Já passava das duas da madrugada e eles ainda estavam ali, os três, sentados na ampla sala de espera do hospital.
Hades e Perséfone estavam mais afastados de Thalia, deixando-a sozinha por um tempo para não se sentir sufocada pelos mais velhos. A garota que ainda deixava algumas poucas lágrimas descerem pelo seu rosto, enquanto a cena do carro se repetia várias vezes em sua mente; As mãos de Nico frias na sua, seus olhos negros perdidos enquanto a olhavam atentamente e um último aperto em sua mão antes dos seus olhos se fecharem novamente.
Ela não queria pensar na morte do rapaz, mas parecia ser algo impossível, então Thalia apenas se deixou levar pelos maus pensamentos. Estava presa em seu pequeno e doloroso mundo, longe demais para pensar e agir como uma pessoa normal naquele instante.
Mais afastados de Thalia estavam Hades e sua nova namorada. O pai do menino, assim como Thalia, não queria pensar na morte do filho e se a mesma já tivesse acontecido naquela noite, nesse momento, Hades Di Angelo estaria lastimando por não ter passado mais tempo com seu único filho homem. E mesmo não sendo um homem religioso ou de muita fé, ele acreditava que aquilo não aconteceria naquela noite, pois seu filho era tão jovem e teimoso quanto um dia ele fora.
Perséfone, realmente, não sabia o que fazer com ambos que estavam tão pensativos e quietos na sala que era totalmente branca gelo do hospital. Ela apenas tentou reconfortar Hades e fazê-lo acreditar que tudo ficaria bem naquele momento tenso e inesperado na noite dos três.
Ela percebeu que a garota dos olhos azuis no canto parecia sozinha demais, que ela não havia parado de chorar e que parecia precisar de algum ombro amigo pra chorar. Perséfone não queria incomodá-la, mas não poderia deixá-la sozinha naquele estado.
Perséfone comunicou ao mais velho ao seu lado que iria buscar um café no refeitório do hospital. E ao se levantar foi para perto de Thalia agachando-se ao lado da garota em prantos.
— Estou indo buscar um café, quer vir comigo e pegar algo também? - Perguntou mirando o rosto molhado e os olhos vermelhos da garota, que fez que não com a cabeça, negando o convite que a mulher em pé a sua frente havia feito. - Sei que pedir é fácil, mas pare de chorar, Thalia, vai ficar tudo bem com Nico.
A moça a sua frente suspirou alto e olhou para a mulher repleta de tatuagens floras e coloridas que estava calma a sua frente.
— Como pode ter tanta certeza? - Questionou Thalia.
— Temos que pensar positivo, não é mesmo? - Perguntou Perséfone com um leve sorriso que só fez Thalia soluçar mais um pouco. - Nico é jovem, Thalia, não é a primeira vez que isso acontece.
— Eu sei, mas se dessa vez ele não… se dessa vez ele não aguentar? - Questionou limpando o rosto.
— Você não deve se sentir culpada. - Perséfone colocou um ponto final na conversa que estava tomando um rumo triste que estava a ter com a garota e ficou de pé com a mão esticada para Thalia como se fosse um novo convite para que a mesma a acompanhasse até o refeitório do hospital. - Agora venha, espero que aqui tenha Brownies de chocolate.
— Sim, eles vendem Brownies e um ótimo café. – Thalia levantou-se aceitando as mãos esticadas da mais velha para acompanhar a mesma vendo que a mesma tinha razão. Ela só precisava ficar calma e tudo ficaria bem com Nico, afinal, não fora culpa dela tudo o que ele fizera no tempo que ficaram separados.
Ambas seguiram para o refeitório do hospital lado a lado. No tempo que estiveram juntas lá Perséfone fez Thalia rir e a distraiu durante algumas horas, enquanto Hades esperava notícias do filho do meio.
Notícias que não chegaram tão rápido, pois o mais velho ligou para Maria, sua ex-mulher, pedindo-a para não se preocupar, pois o garoto estava bem e só ir ao hospital pela manhã. E mesmo não querendo, Maria fez o que Hades pediu, mesmo preocupada com o filho.
E ficou mais alguns minutos sozinho pensando no que havia acontecido a Nico até um médico aparecer chamando-o para sua sala.
— Precisamos conversar sobre seu filho. - Disse o doutor assim que adentrou sua sala, sendo seguido por Hades.
O médico sentou-se em sua cadeira atrás da mesa de trabalho organizada e indicou que o mais velho sentasse em uma das duas cadeiras que estavam livres ali.
Quando Hades sentou-se, o doutor voltou a dizer:
— Ferimentos por todo o corpo, eu indico que procure a polícia, pois seu filho foi agredido fisicamente e teve uma leve fratura na costela, que pode ser curada dentro de alguns dias com medicamento. - Disse enquanto Hades apenas assentiu, ele estava totalmente incrédulo ao escutar que o filho havia sido agredido. - Nico estava quase que completamente desidratado, agora ele está no soro, respirando com a ajuda de alguns aparelhos e seus batimentos cardíacos voltaram ao normal depois de uma reanimação. Seu corpo necessita de proteínas e carboidratos, pois está muito fraco, e de vitaminas também, recomendarei algumas. Mas fora isso ele está bem, e indico também que corte o vinho, pois achamos um exagerado teor alcoólico no sangue no seu filho. Nico está em observação, não deixe que isso aconteça mais uma vez, foi mais difícil trazê-lo de volta dessa vez do que da primeira, não saberemos se numa próxima vez ele aguentaria.
Hades continuou calado, havia entrado em um estado de inação. Estava preso em um torpor onde só conseguia imaginar a morte do irresponsável filho do meio.
— Não deixarei. - Foi a única coisa que saiu de sua boca enquanto seus olhos estavam fixos em um quadro próximo.
— Passarei mais alguns medicamentos, obrigue-o a tomá-los de qualquer forma! - Disse o doutor.
Depois do lanche e da longa conversa no refeitório hospitalar, Perséfone e Thalia estavam de volta a sala de espera.
Além delas, não havia ninguém ali. Perséfone havia abraçado a garota, que em pouco tempo havia virado um boa conhecida e possível futura amiga, pois as lágrimas voltaram a descer pelas maçãs do rosto de Thalia que não criava boas hipóteses sobre Nico a Hades ter desaparecido dali.
Quando Hades voltou a sala sozinho, recebeu olhares de expectativa da parte de Thalia e de Perséfone. Quando estava perto o suficiente das duas mulheres, suspirou alto em alívio e falou:
— Ele está bem.