Um dia com Lisa Child - One Short escrita por Dani25962


Capítulo 1
A vida no campo


Notas iniciais do capítulo

Oie. Não é a primeira vez que escrevo, mas é minha primeira One Short. Espero que gostem.



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Não sei como os sonhos funcionam, mas quase todos os dias me vêm um diferente. Quem me dera lembrar-se de todos, dariam uma boa história. Não tive sonhos hoje, também, ontem corri a tarde toda, nem me lembro de ter ido pra cama.

Os dias aqui na fazenda geralmente não são quentes, mas esta semana se superou. Agora... Tenho mesmo que levantar da cama?

“Filha! Ande logo! Tem tarefas a fazer.” Ouvi minha mãe falar do andar de baixo.

Tarefas, claro. Isso inclui dar comida para os porcos, soltar o Buck, meu cachorro e colher os ovos. Só mais um dia de rotina. Levantei da cama e sem querer derrubei o Timoti, meu urso de pelúcia. Fale o que quiser, mas ele é meu grande companheiro em dias de chuva e tempestade.

“Desculpe.” Coloquei o Timoti na cama assim que a arrumei. “Volto à noite, se comporte!”

Desci as escadas pelo corrimão, era tão divertido fazer isso!

“Filha, já disse para parar com isso, pode cair e se machucar!”

... Claro, quando ninguém atrapalha.

“Relaxa mãe. Está tudo bem.” Falei. “Bom dia.”

“Bom dia, querida.” Ela sorriu e me deu um beijo na bochecha.

Corri para o quintal, em direção ao estábulo, onde guardávamos a comida para os animais e onde a Rosa dormia. “Bom dia, Rosa.” Falei com a linda égua. “Como estamos hoje?” Subi no balde para poder acariciá-la. Rosa estava prenha, e segundo o veterinário não iria demorar muito para a chegada do bebê. E ele ou ela será meu, foi o que papai prometeu.

“Com certeza ele vai nascer lindo e forte! Vamos correr pelos campos até a cidade, vai ser muito legal!” Rosa fez um gesto com a cabeça concordando. Coloquei a mistura de ração para cavalos em um balde do jeito que ela gosta, adicionei umas cenouras também. “Agora, coma tudo direitinho, tenho que ir encarar a gangue esfomeada, me deseje sorte”.

Peguei a ração para os porcos e misturei com umas sobras da semana, é... Hoje vai ser um dia daqueles. Com esforço tentei carregar aquele balde pesado até o chiqueiro. Uma espiadinha, beleza! Ninguém à vista. Com cuidado e sem fazer barulho, despejei a mistura no comedouro e...

“Óinc?”. Ah, não.

Nem foi preciso olhar pra trás, tinha um bando de porcos esfomeados vindo pra cima de mim, ou melhor, da comida, mas eu ainda estava ali. Peguei o balde e pulei a cerca antes de ser atropelada.

“Seus porcos!” Tentei, mas acho que isso não os ofendeu.

Próxima tarefa. Soltar o Buck. “Tenho que me lembrar de ensiná-lo a se soltar sozinho, assim não teria de fazer isso todo dia. Mas pensando bem, ele nunca mais ficaria preso. É. Deixa pra lá.”

A casinha dele ficava ao lado da casa. Você deve estar pensando: “Sua monstra! O que tem contra o próprio cachorro para não querer soltá-lo?”.

Eu amo cachorros, adoro. De verdade, mas o Buck... Ele não é um cachorro.

“AU! AU!” O ouvi latir já esperando por mim.

Ele é um filhote de urso. E sempre fica muito feliz quando vê alguém, ele pula nessa pessoa e o coitado nem se lembra do próprio tamanho quem tem, pode machucar alguém. Eu só tenho nove anos, gostaria de viver mais que isso.

“Bom dia Buck” Cumprimentei, ele já estava forçando a corrente novamente. Já perdi a conta de quantas vezes o papai teve de concertar esse negócio, quando o Buck começou a crescer – o que foi muito rápido – ele sempre se soltava, a corda não agüentava a força dele. Então o papai teve que pegar à corrente que ele usava para guinchar a caminhonete da lama quando chovia, até agora está funcionando muito bem, mas eu aconselho a nunca subestimar o Buck.

