Puxei a saia volumosa que me atrapalhava e continuei a correr em desespero. Meu rosto estava manchado pela lama e pelo sangue. Meus joelhos estavam ralados como um queijo,e meu cabelo estava mais bagunçado que um ninho de pássaros,mas eu não me importei.
Eu precisava fugir. Essa era a única coisa que eu queria. Deveria ser a única coisa que eu sabia fazer de fato.
Fugi a minha vida inteira,e eu odiava isso. No entanto eu não tinha outra escolha. Fugir,era tudo o que restava. Era a tentativa desesperada de sobreviver que me tomava.
Eu sabia que eles estavam atrás de mim. Não eram pessoas fáceis de desistir. Katherine não deixaria que seu plano fosse por água a baixo por causa de uma reles garota.
Correr por entre a floresta,fugindo de um perigo obscuro me parecia um dejávu. Parei um momento para respirar apoiando os cotovelos nos joelhos,e me arrependi profundamente disso.
Os passos eram claros para meus ouvidos atrasados. Pude ouvir suas risadas sarcásticas. Eles não estavam tentando se esconder,eles sabiam que iriam me pegar,mas também queriam me assustar. E eu não deixaria que isso acontecesse.
Por isso...eu corri. Corri como se dependese de minha vida — o que dependia —,corri como se nada fosse me parar,como se eu fosse escapar deles.
Só que isso não aconteceu.
Ouvi um uivo estrondoso,que cortou o silêncio como um raio corta o céu nas tempestades.
Olhei por sobre o ombro,em parte curiosa para saber se estavam bem atrás de mim,mas também com medo que estivessem atrás de mim.
Não demorou muito para que eu caísse outra vez. Mas desta vez,não caí no chão plano,e sim em um pequeno barranco,arranhando minha pele pálida nos pedregulhos que prendiam a terra.
De joelhos,levantei a cabeça cambaleante e pisquei tentando livrar meus olhos das manchas pretas. Devagar,minha visão passou a focar novamente.
Primeiramente olhei para um par de pernas longas cobertas por uma calça de tecido ruim. Levantei o olhar lentamente percorrendo o corpo e finalmente encarando seu rosto.
Fitei seus olhos escuros e seus cabelos loiros. Seus lábios se abriram em um sorriso prepotente.
— Desculpe bonitinha,mas você sabe demais. — ele segurou meu rosto nas mãos — Que desperdício!— lamentou com um suspiro.
Aproveitei sua distração e reuni o máximo de saliva em minha boca,cuspindo em seu rosto.
Em choque ele não se mexeu por alguns minutos. Depois,sorriu outra vez,encarando meus olhos determinados.
Segurou minha cabeça com mais força e disse:
— Acabei de mudar de ideia.
E ai eu apaguei.
********************
Acordei gritando,negando para mim mesma que aquilo era uma memória. Disse para mim mesma que aquilo era na verdade,um pesadelo. Um pesadelo bizarro e extremamente mórbido.
Eu fingi que acreditei,embora minha cabeça dissesse ao contrário.
Coloquei a mão na cabeça me recuperando das imagens que ainda preenchiam minha mente.
Fechei os olhos com força com a esperança de que isso afastasse aqueles fantasmas. Quando voltei a abrir os olhos,lá estava Damon,me olhando minuciosamente.
— Você está bem? Ouvi você gritar. Tem sorte de não termos vizinhos.
Eu ri e balancei a cabeça para cima e para baixo.
— Eu estou bem.
Ele franziu a testa e se sentou no baú que ficava no pé da cama.
— Eu não acredito nisso.
Suspirei irritada e me joguei na cama,cravando os dedos na raiz dos cabelos.
— Foi só um pesadelo — minha voz falhou,mostrando a falta de sinceridade.
Ele suspirou
— 1864? — adivinhou
Concordei,passando a mão pelos cabelos e desatando os nós.
— Você é muito sensível. Deveria saber que isso iria acontecer. Não devia ter te levado.
