Sangue Negro escrita por Deza Ikeuchi


Capítulo 5
Aquele Sorriso




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Depois tudo aconteceu tão rápido e de repente que todos ficaram sem entender o que houve, a porta da sala de aula se abriu e de lá saiu um homem de meia idade, o professor, Laura se assustou ao vê-lo, não mais do que já estava com aquele garoto abusado que ela nem sabia o nome, agarrando seu braço, então sem nem ao menos pensar Laura deu um tapa no rosto dele, não foi um tapa tão forte, mas o estalo que a mão dela fez ao acertar o rosto do garoto foi alto.
— O que significa isso?! – exigiu saber o professor, ele era alto e magro, tinha olhos negros escondidos por detrás de óculos estilo aviador, bem antigos, o centro de sua cabeça não havia mais cabelo, sua careca era tão brilhante que ate parecia que ele a lustrava, sua pele, com algumas rugas, era clara, estava vestido com uma calça jeans já bastante desbotada e um casaco bege totalmente abotoado, quase o sufocando, seu sapato era da mesma cor do casaco, porem o adjetivo mais marcante dele não era a careca nem o mau gosto para roupas, mas sim o nariz, um nariz enorme, cheio de cravos e com os pelos dentro dele quase saindo, Laura não conseguia desviar o olhar daquele nariz, e não pode evitar comparar seu novo professor de matemática ao antigo, Ryan, não só o professor mais lindo que ela já vira, mas também sua primeira paixão.
— Não é nada senhor Robermmam, - explicou o garoto tirando Laura de seus devaneios – só estava ajudando a aluna nova, ela estava perdida tentando achar sua sala, e o senhor sabe que eu nunca poderia deixar uma garota tão indefesa andar perdida por esse lugar, não seria nada cavalheiro de minha parte fazer isso – terminou, não perdendo a chance de provocar Laura.
— Por que então ela te bateu senhor Herobacky? – perguntou o professor, não acreditando na desculpa de seu aluno.
— E que... Que... Ela fez isso por que... – gaguejava tentando encontrar uma desculpa, enquanto Laura se segurava para não rir.
— Desculpe-me por me intrometer, senhor Robermmam, mas bem, eu só dei um tapa nele por que... Bem, eu não sei como explicar – falava Laura tentando parecer uma garota meiga e indefesa, como Herobacky fizera questão de dizer, e ele por sua vez se divertia achando que Laura não sabia o que falar. – Eu estava agradecendo ao senhor Herobacky pela ajuda, mas ele queria algo mais que um “muito obrigada” pela ajuda, o senhor me entende? – perguntou olhando para baixo, tentando parecer envergonhada, enquanto se segurava para não rir da expressão de espanto do garoto que a “ajudou”.
— Não senhorita, eu não entendo – respondeu o professor, querendo que todos os alunos, que estavam atentos à discussão que ocorria na porta da sala, ouvissem a explicação de Laura.
— Bem professor, ele queria um beijo meu como agradecimento, e eu não quis beijá-lo, afinal acabei de conhecê-lo e ele não faz meu tipo, por isso ele me segurou – disse tímida e passando a mão onde o garoto havia apertado, tentando se mostrar frágil, e o provocando mais ainda – e para que me soltasse dei aquele tapa nele. Sei que aquele tapa foi errado de minha parte, sei que violência nunca leva a nada, mas na hora eu não pensei em outra coisa – continuou com a expressão mais meiga e boazinha que ela conseguiu fazer, depois se virou para o garoto, dando as costas para o professor e para os alunos, permitindo que apenas o Herobacky visse sua expressão, que agora era de divertimento e vitoria – Me desculpe pelo tapa, não vai acontecer de novo, assim como eu sei que você entendeu que não ganhara mais nada pelos seus favores alem do meu “muito obrigada”, não é?
— É claro – respondeu calmo, mas era visível que não ia mais conseguir se controlar se essa historia continuasse.
— Isso não pode ser resolvido assim, ele faltou muito com o respeito à senhorita, ele deve ser mandado para diretoria imediatamente, isso que ele fez é inadmissível! – se exaltou o professor, e Laura se esforçava mais e mais para não rir.
— Não é necessário senhor Robermmam, isso é só coisa de garoto, muitos hormônios, ele não vai tentar nada comigo de novo, não é mesmo? – dirigiu a pergunta ao Herobacky, o provocando ainda mais, para Laura ele tinha que entender que mexer com ela, não seria algo que ela deixaria barato, e nem algo muito sensato de se fazer.
—É, isso mesmo – respondeu em voz baixa, rendendo-se, mas irritado demais para deixar de se vingar na primeira oportunidade.
— Tem certeza disso senhorita?
— É claro que tenho professor.
— Pois bem, entrem os dois então, já perdemos muito tempo.
