Acordei com várias folhas de papel em volta de mim e minha máquina de escrever ao meu lado quando ouvi batidas leves na minha porta.

Abri apenas uma fresta que me possibilitava reconhecer a pessoa do outro lado, apenas para encontrar um Harry arrumado e sorridente.

"O que você está fazendo aqui?" soei mais grossa do que eu pretendia.

"Posso entrar? Tá frio aqui fora." quando eu dei passagem para ele eu realmente senti o vento congelante que soprava no corredor. 

Por sorte, tinha um aquecedor no quarto, caso contrário eu não estaria vestindo aquela camisola que ganhei de Alice no meu último aniversário.

Ou talvez eu não estaria vestida com ela se eu não estivesse com tanta preguiça de procurar um pijama.

"Acordei você, né?" Harry perguntou meio distraído enquanto me analisava de cima a baixo.

"Na verdade, eu caí no sono enquanto escrevia, nem me pergunte o quanto ou como eu dormir." eu sentei na cama juntando os papéis espalhados.

Harry ficou em pé perto da porta meio deslocado.

"Como foi a festa?" abri um espaço ao meu lado para que ele se sentasse, mas ele não captou a mensagem. Estava viajando em pensamentos. "Você não espera que eu te dê permissão para sentar, certo?"

Ele piscou algumas vezes voltando à realidade, soltou um riso nasalado e sentou ao meu lado fazendo seu perfume preencher o quarto.

"Fiquei um pouco mais de quarenta minutos lá." ele olhou para mim. "Eu tinha que me acertar com alguém."

Eu levantei uma sobrancelha:

"O que eu fiz?"

"Com certeza não foi você que fez algo. Estou quase certo de que fui eu." ele abaixou a cabeça e continuou. "Eu só falei para Sienna que éramos meio-irmãos porque..."

"Porque somos meio-irmãos. Eu disse que tenho um namorado, porque eu tenho  um namorado. Apenas dissemos os fatos que são comprovados, sem problemas." eu o interrompi dando de ombros.

"Não tente agir como se você tivesse ficado indiferente quando eu disse isso." eu levantei e ele fez o mesmo. "Você entendeu o sentido errado do que eu disse. Por que eu teria interesse em explicar para Sienna que não tem existe entre nós quando na verdade existe?"

"Porque você gosta dela." eu virei de costas para não encontrar seus olhos.

"O quê? Não! Eu não estou a fim da Sienna." ele segurou meu braço e me virou para ele.

"São quase remotas as chances  de para de gostar de alguém que gostamos por tanto tempo do dia para noite." o olhar dele procurava o meu, mas eu não correspondia.

"Do que você está falando?" ele disse franzindo a testa.

"A irmã dela me contou que vocês se conheceram em uma noite, se beijaram e nunca mais se viram. Parece familiar?" ele arregalou os olhos.

"Espera, você acha..." ele soltou meu braço e começou a rir. Fechei a cara e ele tentava parar de rir.

"Qual é a graça?"

"Não, definitivamente não." ele disse se recuperando. "Sienna não é a garota sobre quem conversamos." A tensão do meu corpo aliviou um pouco ao ouvir suas palavras.

"E se ela fosse? Digo, e se essa tal garota aparecesse, você a escolheria, não é? Fale a verdade, você a procurou por anos...E eu não ficaria triste por isso porque sei que você a amou primeiro e..."

 Harry pegou meu rosto com as duas mãos e me beijou. Eu me senti ainda mais patética do que já estava. Estava parecendo quase uma carente desesperada.

"Eu escolheria você, por que insiste em duvidar disso? Quando eu disse que  meus sentimentos eram claros e definidos eu estava falando sério." ele colocou as mãos em minha cintura e eu levei minhas mãos aos seus cabelos e ele fechou os olhos. "Estou perdoado?"

"Hm... mais ou menos. Quer dizer que você gosta de sair beijando garotas por aí e depois sumir no mundo? Só nessa viagem eu já descobri duas." ele gargalhou

"Isso tudo é ciúmes, Duchassel?" Harry provocou

"Que ciúmes, garoto? Imagina, eu com ciúmes de vocês."

"Olha que quando que tivemos  essa conversa sobre ciúmes eu acabei te beijando, então se você quiser continuar eu não vou reclamar." eu dei um tapa em seu ombro e ele me puxou contra seu corpo.

"Só quero ter certeza que não vou fazer parte desse grupo de garotas." brinquei.

"Considerando que já nos beijamos mais de vinte vezes nessa viagem, acho que não tem mais condições de você fazer parte desse grupo. Sinto muito."

"Olhe lá que eu ainda posso te deixar no meio da estrada a caminho da Califórnia."

"Até parece, você não viveria um dia na estrada sem mim." Harry me beijou lentamente impedindo que eu desse uma resposta.

Fomos caminhando inconscientemente (pelo menos da minha parte) de volta a cama. Suas mãos passeavam em minhas costas enquanto nosso beijo se tornava a cada minuto mais intenso.

Minhas panturrilhas encostaram na cama e eu suspirei fundo quando os lábios de Harry deixaram os meus e foram para o meu pescoço.

Ele me deitou na cama delicadamente e meu coração batia acelerado como se eu estivesse correndo uma maratona. 

Harry voltou a me beijar e naquele exato momento ouvimos o toque do meu celular.

Cacei o aparelho no criado-mudo e Harry deu um beijo em meu pescoço antes de sair de cima de mim.

Ao olhar o nome e a foto do meu pai no visor meu rosto ficou vermelho imediatamente.

"Alô, filha."  ele disse e eu tentava recuperar o fôlego antes de dirigir a palavra a ele.

"Oi..hm, pai."  minha voz ainda saiu estranha, mas foi o suficiente para que Harry começasse um ataque incessante de riso.

"Te acordei? Desculpa não estar te ligando tanto quanto eu gostaria."  ele se desculpou e eu me senti mal por não ter dado muita atenção à essa falta de contato entre nós dois. Tirando Alice, meu pai se tornou meu melhor amigo nos últimos anos.

"Não se preocupe, eu não estava dormindo. Eu estava... bem, fazendo nada."  isso provocou uma nova ondas de risadas em Harry, daquelas bem contagiantes e então eu joguei uma almofada certeira em seu rosto.

"E acho bom você estar aproveitando bem a sua Lua-de-mel, e espero que Anne esteja aproveitando ter sua atenção só para ela porque quando vocês voltarem, é bem provável que eu não te largue mais." ele riu do outro lado da linha.

"Até parece, depois que você ver Thomas não vai querer nem vim me visitar."  eu ri um pouco, mas o motivo foi porque Harry pegou uma folha em branco e escreveu:

"DIZ QUE EU MANDEI UM BEIJO PARA MEU SOGRO E A SUA SOGRA." revirei os olhos ao ler e ele riu.

"Tem alguém aí com você?"  era possível perceber a minúscula partícula de ciúmes na voz do sr. Duchassel.

"É só o Harry. Veio aqui me acordar para encher o meu saco." Harry fez uma cara de ofendido ao me ouvir e meu pai riu do outro lado.

"Tenha um pouquinho de paciência com ele, já te expliquei porque não pude deixar você fazer essa viagem sozinha."

"Eu te entendo, pai. E tenha certeza que se eu só tivesse esse "pouquinho" de paciência eu já teria o matado. "  Harry soltou beijos no ar. "Ah, da próxima vez, vocês façam o favor de levar ele com vocês. Não sirvo para ser babá."

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