Primaveras escrita por Melli


Capítulo 41
Capítulo 41




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“ O tempo passou, mas tudo permanecia intacto em minha mente. O dia frio, o salão repleto de pessoas, as conversas e a música tocando no salão. Se alguém me levasse até lá hoje, saberia perfeitamente dizer como estava na noite de 26 de Junho. As pessoas riam atoa brincavam umas com as outras e tudo parecia perfeito. Perfeita estava a comida! Ainda não havia sido servido jantar quando a minha barriga começou a roncar. Eu e meus irmãos já estávamos impacientes,mas seria infantil da nossa parte roubar doces da mesa do bolo? É, seria, mas paciência não era o nosso ponto forte . Era estranho ver minha irmã em um vestido, pois não era o tipo de roupa que ela gostava de usar, mas não ficava nada mal nela. Aquele cara se aproximou de você e eu não gostei! Era como se... Ele quisesse pegar algo meu, ou melhor, algo que não era meu, mas eu assim sentia. Mas a melhor recordação que guardo daquela noite foi de vê-la descer pelas escadarias do salão. Eu jamais a vi tão radiante quanto aquele dia! Nem quando eu lhe dava um pedaço de chocolate na hora do intervalo. Algo me chamava a atenção e não era o seu vestido brilhante, mas o seu sorriso e seu olhar. De longe eu percebia o quanto estava feliz, e eu também ficava feliz por você assim estar ".

— SAGEEEEEEEEE! – Sagi desferiu uma almofadada na cabeça do irmão.

— Ai sua idiota! – E logo devolvia a almofadada, que quase fez Sagi “voar” na parede.

— Estou falando com você ha meia hora e você está aí “moscando”! Se liga, cara!

— Eu não percebi! Não precisava me bater!

— Cara, te chamamos quatro vezes, e você ficou aí deitadão no chão. O que tá se passando com você? – Saga perguntava.

— Porque me chamaram? Aconteceu alguma coisa importante?

— A mamãe saiu com a Rachel pra fazer compras então isso significa que...

— A CASA É NO... – Antes mesmo que Sagi pudesse terminar a fala do irmão, Sage se levantou do chão e foi até a porta da sala.

— Onde você vai? – Perguntou Sagi, preocupada.

— Vou dar uma volta por aí. Falou, eu apareço mais tarde.

Sábado de manhã, no mesmo instante em que ele saía de casa, eu estava na academia de ballet ensaiando para o tão esperado espetáculo de final de ano. Estávamos em Novembro, e logo iríamos nos apresentar, e ensaiar nos era fundamental para que tudo saísse como planejado. Naquele dia, na hora do aquecimento, escolhi um local na barra próxima ao espelho, que ficava em frente a vidraça da sala. De lá eu sempre podia observar o movimento fora da academia e observar como a paisagem se modificava quando o sol estava se pondo. Ok, eu não colocava tanta atenção assim no lado de fora da sala, mas gostava de ficar observando as coisas enquanto realizava exercícios na barra. A professora pediu para que o pianista tocasse a próxima música, e logo me preparei. Eu sempre tentava dar o melhor de mim, mesmo que não fosse a melhor bailarina da academia. Nunca sonhei ser como ela, mas se um dia eu pudesse ser tão boa quanto ela, certamente ficaria muito feliz.  Ela tinha todos os atributos que uma bailarina poderia sonhar. Boa era uma coisa que eu não era, mas me esforçava bastante para alcançar o meu objetivo. Sempre que eu estava dançando, eu gostava de sutilmente sorrir. O meu sorriso não era o mais belo da sala, e sempre passava desapercebido pelo olhar crítico da professora que sempre me dizia: Se expresse melhor, Amellie! Não “trave” o sorriso! Mas eu jamais conseguia entender o que ela dizia com não “trave” o sorriso. Eu estava executando a sequência como a professora havia exposto, quando ela se aproximou de mim e me corrigiu:

— Você está tensa... Relaxe os ombros. – Ela levemente passou as mãos em meus ombros, fazendo um sutil movimento. – Delicadeza nas mãos... – E lá continuava a professora a corrigir as alunas em meio ao exercício.

