Primaveras escrita por Melli
E você deve se perguntar o que eu fazia nos meus quatorze anos... Tudo o que uma menina de quatorze anos não fazia! Haha! Nessa época, as meninas da minha sala adoravam fofocar quando o professor ainda não tinha entrado na sala de aula. E eu... Ficava apensas rabiscando coisas no meu caderno, ou jogando jogo da velha e batalha naval com a Tiffany. Mas sempre tinha algo na conversa das meninas que me chamava a atenção: Sempre estavam falando a respeito de baladas, ou de meninos com quem “ficavam” em tais festas. Eu ainda custava a entender o que significava ficar com uma pessoa, pois pra mim não era certo você beijar uma pessoa em uma noite e no outro dia nem mais saber da existência dela. Nessa época eu era feliz, não nego. Assistia desenhos na tv, e acreditem se quiserem: Eu ainda brincava de boneca. É verdade! Qual é o problema? Mamãe também não via problema nisso, e como ela mesmo diz “ Prefiro Ver você brincando com as bonecas de mentira, do que arrumando uma boneca de verdade” Isso me deixava com um pouco de medo, porque eu entendia o sentido da frase. Eu me espantava ao ver que algumas meninas da minha idade já tornavam-se mães, por isso eu não tinha pressa em arrumar um namorado.
— Ai! A festa vai bombar! – Dizia uma das meninas da minha sala.
— E como, amigaa! Vou ficar com o Nícolas na festa!
— Que Nícolas? Você não tinha me falado desse!
E elas começaram a cochichar e olhar para mim e para a Tiffany.
— Eu queria entender... – Me debrucei sobre a carteira.
— O que? – Perguntou a minha colega– Porque essas meninas ficam tanto de fuxiquinho? Devem estar falando da gente, só pode!
— Pois é, queridas... Se querem ser populares, deixem de ser crianças. Cresçam! – Karen se intrometia em nossa conversa.
— Quem te chamou aqui hein, Karen? Vai lá com suas amigas crescidinhas, vai... – Respondi a ela.
— Hahaha! Sinto a tua inveja de longe, querida...
— Aaaah, como eu sinto inveja de você! De você e dessa sua independência! Se diz tão crescida, que o papai ainda vem trazer e buscar da escola....
— Puxa Karen, ela tem razão... – Disse uma das amigas dela.
— Você está do lado de quem? Cala a sua boca, hein! É pra isso que servem os motoristas, Melli... Ai como você é desmiolada!
— Sai daqui vai, Karen... O professor está chegando, vai sentar e me deixe em paz.
Quando eu estava no primeiro ano do ensino médio, outra coisa que era super comentada pelas meninas era sobre o tão sonhado aniversário de 15 anos. Vestidos de princesa, doces e bolos decorados, e claro que não poderia faltar a pista de dança com as músicas mais tocadas do momento. Eu também pensava na minha festa, não vou negar. Na minha mente, eu me imaginava descendo de uma escadaria a qual era enfeitada por flores como rosas, astromélias, lírios... Enquanto isso, todos os convidados me olhavam adimirados ao me verem trajando um vestido esvoaçante e delicado. Estaria linda! Eu dançaria valsa com meu pai a meia noite, e ele me presentearia com um lindo anel brilhante. Ah... Sonhar não custa nada, não é?
— Tiffany, você já fez quinze anos? – Enquanto sentávamos no banco do pátio na hora do intervalo, eu perguntava.
— Não, eu ainda tenho só quatorze. E você?
— Também tenho quatorze. Que dia você faz aniversário?
— Dez de Julho. Vai demorar um pouco ainda. Haha!
— Pois é... Você vai fazer uma festa?
— Talvez... Eu penso em viajar também. Vamos ver o que vovó pensa sobre as minhas ideias. Você pensa em fazer uma festa?
— Pensar, eu penso... Mas acho que não temos dinheiro pra fazer uma festa bonita...
— Ah, mais o que importa é que você vai estar com seus familiares...
Oi – Puxa... isso faz sentido. Vou conversar hoje com a minha mãe... Talvez podemos entrar em um acordo!
