Spirit escrita por Hawtrey


Capítulo 9
Por essa eu não esperava


Notas iniciais do capítulo

Inicialmente eu quero agradecer a todas que ainda estão acompanhando e comentando, muito obrigada de coração gente e de novo, me perdoem pela ENORME demora. Eu sei que demorei, até pedi desculpas por isso em todos os comentários que respondi... a faculdade está tomando a maior parte do meu tempo e estou tentando de tudo pra me organizar e fazer tudo direitinho.
Espero que tenham paciência comigo... =D



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— Rose?

Eu não consegui responder. Quando decidi bater na porta de Dimitri eu já sabia que seria difícil, é, estava ficando cada vez mais difícil vê-lo sem ficar o encarando como uma boba apaixonada. Dimitri é lindo e eu sentia falta daquela loção pós-barba, dos braços dele... certo, eu sentia muita falta. Na verdade não conseguia encará-lo sem lembrar dos beijos ou daquele momento na cabana.

— Algum problema? — ele insistiu ainda segurando a porta.

Sim, seria difícil revê-lo, ainda mais com minhas emoções tão bagunçadas depois daquele sonho... mas com certeza seria muito mais fácil do que agora, quando ele está acompanhado.

Eu podia ter batido na porta dele a qualquer maldita hora e escolhi justamente o momento em que ele estava acompanhado pela Natasha Ozera. Aquela vaca...     

— Desculpe atrapalhar — pedi lançando um sorriso falso para ela.

— Não, não está atrapalhando — Dimitri se apressou em dizer — Estávamos apenas revendo...

— Não precisa me dar explicações Guardião Belikov — cortei ignorando o meu nervosismo.

A expressão de Dimitri endureceu, provavelmente ele achava que eu o tratava formalmente para lembrar que éramos apenas colegas de profissão, mas na verdade eu só fazia aquilo pelo bem da minha sanidade. Chamá-lo daquela maneira me fazia lembrar da raiva que eu deveria sentir dele e me impedia de pensar no quanto eu queria beijá-lo.

— Eu vim buscar aquela pasta da sua mãe...

— Claro — ele concordou em tom contido — Entra.

Quando ele deu as costas para pegar a pasta eu hesitei em entrar, mas assim que encontrei os olhos fuzilantes de Tasha eu decidi bater de frente com ela, silenciosamente ou não.

— Como está sendo a convivência com o Guardião Orlov? — ela perguntou em tom quase malicioso.

Certo, a primeira jogada foi dela. Pensei em me preparar pra responder a altura, mas um brilho lateral chamou minha atenção. Lentamente virei a cabeça e franzi o cenho ao encontrar Dimitri. Ele ainda estava de costas pra mim, procurando a pasta em um pequeno armário, mas agora eu enxergava um diferencial: algo verde com traços laranjas brilhava ao redor dele. Sua aura. Dimitri estava, literalmente, verde de ciúmes.

— Muito bem — respondi voltando a fitar Tasha — Nos aproximamos bastante.

— E bem rápido pelo o que notei — ela atiçou sorrindo.

Eu devolvi o sorriso falso quando notei a aura de Dimitri aumentando. Aumentando de verdade. Acho que Adrian não estava brincando quando dizia que minha aura ocupava todo o lugar.

— Tive a oportunidade de conversar com ele — Tasha continuou chamando minha atenção — Parece gostar muito de você...

Tudo bem, eu estava perdendo aquele jogo. E a aura dela estava quase amarela. De satisfação.

— Confio muito nele, com certeza — respondi — É um grande amigo. Yuri tem me ajudando bastante.

É o máximo que eu consigo fazer?

— Pela quantidade de vezes que vi ele saindo do seu quarto eu posso acreditar nisso.

O sorriso dela me enfureceu, era grande e convencido. Natasha sabia que estava me atingindo.

— Ah então eu acho que vou seguir seu exemplo Tasha e começar a visitar alguns quartos, é realmente horrível ter que me preocupar com Yuri ser visto ou não.

O quarto explodiu em cores, variadas cores. O verde de Dimitri se tornou quase negro e o dourado alegre de Natasha começou a variar entre o vermelho, o verde e algo negro. Eu sorri.

— Está insinuando alguma coisa? — ela questionou semicerrando os olhos.

— Insinuando? — me fiz de desentendida — Não, não. Eu só ouvi alguns boatos sobre o numero de quartos que você anda visitando ultimamente, alguns Dhampirs e Morois parecem realmente animados com isso. Não entendo o motivo.

