Capítulo 16 - Eu estou começando a te entender melhor agora...

[...]

— Eu tenho medo de não conseguir liderar, ele conseguia... eu só acho que não nasci para isso – Soluço continua com o olhar baixo – Ouvir aquilo da Heather só piorou a situação.

Soluço e Sarah caminhavam pela floresta noturna, a luz da lua entre os galhos iluminando o caminho dos dois e a brisa fria entre as palavras de Soluço tornava aquele cenário íntimo, algo só deles...

— Ela estava com raiva, Soluço – Sarah põe a mão sobre seu ombro – Heather devia estar magoada por não ter a chance de vocês serem um casal. Eu não acho que seja um líder ruim, só precisa de ajuda pra se recuperar da queda, seu pai sempre esteve com você... é estranho quando você nota que se foi.

Soluço manteve o olhar baixo.

— No fundo você sabe que só precisa de um pouco de ajuda, mas esse orgulho que você criou não vai te ajudar em nada agora – Sarah o conforta – Você está tentando seu melhor mesmo se sentindo desmoronado... Quantas pessoas fariam isso?

Ele suspira.

— É mais fácil falar, às vezes.

Sarah solta um sorrisinho esperto.

— Tá, ok. Vamos para a ação, então – Ela diz – Eu sou uma órfã que perdeu os pais num incêndio causado por dragões e estou em Berk onde a chances de isso acontecer são razoáveis, estou lutando em provas em que posso morrer e me afastando do único amigo que realmente pareço já ter tido...

— O que é isso? Uma competição de quem está pior? – Soluço diz sarcástico.

— Estou de dizendo isso porque posso entender o que está sentindo, Haddock. Eu sei que está sendo difícil...

Então ambos ficaram em silêncio por um tempo, andando um ao lado do outro. Sarah sentia frio (os trinta e cinco graus de Aina faziam um pouco de falta), andava com as mãos nas costas ouvindo cada palavra atenciosamente e dando o seu melhor para tentar ajudá-lo.

Uma ventania chegou de repente, os cabelos de Sarah até levantavam-se no ar...

— Que gelo... – Ela esfrega os braços.

— Ainda não se acostumou com o clima daqui, foi?

— Não entendo porque estou demorando tanto para me adaptar – Reclama – Durante a manhã, fica tudo bem...

— Daí anoitece e diminui uns dez graus, não é? – Soluço completa.

Ela confirma com a cabeça.

— Não sei como conseguem ficar pilotando dragões durante a noite, nunca pensei que odiaria frio tanto assim...

Soluço retira sua capa e veste-a na garota.

— Acho que vai melhorar assim...

— Obrigada.

Banguela pousa perto deles e Sarah se assusta afastando-se rapidamente.

— Calma aí, amigão – diz Soluço – Pensei que estaria dormindo uma hora dessas, já está tarde.

Ele nota que a garota fica distante e lembra que ela lhe contou algo novo sobre si “os pais de Sarah morreram em um incêndio causado por dragões”, ele teve a certeza naquele instante de que era a razão de ela ter tanto medo dessas criaturas.

— Acho melhor você ir, está realmente tarde – Ela diz prestes a tirar a capa.

Soluço a impede estendendo a mão.

— Você me ouviu por muito tempo, me deixe pelo menos eu te dar uma carona até o vilarejo – Ele sorri convidativo.

                - E-eu... não sou muito... hã

                - Vamos, eu estou aqui com você! – Ele a incentiva – Você me protegeu por que eu não protegeria você? – Soluço estende a mão novamente.

                Sarah aceita meio hesitante, ela já havia voado com Banguela uma vez, mas ela realmente tinha péssimas lembranças de infância que a perturbam de vez em quando. Sem Falar que, naquela época em que eles se odiavam, Sarah passava por uma adaptação com o novo local, sua mente estava quase tão exausta quanto o corpo.

                Soluço segurou sua mão e, mesmo corado, pôs a mão dela sobre o focinho de Banguela que parecia amigável em conhecer a mais nova amiga do seu melhor amigo. Ela ficou em silêncio e então tudo veio mais uma vez.

                ...

                Sarah

                Sarah Thornado

                - Sarinha, por favor, responde...

                A garota pisca voltando a realidade, ela havia ficado paralisada com as memórias... Elas vêm sempre todas de uma vez, nunca organizadas, Sarah não se lembrava muito bem da morte dos pais. Fora tão traumático que ela sofreu uma amnésia momentânea, os curandeiros disseram que ela poderia demorar a lembrar da morte deles, todavia ela ainda tinha lembranças deles. Eram muito poucas, mas eram as melhores...