“Calma! Você sabe que não vou fazer nada enquanto você não ficar quieto, não é?” Tentei, mas quando cheguei mais perto ele começou a me lamber. “Hahaha! Para! Que nojo Buck!” Não adianta, ele era um bobão mesmo. “Muito bem, chega. Senta.” Ele parou de me lamber e se sentou. “Dá a patinha” Ele obedeceu. “Muito bem garoto! Aqui.” Lhe dei seu biscoito favorito, que era o meu também. “Não arrume confusão por aí ok?” Dizendo isso soltei sua coleira e ele saiu correndo pelo quintal.

Em seus três anos de vida o Buck só sabia fazer isso, sentar e dar a pata.

Última tarefa: Pegar os ovos.

Detesto essa parte. Fui à cozinha de casa para pegar o cesto e depois ir até o galinheiro. Vou contar a situação, pegar ovos geralmente é uma coisa fácil. Você vai lá, entra no galinheiro, verifica os ninhos para ver se tem ovos, colhe tudo e vai embora. Certo? É o que deveria ser.

Mas, umas semanas atrás, uma raposa achou uma entrada e assustou as pobres galinhas. Nós já resolvemos esse assunto, capturamos a laranja e a levamos pra bem longe daqui, mas isso não resolveu todo o problema. As galinhas ficaram tão traumatizadas que agora toda vez que entro lá pensam que sou a raposa e tentam se defender. Vou demonstrar.

Cheguei ao galinheiro, entro e fecho o portão. Chego perto da casinha e... Ei, espere um pouco. As galinhas, elas ainda estão dormindo. Acho que se eu não fizer nenhum barulho consigo pegar os ovos. Vamos lá. Primeira, um ovo. Segunda, três ovos. Terceira, um ovo também. Quarta...

“Isso aí! Acho que já tenho o bastan... Aí!” Tapei a boca no mesmo instante. Chutei uma tábua solta do chão.

“Có?” Essa não... Volte a dormir Gertrudes, volte. “CÓ! CÓ! CÓ!” Valeu Gertrudes...

A bendita acordou todo o galinheiro, antes que pudessem me pegar, corri dali o mais rápido possível.

“Meus Deus, filha, tudo bem?” Perguntou minha mãe preocupada quando cheguei à cozinha com falta de fôlego.

“Tudo sim, mãe. Só mais um dia de rotina no galinheiro.” Falei. Coloquei a cesta com os ovos na mesa e me sentei na cadeira.

“Lisa, pode fazer um favor pra mim?” Ela perguntou. “Seu pai se esqueceu de levar o almoço, ele está construindo uma casa nova perto do grande carvalho, poderia levar-lo pra ele?” Ela me entregou a trouxa de comida.

“Claro, mãe. Pode deixar.” Disse e saí.

“Tome cuidado”.

Um ar fresco até que cairia bem agora, seria tão melhor se eu tivesse um cavalo agora... “Paciência é uma virtude”, é que minha avó diz. Só não sei o que ela quer dizer com isso, acho que é para deixar de ser ansiosa e só esperar o tempo passar.

Por sorte, o papai não estava trabalhando tão longe, em pouco tempo chegaria lá rapidinho, acho que vou passar pela estrada mesmo.

Tudo tão calmo. A brisa do vento, as vacas pastando, as árvores se mexendo, um cavalo desgovernado, as borboletas... Epa! Cavalo desgovernado?

E era mesmo! Do nada apareceu um cavalo correndo que nem doido, ele desviou de mim e entrou na floresta. Deixei a trouxa de comida escondida em uma árvore e corri atrás dele. Ele era rápido! Mas ainda bem que não era marrom, ou teria o perdido entre as árvores. Tentei segui-lo por um tempo até que de repente ele parou, pelo menos de correr, um muro alto de terra o barrou.

Mas ele continuava a se mexer, cheguei perto dele.

“Ei rapaz! Calma! O que houve?” Tentei. Ele não parava quieto. Mas, espera um pouco, aquela mancha branca no pescoço dele... Era o cavalo do Sr. Teodoro, o Jack. “Jack! Acalme-se!” Ele deu mais uma guinada e finalmente resolveu me dar atenção. “Isso garoto, calma, sou eu, Lisa! Lembra-se de mim?” Disse com a voz mais doce o possível e ele pareceu se acalmar. “Isso mesmo garoto, o que aconteceu com você? Por que está tão assustado?”. Infelizmente ele não podia responder, mas estava selado, tudo me diz que o Sr. Teodoro está por perto. “Vamos lá, temos que encontrar seu dono ele deve estar preocupado.”