Numero de quartos? Boatos? Eu nem sabia do que estava falando, mas só de ver a cara da vaca eu soube que foi um chute bem certeiro.

— Você ouvindo boatos? — ela devolveu se aproximando — Por acaso também ouviu aqueles sobre você e Yuri?

Não posso atacar Morois. Não posso atacar Morois.

— Claro. Junto com aqueles sobre você e o Guardião Travis — retorqui sarcástica — Parece um romance bem recente, o que houve com o antigo?

— Pelo menos o amor não acabou.

Minha respiração parou, assim como Dimitri atrás de mim. Eu tive que encontrar todo o meu autocontrole para não virar e chutar a cara dele até não sobrar nada que o deixasse reconhecível. Como ele pôde? Como ele pôde contar a ela? Eu contei a Lissa porque além de ser minha melhor amiga, não foi um empecilho naquilo que chamamos de romance. Mas Natasha? Inferno. Como eu queria matar aqueles dois!

O sorriso dela aumentou ao notar minha reação e me impedi de dar dois passos a frente e reabrir aquela cicatriz ridícula na cara dela. Se eu fosse parar pra analisar poderia facilmente notar que a frase dela não tinha relação nenhuma com o que eu tinha falado, Natasha só queria provocar, só queria provar que sabia daquilo.

— Pelo menos houve amor antes da rejeição — devolvi em tom controlado.

Não posso matar Morois.

O sorriso dela diminuiu gradativamente a medida que ela assimilava o que tinha ouvido e antes que meu controle evaporasse eu virei para Dimitri, sustentando o olhar mais frio que consegui.

— Achou a pasta?

Ele engoliu em seco e me entregou uma pasta fina e marrom.

— Rose!

Virei na direção da porta, assustada. Mikhail me encarava ofegante, porém sorridente.

— Guardiã Petrov disse que estaria aqui. Eu preciso que você veja uma coisa.

Compreendendo o que ele tinha falado, apenas dei as costas a Dimitri e sai do quarto.

— O que encontrou? — perguntei a Mikhail quando atravessamos o jardim em direção ao prédio administrativo.

— Você pediu alguma coisa que comprovasse a localização de Sonya.

Franzi o cenho. Mikhail havia encontrado Sonya há dois dias, me dando a única boa noticia no meio da confusão com Nathan que eu estava me esforçando para esquecer. Pedi que, antes de qualquer coisa, confirmasse a localização dela e ele o fez. Não duvidei do trabalho dele ou algo assim – se tinha alguém que queria encontrar Sonya Karp mais do que eu com certeza era Mikhail, mas eu também não queria viajar por ai às cegas sem ao menos um ponto para seguir, mesmo que isso fosse quase impossível para Strigois. Imaginei que se ela surge nos meus sonhos sem eu pedir, também poderia me ajudar a encontra-la simplesmente ficando em um local fixo.

Eu já tinha saído por ai – pela Rússia para ser mais exata, a procura de alguém que não queria ser encontrado e acabei me desviando do caminho, sendo atacada e sequestrada por Strigois, quase me tornando uma e quase abandonando tudo o que eu amava – e ainda amo. Não cometeria o mesmo erro de novo, nem arriscaria.

— Então a encontrou mesmo? — me certifiquei incerta.

O sorriso de Mikhail já era uma resposta e tanto, mas assim que estramos na sala que ele tinha reservado eu soube que não mais hesitaria em pedir ajuda a ele.

A sala ficava nos fundos do bloco administrativo, aquele mais odiado pelos Dhampirs, e por isso eu sabia que não era a única que desconhecia a existência daquela sala. Sala? Não, parecia mais uma mini central de rastreamento ou algo do tipo. Havia alguns equipamentos espalhados, que nem fiz questão de tentar descobrir o nome, e dois computadores preparados. Mikhail se aproximou de um e pediu que eu fizesse o mesmo.

— Ela está nas proximidades de São Petersburgo.

— Ah não...

Claro, Sonya tinha que está na Rússia. Claro! Por que a vida não podia ser fácil, não é? Algo tinha que me fazer voltar para a Rússia!

— Imaginei que teria essa reação — comentou Mikhail tentando ser gentil.

— Eu devia ter imaginado — falei cansada — Rússia deveria ser considerada o país natal dos Strigoi. Frio, escuro e tem gente pra todo lado... tudo o que eles querem.