                - Minha cabeça... – Sarah se afastou tonta pressionando os dedos contra a testa  – Perdão, e-eu...

                - Sarah você está bem? – Soluço a olhou completamente preocupado a abraçando - Você ficou muito tempo naquele estado... e-eu pensei...

                Thornado sai do abraço.

                - Está tudo bem, agora. Já passou – Ela diz devolvendo sua capa – Não deve se preocupar comigo, Haddock.

                - Não comece com esse drama de novo, Sarah!

                - Você não entenderia! Me desculpa, por favor... Eu sou uma longa história, eu não quero que você se machuque ainda mais se preocupando assim. É melhor eu sumir novamente, eu juro que se eu pudesse... eu ficaria com você... mas eu não posso...

                “Ela sumiu porque se importa comigo...” Pensou Soluço vendo-a partir.

***

                No Palácio Flutuante, Belle e Rosabelle faziam seus tratamentos de beleza diários cheios de frufrus e mimos inacabáveis conversando sobre os príncipes e reis que a elas seriam prometidos.

                Tudo estava uma maravilha até que um servo entra as pressas segurando um pergaminho com algo que iria mudar, finalmente (acredite, todo esse drama está uma chatice para mim, narrador), o rumo das coisas.

                - Oh meus deuses, minha querida irmã! Vosso pai anunciou que seus deveres acabaram e que poderá vir comemorar os jogos conosco, sabe o que significa?

                - Claro que sei, querida. Jóias, ouro e príncipes! Não acredito que finalmente chegou o ano em que iremos embora daqui! Ouvi dizer que ele planejava uma surpresa para nós trazendo os criadores dos mais lindos vestidos de casamento do mundo!

                - Querida, eu sei! Mas e o maridinho da terceira?

                - Ele não comentou nada, mas tem um interessado. Deve ser um velho gagá.

                Ambas riram.

                As criadas ali em volta que a mimavam preocupadas estavam, afinal, elas adoravam Astrid e sabiam que a garota estava fugindo deste imprevisto a tempos. Uma delas se arriscou a perguntar:

                - Perdão, senhoritas, isso significa que a Princesa Astrid vai ter de voltar mais cedo da viagem?

                - Ora se não temos uma fofoqueira aqui, não é mesmo?

                - Mas já que estamos de bom humor – Diz Rosabelle.

                - Iremos contar que sim – Completa Belle.

                Uma das outras se retirou discretamente e correu até Calid e Dave para lhes avisar que sua tão adorada princesinha voltaria em dois dias.

***

                Calid correu até a cidade vestindo um manto, ele nunca fizera algo como aquilo antes, mas faria de tudo pela princesinha. O designer chegara ao vilarejo em poucos segundos onde imediatamente encontrou Soluço e teve de arriscar em perguntar;

                - Perdão por incomodá-lo, Senhor Haddock. Mas o senhor saberia onde posso encontrar Sarah Thornado? É uma grande emergência!

                Soluço estranhou, mas pediu silêncio por um segundo. Ele apontou para um edifício em construção que estava desabando, Sarah estava ajudando as pessoas a descerem indo para as partes onde ninguém tinha coragem de ir. Ela fazia isso com um sorriso.

                Calid nunca a vira em ação como estas antes, sempre ocupado criando milhares de vestidos para as outras princesas e cuidando indiretamente da sua garotinha, e nunca ficara tão orgulhoso na vida quanto naquele momento.

                - Muito obrigado, senhor Haddock.

                - Quer ajuda com a emergência? Ela parece ocupada.

                - Perdão, é algo confidencial. Espero que não se ofenda.

                Soluço negou com a cabeça e partiu, pensativo sobre as coisas que aconteceram na noite passada. Ele estava confuso sem saber o que fazer, mas ao olhar para ela, ele tinha certeza de que queria ajudá-la; queria que fossem próximos novamente e se decidiu a tentar conversar com ela. Se ele podia confiar nela, por que não o contrário?Por que não poderia ser uma confiança recíproca?

                Após o resgate ele observou o homem encapuzado falar com Sarah, ele observou também as cicatrizes que ela ganhara na ultima prova ao protegê-lo... ele amava aquelas cicatrizes, amava que elas tenham sido para protegê-lo e que, no fundo, não era só por causa da prova.

                A expressão determinada no rosto da Thornado ficou preocupada na conversa com o homem, mas ambos se afastaram antes que ele pudesse pensar em algo. Soluço decidiu deixar pra lá não deveria ser nada muito importante...