Posso ser pequena, mas eu sei montar. Jack me conhece, então não foi difícil ele se acostumar comigo. Montei nele e cavalguei novamente até a estrada, achei minha trouxa de comida na árvore e voltei a seguir o caminho de onde aquele malandro de quatro patas tinha vindo. Não demorou muito até eu encontrar um homem chorando à beira de uma carroça sem um cavalo. Tenho uma pista de quem seja.

“Sr. Teodoro?” O chamei, ele era um senhor já de cabelos brancos, mas era um bom amigo de nossa família, cultivava as melhores abóboras da região. Assim que me viu com seu cavalo, suas lágrimas de tristeza se tornaram de alegria.

“Jack! Que bom vê-lo!” Ele se levantou e abraçou a cabeça do animal. “Lisa! Que surpresa! Obrigado por me trazer o Jack de volta, achei que não conseguiria chegar à cidade a tempo.”

“Mas o que houve? Ele saiu correndo desesperado, se assustou com algo?”

“Sim, tinha um galho na estrada e ele pensou que fosse uma cobra. O coitado se assustou, conseguiu se soltar da carroça e fugiu.” Ele fez carinho no cavalo. “Mas agora está tudo bem, obrigado mais uma vez.”

“De nada.” Disse assim que desci do cavalo.

“Ei, para onde está indo? Quer uma carona?”

“Agradeço, mas estou indo na direção contrária encontrar o meu pai.” Respondi.

“Ah sim. Bom, tenha um bom dia então. Até mais ver Lisa.”

“Até logo Sr. Teodoro. Até mais Jack”. Despedi-me e segui meu caminho.

Não faltava muito mais, meu pai deveria estar na próxima divisão de campos. Após pular um muro de pedra, consegui ver a construção de madeira que estava pela metade e nos fundos um homem estava cortando uma árvore. Meu pai. Assim como muitos adultos que conheço, ele era forte, com tanto trabalho braçal que já fez na vida não duvido nada que ele seja capaz de levantar uma pedra bem grande.

“Pai!” Chamei e corri em direção a ele que parou o que estava fazendo e olhou para mim, largou o machado, sorriu e me pegou no colo quando pulei em seus braços.

“Hahaha! Que surpresa boa. O que está fazendo aqui minha princesa?” Ele perguntou.

“O senhor esqueceu seu almoço.” Disse mostrando a trouxa com a comida.

“Oh! É mesmo, que cabeça a minha, obrigado.”

“De nada.” Olhei para a árvore danificada atrás dele. “O que vai fazer com a madeira dessa árvore?”

“O telhado, essa é uma cambará, será muito resistente contra as tempestades.” Ele disse também olhando para a árvore. “Sabe de uma coisa? Acho que você poderia ser uma boa lenhadora. Quer terminar de cortar?”

“Posso mesmo?”

“Venha.” Ele pegou o machado. “Olhe, quando for cortar, corte de cima para baixo, isso vai fazer com que você possa criar uma inclinação e derrubar a árvore mais facilmente.” Ele deu algumas machadadas na árvore para demonstrar. “Entendeu?”

“Sim.”

“Ótimo, sua vez.” Ele me entregou o machado, era um pouco pesado, mas eu consegui segurar. A primeira investida foi meio desajeitada, mas com o tempo e orientação do meu pai eu peguei o jeito. “Isso mesmo, está se saindo bem.”

Só mesmo o meu pai pra colocar um machado na mão de uma menininha. Ele me deixou mesmo terminar a árvore, pois passou para outra a poucos metros dali.

“Ufa”, disse me escorando no machado tentando descansar um pouco os braços. “Argh. Vamos lá... só mais um pouco.”

Cortar árvores não é mole não, para você não se cansar tão depressa tem que encontrar seu próprio ritmo e permanecer nele. Foi o que eu fiz. Pelo menos, foi o que eu entendi quando observei meu pai fazendo. A cada machadada ele deixava o movimento dos braços mais lento antes de atacar a árvore com força. Isso dava a chance dos músculos relaxarem.

