Os Marotos e a Casa dos Gritos (HIATUS) escrita por Bianca Vivas


Capítulo 2
O Beco Diagonal


Notas iniciais do capítulo

OI, gente. Como foram de Carnaval? Eu sei que demorei um pouquinho pra atualizar, mas era porque estava viajando haha
Bem, espero que gostem.
Nos vemos lá embaixo!



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— É tão bom que Walburga tenha deixado você passar uma parte das férias conosco, Sirius — disse a Sr.ª Potter pela milésima vez desde que Sirius chegara à sua casa, na semana anterior. 

Euphemia deixou a bandeja com suco de abóbora e biscoitos em uma mesinha no quintal e voltou para dentro, sorrindo. Os quatro amigos continuavam jogando Quadribol em duplas. Sirius e Remo. Tiago e Pedro. Nem prestaram atenção ao que dissera a Sr.ª Potter e, apenas quando o estômago de Tiago começou a roncar, eles desceram da vassoura e foram comer. 

Haviam passado todo o verão daquele jeito. Jogando Quadribol e cochichando sobre o que fariam quando voltassem à Hogwarts. Tentar fazer o Mapa dos Marotos novamente ou estudar mais para se tornarem animagos... Normalmente, essas discussões se transformavam em brigas acaloradas. 

— Eu já disse a vocês — dizia Remo, sem paciência —, vocês vão morrer se tentarem se transformar agora! 

— E se a gente estiver disposto a pagar o preço? — Tiago gritava do outro lado. 

— Ninguém vai morrer — Pedro interrompia e mudava de assunto: — E se a gente tentar fazer o Mapa de novo? Talvez não tenhamos feito o feitiço direito. 

— Fizemos o feitiço direito — Tiago lembrava, revirando os olhos. 

— Talvez tenha faltado alguma coisa, algo que ainda precisamos descobrir — Pedro insistia. 

Nessas horas, Sirius ficava anormalmente quieto. Olhava de um amigo para o outro e voltava a fazer o que quer que estivesse fazendo antes. Pensava muito em Régulo, preso com a bruxa da Walburga. Ele fizera aquilo para que pudessem fazer as pazes, e Sirius estava muito grato. Normalmente, quando tinha esse pensamento, era justamente o momento o momento em que Remo e Tiago estavam se olhando furiosamente, Pedro no meio deles, tentando acalmá-los. 

Nessas horas, Sirius dava um pulo de onde estava sentado e falava com uma animação que não existia segundos antes: 

— Vamos jogar Quadribol! 

Os quatro iam então para o quintal, jogar o jogo mais popular no mundo bruxo. Não era a rotina mais emocionante de todas, mas eles acabaram se acostumando. E a melhor parte eram os lanches que a Sr.ª Potter preparava. Ela tinha se tornado muito boa em cozinhar desde que Tiago entrara em Hogwarts. Já estava cozinhando bem melhor que a pequena elfa doméstica que eles mantinham. Euphemia estava preparando comidas tão deliciosas que o Sr. Potter estava pensando em mandar a elfa para trabalhar nas cozinhas de Hogwarts, quando o ano letivo recomeçasse.  

Os meninos lancharam rapidamente e voltaram a jogar Quadribol. Tiago estava ganhando de lavada de Sirius e Remo, mesmo que Pedro fosse claramente o pior jogador dos quatro. Então, quando começou a escurecer, voltaram para dentro de casa. Como faltavam apenas duas semanas para a volta às aulas, a Sr.ª Potter não deixava mais que eles dormissem tarde, então logo após o jantar ela mandava todos eles para a cama. 

—  Não vejo a hora de voltar para Hogwarts — disse Tiago, enquanto subia para o próprio quarto. — Pelo menos lá ninguém me obriga a dormir quando eu não quero. 

— É, mas te obriga a acordar quando você não quer — Pedro retrucou, se lembrando de todos os dias em que tinha de acordar cedo. 

— Bem, pois eu prefiro passar o resto da vida acordando cedo em Hogwarts à ter que acordar tarde na minha própria casa — Sirius falou, dando língua para eles. 

