Primaveras escrita por Melli


Capítulo 32
Capítulo 32


Notas iniciais do capítulo

Nota 1: bras bas (lê-se bra bá) -> Posição executada pelo bailarino, em que seus dois braços arqueiam-se, e suas mãos encontram-se baixas, próximas as coxas.



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Bem, a vida sem os gêmeos não estava sendo muito legal, mas eu estava aprendendo a ser forte, como diria mamãe. O meu intervalo não era o mesmo desde que foram embora. Eu olhava para as árvores onde costumávamos nos sentar, e parece que eu via Sagi e Sage ali... Rindo e comendo um pacote de batatinhas. Eu queria muito me isolar, passar o intervalo sozinha, porque não queria apagar as lembranças que deixaram em mim, e também porque eu acho que ninguém suportaria ficar me escutando falar dos dois o tempo todo.

No ballet, cada música triste tocada no piano era um tormento pra mim. Eu não poderia chorar na frente de todo mundo, pois iriam pensar que eu era uma boba, fraca ou que eu simplesmente estava ficando depressiva. O tempo tinha passado, mas eu ainda me lembrava do que minha mãe havia me dito sobre ser forte e então, parece que passei a realizar minhas sequências na barra com mais desenvoltura. Eu não mais olhava para o chão como costumava fazer. Agora olhava para frente, e executava os movimentos da forma mais graciosa possível. Eu sentia a presença de meus amigos ali, era como se eu estivesse dançando para eles. Por vezes eu até fechava meus olhos e os via sentados ali. Meus coração ficava apertado e meus olhos enchiam-se de lágrimas. A sequência findava-se, e eu a finalizava-a com um bras bas¹, e com o pescoço levemente direcionado para a minha diagonal.

— Muito bem, meninas! – Parabenizava a professora. – Ótima sequência, mesmo com alguns erros.

Limpei meus olhos querendo esconder as lágrimas, mas a professora olhava para mim a todo momento. Talvez eu tenha sido descoberta. Ao final da aula, quando todas as meninas dirigia-se para os armários, a professora pediu para que eu ficasse na sala, pois queria conversar comigo.

— Oi professora! Queria conversar comigo? – Perguntei.

— Sim! Eu tenho notado que a sua desenvoltura melhorou muito nas aulas. Está mais concentrada, sua postura tem melhorado bastante, está mais elegante....

— Obrigada professora! Eu tenho tentado melhorar...

— Está conseguindo, querida! Continue se esforçando. Tem feito um ótimo trabalho!

— Puxa... Obrigada mesmo... – Respondi, um pouco sem graça.

— Eu também queria conversar  sobre outro assunto com você. Enquanto fazia as sequências na barra, percebi que você chorava. Por um acaso se emociona com as músicas da aula?

— P-pois é... Me desculpe, professora...

— Não tem porque se desculpar! As músicas são feitas para que a nossa alma também possa dançar, Melli! E eu percebo que as músicas realmente te tocam... É uma menina muito sensível!

— Bem, eu agradeço mesmo, professora. Fico feliz de estar me saindo bem nas aulas.

— Continue se esforçando!

— Tá! Professora, eu preciso ir agora.

— Tudo bem! Até a próxima aula!

— Até!

Me despedi da professora com um abraço, retirei minhas coisas do armário e esperei em frente ao estúdio até que minha mãe me buscasse. Nessa época, eu estudava de manhã na escola, de tarde resolvia as tarefas da escola, assistia Tv, e de noite, por dois dias da semana eu tinha aulas de ballet na turma intermediária. As coisas começavam a ficarem um pouco mais difíceis no ballet, mas eu me esforçava para acompanhar a turma, já que fui transferida para ela há pouco tempo. Por vezes em casa me alongava, treinava passos, e eu começava a perceber que aquilo estava mesmo me ajudando.

~ Em casa... ~

— Um acampamento de verão? – Perguntei, enquanto via o folheto de tal acampamento.

— Vai poder descansar, filha... Encontrar outras pessoas da sua idade, fazer novos amigos...

— Eu não me animo muito pra isso... – Fechei o folheto e o deixei em um canto do balcão da cozinha.

— Porque? É por causa dos seus amigos? Ah minha filha, tente esquecer. Você não pode sofrer pra sempre com isso. Está fazendo quase um ano que eles foram embora.

— É por isso mesmo que estou mal.

Era difícil eu deixar pra lá o fato de que foram embora. Mesmo depois de um ano, eu ainda pensava neles, não todos os dias, mas quando isso acontecia, eu ficava triste por um bom tempo.

— Você não tem outros amigos na escola? – Mamãe perguntou, ajeitando os pratos em cima do balcão para que pudéssemos jantar.

— Ah, eu tenho conversado bastante com a Tiffany. Aquela menina que vai muito bem em todas as matérias.

— Que bom! Chame ela pra vir passar a tarde aqui qualquer dia...

— Se ela não estiver estudando... Mas acho que ela tem um tempinho pra vir aqui sim.

~ No outro dia... na hora do intervalo...~

Oi – Eu adoraria ir até a sua casa, Melli! – Dizia Tiffany, sentada ao meu lado no banco do pátio.