Eu continuava realizando a sequência, quando olhei pela vidraça da academia e Sage estava me observando por uma fresta. Senti meu rosto esquentar, e sorri para ele, que logo sorriu para mim também. Eu espero que a professora não tenha reparado que eu estava sorrindo mais do que costumava, pois certamente iria dizer isso na frente da sala e eu iria me envergonhar mais do que estava me envergonhando ao ser alvo do olhar de meu amigo. Ela poderia não saber o motivo, mas se dissesse algo referente a mim em meio a todos da sala, eu sentia vergonha.

— Amellie? – Logo quando terminamos o exercício, ela me chamou.

— Sim professora? – Me afastei da barra.

— Vejo amor em seus olhos! – Com entusiasmo, dizia a professora.

— Uuuuuuui! – Diziam os demais colegas.

— A-Amor? – Perguntei, ficando ainda mais vermelha do que antes.

— Não precisa ficar vermelha, querida! E vocês, deixem de ser bobos! Eu gostaria de ter uma câmera para registar o quão linda você ficou sorrindo! Estava curtindo a música...

— Mesmo? – Perguntei, me encolhendo toda na barra.

— Sim! O amor que está em você, é o amor pela dança, por aquilo que você está fazendo! É tão bonito quando isso acontece... Vocês deveriam seguir o exemplo dela! Deixem a música fluir em vocês! – A professora dançava entre os alunos, que a ouviam atentamente. – E vocês irão ver o quão bom é dançar sentindo a música em seu corpo.

Talvez eu devesse me sentir orgulhosa, ou entregar o mérito todo ao Sage, pois aquele sorriso foi ele quem conseguiu arrancar de mim. No fim da aula, depois de sair pela porta da academia, me deparei com ele sentado em um dos bancos de uma lanchonete que havia ali perto, e me surpreendi por ainda estar ali.

— Uoou, você por aqui! – O cumprimentei dando um beijo no rosto e um abraço.

— Estou vendo que vou ter que aparecer aqui todos os dias da sua aula. Hahaha – Brincou.

— Hahahaha! Ai... Seu malvado!

— Porque malvado? A professora te elogiou!

— Eu levei um susto quando ela falou do am... Digo... Porque você apareceu aqui hoje?

— Ah, eu estava andando aqui na rua e decidi parar aqui... Me de a sua bolsa, eu levo para você. – Ele logo a pegou.

— Está pesada por causa das sapatilhas...

— Hahaha! Eu percebi. Ei, vai fazer alguma coisa agora?

— Não... Eu pretendia ir pra casa, só isso.

— Quer tomar sorvete? Claro, se você não estiver muito cansada...

— Ah, não estou. Eu aceito!

Mais tarde, quando cheguei em meu apartamento, parecia que eu era a pessoa mais feliz deste mundo! Receber elogios para mim era uma coisa tão boa... Minha baixa auto estima nunca me deixou fazer isso comigo mesma (exceto no dia do meu aniversário) e um elogio vindo de outra pessoa parecia ser bem melhor do que feito por mim mesma. Eu tinha algo a ser notado e não eram as minhas sardas. Era natural, era por amor, era o mais lindo e sincero. Fui até o banheiro e quis observar aquilo de perto. Sorri em frente ao espelho, e pela primeira vez, eu sentia de verdade que em mim existia algo bonito. Mamãe não estava em casa quando cheguei, então pude tomar um banho demorado e ficar pensando no que um elogio tinha feito comigo. E mais do que isso, pensei também em como Sage me fizera feliz naquele dia me comprando um sorvete e me fazendo companhia em uma tarde que com certeza seria tediosa.

~ Na residência dos Yamazaki...~

— O que te deu na cabeça de sair e não dizer pra onde vai? – Preocupada, Sagi perguntava ao irmão que acabara de chegar em casa.

— É mesmo, Sage! Mamãe ficou preocupada. Ligamos em seu celular e não conseguíamos falar com você. – Saga completou a fala da irmã.

— Nossa, calma, gente... Eu só fui passear por aí. Estava com... Ah, deixa pra la... – Sage ia em direção a seu quarto.

— Não! Volte aqui... Com quem você estava? – Sagi o segurou pela camiseta.

— Com a Melli, agora me deixe subir.

— ... Tá! – Sagi soltou a camiseta do irmão e logo ele pode subir para seu quarto.

— Já era... – Saga dizia a irmã.

— Você já sabe o que está acontecendo com ele? – Perguntou Sagi.

Oi – Talvez...

