Correndo na velocidade da luz pelos telhados de Konoha, três ninjas de alta classe tinham apenas um alvo: Hinata Hyuuga. 

Natsu, apesar de não saber o caminho, estava na frente dos meninos, extremamente preocupada, não só pela bronca enorme que levaria dos pais caso descobrissem que havia perdido a pequena de vista, como também com a segurança de Hinata. Hoje, a doce herdeira dos Hyuuga poderia ser considerada apenas uma simples fracassada, uma chorona sem a menor perspectiva de futuro, o galho mais fraco do clã, mas amanhã, a loirinha sabia que ela se tornaria muito mais do que isso. Hinata era a líder de dois dos clãs mais poderosos da Folha. Uma kunoichi poderosa, mortal e que jamais falhava com seu dever. 

Precisavam encontrá-la.

Por outro lado, Sasuke também compartilhava de um sentimento parecido. 

Antes do assassinato de seu clã, ele e a azulada costumavam ser bons amigos. Brincavam juntos frequentemente, muitas vezes com Neji e Hanabi junto, e uma bela união entre os Hyuuga e os Uchiha se estabelecia com harmonia. Sasuke era completamente apaixonado por Hinata naquela época, e ela, mesmo tímida do jeito que era, parecia retribuir seus sentimentos com a mesma intensidade. Contudo, depois de tudo que aconteceu com Itachi, Sasuke deixou os antigos amigos para trás, tendo como único foco, único pensamento restante em sua cabeça e o único sentimento dentro de seu coração a vontade de matar certo homem... 

Mas agora... Sensações esquecidas incomodavam seu peito novamente. Continuaria ele apaixonado pela garota de olhos perolados mesmo depois de tantos anos? Isso explicaria o porquê nunca ter sentido nada por nenhuma das meninas que brigavam por ele... Porque, teimoso e contraditório do jeito que era Sasuke Uchiha tinha que gostar justamente da única garota que não queria mais nada com ele... 

—Itachi... Sem querer soar acusadora, mas porque pelas barbas do Hokage sua mãe tinha que inventar de se esconder num cemitério? - Perguntou a loira quebrando o silêncio. Itachi riu. 

—Mamãe me contou que quando era mais nova, sempre que tinha algum problema ia para o túmulo da mãe dela, pra pedir por conselhos... Também nunca entendi essa prática dela, mas se faz ela se sentir melhor, quem sou eu pra dizer alguma coisa? - O azulado deu de ombros. Natsu teve de concordar. 

—Ainda falta muito pra chegar? - Questionou Sasuke interrompendo o diálogo dos dois. -Não quero que nada de mal aconteça com ela... - O Uchiha deixou escapar baixinho. Mas obviamente a declaração não passou despercebida por Itachi e Natsu. A garota Uzumaki sorriu abertamente. 

—Own, você fica tão fofo quando está preocupado, Sasuke-chan! - Afirmou a loira apertando as bochechas do moreninho que ficou vermelho no mesmo instante. 

—Eu quis dizer que se ela se machucar isso pode afetar o futuro. - Explicou ele torcendo o nariz. 

—Aham, sei, tudo bem Sasuke, pode continuar fingindo... - Cantarolou a Uzumaki. - Mas todos já sabem que você está caidinho pela Hinata... -Provocou ela e os dois começaram a discutir fervorosamente. Itachi revirou os olhos, talvez aquilo fosse uma mensagem do universo dizendo que Sasuke e Natsu sempre tinham que discutir quando estavam juntos, não importava a idade que tivessem...

—Crianças, crianças, menos. - Pediu o garoto tentando apaziguar os ânimos dos dois. 

—Foi ela quem começou. - Sasuke acusou lançando um olhar fulminante para Natsu. A loira revirou os olhos e deu língua para o futuro padrinho. Antes que ela pudesse retrucar, porém, os três finalmente chegaram ao seu destino.

