Pov. Natalie

  Eu só conseguia encarar o relógio. Parecia que as horas não passavam nesse lugar, eu não via a hora de ir embora. Todo dia era mesma coisa, ter que ficar levando desaforo pra casa desses caras nojentos, eu não aguentava mais. Mas com a família que eu tinha, bom não me sobrava muita escolha a não ser passar todas as minhas noites aqui ouvindo essas bandas amadoras que acham que sabe fazer musica e ter que passar por todas essas cantadas baratas.

 Parecia que cada minuto que eu passava aqui era uma hora.

—Natalie, vamos fechar mais cedo hoje – disse a outra garota que trabalhava comigo sorrido de canto a canto – O movimento esta péssimo.

 Eu suspirei aliviada. Graças a Deus, eu estava tão cansada.

 Fui até o vestiário tirar aquele uniforme e por minhas roupas, peguei minhas coisas e sai disparada dali. O ar do lado de fora estava gelado e sufocante. Ou talvez fosse só minha ansiedade por ir embora, só de pensar que era todos os dias assim e que amanhã começaria de novo eu sentia minhas energias saírem de mim, como se alguém estivesse me sugando ás forças.

 Meu celular começou a tocar me tirando dos meus pensamentos.  Quando peguei o celular vi que era um numero desconhecido.

—Alô - atendi e não obtive nenhuma resposta imediata. É por essas e outras que eu não gosto de atender números desconhecidos – Tem alguém ai? Ah se for algum trote eu vou denuncia-lo...

—Não é trote, sou só eu – disse do outro lado da linha e eu tive que forçar minhas pernas a continuarem andando porque eu fiquei meia tonta. Era ele, que merda, era ele e eu sabia só por ouvir aquela voz. Engoli em seco sem saber o que dizer – Espero que não tenha ficado chateada por eu ter conseguido seu numero.

—Não – eu disse, mas minha voz saiu meio rude – Quer dizer, eu já esperava por isso, você não faz o estilo de quem desiste fácil.

—Não, não faço – ele riu baixinho e eu mordi os lábios indignada, eu realmente estava falando com ele? Ou isso era só minha imaginação me pregando uma peça? – Posso te fazer um pedido?

 Eu respirei fundo, nervosa. O que ele iria me pedir?

—Pode.                                       

—Posso leva-la pra casa esta noite?

—O que? – perguntei surpresa.

—Você fica ótima de azul.

 Eu parei de andar meio confusa, como ele sabia que eu estava de azul? Esse garoto só podia ter pacto com o coisa ruim pra viver aparecendo do nada na minha vida e agora isso. Mas mesmo distraída com essas coisas na cabeça, quando eu olhei pra minha frente, lá estava ele do outro lado da rua sorrindo pra mim.

 Eu fiquei chocada. Minha nossa ele estava aqui!

 Ele atravessou a rua e correu até mim enquanto eu ainda olhava pra ele sem acreditar.

—Olá – ele disse meio tímido, depois sorriu de canto e a covinha que ele tinha na bochecha saltou. Eu tive que me controlar pra não suspirar na frente dele. Santo Jesus, eu não acreditava que ele realmente tava aqui na minha frente. – E então você não me respondeu – ele disse meio sem graça por eu não ter falado nada até agora.

 Percebi que eu ainda tava encarando ele chocada com o celular na apoiado na orelha. Tratei de guarda-lo e tentar parecer um ser humano normal.

—Ahh – eu disse enfiando o celular no bolso – Não precisa se dar o trabalho de me levar pra casa. Eu posso ir sozinha.

—Nova Iorque é uma cidade perigosa ninguém te contou? Seria falta de cavalheirismo meu deixa-la ir embora sozinha Natalie.

 Eu o olhei apavorada. A ideia de ficar algum tempo sozinha com ele me assustou de alguma forma. Mas algo me dizia que ele não iria embora enquanto não me levasse pra casa. Engoli em seco.

—Tudo bem Sr. Sluter, eu deixo você me acompanhar.

 Ele sorriu mais ainda e depois balançou a cabeça em negação fazendo aquela cabeleira castanha voar perto do meu rosto.

—Para de me chamar de Sr. Sluter pelo amor de Deus, eu me sinto como meu pai, um velho chato e barrigudo – eu ri – Só Jason.

 Ele me ofereceu seu braço e eu aceitei entrelaçando o meu no dele.

—Tudo bem Jason – começamos a caminhar pelas ruas. Estavam um pouco vazias devido ao horário. Quando o silencio começou a ficar constrangedor eu resolvi puxar assunto – Sua amiga esta melhor? O que tinha acontecido com ela?

—Katy? – ele me olhou parecendo confuso – Ah sobre ontem. É ela esta tentando melhorar, ela acha que o namorado a traiu e eles eram realmente muito apaixonados. Esta difícil pra ela porque moramos todos na mesma casa.

 Eu assenti imaginando a situação.

—Que pena.

—Ele não a traiu – Jason confirmou e eu o encarei enquanto corríamos pra atravessar a rua. – Foi tudo um mal entendido.

—Você acabou de dizer que ele a traiu.