Avançando um pouco no tempo, já era segunda-feira quando encontrei na escola os meus ilustres amiguinhos de cabelo cor de fogo. Na hora do intervalo, tínhamos combinado de nos sentar todos juntos, já que há alguns dias algo de estranho estava acontecendo. Sagi e Tiffany haviam me deixado sozinha na hora do intervalo, e Saga assim também fizera com Sage. Se era combinado entre eles, eu não sei, mas era algo estranho. Sagi, Saga, Sage e Tiffany estavam sentados nas mesas do refeitório onde costumávamos nos sentar, quando eu me aproximava dali.

— Ei Melli! – Sage acenava para mim. – Sente-se aqui! – Ele apontou para um lugar vago ao seu lado, ao mesmo tempo que Sagi dava uma cotovelada de leve em Tiffany, como se chamasse a atenção dela para o que estava acontecendo.

— Oiii! – Logo me sentei ao lado dele. – Desculpa a demora, gente... A fila da cantina estava muito grande.

— Ah, você demorou pra sair da sala... A cantina enche de gente rapidinho! – Sagi abria o seu lanche.

— Hum... Deveria estar conversando com alguém! – Dizia Saga com a sua cara de poucos amigos.

— Você me disse que iria tirar algumas dúvidas da prova de química... Foi isso que estava fazendo, não é? – Sage questionou.

— É, eu estava... Bem, mas e vocês, o que me contam de bom?

— Minha avó deixou eu viajar com vocês! – Tiffany, que estava quietinha, logo se pronunciou.

— Obaaa! Eu fico tão feliz por isso! É mês que vem, hein!

— Aeee Tifa! – Sagi deu um tapinha de leve nas costas da amiga.

— Ei Melli... Eu trouxe isso aqui pra você hoje. – Sage colocou em minha frente um pequeno pote.

— Ele fez pra você! Hahahaha! – Sagi não conseguia mais parar de rir.

— Não está com uma cara muito boa... Mas eu acho que você gosta.

— Aaaah o sanduíche de queijo! Obrigada Sage, não precisava se preocupar. Eu tinha comprado um bolinho de chocolate... Eu divido com você, pode ser?

— E lá vem você de novo... Não precisa repartir tudo comigo!

— Eu vou dividir com você sim, menino teimoso! – Depois de retirar a embalagem, parti o bolinho ao meio e coloquei um pedaço na mão dele.

Bem o nosso intervalo ocorria como todos os dias, quando de repente escutamos uma gritaria horrorosa na cantina.

— Eu pedi sem casca. SEM CAS-CA! – Karen empurrava grosseiramente para a senhora da cantina o sanduíche que havia acabado de pegar.

— Gente... o que é isso? – Perguntei, horrorizada com a situação.

— Estava demorando muito para ela dar pití... – Saga assistia a cena com a mesma cara de sempre.

— Por causa da casca do pão? Ah não... É o cúmulo! – Dizia Sagi, revoltando-se.

— Esse pão foi feito hoje? – E lá estava Karen causando ainda mais confusão.

— Senhorita, fale mais baixo...  Este pão me foi entregue ontem, mas... – Logo a senhora da cantina fora interrompida.

— QUE TODO MUNDO OUÇA, EU NÃO TÔ NEM AÍ! Você acha mesmo que vou comer este pão? – Karen esfarelava parte do pão na frente da senhora. –Eu não dou isso nem ao meu cachorro! – Ao dizer isso, Karen atirou o pão no chão e pisou em cima, e logo depois, saiu com cara de deboche.

— Não, gente... Ela não fez isso. – Sagi estava incrédula.

— Depois quando eu digo que merece um cassete uma menina dessa... Ninguém acredita! – Sage também estava revoltado.

— Coitada da dona Glória... Deve estar se sentindo péssima! – Eu me sensibilizava pela condição da senhora.

— O que a Karen fez não foi certo... Acho que devemos fazer alguma coisa! – Tiffany parecia ter uma ideia.

Depois que as aulas terminaram, decidimos ir até o refeitório saber mais do que aconteceu na hora do intervalo, e entender mais sobre a ideia que a Tiffany havia tido. Como todos os dias, Dona Glória estava limpando o chão do refeitório, pois a escola não estava com funcionários o suficientes para executar essa função. Há algumas semanas, muitos funcionários foram despedidos, pois a escola passava por algumas dificuldades financeiras, e juntamente com esses funcionários fora despedida a faxineira responsável por limpar o refeitório após o intervalo. Dona Glória ainda parecia magoada com o que Karen havia lhe dito.