O cemitério de Konoha parecia bem maior do que Sasuke se lembrava. Foi quando lhe veio à memória o momento em que o Naruto do futuro deixou escapar a existência de uma quarta guerra ninja. Guerras sempre resultam em muitas perdas para ambos os lados, e por mais que Konoha aparentemente tivesse se saído vitoriosa, a devastação havia sido muito grande... Grande o suficiente para que Sasuke tremesse ao pensar em qual seria o inimigo que teriam que enfrentar. Naruto, de bico fechado, não deixara escapar mais nenhuma informação sobre o futuro problema, mas Sasuke estava determinado a descobrir mais. –Hinata? – A voz energética de Natsu o tirou de seus devaneios, lembrando-o qual era o verdadeiro objetivo de estarem ali. –Hinata, onde está você?

Não foi preciso muitos gritos para que a Hyuuga aparecesse, trêmula e triste, com grossas lágrimas escorrendo por seu rostinho de porcelana. No mesmo instante uma súbita raiva tomou conta do corpo de certo Uchiha e ele teve vontade de socar o melhor amigo. Quem Naruto pensava que era para rejeitar os sentimentos de Hinata daquele jeito? Ele quis voltar aquela casa imediatamente e bater no loiro hiperativo até que conseguisse infringir algum juízo naquela cabeça dura.

—O-oque vocês estão fazendo aqui? – Gaguejou a menina.

—Viemos buscar você, por favor, volte para a casa do Tio Naruto conosco. – A voz suave de Itachi preencheu o ambiente. Hinata encarou aquele estranho que possuía olhos perolados tão parecidos com os seus. Por alguns segundos pensou em aceitar a oferta, mas a cena de Naruto e Sakura beijando um ao outro e dando risadas junto aos filhos voltou a assombrá-la e mais uma vez seus olhos se encheram d’água. Ela não conseguiria... Não aguentaria ver aquilo mais uma vez. O futuro que tanto imaginara ao lado de Naruto parecia lhe ter sido roubado, e Hinata não tinha forças para ficar debaixo do teto onde o Uzumaki vivia com outra mulher.

—Não, não! – Exclamou a menina. – Não consigo... Naruto-kun... Naruto-kun está casado com Sakura-san... –Ela se desatou a chorar novamente. – E Sakura-san disse todas aquelas coisas ruins sobre mim... Ela o roubou de mim! Eu nunca mais vou ser feliz!

Sasuke sentiu o coração apertar, mas não disse nada. Natsu não sabia como se sentir. Ali estava Hinata-sama, a mulher que sempre admirara e respeitara, a mãe de seu melhor amigo, chorando e se lamentando pelo casamento de seus pais. Claro, seus pais haviam lhe contado a história de como Hinata era apaixonadinha por Naruto em seus tempos de juventude. Mas Natsu achava que esse “apaixonadinha” significava uma queda boba pelo loiro hiperativo, não uma paixão desenfreada como aquela. Dúvidas inundaram a cabeça da menina. Será que ela ainda se sentia assim? Será que depois de tanto tempo Hinata ainda era apaixonada por seu pai e doía em seu peito o fato dele jamais ter lhe dado uma chance, casado e crescido sem sua ajuda? Será que ela tinha raiva de Natsu e Ichigo por existirem?

Itachi suspirou pesadamente.

—Isso não é verdade, Hinata. – Disse ele com um sorriso terno. – Você tem um lindo futuro pela frente, não precisa do Naruto para ser feliz. – O menino tentou convencê-la. Mas Hinata não pareceu convencida.

—É mentira!  - Ela gritou. – Não importa o que eu tenha feito nunca vou ser tão feliz quanto eu poderia ter sido com o Naruto-kun ao meu lado! – Esbravejou, irritada. Não queria mais saber daquele futuro estúpido, queria voltar ao passado e mudar as coisas. Deixaria a timidez de lado, confessaria seus sentimentos para Naruto e quem sabe eles pudessem escrever uma história diferente... Um futuro diferente.