Em meia hora eu gritei: ”MADEIRAAA!!” E a árvore caiu. Papai veio em minha direção com aquele sorriso bobo.

“Sua primeira árvore! Parabéns princesa!” Ele disse orgulhoso me dando um beijo na testa. “Você trabalha bem, o que acha de me substituir de vez em quando?”

“Vá sonhando.” Falei “Uma árvore já está de bom tamanho pra mim e eu duvido que você conseguiria ficar em casa sem fazer nada.”

“Hehe, você me pegou.” Sorriu “Bem, tenho que continuar o trabalho, obrigado por me ajudar.”

“Disponha. Vou fazer uma visita ao velho carvalho, tchau!” Falei, e saí correndo.

“Tenha cuidado, e não chegue muito tarde! Até o pôr do sol.” Ele gritou.

“Até o pôr do sol.” Respondi.

Quando eu era pequena, ou melhor, tinha menos idade, costumava sair de casa e me esquecer de dizer aos meus pais aonde ia, mas eu sempre acabava voltando. Um dia, eu cheguei muito tarde quando a lua estava quase aparecendo, e meus pais conversaram comigo. “Filha, você não pode sair por aí e chegar a essa hora, é muito perigoso para uma garotinha como você. Existem muitos perigos lá fora e ficamos preocupados”, disse meu pai. “Mas, eu sei que não posso prendê-la aqui, por isso façamos um acordo. Você pode sair de casa e ir aonde quiser, mas garanta voltar para casa até o pôr do sol, promete?”

“Está bem papai, eu prometo.”

Desde então eu sigo com a minha promessa, mesmo que eles fiquem preocupados eu sempre voltava no fim do dia, sã e salva. Pode parecer meio incomum eles confiarem tanto assim em mim, mas eu sempre mostrei que sei me cuidar.

E devo isso a este carvalho na colina.

Corri pela grama até chegar à grande árvore. “Olá.” Cumprimentei-a. Um dia, eu e minha mãe viemos aqui na primeira semana de primavera, o campo estava coberto de lindas flores e as borboletas faziam a festa voando por aí junto com passarinhos e muitos outros animais. Nós nos sentamos para descansar quando ouvi um barulho estranho, algo parecido com um chocalho que meu tio Baldo tinha.

Foi quando notei algo se mexendo atrás de mamãe e vi uma cascavel – sei por que minha tia glória adora animais e ela tem um grande livro com imagem de muitos deles. - muito grande e estava pronta pra atacar.

Puxei mamãe pelo pulso e a tirei dali antes que a cobra pudesse atacar, ela que tem muito medo desses bichos de um pulo pra longe quando percebeu o que estava acontecendo. Eu fiquei, precisava fazer alguma coisa. Peguei um galho de árvore e tentei pegar a cobra, ela se enrolou nele e eu consegui levá-la o mais longe possível de nós, para que ninguém mais se arriscasse de levar uma picada.

Mamãe ficou impressionada comigo, disse que tinha sido muito valente e bondosa por não ter matado a cobra. Mas essa parte eu não entendi, por que matar a pobre cobra? Ela não fez nada. Além disso, tudo que respira merece viver.

“O que faz aqui sozinha?” Disse alguém atrás de mim.

Me afastei com o susto. “Droga Cris. Pare de aparecer do nada toda hora.” Disse emburrada.

“Ui, estamos com bom humor hoje.” Ela riu. “Desculpe.” Essa é a minha melhor amiga Cris, crescemos juntas e já nos metemos em várias confusões, e pela cara dela, o dia seria daqueles.

“Aconteceu alguma coisa?” Perguntei notando que ela estava com uma cara meio séria.

“Baltasar e sua gangue atacam de novo.” Ela falou.

 “Ah não... O que eles fizeram?”

“Venha comigo.” Ela correu para a cerca de madeira, eu a segui. Passamos pela floresta esquisita – batizamos assim por que tem umas árvores aqui com um formato realmente muito estranho - chegamos á fazenda dos Jong. “Olhe.”

Mais a frente estava o burro de carga, ele estava dormindo, mas havia outro detalhe nele. “Aquele covardes pintaram o burro enquanto ele dormia e ainda amarraram latas no rabo do coitado.” Disse Cris. De repente, o burro começou a acordar. “Essa não...”