— Então o que vamos fazer?

— O que você acha? Vamos para a Rússia.

***

— Tem certeza disso Rose? — Lissa questionou pela décima vez.

Revirei os olhos. Quantas vezes eu precisava gritar “sim” pra que ela entendesse?

— Você sabe, voltar lá... depois do que aconteceu...

— Eu sei bem Lissa — cortei impaciente enquanto me levantava da cama — Eu sei muito bem o motivo de eu não querer voltar pra lá.

— Desculpe — ela pediu sem graça — Quer mesmo isso?

— Claro que não — respondi de imediato — Mas preciso encontrar Sonya.

Lissa pareceu pensar por um momento, seus olhos inquietos mostravam isso. Senti sua agitação passar pelo laço, assim como a preocupação.

— O que Yuri acha disso?

— Não sei — respondi indiferente começando a andar de um lado para o outro — Não falei com ele ainda.

— Não senti saudades de você Rose.

Sorri ao reconhecer a voz suave e divertida atrás de mim.

— Não sabe mais bater garoto tocha? — impliquei.

Christian sorriu e sentou na cama, onde eu estava sentada antes.

— É o quarto da minha namorada, nunca preciso bater.

— Devia pensar que nem sempre sua namorada estará sozinha — retorqui revirando os olhos.

— Se não for um homem, então não vejo problema.

— Vamos para a Rússia — Lissa revelou de repente.

— O quê?

Demorei a notar que aquele questionamento indignado não tinha saído da minha boca. Virei ainda com o cenho franzido e fitei Yuri e Dimitri parados a porta, parecendo paralisados.

— Vocês deveriam bater na porta também — alertei mesmo querendo correr até Lissa e exigir uma explicação.

Yuri pigarreou parecendo constrangido e se desculpou baixinho. Mas Dimitri permaneceu com a mesma expressão assustada, o que não era muito de seu feitio.

— Perdão princesa, mas disse que vai para a Rússia?

Nós vamos — corrigiu Lissa sorridente, a alegria perpassando pelo laço — Eu quero muito visitar sua família, espero que não se importe.

Dimitri engoliu em seco. Era obvio que ele não negaria e nem diria algo parecido, mas só eu percebia o quanto ele parecia pálido?

— Claro que não — ele tratou de respondeu, nervoso — Quando quer ir?

— Assim que possível — apressou Lissa indo até seu guarda-roupa — Preciso falar com a Rainha Tatiana logo, precisamos encontrar uma casa próxima a casa da Senhora Belikova.

— Precisamos? — questionei confusa.

— Claro — respondeu Lissa indiferente — Não vai caber todo mundo lá, eu imagino.

— Todo mundo? — foi a vez de Yuri perguntar.

— Exatamente, não deixarei ninguém para trás.

Pense em algo Rose!

— Não sou sua Guardiã, Lissa — argumentei já sabendo que de nada iria adiantar.

Como resposta Lissa me lançou um olhar repreensor, largou suas roupas e acrescentou:

— Não vou deixar você aqui, que fique claro Rose. Pode não ser minha Guardiã oficial, mas ainda é minha amiga e a levarei para onde eu for — ela recomeçou a olhar suas roupas — Christian vai comigo porque é meu namorado, você é minha amiga, Yuri por ser seu Guardião e Dimitri por ser meu Guardião... e porque eu jamais iria a Rússia sem ele, principalmente à Baia.

Suspirei cansada e encarei a carta de Olena com desânimo. Três páginas com reclamações e declarações, onde ela praticamente me xingava por ter ido embora sem avisar, sem levar mantimentos e sem dar explicações, onde exigia saber o que havia acontecido até o momento de Dimitri voltar a vida e por que eu não voltei à Baia junto com ele. E aquelas duras palavras só me lembravam de cada momento na Rússia, alguns momentos que eu gostaria de esquecer. A briga com Victoria, Dimitri-Strigoi e tudo o que tive que fazer para me manter viva e para conseguir ter Dimitri de volta.

Eu sabia o que Lissa estava fazendo. Eu precisava ir até a Rússia e jamais poderia ir sozinha sem uma grande confusão antes, sem proteção, ela estava me dando uma abertura. Mas se eu não queria confusão e ninguém correndo atrás de mim depois, exigindo explicações, então precisava enfrentar as Belikova. E tenho quase certeza de que será muito difícil sair daquela casa... inteira.