—NÃO! – Foi à vez de Itachi de gritar e todos se viraram em sua direção, surpresos. –Isso não é verdade, mãe. Não pode ser... A senhora não precisa do Naruto para ser feliz... O que quer que sinta por ele agora, esse sentimento acabou! No futuro não existe mais! Porque não foi com ele que a senhora namorou, não foi ele que limpou suas lágrimas quando estava triste, não foi com ele com quem se casou e teve três filhos, não... Foi com Sasuke Uchiha! Foi com meu pai que a senhora fez tudo isso. – Itachi gritou. Sasuke e Hinata tinham seus olhos arregalados. Mal podendo acreditar no que ouviam. –E como pode ficar aí, chorando pelo fato de tio Naruto e tia Sakura terem ficado juntos quando a filha deles está aqui na frente? – Questionou o menino arqueando suas sobrancelhas e todos os olhares de viraram para Natsu. A loira estava estranhamente calada. Seus olhos verdes tinham perdido o brilho e ela parecia triste. Itachi não parou por aí. –Ela é sua afilhada, sabia?

Hinata parou de chorar, chocada demais para tal. Sasuke prendeu a respiração. Ele havia mesmo se casado com a herdeira Hyuuga? Podia sentir o quanto seus pais ficariam felizes com a união entre os dois. E quanto a ele... Como não ficar alegre ao descobrir que seu primeiro amor também se apaixonou por você?

—Devo admitir que meu filho está correto, Hinata. – Uma voz grossa e baixa se alastrou pelo local e todos os olhos se viraram para uma figura negra que saía das sombras. Itachi perdeu a voz.

—Tio Sasuke! – Exclamou Natsu feliz da vida indo em direção ao padrinho. O Sasuke do futuro abriu um pequeno sorriso e recepcionou a loirinha de braços abertos, passando a mão carinhosamente por seus cabelos.

—Como vai minha afilhada favorita? – Perguntou o Uchiha e a garota riu como se tivesse escutado uma velha piada.

—Sou sua única afilhada. – Disse ela revirando os olhos.

—Exatamente.

—Pelo que eu te conheço você provavelmente já sabe  que está acontecendo, não é? –A Uzumaki perguntou. Sasuke do futuro assentiu com a cabeça.

—Passei na casa de seu pai antes de vir e ele me deu uma boa explicação. Creio que agora seja a minha vez, vamos, vamos para casa.

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.

—Estamos voltando para a casa do Naruto-kun? – Perguntou Hinata com uma voz fina. Desde que haviam saído do cemitério, um silêncio mortal se instalara entre os cinco.

—Não, estamos indo para a minha casa. -Sasuke do futuro informou.

—Naruto, o Naruto daqui, quer dizer, ele disse que não podíamos ir lá... –Começou Sasuke. Não que o moreno gostasse de concordar com o dobe, mas agora que era Hokage ele provavelmente tinha tomado algum juízo, e se tinha mandado ficar longe da casa dos Uchiha então devia ter alguma razão. Natsu suspirou.

—Eu sei que meu pai acha que está fazendo o melhor, mas não podemos mais esconder a verdade de vocês... – Disse Natsu, séria. – Não seria certo.

Itachi concordou com a cabeça, ainda muito envergonhado pelo pai tê-lo visto perder o controle daquele jeito, e Sasuke engoliu em seco. Finalmente saberia a verdade, a verdade sobre a quarta guerra, sobre como acabara casando-se com Hinata Hyuuga, se conseguira ou matar Itachi, e o porquê seu filho tinha o nome da pessoa que mais odiava em todo o mundo.

Logo eles chegaram ao seu destino, e Sasuke quase chorou ao ver todo o distrito Uchiha reconstruído, como se nunca tivesse sido destruído em primeiro lugar. Tudo parecia igual, tudo parecia perfeito. Ele quase podia imaginar sua mãe saindo de uma das casas, com seu sorriso doce no rosto, chamando a ele e ao irmão para almoçar...

Balançando a cabeça, Sasuke tentou se livrar dessas memórias. Por mais que fossem felizes, não conseguia pensar na mãe ou no irmão sem sentir dor e tristeza. Não entendia, talvez nunca fosse entender as razões de Itachi para ter feito o quê fez. Na vida real ele era um monstro, um homem que aprendera a odiar com todas as suas forças... Mas em suas lembranças ele sempre seria Itachi nii-chan... Seu adorado irmão mais velho.

