Sangue Negro escrita por Deza Ikeuchi


Capítulo 4
Circo dos Imbecis Voadores


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem...



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Agora Laura entendia o porquê todo o seu quarto parecia ser do século passado, era porque realmente era, o Internato Hole in Soul era na verdade um castelo, construído na Idade Media por um Lorde britânico muito recluso e igualmente rico. A construção era enorme, feita de pedras, e construída a beira de um enorme penhasco sobre o mar.
O quarto de Laura ficava em uma das torres do castelo, e agora que a dor de cabeça diminuirá ela percebera que o que ela pensou ser um chiado em seu ouvido, era mesmo o som de ondas se quebrando nas rochas em baixo da janela de seu quarto. Naquela torre não havia dormitórios, exceto o dela, o que garantiria a ela mais privacidade e mais motivos para que falassem dela. Quando ela olhou pela janela, mesmo não tendo medo de altura, teve vertigem ao olhar para baixo, fugir pela janela definitivamente não era uma opção.
Depois da breve explicação de Erza sobre como chegar à secretaria do colégio, ela deixou Laura sozinha e saiu correndo para resolver outros assuntos mais urgentes, segundo ela. Laura não teve dificuldade em achar a secretaria, mesmo o internato sendo enorme e ela tendo que descer as escadarias do que parecia ser o décimo andar ao segundo. O castelo era cheio de entradas e corredores em todos os andares, se perder dentro daquele lugar parecia ser algo incrivelmente fácil, tudo era igual, não importa para onde olhe, a decoração é sempre a mesma, e os corredores que, mais parecem labirintos, parecem se multiplicar, e ainda assim, sem se perder ao menos uma vez Laura estava na frente da secretaria do internato, uma mulher alta e gorda, de mais ou meso 50 anos, com cabelos louros rigidamente presos em um coque alto, usava óculos iguais aos daquelas bibliotecárias velhas que aparecem em filmes antigos, estava vestindo um conjunto social cor de rosa formado por uma saia que ia ate abaixo do joelho e um blazer com uma enorme flor de crochê também na cor rosa, mas em um tom mais claro, calçava um sapato também rosa e com salto alto, uma roupa tão antiquada como tudo naquele colégio, mas o mais marcante na secretaria não era sua roupa, mas sim a maquiagem, um batom vermelho extremamente forte, uma pinta feita com lápis de olho no canto esquerdo da boca e nos olhos uma sombra cor de rosa.
— Em que posso ajuda-la? – perguntou a secretaria com mau humor vendo que Laura não dizia uma sequer palavra e não parava de observa-la.
— Eu sou a aluna nova, Laura, e me disseram que eu deveria vir aqui para...
—Ah sim, você deve ser a senhorita Delarian – interrompeu a secretaria – aqui estão seus horários – disse entregando uma folha de papel para Laura – aí esta escrito também o horário em que é servido o café da manhã, almoço e jantar – neste instante o sinal para o inicio da primeira aula soou, o mesmo som do filme de terror Salent Hill quando criaturas demoníacas começam a aparecer, e Laura imaginou se naquele momento a secretaria não se transformaria em um monstro de dois metros de altura com uma cabeça de bigorna seguida por muitas baratas de quase dez centímetros que tem rosto. - A senhorita não ouviu o sinal? Vai se atrasar para sua aula, e neste colégio não aceitamos atrasos – repreendeu-a a secretaria.
— Sim, já estou indo – Laura se virou para ir em direção á sala de aula e já tinha dado ate alguns passos, quando se lembrou de que não sabia onde ficava – Senhora? – chamou sem saber qual era o nome da secretaria e esperando que ela respondesse.
— Senhora não, senhorita. Senhorita Rachel Summer, e o que você deseja? Já não disse que esta atrasada?
— Sim, eu sei, só pensei que se a senhorita me dissesse onde fica a sala de aula eu poderia chegar lá mais rápido.
— Deixe-me ver qual é a sua aula agora – disse arrancando o papel das mãos de Laura – matemática, com o senhor Robermmam, desça ate o segundo andar vire a direita, é a terceira porta a esquerda.
— Eu pensei que já estivéssemos no segundo andar – confundiu-se Laura, levando a senhorita Summer a dar uma pequena risada contida.
— Nós estamos no quarto andar, agora para de enrolar e vá logo para sua aula.
Laura nem esperou que ela terminasse de chamar sua atenção e já estava de costas para a secretaria correndo para tentar não chegar atrasada.