— Com licença dona Glória... – Tiffany ia na frente.

— Sim? – Encostou a vassoura na parede.

— A senhora poderia conversar conosco um minuto?

— Mas é claro! Vocês viram o que aquela garota fez comigo, não é mesmo?

— Nós vimos! E é sobre isso que gostaríamos de conversar.

— Eu já não sei o que eu faço... Essa garota mimada é o meu pesadelo! E se eu falar alguma coisa estou arriscada a perder o meu emprego.

— Ah, a Karen é assim mesmo. – Disse Sagi. – Ela ameaça todo mundo dizendo que o pai dela vai processar e que bla bla bla.

— Então não é a primeira vez que isso acontece? – Perguntei.

— Não. Ela sempre arranja algum pretexto para não comer o que lhe entrego.

— Ela é frescurada mesmo... Uma... – Quando Sage iria soltar um palavrão, eu intervi.

— Boba! Eu também não como de tudo,mas isso é fácil de se resolver. A cantina tem uma infinidade de coisas pra comprar... Ela sabe que o pão tem casca, então faz isso de propósito, além de estar gastando dinheiro e não estando nem aí pra isso. Se ela quer pão sem casca, é fácil! É só ela tirar, ou trazer lanche de casa...

— É, a Melli está certa... – O que? Saga concordando comigo? – Ter uma condição melhor não é motivo para esnobar os outros.

— Bem, se a senhora aceitar, temos uma ideia para o problema terminar! – Disse Tiffany para a senhora que rapidamente abriu um sorriso ao propormos ajuda.

— É claro que eu aceito! Puxa, muito obrigada... E o que vocês pretendem fazer?

— Bem, Vou precisar da ajuda da senhora... Aja normalmente, como todos os dias. Ela lhe fará o pedido e a senhora dará o que ela pedir.

— Sim! – Respondeu a senhora.

— Nós estaremos com uma câmera escondida filmando tudo.  Sage, você será responsável por ficar com a câmera. Karen não se importa de você ficar perto dela, mas por favor, não deixe que ela perceba a câmera em você.

— Ok, entendido capitã! – Sage brincou com Tiffany.

— Bem, depois disso nós vamos até a diretoria e explicamos para a irmã tudo o que está acontecendo. Todos estão de acordo? – Tiffany perguntou.

— Aaaaah essa é nossa gênia! – Sagi abraçava Tiffany. – Estou de acordo!

— Eu, Sagi, Saga e você só vamos observar, não é? – Perguntei.

— Sim! Depois vocês podem ir até a diretoria levar o vídeo. Saga pode edita-lo depois... Pode ser, Saga?

— Claro, de acordo. – Respondeu.

— Tudo bem então. Amanhã nós vamos colocar o plano em ação, Tiffany? – Perguntei.

— Isso mesmo! Se você quiser, pode conversar com ela por alguns minutos enquanto preparamos tudo. Desça com ela as 9:35!

— Combinado!

— Alguma dúvida gente? – Tiffany perguntou.

— Não... – Os trigêmeos respondiam.

Balancei negativamente a cabeça.

— Eu também não tenho dúvidas! – Respondeu dona Glória. – Muito obrigada, crianças... – Ei, somos adolescentes, mas tudo bem. Hahaha!

“ Não me questiono do porque isso estar acontecendo comigo, pois é muito bom e eu gostaria que  durasse para sempre. Porque eu nunca a vi desta forma antes? O que será que deu em mim para me encantar tão facilmente por seu cabelo preso em um coque? Por um sorriso tão meigo? Talvez a delicadeza e a candura que eu encontrava toda vez que seu olhar ia de encontro com o meu. Sempre fomos tão ligados, mas eu nunca havia me sentido tão próximo a você antes. Para mim, você sempre fora como uma irmã mais nova, frágil e indefesa, mas algo mudou, se transformou. Eu jamais colocara atenção em seus olhos quando chorava, mas quando assim fiz, notei que ficavam ainda mais claros, e mais do que em você, a sua tristeza também me trazia dor. Nunca me senti tão ruim por vê-la chorar, pois era como se eu nada pudesse fazer para alegra-la. Mas de uma coisa eu tinha certeza: Você ficava linda trajando collant, meia-calça e sapatilhas e observa-la dançar certamente me trazia bons sentimentos.”

— Sage, mamãe disse pra você descer! – Saga aparecia na porta do quarto, onde o irmão se encontrava, deitado na cama.