— Mesmo? Puxa, vamos passar uma tarde bem agradável!

— Mas é claro! Eu posso levar alguns jogos?

— Pode sim, só que... Só tem a mamãe pra jogar com a gente. Hahaha!

— Não tem problema! Se ela gostar de jogar... Ei, você gosta de framboesa?

— Pra falar a verdade, eu nunca comi. Porque?

— Minha avó fez geleia de framboesa, mas temos muita lá em casa, e não vamos comer tudo. Eu posso levar?

— Pooode! Vou pedir pra mamãe fazer uns lanchinhos bem gostosos!

— Hahaha! Não precisa se incomodar não, Melli!

— As visitas merecem ser bem recebidas!

— Hahaha! Tudo bem. Tem mais alguma coisa que você quer que eu leve?

— Eu acho que é só isso.

Depois da aula, eu estava bem ansiosa pra receber a Tiffany em casa. Nosso apartamento não era tão grande, por conta disso, a nossa cozinha era separada da sala apenas por um balcão, onde fazíamos nossas refeições. Por conta disso, mamãe resolveu arrumar a mesinha de centro da sala com as guloseimas, e acho que seria mais legal sentarmos no chão. Haha! Eu estava no quarto arrumando alguns livros em minha escrivaninha, quando a campainha tocou.

— Tiffany! – Saí correndo em direção a porta, mas mamãe havia chegado primeiro.

— Olá! Você é a Tiffany, certo? – Mamãe estava na porta.

— Sim! – Respondeu sorrindo, a simpática garota.

— Pode entrar! Melli está... Ah, olha ela aqui!

— Oiie! Venha, entre! – Segurei-a pela mão.

— Puxa, seu apartamento é muito bonito! – Ela olhava para todos os cantos, admirada.

— Obrigada! É um pouco pequeno, mas ótimo para três pessoas morarem!

— Bem vinda a nossa casa, Tiffany! É um prazer recebe-la. Eu sou Elizabeth, mãe da Melli. Fique a vontade e sinta-se em casa!

— Obrigada, senhora! Estou muito feliz de poder vir aqui. Ah, minha avó mandou um pouco de geleia de framboesa. Espero que gostem. – Tiffany entregava uma sacolinha com um pote de vidro dentro.

— Olha, mas que beleza! – Mamãe espiava o pote dentro da sacola. – Eu adoro doces assim. Nos faz lembrar lá da fazenda... Não é, Melli? A vovó costuma fazer doces assim.

— Ah, é verdade! Vó Savannah faz uns doces muito gostosos. Um dia que ela fizer, vou levar na escola pra você experimentar.

— Você morou em fazenda? – Ela perguntava, se sentando no sofá.

— Sim! Passei parte da minha infância lá.

— Eu também morei! Mas hoje moro em uma casa.

— Seus pais tiveram que vender a propriedade? – Perguntei.

— Não... Na verdade eu não sei onde estão meus pais. Eu moro com a minha avó.

— Puxa... Me desculpe.

— Ah, não se preocupe! Eu não deixo de morar com minha vózinha por nada! Nem se meus pais aparecessem um dia...

— Bem... Você quer um pedaço de bolo de cenoura? – Tentei pular para outro assunto.

— Ah, eu aceito!

— Pode pegar! - Apontei para a bandeja, no meio da mesinha de centro.

— Obrigada! Humm... – Ela mordia um pedaço. – Muito bom!

— Gostou? Foi minha mãe quem fez.

— Está muito gostoso o bolo da senhora, Elizabeth!

— Ah, é uma receita nova que eu peguei com uma amiga. Pode me chamar de Liza, se quiser.

— Ok!

— Pegou com a tia Sara, mamãe?

— Sim! Ela me mandou por e-mail.

— Puxa Melli... Sua mãe é muito legal. Queria ter uma mãe como a sua...

— Sua vovó não é assim?

— Não muito... Ela me faz estudar na maioria do tempo.  Ou se não, ficar trancada em casa junto com a babá. Nem sei como me deixou sair hoje.

— Nossa... Mas você precisa sair de casa pra distrair um pouco...

— Se a Melli não sai, ela tem um surto. Hahaha! – Mamãe brincava.

— Pior que é! Hahaha! Vou levar você pra passear comigo, Tiffany! Vamos qualquer dia no cinema... Você gosta?

— Eu adoro cinema! Podemos combinar de ir qualquer dia sim!

Nossa tarde acamou sendo muito mais do que esperávamos! Conversamos bastante sobre fazenda, doces, escola ... Percebi que eu tinha muito em comum com ela do que imaginava! E  é claro, conversamos sobre a chata da Karen, porque assim como eu, a Tiffany também era o alvo da chatonilda, não por ter morado em uma fazenda, mas por ser a mais inteligente da sala. Foi aí que comecei a pensar: Se ela implica com a Tiffany por conta da inteligência dela, Karen só pode ter inveja, então. Pronto, eu havia descoberto a fraqueza da menina mais metida da sala. Mas o que faria eu para que a chata não fizesse nenhuma vítima mais?


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