Remo revirou os olhos e abriu a porta do quarto. Preferiu não tomar parte na discussão. Ele gostava de acordar cedo e amava estar em Hogwarts. Mas também estava gostando muito de passar o verão na casa dos Potter. Não todo o verão. Seus pais sempre o buscavam quando estava perto da Lua Cheia, dizendo que estavam com saudades. Mesmo assim, os dias que passara ali haviam sido mágicos.  

Depois de um tempo, as conversas cessaram. Acordaram apenas no dia seguinte, com os gritos da Sr.ª Potter: 

— Levantem, levantem, levantem! — ela repetia várias vezes. — As cartas de Hogwarts chegaram!  

Os quatro pularam da cama imediatamente e se vestiram. Desceram as escadas correndo, apenas para encontrar quatro cartas em cima da mesa da cozinha. Eram os mesmos dizeres todo ano, mas sempre os deixava animados. Significava que iriam ao Beco Diagonal comprar coisas e se inseririam novamente no mundo bruxo, do qual se afastavam um pouco durante as férias.  

A perspectiva de reencontrar Marlene McKinnon enquanto faziam compras também os deixava animados. No último ano, ela se mostrara uma amiga e tanto e conquistara a confiança de todos eles. E o carinho especial de Sirius, de quem se aproximara bastante. Os dois inclusive trocaram algumas cartas depois que o garoto chegou na casa dos Potter.  

— Eu vou mandar uma carta para Fleamont — a Sr.ª Potter ia dizendo, enquanto terminava de preparar o café da manhã. — Vou dizer para ele nos encontrar em Gringotes. 

Ao ouvir o nome do banco dos bruxos, Sirius engasgou com a própria saliva. Ele não tinha ouro próprio. Todo seu dinheiro estava no cofre dos Black e só quem podia abrir o cofre dos Black eram seus pais. Como ia comprar seu material escolar agora? 

— Não se preocupe, Sirius, querido — disse a mulher, ao perceber a cara de preocupação do menino. — Se sua mãe não quiser deixar você entrar, nós compramos  seu material escolar.  

— Obrigado, Sr.ª Potter. — Sirius ficou sem palavras de tão emocionado. 

— Agora — ela disse, passando a mão pelo cabelo do garoto —, comam! Não podemos nos atrasar! — Com um aceno de varinha, o café da manhã se arrumou na mesa e a Sr.ª Potter subiu as escadas, certamente para ser arrumar também. 

 

Quando ele estavam terminando de comer, a Sr.ª Potter desceu a escadas. Euphemia Potter estava deslumbrante. Havia perdido o ar de mãe-dona-de-casa e assumido o papel de bruxa genial que sempre fora. Vestia vestes bruxas e deixou os cabelos negros caindo sobre os ombros, sem nenhum chapéu, como algumas trouxas faziam. Tiago parou, assim como seus amigos, para admirar a mãe.  

— É bom que já tenham terminado, nós temos que ir logo se quisermos achar o Caldeirão Furado ainda vazio. — Ela reassumiu o papel de mãe enquanto empurrava o filho para a sala.  

Euphemia pegou algo numa prateleira muito acima da cabeça deles todos. Era um potinho preto de um onde ela tirou um pó muito verde. Entregou uma porção do pó a cada e guardou o último quinto para si. Então começou a dar as instruções: 

— Isso aqui é Pó de Flú — ela disse, como se fosse óbvio. — Basta jogar na lareira e dizer o nome do lugar, no caso, o Caldeirão Furado, que você vai direto para ele. Entenderam? 

Os quatro assentiram. Todos os filhos de bruxos sabiam o que era Pó de Flú. Era um dos meios mais eficientes quando se queria ir de um lugar a outro, mas não se podia ou sabia aparatar. Claro que nenhum deles nunca havia viajado através de lareiras e Tiago estava surpreso por sua mãe ter um estoque de Pó de Flú em casa. 

— Muito bem, Tiago vai na frente. E me espere lá, mocinho! — ela avisou, com a varinha apontada para o filho, que assentiu. 