“O que foi?” Ela apontou para o burro e então eu olhei com mais atenção, uma das patas do burro estava com uma corda amarrada.

E daí a confusão se formou. O burro levantou, a corda amarrada derrubou um latão que fez o mais barulho assustando o coitado, ele correu e as latas amarradas no rabo foram junto, ele ficou ainda mais desesperado. Um homem apareceu pra ver o que estava acontecendo e quase foi atropelado. Deve ser o Sr. Jong. E lá foi ele atrás do burrico assustado.

“Por que fizeram isso?” Perguntei indignada.

“Não sei, mas vi o Stuart terminando de pintar o burro. Com certeza foram eles.” Falou. “Tomara que não seja uma daquelas apostas idiotas que eles fazem. Ei, aonde você vai?”

“Isso não pode ficar assim! Temos que fazer alguma coisa.” Disse andando a passos pesados. Sabia onde eles estavam. Numa árvore oca perto do lago. É lá onde montaram seu covil. E eu sei exatamente o que fazer. “Vamos, não temos muito tempo!”

Corremos o mais rápido possível, logo chegamos a uma pequena casa perto da estrada. Havia um celeiro ao lado, resolvi verificar ali primeiro. Muito feno por todos os lados, mas o que me interessava estava no segundo andar. Subi as escadas e o encontrei.

“Diego!” Ele deveria estar concentrado, porque pulou de susto quando o chamei.

“Pelo amor de... Quer me matar de susto?!” Ele exclamou. Cris subiu logo depois de mim.

“Nossa, parece até que estava fazendo algo errado pra se assustar assim.” Cris brincou. “Calma, somos nós.”

Esse é o Diego, nosso companheiro de aventuras, inventor e meu melhor amigo. Ele é um cara trabalhador, mas seu maior defeito é ser cauteloso e sempre pensar demais antes de fazer alguma coisa. Ninguém nunca dá nada por ele, por ser meio baixo e fraco, mas ele já me provou o quanto é corajoso.

“Diego, precisamos de você.”

“Pra quê?” Ele pegou uma ferramenta que tinha caído no chão.

“A gangue do lago atacou de novo, precisamos fazer algo a respeito.” E lá se foi a ferramenta pro chão de novo.

“Ah não! Não se meta nisso, você sabe que não é bom mexer com esses caras.” Ele disse. “Eles são perversos, maus e trapaceiros!”

“Ui, onde aprendeu a falar assim? Um dos seus livros?” Cris zombou. Esses dois não se entendiam.

“Agora não Cris.” Disse. “Diego, por favor. Sem você meu plano não vai funcionar.”

“Plano? Que plano?” Ele perguntou. “Não! Não me diga nada, não quero saber.”

Ótimo, agora ele fica de birra. Me aproximei do balcão de trabalho dele e me sentei ali. “Diego... Por favor.”

Ele olhou pra mim com aquela cara sem expressão. Ótimo, tinha ganhado sua atenção e ele estava me ouvindo.

“Se nos ajudar, nós vamos ajudar você com o próximo projeto que fizer.” Vi Cris prestes a querer protestar, mas pedi que ficasse quieta com um gesto. “E então?”

“Hum...” Ele resmungou parecendo pensar. “Feito, mas não reclamem depois.”

“Obrigada! Mas não garanto nada” Sorri. “Ótimo, agora podemos começar. Preciso daquela sua máquina de sons do mês passado, aquelas fantasias horríveis do ano passado e dois panos.”

“O que vai fazer com tudo isso?” Perguntou Cris.

“Vocês vão ver. Vamos!” Corri para descer as escadas e começar o trabalho.

Demorou um pouco para organizar tudo, mas conseguimos. Partimos então para o lago verde, que é onde ficava o covil dos malfeitores. Nos escondemos atrás de um muro natural de pedras, dali dava pra ver a árvore oca e o lago.

“Muito bem, vocês ainda lembram o que tem que fazer?” Cris e Diego assentiram.

“Esses caras vão ver o que é bom pra tosse.” Disse Cris com aquela cara vingativa que me dava medo de vez em quando. “Me desejem sorte e fiquem atentos.”

