativa que Cê achava para si mesmo, quando na realidade, ele apenas queria se vingar da moça por ter jogado Mônica nos braços de DC. Cebola não era uma pessoa ruim, mas era alguém que acreditava sempre que suas convicções eram as corretas e tinha artifícios intelectuais o suficiente para fazer com que os outros também acreditassem no que ele achava ser o correto.

A primeira coisa que o rapaz fez foi sondar a Mônica, e facilmente descobriu que ela não tinha ideia do que Maga estava aprontando. Mô nunca fora boa com sutilezas, mas ainda assim ele ficou assustado ao notar como a moça desconhecia quase que totalmente o coração da melhor amiga. Imaginou que esse era outro indicio que Maga não era nem de longe o ideal para seu amigo. Afinal, que tipo de pessoa não confia nem no suposto melhor amigo? Ele não percebeu, que ele mesmo quase nunca confiara seus segredos a ninguém. Nem mesmo ao seu dito melhor amigo. Depois de sondar Mô, ele se dirigiu a Maria. Notou facilmente que moça já quase superara o rompimento, apesar de não terem passado nem dois meses. Cascuda, como ele já notara, tinha um coraçãozinho pequeno, que cabia poucas emoções, e certamente era orgulhosa demais para se deixar arrastar por qualquer decepção. Não, a moça já não se entristecia ao pensar no ex–namorado. E apesar de ser levemente vingativa, Cê não achou que deveria revelar a ela que Maga e Cas estavam juntos, ou pedir uma ajuda direta a moça. Ela seria útil, é claro, mas não devia saber disso. E havia, também, Luke. Cê sabia o quanto o rapaz gostava da Magrela, e soubera que a moça o havia dispensado cordialmente, mas de maneira definitiva. Cê gostaria de compartilhar suas ideias com o rapaz, que lhe pareceu vivo e inteligente – ele se dera ao trabalho de começar a malhar apenas para conhecer melhor o rival de Cassio – mas achou por bem não lhe confiar suas ideias. Ele seria como Maria. Um peão habilmente arranjado para separar o casal de pombinhos.

Ele repetia a si mesmo que fazia isso para o bem de ambos, e tanto repetiu que acabou por acreditar. O plano era simples, e ele imaginava que Magali iria acabar por perceber que fora manipulada, ela era uma mulher inteligente. Mas seu maior triunfo estaria ali... Que ela soubesse quem acabou com suas esperanças.