Ele entrou na lareira e disse: 

— Caldeirão Furado. — Jogou o pó verde sobre as cinzas e um fogo com labaredas da mesma cor do pó e que não queimavam se acendeu. Ele então foi puxado para cima e sentiu seu corpo passar por vários lugares até aterrissar no chão imundo do Caldeirão Furado. 

Seus amigos repetiram as mesmas palavras e sentiram a mesma sensação. Assim como ele, saíram da lareira tropeçando e quase caindo de cara no chão. Apenas a Sr.ª Potter aterrissou com classe, como se fizesse aquilo todos os dias. Ela os ajudou a levantar e logo todos estavam cercados por bruxos sorridentes. 

Sirius, Tiago e Euphemia eram quase celebridades no mundo bruxo. Fleamont Potter, logo após terminar seus estudos em Hogwarts e se casar com Euphemia, decidiu tocar o negócio da família: invenção de poções úteis para o dia-a-dia. Fleamont conseguiu criar uma poção que arrumava qualquer tipo de cabelo instantaneamente. Foi um sucesso entre todas as bruxas — e até entre os bruxos. Os Potter ficaram milionários em pouco tempo e o bruxo decidiu se aposentar. O que não durou muito, já que ele não conseguiu ficar parado e decidiu começar uma carreira como auror, se destacando no departamento.  

Já Sirius era conhecido por conta do nome de sua família. Seu sobrenome era listado entre os Sagrados Vinte e Oito, um livro que listava as 28 famílias de sangue-puro no mundo bruxo. Para os bruxos, essas famílias eram uma espécie de realeza. Entre todas as 28 famílias puro-sangue, os Black eram de longe uma das mais influentes. E das mais ricas. Além de todos pertencerem a casa da Sonserina. Exceto, é claro, Sirius Black. Ele sempre atraia olhares por onde passava por causa disso. 

Assim, o grupo acabou sendo atacado pelas perguntas e gentilezas (muitas vezes falsas) dos bruxos que estavam no Caldeirão Furado. Até Tom, o estalajadeiro, parecia tratar os cinco melhor que todos os outros. 

— Odeio isso — disse Tiago bem baixinho para Pedro, enquanto apertava a mão de uma bruxa de cabelos sem vida e era obrigado a ouvir o quanto seu pai era maravilhoso por ter criado uma poção idiota. 

Pedro, entretanto, estava adorando toda a atenção que recebia. Nunca havia sido tão notado em sua vida. Começou a pensar que era uma sorte muito grande ser amigo de Tiago Potter. Além de viver coisas incríveis, tinha certo status só por estar ao lado dele. Era algo que ele nunca tivera quando era uma criança, ignorado pelos outros garotos, que o achavam estranho e desprezível. 

— Bem, temos que ir. Os meninos precisam comprar o material para Hogwarts — anunciou Euphemia para ninguém em especial. 

Ela saiu andando confiante na frente e os quatro meninos a seguiram. Euphemia tirou a varinha de dentro das vestes e apontou para os tijolinhos da parede do quintal do Caldeirão Furado. Imediatamente os tijolos desapareceram e em seu lugar foi surgindo uma passagem em forma de arco que foi se alargando. Poucos segundos depois, ela estava larga o suficiente para que eles pudessem passar. 

A passagem dava para uma rua de paralelepípedos bem estreita. A rua era ladeada por várias lojas que vendiam coisas estranhas a qualquer trouxa. Vários bruxos entravam e saíam das lojas. Muitos olhavam deslumbrados, como se fosse a primeira vez que iam ali. Havia um barulho incessante. Era o som de várias vozes falando ao mesmo tempo. O grupo estava observando o Beco Diagonal. 

— Vamos logo — disse Euphemia. — Não quero que mais nenhum bruxo nos pare para conversar e atrase a gente. — Ela parecia irritada e Tiago sabia o motivo. Sua mãe odiava atrasos e pessoas que não a deixavam fazer o que tinha de fazer. 