— Eu já vou...

— Melli está com sua mãe... Vieram para o chá.

— Hm? – Logo Sage se sentou na cama. – Ela está aí?

— Sim, e trouxe  a coelha dela junto. E... Arrume este cabelo, cara...

— O que há de errado com ele?

— Arrume. Sua amiga não vai gostar de te ver assim... Bem, eu vou descer. Estamos te esperando.

Como estava frio, na maioria dos dias que o clima assim se encontrava, tia Sara acendia a lareira, e como na casa de vovó, eu me sentia muito confortável e quentinha. Nina, a minha coelha era quem tinha sorte. Tinha o pelinho comprido e uma cama quentinha, que fiz com alguns tecidos felpudos, para que ela ficasse mais aquecida. Naquela tarde, eu vestia um longo casaco que era assim como a cama da Nina: quentinho e felpudo, entretanto eu o retirei e coloquei no cabideiro próximo a porta da sala, para que não sentisse muito calor dentro de casa.

— Minha mãe não estava me deixando trazer a Nina... – Falei, acarinhando minha coelha, que estava fora de sua casinha.

— Porque? – Sagi perguntou.

— Disse que iria sujar a casa de vocês, e que a sua mãe não iria gostar.

— Ah, a mamãe não liga... – Saga também passava a mão em minha coelha.

— Gente, onde está o Sage? – Perguntei.

— Ele vai descer daqui a pouco. Estava dormindo...

— Falavam de  mim? – E logo aparecia, vestindo moletom.

Meus olhinhos brilharam, mas eu não poderia demonstrar muito minha felicidade, pois mamãe e tia Sara também estavam por ali.

— Diga boa tarde, filho! – Dizia Tia Sara, parecendo a minha mãe que também assim me dizia.

— Ah, boa tarde! – Sorriu.

— Boa tarde, Sage! Tudo bem com você ?– Perguntou mamãe.

— Estou bem sim, e a senhora?

— Também! – Logo mamãe e tia Sara voltaram a conversar.

— E aí, Melli! Muito frio lá fora? – Ele perguntou, se sentando ao meu lado.

— Você não faz ideia! Quando eu estava vindo, deu uma ventania muito forte na rua. Sorte que viemos de carro, se não...

— Ah, que bom então. Oh, você trouxe a Nina!

— Eu trouxe! Quer dar uma cenoura pra ela? Deve Estar com fome... – Tirei do bolso do meu macacão, um saquinho contendo mini cenouras.

— Posso?

— Pode! – Estendi o saquinho para que ele pegasse uma.

— Aaah, eu quero também... – Sagi se pendurou no meu ombro.

— Hahaha! Pode dar um pouquinho de ração! Você também quer, Saga?

— Não, obrigado.

— Ela está bem grandinha hein, Melli? – Sagi dizia, oferecendo uma cenoura para a coelha.

— Cresceu bastante desde que vocês me deram. E é só isso que eu lhe dou para comer... Cenoura, ração e as vezes dou um pouco de alfafa.

Nina havia crescido muito desde que eu a ganhei de aniversário. Foram os trigêmeos quem me presentearam com ela, e assim que a peguei no colo pela primeira vez, me apaixonei pelos olhinhos brilhantes e pelo narizinho “treme treme” Hahaha. Ela era branca, e em seu corpo haviam algumas manchinhas pretas, e me lembro que quando fui até o pet shop comprar suas rações, fiquei olhando as vitrines de acessórios para bichinhos e não consegui resistir a fofura dos lacinhos coloridos, e então lhe comprei uma porção deles. Vermelho, amarelo, cor de rosa... Todos eram muito bonitinhos e combinaram muito bem com a pelagem da Nina. Mas mudando o assunto, enquanto alimentávamos a minha coelha, tia Sara e mamãe foram até a cozinha. Acredito que não era para tomar o café, pois certamente Rachel o serviria na sala mesmo. Talvez tia Sara quisesse lhe mostrar algo que havia comprado, então eu não tinha de me preocupar.

— Bem, ela gosta bastante dos três e acho será muito difícil a mudança para a escola nova... – Dizia mamãe.

— Os meus filhos também reclamam da escola... Sagi diz que uma tal de Karen sempre a atormenta. Diz que  essa menina a chama de menina macho, mas quando Sagi ameaça bater nela, ela foge.