Me sentei novamente e balancei a cabeça nervosamente.
— Você fez a coisa certa. Isso não é sua culpa.
Ele abriu um fraco sorriso.
— Nunca pensei que escutaria essas palavras.
Eu ri e coloquei a mão em seu braço.
— Isso não tem nada a ver com a passagem da igreja. Eu acho. Mas se tiver,eu acho que minha intuição esta me avisando de algo que não sei.
Ele não disse nada, apenas apoiou a mão sobre a minha e ficou em silêncio por um longo período.
Depois sorri e me levantei.
— Vamos,saía. Tenho que me arrumar para um encontro.
Damon me olhou com desdém,enquanto eu caminhava até o guarda roupa.
— Você vai sair com o vampiro purpurina?
Rolei os olhos.
— Não o chame assim,Damon — repreendi — Seu nome é Edward.
— Grande diferença — zombou
Lhe dei um olhar feio.
— Saía,antes que eu lhe de um olho roxo.
Ele sorriu e revirou os olhos,saindo do me quarto,enquanto cantarolava uma música de amor. Eu apenas gargalhei e revirei meu guarda roupa a procura de algo bonito,mas não extravagante.
Desci as escadas já pronta e dei de cara com as fisionomias contrarias de meus irmãos.
Enquanto Stefan estava debruçado sobre seu diário,Damon andava em círculos pela sala com um copo de uísque na mão.
Não pude evitar o sorriso que se espalhou por meu rosto. Eles eram meus irmãos mais novos,minha família.
— Pensando? — perguntei enquanto Damon fazia a décima segunda volta pela sala e Stefan escrevia agressivamente no papel.
Eles me olharam atônitos,percebendo pela primeira vez minha presença. Depois sorriram.
— Na verdade,sim — falou Stefan,depois apontou — Está bonita.
Corei
— Obrigado. Vocês não deviam se estressar tanto. Tirem uma folga. Sei que os tempos veem sendo difíceis. E além do mais,eu já tenho minhas suspeitas.
— Tem certeza?
— Mas é claro que sim. Minha intuição nunca falha. Você deveria sair,se acalmar. Tenho tudo praticamente resolvido. — menti
Stefan suspirou
— Acho que você está certa.
— Elena não queria ir em uma festa escolar?
— Sim
— Então o que está esperando? Vá logo falar com ela.
Ele assentiu e depois me abraçou.
— Obrigado
Ajeitei sua camisa
— Vá logo ver Elena. Pegue seu carro que está lá parado.
Ele fez o que eu mandei. Observei sua forma sumir pela porta e logo em seguida o motor do carro rugir.
Damon se aproximou da garrafa de uísque novamente e me encarou.
— Você não tem palpite algum de quem é,não é?
Neguei
— Ele precisa se desligar um pouco. Sabe que Stefan ficaria por horas tentando desvendar isso.
Ele assentiu.
— Você fez a coisa certa . Agora é sua vez de respirar um pouco.
Franzi a sobrancelha e me aproximei dele.
— Mas e você? Não vou te deixar sozinho.
Ele balançou a cabeça e se aproximou,colocando as duas mãos no meu rosto.
— Ohh... Bella. Não se preocupe comigo. Eu ficarei bem. Vou arranjar algo para fazer,eu sempre consigo achar alguma coisa.
— Sou a irmã mais velha,é claro que me preocupo com vocês.
Ele balançou a cabeça
— Você se preocupa comigo e com Stefan a cento e cinqüenta anos!!! Algumas horas não vão arruinar o mundo.
Segurei as lágrimas idiotas que queriam escorrer.
— Agora pare com isso,essa conversa esta doce e clichê demais para o meu gosto. — ele brincou
Eu ri e logo em seguida ouvi uma leve batida na porta.
Olhei para Damon
— Vá logo,Bella.
Sorri e caminhei até a porta observando Edward com fascínio.
— Oi.
— Oi. — ele disse.
— Oi — falou uma voz atrás de mim.