Eles foram andando rumo ao Gringotes — o banco dos bruxos. Deveriam encontrar o Sr. Potter ali. Passaram por vários bruxos, muitos dos quais conheciam a Sr.ª Potter e foram conversar com a mulher. Quando finalmente conseguiram chegar à entrada de Gringotes, já estavam um pouco atrasados e o bom humor da Sr.ª Potter havia ido embora. Por sorte, o Sr. Potter era muito mais compreensivo com atrasos. 

— Olá, Euphemia. — Ele de um delicado beijo na testa de sua mulher e bagunçou o cabelo dos meninos. — Olá, crianças. 

— Olá, senhor Potter — Sirius, Remo e Pedro disseram em uníssono. 

— Oi, pai — Tiago acrescentou por último. 

— Bom, então vamos lá — ele disse esfregando as mãos uma na outra. — Já resolvi tudo. Podemos ir. 

Havia um duende esperando por eles. O grupo seguiu a criatura e entrou num vagão. O primeiro cofre que pararam foi o dos Lupin. Tinha pouco ouro e Remo tirou menos ainda, o mais rápido que pôde. O vagão andou mais um pouco e logo parou. O cofre dos Pettigrew tinha um pouco mais de ouro que o dos Lupin, mas não muito mais, e Pedro tirou o que precisava ainda mais rápido que Remo.  

O vagão voltou a andar e só depois de algum tempo parou de novo. O cofre dos Potter tinha mais ouro que os cofres anteriores. Estava abarrotado. O Sr. Potter encheu três bolsinhas e entregou uma para a esposa e outra para o filho. A última guardou no bolso do terno que vestia. Quando o cofre fechou, Remo e Pedro ainda tinham os olhos ofuscados pelo brilho do dinheiro dos Potter. 

Novamente o vagão andou. Mas ele não parou tão rápido quanto os outros. Foi descendo cada vez mais fundo nas profundezas de Gringotes, para uma parte que apenas Sirius Black e a Sr.ª Potter conheciam. Então o vagão começou a se aproximar muito rápido de uma queda d'água.  

— Segurem firmes, garotos — disse o Sr. Potter, abraçando a mulher, minutos antes de passarem pela queda d'água. 

O vagão passou bem mais rápido que de costume e água caiu sobre eles, molhando todas as suas roupas. Deixou os seis completamente ensopados.  

— O que foi isso? — gritou Tiago, batendo queixo. 

— A queda do ladrão — respondeu Fleamont. 

— Ela limpa qualquer feitiço que tenha sido lançado — completou Euphemia. Então ela percebeu os meninos tremendo e tratou de tirar a varinha das vestes. — Quenterralopus. — ela apontou a varinha e todos ficaram instantaneamente quentes e com as roupas bem secas.  

— Obrigado, Sr.ª Potter — disse Pedro, que já estava batendo o queixo de tanto frio. 

A Sr.ª Potter assentiu, preparando-se para dizer que não foi nada, mas eles tinham se aproximado de seu destino. Haviam chegado a parte mais bem guardada de Gringotes. O local onde ficavam os cofres das famílias bruxas mais ricas do Reino Unido. Os meninos pararam aterrorizados antes de ver o que guardava todo aquele ouro. Pararam por conta do som que ouviram.  

Quando se aproximaram o suficiente para ver quem ou o quê emitia aquele som, eles tomaram outro susto. Acorrentado e com vários cortes pelo couro branco estava um dragão. Ele tinha escamas brilhantes que foram ofuscadas pelo tempo ali embaixo. As asas estavam furadas a ferro e fogo. Remo soltou um esgar de nojo quando viu o estado do animal.  

O duende saiu do vagão. Ele tinha um saquinho de onde tirou objetos capazes de produzir sons. Ele entregou um ao Sr. Potter e segurou outro. Quando os dois começaram a sacudir o objeto, o dragão se afastou. Ele sentia medo do som que estava sendo produzido. Então, tudo o que fazia era se encolher e permitir que os bruxos e o duende passassem. 

Chegaram na câmara interior e o duende foi até o cofre dos Black. Colocou a mão na porta. Ela se dissolveu instantaneamente. 