— É exatamente por conta desta menina que a Melli vai mudar de escola. Eu já fui muitas vezes até a escola reclamar desta menina, Sara... Mas nada adianta! Ela é completamente sem educação.

— Olhe... Meus filhos podem ser um pouco brutos de vez em quando, mas eu nunca deixei que faltassem com educação com as pessoas. Isso eu não permito. A Melli comentou com você sobre o que essa menina fez hoje na escola?

— Na hora do intervalo? Do pão que ela jogou no chão?

— Exatamente! Você acha que isso é coisa que se faça? Essa menina gosta mesmo de jogar dinheiro no lixo. Olha, eu te digo... Nós temos uma condição melhor, mas eu não deixo meus filhos fazerem isso não. Se um dos três fizerem uma coisa dessas... Mais eu dou uma surra, que nunca mais vão esquecer!

— Acho que ela já está mocinha, não é? Já era para entender que dinheiro não nasce em árvore...

— Leon trabalha com o pai dela, e diz que realmente a menina é assim em casa também. Ela tem o pai na palma da mão e faz tudo o que bem quer, e que é assim desde criança!

— Ela fala tão mal da criação da Melli, que se soubesse o que passamos... Não iria falar mal nunca mais.

— Sagi me diz que ela não está nem aí com ninguém, ainda mais quando se trata da Melli... Tudo porque Sage conversa bastante com ela.

— E agora os dois sentam juntos nas aulas... Essa Karen deve ficar mais irritada ainda agora. Mas que menina sem noção essa!

— Sage gosta muito da Melli... Não da nem um pouco de atenção pra essa Karen.

— Melli também gosta muito dele... Aliás, mais do que deveria.  Hahahaha! As vezes encontro no quarto dela alguns papéis com poemas que ela escreve pra ele.

— Jura? Sage nunca trouxe um pra casa...

— Ela não tem coragem de os entregar...

~ enquanto isso, na sala...~

— Bem... Está aqui o café de vocês! As senhoras estão na cozinha conversando. – Rachel deixava sobre a mesa de centro da sala uma bandeja grande.

— Valeu, Rachel! – Diziam os trigêmeos.

— Obrigada! – Eu também agradeci. – Ei gente...

— Hm? – Sage logo avançava sobre o bolo de chocolate.

— Vocês acham que o plano de amanhã vai dar certo?

— Eu acho que sim. Tiffany teve boas ideias, então acho que não falhará! – Sagi também logo agarrava um pedaço de bolo.

— Eu espero que de certo... Karen precisa aprender a lição!

No outro dia na escola, quando o sinal do intervalo soou, eu logo me aproximei de Karen para conversar, assim como Tiffany me pediu. Entretanto, eu não sabia o que dizer. Elogiar suas meias novas? Não, eu acho que isso não. Elogiar o uniforme? Não, todo mundo veste a mesma coisa. Rápido Melli, o tempo está passando! Quando ela estava quase descendo as escadarias, rapidamente corri em direção a ela e as amigas, que seguiam em minha frente, mas algo deu errado. O corredor estava molhado, e eu não havia visto o aviso de piso escorregadio, e você já deve estar imaginando onde é que fui parar. Bem, pelo menos consegui chamar a atenção dela.

— Ah, mas não é possível... – Ela olhou para mim, caída no chão.

— Er... Oi?

— Será que você é cega, garota? Não viu que o chão estava molhado?

— Não, eu não vi... Eu estava... Querendo falar com você!

— Porque? Decidiu ir a festa? Você não vai se arrepender, eu tenho certeza!

A aquela altura, eu já não sabia mais o que dizer, então comecei a perguntar sobre a festa.

— Bem, a que horas ela começa? – Me levantei do chão e arrumei o meu uniforme.

— As nove. Se você quiser, mando a limousine te buscar  as nove e dez.

Olhei para o meu celular, e percebi que eram nove horas da manhã e trinca e cinco minutos. Desci com Karen até o refeitório.

— Ah... É? Desculpa perguntar, mas o que você vai comer hoje? Eu estou de dieta, e minha nutricionista me disse para comer coisas com baixa quantidade de gordura, e eu sei que a sua dieta é perfeita!

— Garota, você está estranha hoje... Vou comer um sanduíche light de peito de peru, se é que aquela incompetente da cantina tenha aprendido o jeito com que EU quero o meu sanduíche.