—Chegamos. – Itachi anunciou e ele e Natsu entraram no distrito sendo seguidos por Sasuke e Hinata. Natsu parecia bem à vontade, e o moreno ponderou se ela ia lá com frequência. Andando mais um pouco eles alcançaram a maior e mais bela casa do complexo. Não cheirava a biscoitos e xampu infantil, como a casa dos Uzumaki, não era alegre e bagunçada. Ao invés disso, a Mansão Uchiha era prática e elegante, com cores claras, como branco e creme, ocupando as paredes. E parecia muito vazio...

—Tadaima. – Disse o Uchiha mais velho e o pequeno Sasuke pensou  que seu futuro eu tivesse avisado sua presença apenas pela força do hábito, que a casa estivesse vazia, assim como a sua própria todas as vezes que chegava cansado depois de missões com o time sete. Uma sensação horrível de solidão lhe atingiu, até mesmo no futuro sua vida seria tão vazia?

Para sua surpresa, assim que as palavras saíram da boca do moreno, três figuras saíram dos cômodos e foram em sua direção. A primeira a chegar foi uma garotinha de mais ou menos sete anos que se jogou nos braços de Sasuke com alegria.

—Papai! – Disse ela docemente, com o mais lindo sorriso que Sasuke já vira. Ele engoliu em seco, sem coragem de dizer que não era seu pai de verdade. Ela era muito parecida com Hinata, os olhos perolados e a doçura ao falar eram idênticos, sem falar no sorriso. O cabelo, no entanto, era negro como o seu.

—Himawari, papai está aqui. – O Sasuke do futuro informou, pegando a menina no colo, e a pequena pareceu confusa.

—Papai, ele se parece muito com você. – Disse piscando os olhinhos e o mais velho riu.

—Querido, você chegou cedo... -Ah, essa voz melodiosa era inconfundível. Uma Hinata Hyuuga adulta se apresentava diante deles. E estava mais bela do que nunca. A pele de porcelana continuava a mesma, assim como a graça e a leveza ao andar e falar. Os cabelos azuis, contudo, estavam curtos, na altura de seus ombros. Sasuke sempre achou que preferia meninas de cabelos longos, como os de sua mãe, tanto que ficou encantado com as compridas madeixas cor-de-rosa de Sakura, porém, essa opinião se deteriorou no momento que bateu seus olhos na Hinata do futuro. Ela era perfeita. Sem tirar nem pôr.

—A missão foi mais fácil do que imaginei. –Informou Mirai-Sasuke cumprimentando a esposa com um selinho.

—Eu e as crianças sentimos a sua falta. – Disse a Sra. Uchiha com um sorriso de canto, as bochechas vermelhas.

—Eu também senti. – Confessou o homem e eles se beijaram mais uma vez. Himawari e Itachi reviraram os olhos com a cena melosa enquanto Natsu ria acompanhada pelo outro menino ainda não apresentado.

—Vejo que temos visitantes... – Disse a Hinata mais velha e Mirai-Sasuke assentiu com a cabeça.

—Você pode tomar conta deles, eu e Sasuke temos que ter uma conversinha antes de nos juntarmos a vocês... – Disse o Uchiha lançando um olhar significativo à esposa. Hinata suspirou, já sabendo do que se tratava. Seria uma conversa difícil.

—Não seja muito duro com ele. –Disse ela e se virou em direção aos outros, tentando mudar o clima pesado. –Então, Natsu-chan, como vai sua mãe? Você nunca mais veio por aqui... Itachi-kun estava começando a ficar preocupado... – Revelou a ex-Hyuuga.

—Mãe! – Itachi sentiu as bochechas queimarem, horrorizado.

 Natsu gargalhou, aquela gargalhada alta e escandalosa típica dos Uzumaki.