— Há feitiços de proteção aqui dentro — disse o duende, entrando no cofre junto com os bruxos. 

— Sim, claro que há — concordou o Sr. Potter, com a varinha acesa. — Provavelmente muito complicados de se desfazerem. O que acha, Sirius? 

— Eu? —Sirius perguntou, espantado. Quando o Sr. Potter assentiu, ele finalmente deu sua resposta. — Acho que meus pais, especialmente minha mãe, não seriam tão inteligentes.  

Fleamont riu. 

— Também acho que não. — Ele se abaixou e sussurrou algo no ouvido do garoto. — Agora é com você, filho. 

Sirius respirou fundo, tirou a varinha de dentro da veste e a apontou para o cofre. Suas mãos tremiam. Ele não acreditava que seria tão fácil ter acesso ao ouro de sua família. Mesmo que fosse para algo tão simples como comprar seus livros de Hogwarts. Mesmo assim, seguiu as instruções do Sr. Potter. 

— Finite Incantatem — ele disse o mais alto que pôde. 

Nada aconteceu. Mesmo assim, o Sr. Potter foi até um pequeno espelho prateado e o pegou nas mãos. O Sr. Potter trocou ele de mão várias vezes antes que finalmente o colocasse de volta no lugar. 

— Acho que estamos seguros — ele disse, sorrindo satisfeito. — Pode pegar seu ouro, Sirius. 

O menino andou cambaleante até umas das muitas montanhas de galeões que tinha no cofre. Pegou o suficiente para as compras. Em seguida, decidiu pegar mais um pouco, para gastar no carrinho de Hogwarts. Depois, pensou de novo, e pegou mais. Para emergências, disse para si mesmo. Mas sabia que era apenas para deixar Walburga com raiva por ter gasto tanto ouro. 

O duende então se adiantou até a porta e pôs a mão ali. A porta se dissolveu, mas antes que pudessem sair, o Sr. Potter murmurou alguns feitiços. Certamente, não queria deixar o cofre dos Black sem proteção nenhuma. Mesmo que um dragão fosse, de fato, uma grande proteção.  

Voltaram ao vagão e refizeram o caminho sem, entretanto, passar pela Queda do Ladrão novamente. Quando chegaram ao saguão de Gringotes, a Sr.ª Potter voltou ao estado alerta de antes. 

— Olha esse tanto de gente! Nunca vamos conseguir fazer todas as compras hoje — ela disse no exato momento em que pisaram novamente no Beco Diagonal. — Vamos ter que nos dividir — a Sr.ª Potter constatou, com grande desapontamento. — Fleamont, você vai ao apotecário enquanto eu vou à Floreios e Borrões. — Ela entregou ao marido uma lista com coisas que deveriam se compradas. — E vocês quatro vão à Madame Malkin comprar vestes novas. E nada de arrumar confusão! 

Os quatro meninos assentiram e nem esperaram a Sr.ª Potter terminar de falar para dispararem pelas ruazinhas, rumo à Madame Malkin. A loja, como sempre, estava quase vazia. Normalmente, as vestes eram as últimas coisas a serem compradas. Eles abriram a porta e o sino de entrada tocou.  

Madame Malkin estava atendendo alguém. Tecidos voavam por todo lugar. Ela apontava a varinha para eles, que se enroscavam no corpo magro de uma garota de cabelos negros. Madame Malkim levantou a cabeça e olhou para ele.  

— Ah, são vocês — ela disse. — Assim que eu terminar com a Srtª McKinnon, atendo vocês. — E voltou a prestar atenção ao tecido. 

— Marlene? — disse Tiago, indo para a frente da garota. 

— Tiago! — Marlene abriu um grande sorriso assim que o viu, correu para abraça-lo, contra todos os protestos de Madame Malkin. — Sirius,  Remo, Pedro! — Ela acenou para os outros três. 

