"Tom...nós, hm, precisamos conversar." fazia apenas cinco minutos que eu tinha ligado para Thomas e a campainha da casa da minha avó já estava tocando.

Andei preguiçosamente até a porta para dar tempo de tomar a coragem necessária e não amarelar como fiz nos últimos dois meses.

Àquela altura, Thomas não devia nem ao menos estar preocupado com a minha ligação, embora devesse estar. Porém, eu também tinha motivos para ele se acostumar, visto que eu já tinha ligado várias vezes com aquela mesma entonação dizendo que precisávamos conversar.

Embora, o conceito real de conversa geralmente era sentar desconfortavelmente ao seu lado por algumas horas e trocar alguns beijos e carícias mornas.

Hoje será diferente, disse a mim mesma.

Suspirei pesadamente ao segurar a maçaneta e virá-la revelando Thomas com um sorriso estonteante nos lábios.

Ele ainda continuava o mesmo. Sempre bonito e atraente. Ainda me sentia um pouco atraída por ele, afinal Tom ainda era o mesmo, eu e meus sentimentos que tinhamos mudado.

Seu sorriso diminuía mais a cada minuto que ele entendia a expressão em meu rosto, até o momento em que era quase inexistente.

Dei espaço para que ele entrasse na casa vazia.

Minha avó estava na caminhada de fim de semana com as amigas e meu pai e Anne tinham voltado para New Hampshire no mês passado.

Ele deu um beijo na minha testa ao passar.

Andei logo atrás dele e o observei se sentar no braço do sofá enquanto eu apertava uma mão na outra.

Thomas me observou pacientemente andar de um lado para o outro.

Respirei fundo pela milésima vez antes de parar.

"Tom, eu..." parei de falar imediatamente no momento em que ele levantou uma mão.

"É assim que começa o término, não é? Eu consigo ver nos seus olhos." sua voz era decepcionada, mas não profundamente triste. Exatamente como quando eu me senti quando descobri que ele estava me traindo.

"Não sei como fazer isso de uma maneira leve."passei os braços em minha volta tentando continuar olhando-o nos olhos. "Não quero que terminemos de uma maneira ruim."

"Não precisamos terminar de uma maneira ruim." Tom passou uma mão no tecido do sofá. "Mas acho que preciso te dizer umas coisas."

Meu coração apertou, mesmo quando fiz sinal para que ele começasse.

Então Thomas me contou sobre como ele e Harry eram amigos e como a amizade entre eles acabou abruptamente pois houve um mal entendido quando eles passaram as férias juntos na Inglaterra, um ano antes de começarmos a namorar.

Tom achava que Harry estava ficando com uma garota que todo mundo sabia que Thomas gostava.

Harry negou veementemente, mas um dos amigos deles que gostava de picuinhas pilhou a cabeça de Tom para que ele acreditasse. Inventando até que a menina e Harry havia dormido juntos.

Apesar de fazer muito tempo e ser mentira, meu estômago fisgou como sempre fazia ao imaginar Styles com outra garota.

A amizade entre os dois terminou, mesmo com todos os esforços de Harry para provar que era "inocente" e quando Thomas voltou para Lakeport o laço entre os dois estava definitivamente quebrado.

Tom queria se vingar de alguma forma e ele lembrava bem da garota por quem Harry sempre foi apaixonado. A menina que ele só tinha visto uma vez quando eram crianças e trocaram um casto beijo.

Minha respiração falhou.

A menina era eu.

Harry era o meu primeiro beijo. Apesar de já saber daquilo, as coisas não se tornavam mais leves por isso.

"Quero que antes que você me enforque, entenda que nosso relacionamento, apesar de ter começado pelos motivos errados da minha parte, realmente me fez criar sentimentos fortes por você. Consegui entender por que com apenas um beijo Harry não foi capaz de te esquecer."

Eu tinha sido tão idiota.

Tom continuou contando que Styles havia vindo um fim de semana para Lakeport para acertar as coisas com ele, porém quando descobriu que eu era a namorada de Thomas, soube que aquilo era por vingança e a situação entre os dois só piorou.

"Pensei que ele viria até você e lhe contaria toda a verdade, mas não o fez. Harry nos viu juntos e disse que se você estava feliz comigo e então nada mais importava, mas ele não me perdoaria tão cedo, principalmente se eu te machucasse."

Eu quase sorri ao imaginar Harry tentando me defender.