—Minha mãe vai bem tia. – Disse a loirinha com os olhos brilhando novamente. –Own, Ita-chan!Não precisa se preocupar, sabe que eu não canso de você tão cedo, quem mais seria capaz de me livrar de confusão? – Perguntou a menina apertando o rosto do melhor amigo carinhosamente. Itachi escondeu o rosto, com vergonha.

—Itachi nii-chan e Natsu nee-chan sentados debaixo de uma árvore B-E-I-J-A-N-D-O! – Provocou a pequena Himawari nos braços do pai.

—Seria como o pior pesadelo de tio Naruto se tornando realidade... –Revelou o menino desconhecido com deboche. Ele era idêntico à Itachi, trocando apenas os olhos perolados por onixes.

—Neji... Não fale desse jeito... – O pobre Itachi pediu baixinho, não podia ficar mais vermelho.

—E você deve ser minha versão passada, certo? – A Hinata mais velha se virou em direção à pequena Hyuuga, que apenas confirmou com a cabeça, sem saber exatamente o quê dizer. Tinha se impressionado com a beleza da futura Sakura mais cedo, mas sua versão mais madura era igualmente bonita e o fato de Naruto tê-la rejeitado sequer parecia lhe passar pela cabeça. Como ela havia se livrado da dor? A azuladinha estava ansiosa para perguntar.

—A hora do almoço já passou, mas posso fazer um lanche. – Disse a Sra. Uchiha e chamou todos para a cozinha deixando apenas Itachi, Sasuke e Mirai-Sasuke para trás. Pai e filho se encararam com intensidade.

—Itachi, eu e Sasuke temos que ter uma conversa, vá para a cozinha com sua mãe. - Disse o mais velho. Itachi balançou a cabeça.

—Não, essa história tem a ver comigo também...

—Itachi... – Sasuke-pai endureceu o olhar como forma de aviso. Mas Itachi não se deixou intimidar, estava determinado a ficar.

—Pai, é a história do homem por trás do meu nome. Eu tenho direito de estar lá. – Disse o menino convicto e o pequeno Sasuke o observou, admirado. Por conta de sua timidez e da personalidade meiga e afetuosa, as pessoas tendiam a subestimar o Itachi Uchiha II. E esse acabava por ser um de seus últimos erros. Itachi era um shinobi de alto nível que levava suas missões muito a sério e não tinha misericórdia nenhuma. Natsu ainda tinha problemas em “eliminar” completamente o inimigo, mas ele não. Missão dada era missão cumprida. E morte era apenas uma consequência disso.

Mirai-Sasuke suspirou.

—Tudo bem. – Cedeu ele. –Mas terá que manter o silêncio e esperar que eu conte do meu jeito. –Informou o mais velho. Itachi assentiu e os três caminharam em direção ao interior da casa, para o escritório de Sasuke.

O cômodo era extenso e elegante, como o resto da casa. Havia um grande quadro onde, pintados á óleo estava à família Uchiha. Hinata estava sentada, e a pequena Himawari jazia em seu colo. Sasuke estava em pé, ao seu lado, os dois meninos se postavam com seriedade. Apesar de tudo, todos na figura sorriam de leve, e pareciam muito felizes juntos.

—É linda, não é? – Disse o Sasuke mais velho se referindo à pintura. –Foi ideia de Hinata. – Ele informou. Apesar de maravilhado com a obra, o Sasuke do passado sabia como focar as prioridades, e não se deixou distrair.

—Por quê? – Ele perguntou num último esforço para permanecer calmo. – Porque meu filho tem o nome da pessoa que eu mais odeio no mundo?

—Odiava. – O Sasuke mais velho corrigiu frio.

—Odeio. – O pequeno estreitou os olhos. – Você pode até tê-lo perdoado, mas eu ainda o odeio. Consigo sentir o ódio por esse homem pulsando em minhas veias todos os dias há anos.

—Foi justamente esse ódio que te destruir. – Disse o Uchiha com simplicidade e o moreninho arregalou os olhos. – Você pensa que sabe muito, não é? Você não entende nada. O que levaria Itachi a destruir nossa família daquele jeito?