Cris saiu do esconderijo e foi andando até a árvore, dava pra ouvir a galera conversando lá dentro. “Vou pra minha posição.” Diego cochichou e eu assenti, mas quando se levantou, pisou em falso no chão e caiu em cima de mim. Quando percebi que ele iria dizer alguma coisa, tapei sua boca e fiz um gesto de silêncio com a outra mão. Ele assentiu com a cabeça. Mas não saiu de cima de mim. O rosto dele estava ficando vermelho? “Desculpe.” Ele cochichou de novo e correu agachado para uma árvore próxima.

Não entendo esse garoto, de vez em quando ele fica com uma cara de besta olhando para o nada, acho que os projetos estão tomando conta da cabeça dele.

Voltando a trama. Cris estava bem em frente ao esconderijo, pegou uma pedra do chão e a jogou na árvore, depois gritou. “Ei seus cabeças de pamonha, saiam! Sei que estão aí.”

 No minuto seguinte, os quatro integrantes saíram da árvore. O primeiro foi o Stuart, meio pequeno, mas cara de ser bem atentado. O segundo foi o Derek, filho de um ex-lutador, esse cara teve muito tempo pra aprender uma ou duas coisas com o pai e não me pergunte o que a mãe dele dava quando era bebê, por que para um menino de dez anos ele é grande.

Logo depois veio o Tommy, o que o Derek tem em força esse cara tem em banha, não passa um momento sequer sem comer, agora mesmo estava devorando uma maçã. Por último, temos Baltasar, o mauricinho e mais metido de todos. Seu pai era o fazendeiro mais rico da região, e isso lhe parecia ser motivo suficiente para montar uma gangue e se gabar por aí.

“Olhem só pessoa, é a Maria chorona." Disse Baltasar, ele a chama assim por que um dia Cris caiu, machucou feio a cabeça e não parou de chorar até um médico ajudá-la. "O que veio fazer aqui fedelha?"

"Fedelha? Eu nasci primeiro." Ah, é. Tem esse detalhe. Os dois são irmãos.

"Que seja o que quer aqui?”

 “Por que fizeram aquilo com o burro da fazenda do Sr. Jong?" Ela foi direta.

 “Não sei do que está falando.”

 “Eu vi quando o Stuart saiu de lá antes da confusão." dito isso e todos olharam para o Stuart, Baltasar apenas revirou os olhos.

 “Que seja, mas aquilo foi preciso." Ele disse. "Era o teste para o Stuart ser o mais novo membro do grupo e ele fez um ótimo trabalho." O novo membro sorriu contente.

 “Que tipo de associação é essa que maltrata os animais por diversão?”

 “A nossa, agora, saia daqui, temos coisas melhores a fazer do que perder nosso tempo com você." Ele disse isso e virou as costas.

 “Sabem, eu não continuaria com essas 'brincadeiras' se fosse vocês..." Disse enigmática.

 “Por que não?" Tommy perguntou.

 “Ora... Se não o protetor da floresta vai vir aqui pegar vocês." Ela disse.

 “Protetor da floresta?" Disse Derek confuso. "Posso bater nele?”

 “Acredito que seria melhor você fugir dele, grandão.”

 “Ah! Saia daqui! Não  queremos ouvir baboseiras." Falou Baltasar.

 “Não são baboseiras, eu mesma já o vi." Ela disse confiante.

 “Mesmo?" Quis saber Stuart.

 “Sim, e tive muita sorte de sair viva." Ela começou com o discurso dramático. "Estava de noite, eu tinha que correr para casa, havia saído para brincar e perdi a hora. Então, eu tive a impressão de estar sendo seguida, comecei a andar mais rápido. De repente, escuto um galho se quebrar, me viro para ver o que era, mas só conseguia enxergar vultos nas árvores." Pausa dramática. "De repente, escuto um rugido muito alto da floresta e na minha frente o maior de todos os vultos! O guardião da floresta! Ele tentou me pegar, mas eu escapei passando entre suas pernas. Pensei que de tinha escapado do perigo, mas então ele começou a atirar veneno em mim, para fugir pulei na água e por sorte era a fraqueza dele, o  veneno também foi neutralizado e eu voltei pra casa.”

 “Nossa! Que incrível!" Disse Derek.

 “Caramba, eu não sabia disso. Será que tem alguma chance dele aparecer por aqui?" Disse Stuart.