— Hmm, entendi. Bem, eu vou indo. Preciso ir ao banheiro! E não vou a festa, tchaaau! – Corri em direção ao banheiro que ficava no refeitório.

— Caipira idiota...

Quando passei por perto de Tiffany, ela já sabia que Karen estava vindo. Logo que a mimada entrou na fila da cantina, Sage entrou atrás dela e a essa altura a câmera já estava ligada e posicionada corretamente. Depois que saí do banheiro, fiz como todos os dias: Me sentei junto a Saga, Sagi e Tiffany na mesa mas é claro, nós escolhemos uma mesa onde pudéssemos observar toda a ação acontecendo.

— Espero que hoje o pão esteja sem casca e do jeito que eu gosto! Vou querer a mesma coisa que ontem! – Karen, com todo o seu jeito esnobe assim pedia.

— Gente, ela vai pedir sanduíche! – De longe, comentei com meus colegas na mesa.

— Vish... É hoje! É hoje que a Karen leva um fumo! – Sagi dizia, olhando em direção a cantina.

— Vamos disfarçar, se não ela olha pra cá e nos vê espionando! – Tiffany avisou.

— Senhorita, o que tem pra todo mundo tem pra você também... – Dona Glória logo entregou a ela o sanduíche assim como todo mundo recebia.

— Como assim? Eu espero que a senhora saiba com quem está falando! – A essa altura, todos na fila já deveriam estar olhando para ela, e Sage filmando tudo.

— Eu espero que a senhorita saiba que aqui ninguém é privilegiado!

— A senhora vai tirar a casca desse pão! – Karen desesperadamente desembrulhava o sanduíche. – Ah não... ISSO AQUI TEM MAIONESE? ACHA MESMO QUE VOU COMER ESSA PORCARIA?

— Senhorita... Se controle, por favor! – Dona Glória mantinha a calma...

— Eu já estou FARTA! Farta de VOCÊ e dessa escola imprestável! – Karen jogou o sanduíche na roupa de dona Glória.

La da mesa, nós estávamos pasmos com a atitude dela, mas felizes porque tudo ocorreu perfeitamente, e mais perfeito até do que esperávamos! Na aula de informática, Saga editou o vídeo sem que o professor percebesse, e ao final das aulas, fomos até o gabinete da diretora com o vídeo salvo em um pen drive. Achamos melhor que todos nós iriamos entrar, pois todos estávamos cansados das coisas que a Karen fazia.

— Podem entrar! – A porta estava aberta, e então logo entramos. – No que posso lhes ajudar?

— Bem... Certamente a senhora já deve ter recebido algumas reclamações da nossa colega de sala, a Karen. – Tiffany tentava explicar da maneira mais clara possível a situação para a diretora.

— Sim, está certa. Ela está aprontando alguma coisa?

— Eu... Não sei bem como explicar para a senhora... – Tiffany começava a ficar um pouco embaraçada.

— Ela humilhou a funcionária da cantina, e pela conversa que tivemos com a própria, não foi a primeira vez que a Karen  fez este tipo de coisa. – Saga explicava a situação.

— Vocês viram? – Perguntou a diretora.

— Sim, inclusive gravamos tudo! – Sagi entregou o Pen drive com a filmagem.

— Bem deixem me ver... – Imediatamente a diretora colocou o vídeo em seu computador.

— A senhora pode ver, não estamos mentindo! – Tiffany dizia.

— Puxa... – A diretora analisava o vídeo com uma expressão não muito boa. – Bem, eu agradeço a vocês pelas provas. Podem ter certeza que estarei tomando as devidas providências.

— Ok. – Tiffany concordava.

— Vocês estão dispensados. Precisando de mais provas, lhes chamarei. 

— Obrigada pela compreensão, irmã. Com licença.