Thomas contou que chegou num ponto que ele gostava de mim de verdade e ele teria me amado, se o sentimento idiota de vingança não fosse maior. Toda vez que estava quase se entregando ao sentimento bom, ele ainda lembrava do rancor que tinha do que ele achava que tinha acontecido entre Harry e a garota que ele gostava.

"Então os anos passaram, e, mesmo que não fosse cem por cento amor, eu não conseguia imaginar como seria não estar em um relacionamento com você. Você me fazia bem, me fazia ver lado bom de tudo e irradia uma energia tão boa que era como se sempre eu estivesse andando ao lado de raios de sol. Você poderia não ser o amor da minha vida, mas você era e é uma pessoa muito especial e importante na minha existência."

Eu poderia sentir que suas palavras eram sinceras. Mesmo com todas aquelas revelações que eu nunca poderia imaginar, eu tinha de admitir que Thomas também era uma parte muito especial da minha vida. Ele foi uma da pessoas que mais esteve comigo ao longo daqueles anos. E era claro que ele deixaria sua marca em mim. Não poderia mentir e dizer que não tive momentos felizes com ele, porque eu tive vários. Crescemos, evoluímos e amadurecemos juntos, apesar de termos começado por causa de uma confusão sem sentido.

Thomas foi minha inspiração por muito tempo e eu não me arrependia daquilo.

"Quando você me disse que se mudaria, eu não sabia como seria meus dias. E quando você se foi, eu não sabia como agir. Foi quando eu conheci a Hayley." ele não olhou para mim quando disse o nome dela e sim para suas mãos cruzadas sobre a coxa. " E então eu pude entender Harry por completo. Eu havia visto e conversado com ela apenas uma vez por poucos instantes, e então a mesma admiração que eu tinha por você eu tive por ela, só que os sentimentos eram muito mais intenso e confusos. Queria estar com ela e conversar com ela mesmo se fosse para que Hayley falasse por duas horas e eu, por cinco minutos."

Então, foi quando nosso relacionamento virou um problema. Thomas não sabia o que fazer sem mim e não podia contar para Hayley que tinha uma namorada. Ele também tinha uma escolha para fazer, assim como eu.

Teria sido mais fácil para ele terminar comigo se Harry não tivesse aparecido e despertado aquele rancor de anos atrás. Porém, quando ele soube que eu atravessava o país numa kombi com Styles, seu lado ruim não deixava com que ele "me desse de mão beijada" a Harry.

" E então eu fiz a ouro coisa que pude. Mantive você e Hayley presas a mim como se eu pudesse manter as duas comigo da mesma forma. E isso me deixava cada vez mais desesperado. Você não merecia aquilo, o carinho que eu sentia por você, gritava comigo dizendo que eu estava mantendo você comigo por birra e era verdade. Mas meu lado egoísta não queria saber. Hayley estava prestes a voltar para a turnê do seu livro e eu precisava saber se ela era um lugar seguro para me jogar antes de eu terminar com você."

Thomas me encarou no fundo dos olhos deixando transparecer seu arrependimento.

"Fui inseguro e mesquinho. E quando você chegou com ele, depois de passar na minha casa, eu vi vocês dois juntos. Vocês só estavam perto um do outro, não estavam falando nada, mas naquele momento estava bem claro que eu havia perdido você. Fiquei surpreso por ele, mesmo depois de estar próximo de você, não ter contado sobre o passado de vocês dois." Tom respirou fundo e passou as mãos pelos cabelos.

"Eu estava quase pronto para deixá-la ir, e, naquele mesmo dia, Hayley me ligou dizendo que adiantaram a turnê e que ela estaria embora. Então aconteceu aquele episódio vergonhoso do sofá, que eu nunca vou poder me desculpar o suficiente. Queria ter certeza que os meus sentimentos por você não eram mais profundos do que pela Hayley e eu sinto muito mesmo por ter agido daquela forma. Não teria te forçado a nada, espero que algum dia acredite em mim."

"Se você sabia que eu já não sentia o mesmo por você nem você por mim. Por que quis continuar com esse namoro?"

"Porque não queria que terminássemos da maneira que fizemos quando você descobriu sobre Hayley. Não queria que você me odiasse ou algo do tipo. Desejava a oportunidade de ter essa conversa franca com você, sem que na primeira palavra você me desse um belo tapa e me expulsasse da sua frente."

Ele levantou o olhar na altura do meu busto onde estava o colar de Harry e com um sorriso olhou para o meu rosto novamente.