Saltei assustada e olhei por sobre o ombro,encarando Damon. Eu realmente estava ficando bipolar. A menos de dois minutos eu queria abraçar meu irmão,agora eu queria lhe dar um soco.
Sem paciência,passei a mão pelo cabelo e disse:
— Edward,Damon. Damon,Edward.
Edward assentiu para Damon.
— É um prazer te conhecer.
Damon apontou para mim ,ignorando o que Edward tinha falado.
— Cuide dela purpurina.
Edward o olhou confuso e eu o fuzilei com o olhar.
Puxei Edward para longe,caminhando até a picape.
— Vamos. — falei para ele,logo em seguida gritei sobre o ombro — Tchau Damon,se comporte.
Damon rolou os olhos
— Eu vou tentar não fazer isso. — e depois entrou dentro da casa.
Suspirei
— Me desculpe
Ele sorriu
— Purpurina?
O olhei cansada.
— Damon — expliquei — Damon.
Ele sorriu outra vez e entrou dentro do carro.
Com a chave na ignição,olhei para ele.
— Para onde?
Ele deu um sorriso torto.
— Você vai ver.
********************
POV. Damon

Sempre tive tudo que eu quis. Sempre fui um bom garoto que era admirado pela família. Um bom aspirante político na sociedade. Minha vida sempre foi fácil,com luxo e regalias que apenas um Salvatore saberia descrever.
Tudo chegava as minhas mãos com facilidade. Eu sempre pensei em como seria meu futuro. Eu tinha tudo programado pelos próximos vinte anos.
Até que ela chegou.
Katherine Pierce caiu em minha vida como um meteoro. No início, era belo e brilhante com um calor de mil sóis e depois quando caiu em minha vida destruiu tudo ao meu redor. Tudo em que eu acreditava,todos os próximos vinte anos se dissiparam como se nunca houvessem existido.
Eu me apaixonei por ela. Ela era tão linda... Tão diferente. Jamais encontrei alguém como ela.
Como eu disse,para mim tudo era fácil e de repente tudo virou de cabeças para o ar. De uma hora para outra,eu estava disputando o amor de minha vida com meu irmão mais novo! Minha irmã e meu pai se voltaram contra minha amada. Eu estava só.
Hoje eu entendo que minha irmã estava certa,mas jamais admitiria. Sou orgulhoso demais para isso. Mas essa conclusão jamais fez com que eu passasse a deixar de amar Katherine. Assim como sua morte também não fez.
Depois de transformado e com o sangue em minhas mãos,Emily Bennett,a estranha melhor amiga de minha amada, fez com que minhas esperanças revivessem. Ela havia feito um feitiço para proteger Katherine ,seu corpo estava condenado a viver 150 anos em uma tumba que existia abaixo da igreja queimada. Katherine poderia ser libertada pelo sangue puro de um grande inimigo.
E era por isso que eu insistira tanto para que voltássemos a Forks.
Eu amava meus irmãos,e não queria mentir para eles. Mas Katherine era mais importante,ela era meu eterno amor.
Eu precisava libertá-la. E estava me preparando para isso quando esse maldito assassino chegou. E agora que eu sabia que ele procurava libertar ela também,eu estava certo de que deveria acabar com sua existência patética.
Meter medo em humanos? Isso era o típico trabalho de um vilão de desenhos animados. Ele não ainda não conhecia Damon Salvatore,mas eu tinha certeza de que isso não duraria por mais tempo.
Eu estava determinado a encontrá-lo e depois poder finalmente libertar Katherine. Mas eu sabia esperar a hora certa.
Ainda havia um pergunta no ar:
Quem teria o sangue necessário para libertar Katherine?
E era justamente essa resposta que eu deixaria o assassino responder por mim.
Ele viveria apenas para isso.
************************
POV. Bella
Eu sorri ao chegar antes de Edward na clareira. Já tinha uma piada na ponta da língua,algo como a sua lentidão. No entanto a bela imagem da clareira me tirou o fôlego e eu fiquei alguns minutos sem falar,tempo suficiente para Edward chegar.