Como agir?

— Acha que isso vai dar certo? — questionou Dimitri ficando ao meu lado.

Lancei um olhar desconfiado a ele, um olhar que em seguida endureceu quando lembrei do que Natasha havia dito.

— Acho que sua mãe vai me matar — respondi controlada.

Dimitri riu e eu quase amoleci com aquele som. Foco Rose!

— Nós podemos conversar agora? — ele perguntou de repente.

Eu hesitei. Eu quero? Eu quero mesmo conversar com Dimitri? Quero ao menos ficar sozinha no mesmo lugar que ele?

— Claro, mas pode ser mais tarde? Tenho algo pra fazer agora.

Eu deveria começar a pensar mais antes de falar alguma coisa...

Dimitri concordou e sorriu minimamente. Ele provavelmente sabia como eu estava me sentindo, como sempre.

— Senhor Mazur! — saudou Lissa alegremente me assustando.

Mazur? Tipo como Abe Mazur?

— Pai?

Não costumo chamá-lo muito de pai, mas o que mais eu falaria diante de um Abe Mazur com o rosto levemente vermelho e os olhos brilhantes de irritação quando ele deveria estar bem longe da Corte?

Deixando-me ainda mais confusa, Abe não veio na minha direção, não jogou aquela nítida raiva em mim e sim em Yuri. Aproximou-se dele em passos tão pesados e rápidos que por um momento pensei que sua próxima ação seria um soco.

— Você ao menos pensou no que estava fazendo? — rosnou fazendo Yuri recuar assustado.

Não perdi tempo e me aproximei dos dois, quase com o coração na mão. O que estava acontecendo?

— Pai — tentei pará-lo, mas ele me afastou sem muita delicadeza e agarrou Yuri pela blusa.

— Como pôde fazer isso com ela Yuri? — exigiu saber — Como pôde colocar a Rose nisso? Não acha que ela já tem problemas demais?

— Eu só fiz o que achei que era certo — Yuri respondeu entre dentes empurrando Abe.

— Vamos manter a calma aqui — pedi me colocando entre eles dois quando Abe ameaçou avançar e fazer algo pior.

— Não devia achar nada! — Abe exclamou furioso — A vida é dela, não sua. Eu pedi para protegê-la, não piorar a situação!

Lancei um olhar suplicante a Lissa, mesmo sabendo que ela não podia fazer muita coisa. Tudo o que ela e os outros faziam era assistir, assustados, o primeiro surto de Abe Mazur.

— O senhor precisa se acalmar — Dimitri pediu hesitante tocando o ombro de Abe.

Em resposta Abe se afastou e lançou o seu melhor olhar ameaçador.

— Não interfira nisso Belikov.

— Você que não se meta na minha vida — anunciei aumentando a voz.

Abe me lançou um olhar estranho e se aproximou lentamente, fazendo-me engolir em seco. Tudo bem, eu tenho um medinho dele, pequeno... até entendia o motivo de ele ter aquela fama de Todo-Poderoso, mas naquele momento a única coisa que eu sabia é que eu era o motivo da briga e que ele estava prestes a querer interferir em algo. Porque eu o conheço, assim como conheço a mim mesma.

— Não sei qual é o real motivo disso tudo — continuei depois de pegar fôlego — Mas é bem obvio que estou no meio e que você acha que Yuri fez algo de ruim para mim, mas garanto que ele não fez.

— É claro que fez! Ele mexeu com o seu Espírito, quebrou seu equilíbrio!

Então eu vi, foi apenas por um segundo. Meu foco estava todo em Abe quando, estranhamente, a imagem dele piscou. Literalmente. Como se ele fosse apenas uma imagem de televisão com problemas no sinal ou na antena. Recuei com o cenho franzido. Senti a tensão do meu corpo aumentar e sabia que não era só minha, Yuri também havia notado. Fitei Lissa esperando ver a mesma confusão em seus olhos e fiquei satisfeita em encontrar. Tudo bem, eu não estou louca.

— Quem é você? — questionei alcançando minha estaca.

O homem sorriu me dando a certeza de estar certa. Aquele não é Abe Mazur. Ele remexeu as mãos e as enfiou no bolso, em seguida retirou uma caixinha preta. Parecia um controle.

— Desculpa lindinha, tarde demais.

E foi então que tudo explodiu, literalmente.


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Notas finais do capítulo

O que acharam?