 “Poderíamos reunir suprimentos e fugir daqui, nos abrigar em lugar seguro e..." Tommy falou.

 “CHEGA! não existe essa coisa de guardião. É tudo invenção dela!" Baltasar gritou com raiva.

 “Ahn, Balt." Derek tocou no seu ombro.

 “Agora não." Ele se virou para Cris. "Saia daqui, e vá contar histórias pra dormir para suas bonecas, não venha nos perturbar." Agora, dois dos garotos estavam sacudindo seus ombros. "O que foi?"

Eles apontaram para o lugar escuro nas árvores, era um grande vulto. Nunca vi Baltasar ficar tão estatístico desde a barata voadora que pousou na cara dele.

 “Mas o que é aquilo...?" Ele perguntou.

De repente um grande rugido foi ouvido, os meninos gritaram alarmados, desesperados.

 “O guardião!" Cris gritou. "Salve-se quem puder!" E saiu correndo. Sorte que os meninos não a seguram.

 “Seus covardes! Fiquem! Ele não é..." Baltasar foi atingido. "O que é isso? Minha pele está queimando.”

 “É o veneno! Ele foi atingido!”

"Cuidado!" várias bombas de veneno foram arremessadas neles.


Agora, vamos explicar a situação. O tal vulto era um grande espantalho que achamos vestido com a fantasia do festival passado, que parecia uma pessoa vestida de lama de pântano. Diego criou uns sons bem assustadores na máquina dele, que são mais que perfeitas para o momento.

E o veneno... Bem, eram só bexigas com tinta e um leve toque de molho de pimenta. Isso dá a impressão de queimação na pele que eu queria que tivesse.

Agora, estamos nós três aqui atrás da pedra jogando bola de tinta apimentada na gangue do mal que corria e gritava. Do nada, Serem pulou no lago, os outros repetiram. Talvez achando que isso iria melhorar, até melhoraria, se a água fosse limpa.

Antes que a situação se apaziguasse e eles perceberem tudo, pegamos nossas coisas e saímos dali, rindo como nunca.

"Hahaha! Nunca vou esquecer isto! Foi a melhor cena de todos os trabalhos tempos." Disse Cruz se matando de rir.

"Esses caras vão ter pesadelos está noite." Diego falou, chorando de rir.

Foi quando me toquei, o dia estava quase acabando. "Pessoal, me desculpem, mas eu tenho que ir." Falei entregando a fantasia e o resto de munição de tinha que havia sobrado. "Guarde, podemos precisar" falei para Cris.

 “Pode deixar." Ela sorriu.

 “Obrigada pela ajuda." Disse ao Diego.

 “Disponha." Ele respondeu também sorrindo.

Terminei de me despedir e voltei a correr pelo campo. O Pôr do sol logo chegaria e eu tinha que estar em casa. Com os pés correndo como o vento eu cheguei  bem a tempo no portão, mas tinha alguma coisa errada.

“Pai?” Chamei, o que ele estava fazendo aqui tão cedo?

“Filha! Venha, depressa!”

“Por quê? O que aconteceu?”

“A Rosa, ela vai ter o bebê agora.” Ele falou e eu mal acreditei.

Corri para o estábulo e mamãe já estava lá.

“Venham! Olhem só, ele está quase saindo.”

Não é uma cena muito bonita, tinha metade de um cavalinho saindo da... Bom, melhor não comentar. Rosa fez um último grande esforço e o filhote saiu, todo cheio daquela gosma. Depois que meu pai e Rosa limparam o bebê, pude ver como ele era fofo. Tinha a pelagem marrom, e as pernas meio desengonçadas por não saber como andar muito bem ainda.

Era um garotão, e eu ainda tinha que pensar em um nome pra ele. Olhei para o lindo pôr do sol. Acho que vou chamá-lo de Ravi, por que quero ter ‘o sol’ cavalgando comigo sempre, para me lembrar de que mesmo depois que o Sol se pôr ele vai me trazer de volta pra casa.


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Notas finais do capítulo

Eu tenho mania de fazer coisas nos piores momentos, e, quando resolvi fazer essa história eu REALMENTE deveria estar me concentrando em coisas muito mais importantes. :P

Mas, fazer o que né? Eu fiz. Estão, me digam o que acharam, talvez eu continue a fazer histórias como essa. Obrigada por ler. :)

Té+!



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