Ele me encarou com diversão,brilhando ao meu lado como um diamante lapidado.
— Você gostou? — ele perguntou com os lábios em minha orelha.
Mordi o lábio,suprimindo a vontade de suspirar.
— Hummm... É lindo.
Senti seus lábios se abrirem em um sorriso e eu passei a mão nos braços,tentando inutilmente sumir com os calafrios.
— Venha. — esticou a mão— Não vamos ficar aqui parados.
Aceitei sua mão sem hesitação. E o acompanhei.
Eu sabia que a antiga Bella teria hesitado,mas não agora. Eu gostava de Edward,poderia até dizer que o amava,e tinha quase certeza de que ele sentia o mesmo. Não me importava se estava convicta que ninguém nunca me amaria,eu sempre quis isso,e eu estava chegando lá. Não iria perder um amor por qualquer coisa.
Sentei de frente para Edward,afundando na relva cheia de flores. Seus cheiros eram inebriantes,tão suaves como suas pétalas e tão diferentes como as suas cores. Elas eram realmente lindas,mas Edward ofuscava todas.
— Acho que entendo porque vocês evitam ficar no Sol.
Ele sorriu.
— Se andássemos na rua desse jeito teríamos vários problemas.
Eu ri
— Posso? — perguntei apontando para sua mão.
Ele fechou os olhos e me deu o braço.
— Seria ótimo.
Afaguei seus braços reluzentes e os virei,me maravilhando com o fraco arco-íris que projetava no ar.
— Que incrível! — exclamei admirada enquanto alisava seu braço.
Ele abriu os olhos repentinamente e fez uma careta.
— Incrível?
Dei de ombros ainda observando sua mão.
— É diferente. Nunca tinha visto algo assim antes.
— Sou um monstro não sou? — falou mal humorado
Balancei a cabeça
— Todos somos monstros Edward. Mas eu estou mais para a sombras e você,para a luz. Não vejo um monstro,talvez um anjo.
Ele riu sarcasticamente e olhou para baixo.
— Estou falando sério — disse segurando seu rosto nas mãos.
Ele me encarou,os olhos brilhando fervorosamente.
— Me diga Bella,quem gostaria de um ser assim? Quem conseguiria se apaixonar por alguém como eu?
Bufei
— Eu gosto de você. Gosto de você como é. Não precisa mudar.
Ele deu sorriso torto,surpreso com minhas palavras.
Depois,segurou meu rosto entre as mãos e disse:
— Eu também gosto de você Bella. Muito.
Apenas conseguir sorrir antes que ele me beijasse.
Nenhum de nós estava pronto para a minha resposta. Eu senti o calor queimar em meu corpo,e eu passei a mão pelo seu pescoço prendendo os dedos em seus cabelos e o puxei contra mim.
Não sei quanto tempo durou,e realmente,não queria saber.
Quando caímos na relva,com Edward abaixo de mim,nos separamos e rimos.
— Desculpe — murmurei
Ele riu passando um braço pela minha cintura enquanto afastava os meus cabelos com a outra.
— Eu realmente não me importo.
Corei.
— Então,sendo claros,não somos mais apenas amigos.
Ele sorriu maliciosamente e arqueou a sobrancelha. Eu dei um tapa em se ombro e sai de cima dele,me deitando ao seu lado.
— Se não houver problema para você.
Eu neguei,mexendo em seus cabelos cor de bronze desalinhados.
— Você é difícil garota. — ele disse gentilmente enquanto acariciava minha bochecha — Mas vale a pena.
— Então cale a boca e me beije.
Ele riu
— Vale muito a pena. — disse com os lábios a centímetros dos meus.
Então me beijou.
Ficamos assim por horas,até que meus lábios começaram a doer. Mas eu não me importei. Eu queria ficar com ele,e isso era tudo o que importava.
Por um momento,eu estava no paraíso,e desejei que ele durasse para sempre.