—Não, eu disse que ela acha que ele a traiu – minha mente estava tentando entender aquilo, sem muito sucesso – Lembra quando disse sobre ter irmãos não ser a sétima maravilha do mundo? Então, vai seguindo essa linha de raciocínio.

 Eu quebrei a cabeça tentando entender a relação entre a menina achar que o namorado dela a traiu e o papo esquisito do Jason no parque sobre irmãos.

—Não cheguei á conclusão nenhuma – disse.

—Ótimo – ele respondeu satisfeito – Não vamos mais falar sobre isso.

—E do que você quer falar então?

—De você – ele inclinou a cabeça pra mim – Quero saber sobre você.

 Eu entrei mais em pânico ainda. Não tinha muitas coisas boas sobre mim que ele ia gostar de saber.

—Não tenho nada de interessante pra dizer, então vamos falar sobre você – ele me encarou e fez careta. – Ou pode me contar sobre a sua casa e quem mora com você.

 Ele riu olhando pra cima.

—A ultima coisa que eu queria era falar sobre aquele povo, mas já que você quer saber, eu conto. – ele respirou fundo – Eu moro com mais 8 amigos que eu chantageei ano passado. Chad e Vick são recém-divorciados, ele casaram em Las Vegas e eu fui um dos padrinhos, mas eles se divorciaram depois que ela sofreu um acidente e ficou em coma, longa historia. Tem também a Cassie e o Ryan que fingem estar namorando pra enganar o ex-namorado psicopata dela que voltou a persegui-la. Lucy e Nicolas que tem sérios problemas em conviver em sociedade, eles brigam mais do que qualquer coisa, mas agora são oficialmente um casal o que não sei se é uma coisa muito boa. E o Tyler e a Katy que estão em crise agora pelo que eu já contei, fora o Vegas o nosso cachorrinho que roubamos de uns traficantes quando eu fui sequestrado. Nos mudamos quando incendiamos todo o andar onde eles moravam. Minha avó estava fazendo um stripitize e, pois fogo no apartamento deles sem querer, outra longa historia – ele dizia tudo tão pensativo como se tivesse revivendo tudo que contava.

 Eu tava olhando pra ele de boca aberta. Eu estava esperando ele dizer que estava tirando uma com a minha cara, mas ele só me olhou e deu uma risadinha.

—Isso é serio?

—Você não tem ideia do tanto de coisa que eu já fui obrigado a passar nessa vida depois que conheci eles – ele riu.

—Meu Deus.

 Ele ria como se gostasse realmente de toda essa loucura. Eu nunca tinha conhecido ninguém assim, e isso me deixou bem curiosa. Ele me olhou quando eu parei em frente ao prédio detonado que eu morava.

 Nossa caminhada tinha acabado e nossa conversa também.

—Eu moro aqui então valeu pela companhia e... Pelo cavalheirismo.

—Não há de que, espero que não demore muito até eu vê-la de novo – eu também esperava muito por isso. – Não vai se importar se eu ligar pra você de novo?

—Não vou – disse sorrindo só com a ideia de conversar com ele novamente – Eu devo estar preparada caso você apareça de repente?

—É melhor que você esteja mesmo.

 Eu me estiquei sobre ele dando um beijo na sua bochecha e ele sorriu tímido.

—Boa noite – disse a ele.

—Boa noite Natalie.

 E então eu entrei em casa. Voltar pra minha realidade me deixava deprimida, eu jamais poderia ter um cara como o Jason, ele era demais pra alguém como eu e nos vivíamos em realidades diferentes.

[...]

 Pov. David

 Estávamos na faculdade e eu estava com o pessoal do time de futebol. Enquanto eles conversavam, eu estava sentado um pouco afastado deles e era hora do almoço, eu não conseguia tirar meus olhos da mesa da onde eles estavam sentados. Cassie estava tão linda hoje, eu sempre tive um fetiche muito grande pelo cabelo ruivo dela. E pela sua fragilidade. Eu queria agora mesmo ir até lá e arranca-la dali, leva-la pra bem longe. Toda vez que aquele namorado dela, Ryan, encostava nela eu tinha um surto mental agressivo.

 Droga ela ainda era minha. Só minha. Ela não devia estar com ele e sim comigo.

—David – senti Jullie cantarolar por trás do meu ouvido. Logo em seguida ela se jogou na cadeira a minha frente e sorriu – Ta olhando demais pra lá.

—Se veio até aqui encher o meu saco, cai fora.

—Qual é, você esta ficando obcecado – ela soltou um riso quando eu revirei os olhos.

—Obcecado não. Só estou com pressa – suspirei quando olhei novamente pra mesa deles e Ryan estava beijando ela nesse exato momento. Desviei o olhar pra Jullie antes que eu comete-se uma loucura. – Eu estava mesmo procurando por você, precisamos conversar.

—O que? Plano novo? – ela perguntou se animando e eu sorri.

—Isso mesmo – eu sorri reorganizando minhas ideias enquanto voltava a encarar a mesa deles. Eu ia acabar com a alegria deles. – Só a Katy e o Tyler foi muito pouco pra mim. Pretendo fazer alguma coisa que afete a todos eles.

—O que tem em mente?

—Bom, melhor não falarmos sobre aqui. – Sorri malicioso pra ela enquanto repassava meu plano em mente.