Logo Laura estava em frente à porta de sua sala de aula, ela já estava atrasada, não que se importasse, mas entrar na sala seria um pouco mais difícil do que ela pensou. A porta estava fechava, e sentado encostado nela, impedindo a entrada estava um garoto e ao se aproximar mais Laura percebeu que ele estava dormindo. Laura não queria assistir a aula, e aquela não seria a primeira aula que ela mataria na vida, mas ela sempre tentava parecer uma aluna “normal” nas primeiras semanas em um internato novo, ate ela descobrir o que realmente fazer para conseguir uma expulsão.
— Ei! – chamou, chutando a pé do garoto sem força – Acorda, eu preciso entrar.
O garoto nem ao menos se mexeu, continuou dormindo em frente à porta.
— Acorda garoto! – chamou mais alto e chutando o pé dele com mais força.
— O que foi? – perguntou irritado e com a voz rouca por causa do sono, mas sem nem sequer levantar a cabeça e abrir os olhos.
— Tenho aula nessa sala agora e você está na minha frente, eu preciso entrar! – Laura já estava irritada com a atitude daquele garoto.
—Você esta atrasada – repreendeu-a levantando a cabeça e olhando para ela, ele tinha olhos cinzentos, cabelos negros lisos caindo nos olhos sem nenhum corte, pele clara, que parecia ainda mais branca em contraste com o cabelo escuro, a boca era carnuda e meio opaca, a barba por fazer, ele parecia ter a mesma idade que Laura e o mesmo gosto por ironias.
— Serio? Se você não me falasse eu nem teria notado – disse sarcástica- Não sei como eu consegui viver todo esse tempo sem ter alguém ao meu lado para me dizer todas as coisas obvias.
— Se acha muito espertinha falando desse jeito, mas se fosse realmente inteligente, não falaria comigo assim.
— Meu Deus! Alem de ficar dormindo na frente da porta da sala de aula, o idiota ainda é convencido? Se esta querendo me deixar com medo de você saiba que terá morrer e renascer como o monstro do armário, talvez assim você me desse um pouco de medo – diz Laura.
O garoto se levanta, Laura repara no quanto ele é alto, a cabeça dela bate no ombro dele, ele esta vestido com uma calça jeans escura, uma camiseta preta e uma jaqueta de couro também preta por cima, mas mesmo assim dava para perceber que seus músculos eram definidos, mas não era exageradamente musculoso, usava all star e ele usava uma corrente de prata, mas a maior parte da corrente ficava escondida dentro da blusa.
— Posso não te causar medo, mas quem disse que é isso que eu quero? – perguntou sorrindo de lado – Estou satisfeito com esse seu olhar de admiração, não sei se sou tão lindo assim, mas você está quase babando.
— Estou olhando muito porque nunca vi um garoto tão idiota pessoalmente, sério quando você sair do colégio pode tentar seguir carreira no circo, você daria um ótimo palhaço, a cara de idiota você já tem mesmo, ou melhor, você podia ser uma daquelas aberrações que ficam trancadas em jaulas, já ate estou imaginando como te anunciariam: “Venham ver! Venham ver! O famoso caso do garoto que tem a cara mais idiota do planeta! E acreditem, não é só a cara que ele tem de idiota! Venham ver! Venham ver! Não percam! Só Circo dos Imbecis Voadores!”.
Ele riu de lado novamente, aquele sorrisinho presunçoso e arrogante que irritava Laura mais do que ela gostaria de admitir.
— Você é ate que engraçadinha para uma patricinha mimada – assim que falou, ele começou a analisa-la dos pés a cabeça, observando por alguns segundos a mais os olhos dela, que correspondia ao olhar curiosa – mas agora, te olhando mais, acho que nunca te vi por aqui, quem é você?
— Vai sair da minha frente se eu disser?
— Tente – disse, novamente sorrindo de lado, fazendo Laura revirar os olhos com a arrogância dele.
— Eu me chamo Laura Delarian, sou aluna nova – explicou desistindo das provocações com o garoto.
— Meus pêsames.
— Você não se cansa de fazer esse papel ridículo de bad boy e tentar me colocar medo, sou nova aqui sim, mas mesmo sem te conhecer sei como é o seu tipo, tenta se fazer de mal, mas não passa de um playboyzinho arrogante que se acha superior as pessoas, mas que no fundo só é um bebezinho tentando chamar a atenção dos pais que estão mais preocupados com o lucro da empresa do que com o próprio filho, mas sinceramente, com um filho igual a você eu ate os entendo – finalizou Laura com um sorriso de lado, tentando provocar ainda mais o garoto.
— Você não sabe o que esta falando – disse muito exaltado, seu rosto ganhando um tom vermelho de raiva, Laura sorri vitoriosa percebendo que conseguiu atingi-lo com as suas provocações, ele, vendo o orgulho inflamado dela tentou se acalmar, e depois de alguns segundos tentando recuperar o controle, ele retorna a sua expressão anterior com aquele sorriso de lado estampado em seus lábios. – Você fala superior demais para uma garotinha que chegou ao colégio pelos braços do diretor, carregada no colo dele, alguns achavam que você tava chapada, não seria a primeira vez que um alcoólatra vem estudar aqui, mas nunca ninguém entrou aqui sendo carregada pelo próprio diretor, acho que você é diferente para ele – disse dando ênfase á diferente – em qual quarto você ficou, na suíte presidencial junto com ele?
Agora foi a vez de Laura se exaltar, ela se segurou para não dar um tapa no rosto dele, ninguém nunca falara assim com ela e ela não deixaria que um completo estranho fosse o primeiro a falar.
— Você não tem direito de falar assim comigo! Se você não conhece nenhuma garota que não seja vadia, saiba que ainda existem garotas que tem algo chamado dignidade! Mas como eu posso querer que você conheça alguém assim, sendo que é obvio que qualquer um com um pouco de dignidade jamais se aproximaria de você! – terminou enfurecida e mais vermelha do que jamais estivera.
— Tudo bem então Senhora Super Dignidade – ironizou – não esta mais aqui quem falou, mas para você ter ficado tão irritada alguma verdade deve haver nisso, não é?
— Você é sempre mal educado assim ou por acaso fui premiada em algum sorteio e já ganhei sua antipatia de cara? – acalmou-se Laura, percebendo que quando mais nervosa ficava mais deixava o garoto feliz.
— Você é muita abusada Laura, se eu posso te dar um conselho diria para você deixar de ser tão metida e arrogante e começaria a ser um pouco mais humilde, se não você vai arrumar muitos inimigos aqui, e acredite em mim, você não quer ter inimigos aqui, novata – disse a ultima palavra com nojo, como se fosse um crime ser novata ali.
— A única coisa que você pode fazer é sair da minha frente e me deixar entrar na sala de aula – exigiu autoritária andando para frente, se ele não saísse da frente ela iria passar por cima dele.
— E por que deveria? – perguntou agarrando o braço com uma das mãos impedindo-a que seguisse em frente e obrigando-a a ficar bem perto dele.


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