Chiharu Pov’s

Com um capuz cobrindo o rosto, eu observo ela de longe. Voltando da escola, de mãos dadas com a mãe adotiva. A tal de Asuka.

A minha vontade era de correr em sua direção e abraça-la. Mas quando tento correr, parece que eu não consigo. Tenho que fazer certo esforço para me aproximar das duas. Então elas aceleram os passos.

Acho que Ishida deve ter percebido que eu estava as seguindo.

—Zun! – eu a chamo e ela para de andar, e olha para trás.

—Chiharu ... – eu consigo ouvir ela dizer meu nome baixinho.

Então a senhora puxa ela, e eu a impeço, segurando a outra mão dela. A senhora parece muito confusa, mas murmura um “por favor, não diga nada”, o que me faz olhar para o rosto da Zun e ver seu rosto desesperado com a respiração acelerada.

Algo está errado aqui.

Dentro da casa ...

—O que vocês fizeram com ela?! – eu grito para a senhora e acho que a assustei – Por que ela está assim comigo?!

Zun agora está deitada na cama, depois de tomar alguns calmantes ela dormiu em poucos minutos.

Ela tinha começado a tremer e a gritar “Você está morta!”, “Onde você estava?!”, “Isso é uma mentira!”. “Eu te perdi para sempre!”

Nós estamos sentadas em duas cadeiras ao lado da cama de Zun, que mesmo dormindo parece estar perturbada com algo (talvez um pesadelo).

—Ela ia morrer – Asuka começa a falar – Não comia nada, não falava nada. Ela fugia do orfanato e se machucava tentando te procurar. Graças a Deus nada aconteceu com ela nessas fugas. A única coisa que podíamos fazer era ...

E ela fica em silêncio, o que acaba me deixando mais irritada.

—Fala logo!

—Nós apagamos as lembranças dela e trocamos por outras – ela diz com dificuldade – Não tínhamos escolha. Era o melhor para ela.

O mundo está desmoronando de novo. Parece que a vida não vai deixar essa rata em paz tão cedo.

—Ela pensa que você morreu, e está superando o luto aos poucos. Mas se não tivéssemos feito isso ela estaria morta – acho que ela parece estar mais magoada que eu – Você iria virar notícia, mas se fosse divulgado que você estava desaparecida, talvez Zun descobrisse. Então tivemos que divulgar a sua falsa morte.

—Maldita – eu a xingo, mas o sentimento de tristeza aos poucos se torna maior – Com que direito vocês fizeram isso?

—Não podíamos deixar ela morrer. Tínhamos que salvar ela ... - Asuka já controlava o choro.

—Tudo bem, tudo bem ... – eu digo baixinho, na tentativa de acalma-la – Vocês fizeram o que devia ser feito. E você cuidou da Zun ... E isso é algo que eu não vou esquecer. Eu não consegui salvar ela.

Presa na minha própria mente. Alucinando e imaginando a felicidade. Minha irmã tinha levado um tiro e eu só tinha ido embora, me tornando uma assassina e a abandonando.

Asuka continua a explicar detalhadamente a situação de Zun e os perigos que eu poderia causar.

—Mas o que quer que eu faça? – eu pergunto – Eu sei que eu não posso me aproximar dela agora, e que ela não está pronta. Mas me entenda. Eu sou Odair Chiharu, e eu ainda estou viva.

—Eu não sei. Não esperava que você voltasse assim – ela enrola uma mecha do cabelo com uma caneta – Mas acho que ... Você vai saber o que fazer.

No dia seguinte ...

—Alô? – Asuka pergunta do outro lado da linha.

—Asuka, aqui é a Chiharu – eu digo e ouço o som de algo caindo – Eu já tomei minha decisão.

Zun é a pessoa que eu mais amo no mundo. E por ela eu faço o que for. E se ela precisa pensar que eu estou morta ...

—Mude as lembranças dela de novo. A partir de agora Odair Chiharu está morta.

E desligo o telefone.