A sala era dividida em três fileiras, com quatro mesas de se sentar em duplas em cada uma das fileiras, tudo muito organizado, pelas mesas serem de duplas, quase todas as carteiras já estavam ocupadas, só uma no fundo da sala estava vazia, foi então que os dois perceberam que não havia alternativa, teriam que se sentarem juntos.
— Professor, eu acho que não há nenhum lugar livre para a aluna nova se sentar – disse o garoto claramente contrariado com a possibilidade de ter que se sentar junto com Laura.
— Acho que ela pode se sentar com você senhor Herobacky, assim posso observar melhor se você não incomodara mesmo nossa nova aluna, e ainda acredito que é um ótimo modo para que você se socialize mais com seus colegas, você é muito anti-social, fará bem á você a companhia de uma garota tão meiga e gentil, espero que aprenda alguma coisa com ela.
— Sim senhor – disse indo em direção ao fundo da sala, com Laura o acompanhando – senhor Robermmam – chamou, se virando antes de chegar e seu lugar.
—O que foi senhor Herobacky? – perguntou exausto e já sem paciência com seu aluno.
— Não é de costume deste colégio que os alunos novos devam se apresentar para todos da sala?
— Sim, bem lembrando, agora pode se sentar. Nos da à honra senhorita? – perguntou, fazendo Laura voltar para frente da sala para se apresentar.
— Eu me chamo Laura D’larian, tenho 16 anos e. alguém tem alguma pergunta, não sei mais o que falar – disse sincera.
Ninguém fez nenhuma pergunta, Laura agradeceu aos céus por isso, nunca gostou de falar de si mesma, principalmente na frente de uma sala de aula cheia.
— Pode se sentar então senhorita Delarian, e copie as equações do quadro, esse é um trabalho que você devera me entregar amanha.
Laura se sentou ao lado do garoto, sem nem ao menos olhar para ele, enquanto ouvia os alunos reclamarem sobre como era impossível entregar aquele dever amanha, eram ao todo 30 equações matemáticas, que Laura achou bem fáceis.
— Vai copiar as equações ou continuar prestando atenção nas reclamações dos outros.
— Olha isso não é da sua conta, mas eu não to a fim de começar uma briga na sala de aula, acho que você já percebeu de quem o professor esta do lado. Eu não gosto de você, você não gosta de mim, mas cara, eu nem sei seu nome.
— Henry Herobacky, meu nome, agora eu acho melhor você copiar as equações, e aproveitar para começar a resolvê-las ainda nessa aula, como você já foi avisada pelo professor, esse trabalho deve ser entregue amanha, e hoje a noite todos os alunos tem que comparecer a pequena seção de horrores do diretor – e Henry não perdia a chance de me amedrontar, pensou Laura.
— Do que você está falando?
— À noite você vera.
— Você sempre falando de formas misteriosas. Isso me irrita muito, se você quer me falar alguma coisa, fala direto.
— Não posso te dizer o que ira acontecer essa noite, só pioraria as coisas para você, mas se posso te dar um conselho, leva um balde, você parece uma dessas garotinhas de estomago frágil que vomitam por qualquer coisinha.
— Senhorita Laura, o senhor Herobacky está lhe incomodando? – perguntou o professor.
— Não senhor, ele só está me pedindo uma ajuda quanto às equações – respondeu começando a copiar as atividades do quadro.
A aula já estava quase acabando e Laura já tinha terminado todas as equações enquanto os outros alunos “quebravam a cabeça” tentando encontrar os resultados. Ela sempre fora muito inteligente, e embora fosse um enorme problema em todas as escolas onde estudou, nenhum professor poderia se queixar sobre suas notas ou rendimento na sala de aula.
O sinal tocou, indicando o final da aula, Laura já ia fechando seu caderno quando olhou de relance para o caderno de Henry e notou que ele também havia terminado o exercício, e pelo o que ela notou as respostas estavam corretas.
—Quer que eu te empreste meu caderno para copiar a resposta das equações? Eu empresto você só precisa se desculpar e pedir com muita educação viu, eu não sou tão idiota quanto você pensa.
— Não é tão idiota? Você quer que eu me humilhe para que me passe às respostas do exercício e já esta se achando o cara mais legal do mundo por isso?
— Talvez eu seja mesmo o cara mais legal do mundo, mas agora anda, me mostra seu horário, vou te levar ate sua próxima aula para você não se perder de novo.
—Não obrigada, eu me viro, além do mais, não vou poder te agradecer pelo favor do jeito que você esta acostumado, prefiro pedir ajuda para alguem que se satisfaça com um "muito obrigada" - respondeu, com um sorriso presunçoso no rosto lembrando da desculpa que deu ao professor pelo tapa que deu no rosto de Henry, e lhe dando as costas, começou a andar, encerrando a conversa.
—Faça como quiser - ouviu Henry responder, já afastada alguns metros dele, e mesmo sem olhar para tras, Laura sentiu aquele sorriso de lado se formar no rosto dele enquanto dizia isso.


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