 Madame Malkin olhou feio para o grupo e fez um amplo aceno com a varinha. Os tecidos começaram a se dobrar e guardar sozinhos. Ela foi até Marlene e espetou a varinha na garota. Seus olhos estavam cerrados e a boca comprimida. O maxilar tremia em desaprovação. 

— Agora que já se reencontraram, eu tenho que terminar suas vestes, Srtª McKinnon! 

As maçãs do rosto de Marlene ficaram vermelhas instantaneamente. Morrendo de vergonha, ela murmurou um “me desculpe” e voltou para o lugar onde estava. Madame Malkin terminou as vestes de Marlene o mais rápido que pôde e seguiu para a dos meninos. Como Marlene sentou para esperar os garotos, a bruxa lançava olhares furtivos para a menina. Como se esperasse que ela fosse embora. Mas isso não aconteceu. 

Do lado fora da loja de Madame Malkin, Marlene passou os braços pelos ombros de Sirius e Tiago. Estava radiante. Seus olhos brilhavam e ela exibia um sorriso muito grande. Enquanto os cabelos negros batiam nas costas e grudavam no rosto, devido ao calor, ela ia contando sobre suas férias. Os quatro Marotos também fizeram um resumo rápido sobre as tardes jogando Quadribol no quintal dos Potter. Mas nada era tão impressionante quantos  as viagens de Marlene para vários lugares do mundo. Dessa vez, eles tinham visitado a África. 

— Sabe, eu combinei de encontrar com a Lílian na Florean Fortescue — Marlene disse, soltando Tiago e Sirius e parando na frente deles quatro. — Então se quiserem ir, façam o favor de se comportar! — Marlene falava parecendo a Sr.ª Potter e olhava diretamente para Tiago. 

O menino, ao ouvir o nome de Lílian, quase se engasgou com a saliva. Seus olhos se arregalaram atrás dos óculos e sua pele foi tomando uma cor rubra. Ele começou a tossir, para disfarçar. Ele não queria encontrar com Lílian Evans e ter de ouvir sobre como o “Sev” era perfeito. Porém, uma parte bem menor dele, sentia falta da garota de cabelos ruivos que vivia lhe dando respostas mal criadas. 

— Eu sou um santo — ele se justificou, levantando as mãos em sinal de rendição. Marlene apenas estreitou os olhos. 

Continuaram pelas ruas do Beco Diagonal até chegarem a um estabelecimento nas cores azul e rosa. Havia uma placa pendurada onde se lia Sorveteria Florean Fortescue. O grupo entrou no lugar e se depararam com várias mesinhas. Algumas bruxas iam de um lado a outro. Blocos e penas as seguiam sempre — era ali que os feitiços eram guardados. Outras bruxas traziam bandejas com os sundaes, que vinham flutuando atrás delas. A maior parte dos sorvetes era montada sozinha também, mas havia um único homem que fazia tudo manualmente. E conseguia ser tão ou mais rápido que a magia. 

Marlene estava parada na porta examinando a sorveteria. Seus olhos percorriam todo o ambiente, esquadrinhando cada milímetro. Os meninos imaginaram que  estivesse procurando por Lilian e continuaram esperando. 

— Ali! — Marlene finalmente disse, apontando para uma mesa no canto da sorveteria. 

Ao seguir o dedo dela, Tiago viu uma longa cabeleira ruiva. A menina batucava os dedinhos na mesa, completamente impaciente. Os cinco correram para lá. 

— Ei, Lily — Marlene a chamou e as duas se abraçaram, como se não se vissem há muito tempo. 

Só depois de soltar Marlene que Lílian viu os quatro Marotos ali. Ela arqueou uma de suas sobrancelhas e seus olhos verdes se arregalaram um pouco. Mas ela tratou logo se esconder a surpresa e foi logo abraçando os garotos. Exceto Tiago. 

— Oi, Potter — ela disse friamente, olhando para ele de cima a baixo. 

— Oi, Lils — ele respondeu, ofendido, e retribuindo o olhar dela. 

