Shuichi levantou a cabeça minimamente na piscina para respirar. Uma, duas, três braçadas e uma respiração lateral. Era um bom ritmo. Logo chegou a margem oposta, mas nem parou para descansar. Deu uma cambalhota embaixo d’água e empurrou a parede para conseguir impulso. Só parou quando chegou ao lugar do onde havia partido, onde um par de pernas o esperava, com as calças dobradas acima dos tornozelos para que não ficassem molhadas.

Shuichi tirou os óculos de natação e ficou encarando Yuki, esperando que ele falasse algo.

- Hiroshi me disse que você estava aqui.- disse o loiro.

-eu sabia que você viria- Shuichi riu, com desdém.- depois de três voltas, podemos fazer amor.

Ele colocou os óculos novamente e mergulhou, sem esperar resposta. Mesmo assim, Yuki ignorou e continuou falando.

-não vim para isso. Eu vim para falar com você. Não penso em me tornar mais um dos caras que te fodem toda noite.- ele disse, acompanhando Shuichi por fora da piscina. – não voltarei mais a vê-lo. Muito menos a trabalhar com você. – Shuichi não era muito bom em fingir que não estava nem ai. Era muito sincero: quando não ligava para algo, não ligava mesmo, mas quando julgava algo importante, uma placa de neon se acendia em sua testa, chamando mais atenção que seus cabelos, e dizendo “fale mais! Quero que me conte tudo a respeito disso!”. -Hiroshi-kun me falou sobre você. Tendo um amigo tão bom como ele, por que continua com outros caras? Você mesmo entende, não é? Que esse tipo de vida não é bom. Pro seu próprio bem, que tal parar de brincar com homens?

Nesse momento, Shuichi parou de nadar, mesmo estando no meio da piscina. Tirou os óculos outra vez e foi andando até onde Yuki havia parado.

-cansei. Me ajuda a subir.- disse Shuichi.

-não se trata de você. Eu faço isso pelo Hiroshi-kun.- disse Yuki, sério.

 Mas quando Shuichi chegou perto dele, em vez de levantar os braços para que Yuki o puxasse, abraçou a perna do loiro, fazendo-o cair na piscina de roupa e tudo.

-eu não acredito!- berrou Yuki, vendo Shuichi rir de sua expressão.

-não fique com raiva.- ele disse, tentando parar de rir.

-o que pretende- perguntou Yuki, vendo naquela piscina um excelente ambiente para um assassinato. “Ele simplesmente caiu e se afogou, meritíssimo”.

-está bem, deixarei de ficar com outros caras.- Shuichi disse, colocando os óculos no rosto mais uma vez- mas somente se você for capaz de me pegar.

-não sei nadar. Não seja idiota...!

-vamos!- interrompeu Shuichi, mergulhando e saindo em disparada. Yuki, com raiva, aceitou o desafio e tentou ir atrás dele, que nadava de costas, rindo da débil tentativa de Yuki de se mover na água.

-você quer fazer sexo comigo, né?- provocou Shuichi.

-não me faça de idiota! Estou dizendo que não é nada disso.

Yuki tentava nadar, mas Shuichi era escorregadio como um peixe. Nadava velozmente, a tal ponto que, sempre que Yuki estava certo de que iria pegá-lo, apenas via o vulto cor de rosa rindo do lado oposto.

-seu...!- disse Yuki, sem saber se ria ou se batia no garoto. Mas ao invés de persegui-lo, Yuki foi até a escada e saiu da piscina, para tirar o casaco e pular novamente na água.

Shuichi divertia-se cada vez mais. Yuki estava fazendo exatamente o que ele queria. Nadou o mais rápido que pode e ficou esperando que o loiro viesse atrás dele. Mas o loiro não veio. Procurou-o em volta, mas tudo o que viu foi um fraco rastro de bolhas. Mergulhou imediatamente para ver o que era e lá estava Yuki, inerte no fundo da piscina.

Shuichi sentiu a adrenalina jorrar em suas veias. Nadou o mais rápido que pode até Yuki, que não se movia de maneira alguma. Tentou sacudi-lo, mas ele continuou sem reação. Foi quando Yuki abriu os olhos, rindo. Shuichi ainda tentou lutar, mas ele o abraçou forte, levando-o para a superfície, onde os dois, já extenuados, finalmente puderam respirar.

-você tinha prometido- disse Yuki, ofegante.

-isso foi trapaça!- reclamou o garoto – achei que você estava morto.

-é assim como os grandes fazem...

-quer dizer que fui enganado?- disse Shuichi, já se recuperando.

-você prometeu. Vai deixar de dormir com qualquer um.

Shuichi soltou uma risada infantil, como se estivesse assistindo Tom e Jerry, e o gato estivesse achando que havia pego o rato –coisa que, venhamos e convenhamos, nunca vai acontecer, pois aqueles dois se odeiam tanto quando Fred e Daphne, do Scooby-Doo.

-agora... começa a segunda fase!- berrou Shuichi, escandalosamente, mergulhando.

-ei, ei!- reclamou Yuki. Mas já era tarde demais, então lá foi ele correr atrás do outro. Novamente.- isso é trapaça!

-é assim que as crianças fazem!- gritou Shuichi, já longe.

“Enquanto as pessoas têm amigos para compartilhar a sua tristeza... esta se tornará mais suportável”, Shakespeare.