Depois da aula, eu estava ansiosa para conversar a respeito do assunto com minha mãe, afinal, seria a minha “noite de princesa”! Um dia que eu iria me sentir bonita, especial... Um dia em que eu iria me sentir como uma jovem de 14 anos, e não como uma criancinha. O tempo estava passando, e eu estava me tornando mulher. Nossa, mais já? Não me diga isso, hahaha! Queria ficar pequenininha pra sempre. Brincar de esconde-esconde no jardim do apartamento de noite, andar de patinete, brincar de barbie...Seriam coisas que eu sentiria muita falta, e não queria perder isso. Eu continuava “criançona”, se assim eu poderia me chamar. Saltitava, ria sozinha, fazia graça, e pra mim isso não significava ser criança, e sim ser feliz, porém para os meus “queridos colegas” eu ainda era uma criança. Porque? Simplesmente pelo meu jeito alegre, tímido, e acima de tudo, porque eu não havia dado o meu primeiro beijo ainda. Quer Saber? Que primeiro beijo o que? Eu quero ser feliz! Escutar as músicas do Justin Timberlake no rádio todas as noites, estudar para as provas e assistir aos filmes do Harry Potter. E se para elas isso não era sinônimo de ser feliz, pra mim era.
— Ah, eu estava mesmo pensando nisso! – Mamãe se referia a minha festa de 15 anos, a qual eu havia acabado de comentar.
— Podemos fazer? Diz que sim, pr favor... Todas as meninas da sala estão fazendo...
— Vou ter que conversar com seu pai, Melli... Não posso tomar nenhuma posição até falar com ele.
— Tá. E quando é que ele chega?
— Amanhã! Mas eu posso conversar hoje mesmo com ele...
— Isso! Faça isso hoje, por favor, por favor, por favoooor!! Eu quero muito uma festa...
— Eu sei! Hahaha! Tenha calma. Conhecendo o seu pai, acho que ele não vai negar a você uma coisa dessas, a não ser que a situação esteja muito ruim mesmo.
— Eu espero, mãe! Mas sabe... Eu não quero nada exagerado como a Karen que entrou na escola sentada em um cavalo e jogando convites do seu aniversário. Quero algo pra família, para amigos... E aquelas pessoas mais próximas.
— Gosta de esbanjar dinheiro essa tua amiga, não?
— Mãe, ela não é minha amiga... E... O pai dela tem dinheiro, e parece que quanto mais ganha, mais ela quer esfregar na cara dos outros.
— Mas que menina arrogante!
— Arrogante é pouco. É metida, grossa e esnobe! As vezes eu penso em não ficar mais lá na Red Roses...
— Porque, minha filha?
— Por causa dela! Eu poderia simplesmente ignorar, mas não gosto de conviver com esse tipo de pessoa.
Oi – Hmm... Isso é mesmo péssimo.
Mais tarde, quando papai chamou minha mãe no skype, ambos conversavam. Eu não estava perto, mas abaixei o volume da TV só para ouvir a conversa dos dois. Nem venha dizer que é coisa feia! Eu tinha um bom motivo para fazer isso, e eu estava tão ansiosa pela resposta de meu pai, que eu estava até mesmo perdendo um capítulo das superpoderosas. Não me contive, e fui até o quarto dos meus pais, onde mamãe estava sentada em cima da cama e segurava o notebook em cima das pernas. Ela estava com a web can ligada, e eu meio que enfiei a minha cabeça na frente da minha mãe.
— Oi paaaaaai! Tuuuudo bem? – Perguntei.
— Tudo sim, filhota. E aí? Estudando direitinho? Se comportando...?
— Claro, pai! Como sempre!
— É verdade, mãe? – Ele perguntava para mamãe.
— É sim! Melli tem se esforçado bastante para as provas! Ela está aqui em cima porque quer te perguntar uma coisa...
— Diga... – Papai dizia, enquanto tomava uma xícara de café.
— Pai... Eu tô com quatorze anos, né... E eu...
— Ela quer uma festa de quinze anos! - Mamãe "roubou" a minha fala.
— Puxa.... – Ele coçava a cabeça, com um ar preocupado.
— Você concorda, pai?
— Bem, nós podemos fazer alguma coisa sim....
— OBAAAAAAA!! – Dei um pulo em cima da cama dos meus pais, e berrei tão alto que todo o condomínio deve ter ouvido.
— Nós vamos fazer o possível para a sua festa ser linda! E pode deixar que eu fotografo a festa. – Disse papai, do outro lado da tela.
— Sorte a sua de ter um pai fotógrafo!
— Ahh verdade! Alegrou meu dia! Obrigada, pai! Amanhã você vem, né?
— Venho sim, filha... Vocês me encontrarão no aeroporto, certo?
— Sim! Iremos pra lá as nove da manhã!
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