Apenas então Tiago percebeu o quanto Lílian havia crescido nesse verão. Seus cabelos também estavam mais longos e com menos ondas. Ela também estaria bonita se toda vez que olhasse para ele, ela não fechasse a cara e torcesse o nariz. O que era um completo absurdo. Ele nem se lembrava do que poderia ter feito para deixá-la assim. Não dava nem pra aproveitar. 

— Então, Lils — Tiago interrompeu a conversa dos amigos —, onde está aquele seu amiguinho Seboso? Ele cansou de você ou você que cansou daquele cabelo oleoso? 

Ele viu o rosto de Lílian ficar da cor de seus fios: completamente vermelhos. Os olhos verdes da menina começaram a se estreitar e ela parecia contar mentalmente, olhando para o nada. Marlene lhe lançou um olhar de reprovação, mas seus melhores amigos reprimiam um riso. Quando a garota olhou para ele novamente, Tiago se arrependeu do que havia acabado de dizer. 

— Você é um idiota, Tiago Potter. — Os punhos dela estavam fechados e ela estava prestes a levantar da mesa. Tiago achou que ia apanhar de Lílian bem ali, no meio daquele tanto de gente. 

— Ei, vocês estão sabendo da novidade? — Marlene interrompeu. Ela segurava o pulso de Lílian, impedindo que a amiga levantasse. 

— Que novidade? — Sirius entrou na onda e agora olhava feio para Tiago.  

— Não quero saber de novidade nenhuma — Tiago respondeu, olhando para Sirius com grande reprovação. Se sentia traído. 

— Bem — Marlene continuou, fingindo que nenhum dos dois havia dito algo. — É algo muito secreto, sabe? Eu ouvi papai conversando com mamãe sobre isso outro dia... — ela deixou um mistério no ar e, quando viu que até a atenção de Tiago estava presa, ela continuou. — Então, vocês não podem contar para ninguém. Ok? 

— Será um segredo — disse Remo, se curvando para frente para ouvir melhor. 

— É sobre um bruxo que está se tornando muito poderoso — Marlene disse, abaixando a voz. — Papai disse que ele está recrutando pessoas com os mesmos ideais que ele, para fazer tipo um exército. 

— Qual o nome dele? — Pedro perguntou, pensando que talvez pudesse ser um dos muitos bruxos que apareciam esporadicamente no Profeta Diário. 

— Eu não sei — Marlene respondeu, meio desapontada. — Papai não chegou a dizer. Mas ele parecia realmente com nojo e com medo do bruxo. 

— Ele deve ser bem ruim mesmo pra deixar seu pai com medo — Tiago brincou, forçando uma risada, mas ninguém achou graça. 

— O que esse bruxo anda fazendo, Marley? — Lílian perguntou, fitando a mesa. 

— Tortura e mata trouxas — Marlene respondeu. A voz dela era um sussurro rouco agora. 

Um arrepio passou pela mesa. Lílian reprimiu um gritinho. Marlene continuou a falar: 

— Pelo que papai disse, ele quer tornar o mundo bruxo livre de nascidos trouxas também. 

— E tem gente que ainda segue ele? — Pedro perguntou, indignado. 

Marlene apenas assentiu. Sirius e Tiago também estava chocados e com raiva, mas nada chegava perto da reação de Remo. Ele estava pálido e pensativo. Bruxos das Trevas viviam surgindo. Eles sempre traziam consigo uma era de trevas e medo. Seu pai sempre o prevenira: se algum dia um bruxo das Trevas chegasse ao poder, ele seria ainda mais marginalizado e maltratado. 

O olhar de Remo encontrou o de Lílian. O garoto percebeu que ela estava tão pálida quanto ele. Os olhos verdes dela estavam arregalados, mas dessa vez não era por curiosidade. Mesmo em lados opostos da mesa, ele podia sentir o medo dela. Quando Lílian fechou os olhos por algum segundos, Remo soube que eles pensavam a mesma coisa: era melhor o Ministério da Magia parar esse bruxo antes que ele ganhasse poder. Ou teriam um segundo Gerardo Grindelwald no mundo. 


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Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem até aqui (mesmo que o capítulo tenha sido gigante)! Me digam o que acharam, por favoooor



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