"E também...eu vi como você ficou quando Harry foi embora. Queria te dar algum suporte emocional, mesmo que você não soubesse que eu tentava te consolar por causa de outro cara. Eu devia isso a você e ao Harry também."

Tom não estava mentindo. Nós últimos meses, apesar de não ter sido nada próximo de um namoro, ele sempre esteve lá para mim. Sempre vinha quando eu ligava, sempre tentava fazer eu me sentir bem, sem ultrapassar o limite. Nunca me beijava mais do que eu permitia ou tentava algo a mais. E eu também tinha certeza de que Thomas me ouvia chorar em seu peito quando adormeciamos no sofá.

Não tinha parado para pensar que ele estava ciente do que acontecia dentro de mim o tempo todo e me ofereceu um apoio silencioso sem querer nada em troca.

"Então, sim, eu pedi para que voltássemos por conveniência, mas não do modo ruim. Queria apenas te dar suporte enquanto eu me preparava para ter essa conversa com você. Eu nunca fiz algo do tipo antes, mas eu sabia que uma hora você acabaria com isso entre a gente. Não sou suficiente para você, nunca fui, mas você acreditou que sim por algum tempo, e agora..." ele olhou para o colar de novo. "Acho que não tem como voltar atrás."

Meus olhos estavam marejados.

"O-obrigada, Tom, eu..." pude ver a movimentação dele se levantando e vindo em minha direção.

"Eu não mereço que você me agradeça." ele passou os braços em minha volta como tinha feito nos últimos meses. E só então eu notei como era diferente de quando namorávamos de verdade. Era um abraço amigo, reconfortante... era muito bom.

Abracei-o de volta enquanto eu soluçava em seu ombro e ele acariciava meus cabelos.

Ficamos alguns minutos assim e então começamos a nos afastar. Thomas piscava rapidamente como quem quer afastar as lágrimas e eu enxugava as minhas com as costas das mãos sem vergonha.

"Bem," eu disse com uma voz chorosa. "Até que não foi tão ruim assim."

Nós dois rimos.

"Eu só queria dizer, Aster Duchassel, que foi um prazer fazer parte da sua história, ainda que eu tenha agido como um vilão muita das vezes, e que você me fez ter a melhor primeira namorada do mundo." eu gargalhei. Tom segurou meu rosto com uma das mãos. "E se eu conheço seu par romântico bem, as aparições dele no enredo ainda não acabou. Não se preocupe."

Tom deu um beijo demorado na minha testa.

"Espero que continuemos amigos, de verdade."

Então ele se ajeitou para ir embora.

"Tom! Espera, eu tenho algo para você." tirei meu celular do bolso e vasculhei os contatos. Peguei um pedaço de papel e uma caneta começando a escrever.

"Pegue." Thomas olhou o papel e eu pude ver sua respiração ficando pesada. "Ela trocou de número e como eu estou na mesma editora que ela, eu..."

"Aster, não...ela não vai querer me ouvir."

"Por que não? Se você falar com ela com metade da emoção que falou comigo hoje, tenho certeza que vai te ouvir. Hayley gosta de você, de verdade. E posso ver que você gosta dela, não deixe de lado a sua própria história. Todos somos protagonistas das nossas."

Tom assentiu com um pequeno sorriso, respirando fundk e dobrando o papel para pôr no bolso.

"Obrigado, As." ele andou em direção a porta comigo logo atrás.

"Obrigado, Tom. Inclusive pelo contato com a editora, eu realmente esqueci de te agradecer."

Thomas parou na soleira da porta e virou para mim com a testa franzida.

"Apesar de querer ter tido essa ideia primeiro, eu não fiz contato com a editora. Para falar a verdade, eu nem sabia que tinha uma em Lakeport." Ele deu um sorriso sem graça. "Não sou muito ligado nessas coisas. Talvez tenha sido Alice ou..."

Tom parou e olhou com um sorrisinho no rosto para minha expressão de compressão.

"Hm, acho que você já sabe quem foi..." brincou

Dei um sorriso amarelo.

"Tá, tá, que seja."

"Você vai ligar para agradecer? Posso te emprestar meu telefone." ele disse como uma criança pentelha de 8 anos.

"Tchau, Tom." eu disse o empurrando para fora.

"É sério, se você quiser eu posso..."

"Tchau, Thomas." Fechei a porta na cara dele, mas pude ouvir sua gargalhada do lado de fora e um sentimento bom me percorreu.

Bem, pelo menos um lado da minha vida estava entrando nos eixos.

Só faltava o lado mais complicado. O esquerdo. Do coração.

*