Logo que nos retiramos da sala, eu pensava no que poderia acontecer com a Karen, mas torcia mesmo para que ela fosse expulsa, pois assim eu não precisaria me mudar de escola, e poderia ficar perto de meus amigos para sempre! Entretanto, eu também pensava na possibilidade de a diretora nada fazer, assim como acontecia quando mamãe ia até a escola para conversar com a diretora. Mas uma coisa é certa: Karen é uma menina mimada, a qual o pai a protege desde que era criança. Pelo que eu ouvi dizer, a mãe sempre quisera impor mais limites para ela, entretanto, o pai sempre desfazia as regras que a mãe impunha para a filha. Então não me surpreende que a filha ainda na adolescência chore para ganhar algo que quer, e não se esforça muito para que isso aconteça. Se ela quer algo, tem de ser feito agora,pois um minuto a mais já não lhe interessa mais. Acho que seus pais não lhe deram respeito, e assim como a filha, também se acham o dono de tudo e todos, e quanto mais deixarem uma pessoa para baixo, para eles é melhor ainda. Eu poderia dizer que isso é coisa de gente endinheirada, mas com os trigêmeos é totalmente diferente, e digo mais: Eles foram criados na ausência do pai. Digo, Saga morou com o pai na infância, mas não com a mãe. Isso quer dizer que muitas vezes a criação dos filhos está acontecendo de forma errada, e mesmo com um pai ausente, os trigêmeos sabem respeitar as pessoas, isso quando não estão com raiva. São boas pessoas, e jamais precisaram humilhar alguém para se sobressaírem.

— Eu só quero ver a cara da Karen a hora que estiver levando uma fumada! – Sage comentava, enquanto nós quatro seguíamos andando para casa.

— Nós não veremos, Sage... Se ela levar bronca, a diretora não vai nos chamar. – Falei.

— Mas eu queria ver, só pra saber com que cara a idiota iria ficar!

— Eu quero saber mesmo, é se ela vai ser expulsa! – Sagi também gostaria de vê-la fora da escola, assim como eu.

— Ela nunca me fez nada, mas ela me irrita. – Saga também colocava sua opinião a respeito da Karen.

— Acho que de nós quatro, a vítima preferida dela é a Melli... – Dizia Sage.

— Hahaha! Acho que não é novidade pra ninguém o quanto ela gosta de me atormentar, e eu me pergunto o porque...

— Ela quer te tirar do Sage. Não tem outro motivo a não ser esse! – Sagi me respondeu. – Ela gosta dele e não gosta de te ver perto.

— Mas ela que se dane, porque eu a odeio!

— Gente... eu vou contar uma coisa para vocês.

— O que é? Pela sua cara, não é coisa boa... – Sagi olhava para meu rosto.

— Eu acho que vou mudar de escola... Ano que vem não estarei mais na Red Roses com vocês.

— Nos diga para onde vai, que iremos junto! – Com grande empolgação, Sage assim disse.

— Verdade? A mãe de vocês não se importa de troca-los de escola?

— Se ela for contra, nós fazemos a cabeça dela! – Disse Sagi.

Mais tarde, lá em casa, assim que cheguei, mamãe me disse que havia ido até a escola para conversar com a diretora. Haviam poucas semanas de aula, então mamãe resolveu que não poderia mais adiar sua conversa com a diretora. Explicou então que eu não iria mais estudar na Red Roses, e explicou todos os motivos que a fizera não me matricular lá no ano seguinte. Eu já estava farta da Karen, é verdade e não somente eu como também os trigêmeos, Tiffany e mais outros colegas que também estudavam no colégio hipócrita que dizia ser contra o bullying, mas os próprios professores não sabiam colocar em prática o que aprenderam. Eu nunca falei disso, mas alguns professores acabavam fazendo brincadeiras que magoavam os alunos, principalmente aqueles que não conseguiam boas notas. Eu sempre escondi este fato da minha mãe até o dia em que eu não consegui fazer uma tarefa e chorei por isso. As brincadeiras ficavam ainda pior quando os colegas de sala participavam, reforçando ainda mais as brincadeiras sem graças de alguns dos professores. Entretanto, no ensino médio isso não era tão frequente acontecer, mas quando mamãe foi até a diretoria, foi como ela desabafasse por todos os anos em que estudei ali, sem contar é claro com a Karen, a rainha do chilique e da maldade. Mamãe contou tudo o que eu passava em suas mãos. Eu era tratada como uma anormal, e a lista de nomes os quais ela me chamava era imensa, mas não me cabe retomar. Mamãe me disse que a diretora ficou sem graça quando ela disse que eu sairia da escola. “ Ela fez uma cara como quem não quisesse que você saísse de la”, mamãe comentou. Claro, eu estou pagando para estudar, enquanto cada vez mais ela está enriquecendo. Bem, mudando um pouco o assunto, acabamos descobrindo que Karen não foi expulsa da escola por o que fez, mas pegou alguns dias de suspensão. Isso não revoltou só a mim, como também os trigêmeos, que assim como eu esperavam que ela fosse expulsa.


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