—É o que venho me perguntando por todo esse tempo! – Esbravejou o garoto.

—Você se pergunta, mas nunca parou para pensar de verdade no assunto. – Disse o mais velho e apontou acusadoramente para o menino. – Esse ódio que carrega te faz cego para o que realmente importa.

—ITACHI ASSASSINOU O CLÃ, É ISSO QUE IMPORTA! – O pequeno Sasuke gritou, lágrimas de raiva começaram a cair de seus olhos negros. Itachi mordeu os lábios, sabia no que estava se metendo quando pediu ao pai para estar presente durante a conversa dos dois. Sabia que não seria fácil. Mas não esperou que o moreninho se descontrolasse tão facilmente.

—Mas por quê? – Sasuke balançou sua versão mais nova pelos ombros. –O que transformaria um irmão amoroso para um assassino do dia para a noite?

—EU NÃO SEI!

—Itachi foi um herói da folha. O maior deles. Ele sacrificou nosso clã pelo bem de toda Konoha, impediu uma guerra, um massacre, e ainda salvou sua vida.

—O-oquê? – O Uchiha não conseguia acreditar no que ouvia. Um herói? Salvar vidas? Aquilo não soava com o Itachi que aprendera a odiar.

—A versão resumida dos fatos, os Uchiha pretendiam atacar Konoha, causar uma guerra inteira porque estavam ofendidos com a falta de popularidade da polícia, e com o fato de estarem sendo movidos para cada vez mais distante do centro da cidade. – Começou Sasuke fechando os olhos. - Itachi sabia disso. Mas, por ser parte da ANBU, ele também sabia que Danzo, um dos conselheiros do Hokage, pretendia atacar de volta com a maior força possível. -Eles suspirou. - Itachi cresceu os primeiros anos de vida em meio a guerra. Ele sabia que a paz que Konoha se encontrava naquele momento não havia sido barata. Ele sabia que muitas pessoas haviam morrido para que aquela paz fosse alcançada e não queria que aquele sacrifício fosse jogado no lixo... Ele só... Ele só queria paz...

—Então... Danzo o ofereceu duas opções...- Disse o pequeno Itachi uma vez que seu pai estava ficando emocional demais para continuar. - Ou tio Itachi se juntava à ele, eliminava seu clã e evitava uma guerra, ou então se juntava com os Uchihas e entrava como colaborador do massacre... Então tio Itachi tomou sua decisão. Não como um filho, ou como membro do clã Uchiha, mas como um cidadão de konoha, como um homem que prezava pela paz. E decidiu que eliminar o clã era de fato a melhor maneira de manter as coisas do jeito que estavam...

—Os Uchiha tem um ódio incomparável... - Disse Mirai-Sasuke abrindo seus olhos novamente. - Mas é porque eles amam de um jeito incomparável também... Itachi se juntou à Danzou com uma única condição. O desejo de poupar a minha vida. 

O Sasuke do passado não podia... Não queria acreditar no que houvia. Primeiro tivera que aprender a odiar Itachi. A enxergar o irmão que idolatrara por toda a sua vida como um vilão impiedoso. E a duras penas, ele conseguiu. Cultivou um grande ódio pelo Uchiha primogênito. Um ódio tão grande que mantinha longe até mesmo a tristeza de ver aquele rapaz tão bom transformar-se em um monstro bem diante de seus olhos. Agora vinham lhe dizer que na verdade ele era o mocinho da história? Que fizera tudo em nome da paz, tentando protegê-lo, tentando proteger Konoha e seus habitantes? Aquilo era demais. Era demais para um garoto de doze anos e Sasuke sentiu seu corpo ser tomado por uma dor inacreditável. 

E ele gritou, gritou como se o mundo estivesse acabando, podia sentir as lágrimas quentes descendo descontroladamente por seu rosto. 

—Pai, pai o que está acontecendo com ele? - Itachi perguntou preocupado, ajoelhando-se ao lado da versão mais nova do pai que se contorcia completamente no chão. 

—Está despertando o Mangekyou Sharingan...