Spirit escrita por Hawtrey


Capítulo 8
Sonho


Notas iniciais do capítulo

Oi gente, me perdoem pela enorme demora. A faculdade está me ocupando muito, mas eu não lembrava que esse capítulo já estava pronto =D Então me perdoem mesmo.
Boa leitura.
P.S. Alguém mora em São Paulo, capital??



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Eu me senti caindo com força no chão, tentei sentar na areia mas parecia que todas as minhas forças tinham me abandonado. Tudo ao meu redor parecia rápido demais para minha mente captar, como se um furacão de emoções tentassem me sufocar. Eu não consegui distinguir o local onde eu estava. Uma praia deserta talvez? Não importava, eu só conseguia sentir a dor da minha cabeça aumentar e as imagens criarem vida ao meu redor. Fechei os olhos com força e a imagem de Lissa chorando surgiu na minha mente, a dor irradiava dela enquanto erguia uma criança em seus braços.

— Rose!

O grito ecoou até mim me causando calafrios. Abri os olhos e vi o céu escurecendo. Olhei ao redor com o medo começando a me inundar e tudo só piorou com a verdadeira batalha que surgia ao meu redor. Mais uma vez as pessoas corriam sem rumo, não pude distinguir Moroi de humanos, mas encontrei Dhampirs sem dificuldade, eles lutavam com avidez e determinação enquanto tudo explodia. Foi então que eu notei que estava, realmente, em uma cena de batalha. Era uma cidade pequena talvez, a areia sob meus pés tinha sumido e o calor emanava por todo o lugar. Algumas casas estavam em chamas e outras completamente destruídas, as pessoas gritavam de dor e desespero, chamando pelos conhecidos e tentando fugir.

Era um sonho, eu sabia. A cena que eu tinha visto com Adrian estava se repetindo, pelo menos era o que parecia. O primeiro Strigoi que vi com clareza estava com as presas no pescoço de uma mulher que já estava inerte, provavelmente morta, e mesmo sabendo que era um sonho eu tremi. Era tudo tão real, tão amedrontador e eu não costumo usar essa palavra com tanta frequência. Mas os gritos e a dor invadiam minha mente com tanta violência a ponto de eu começar a temer que meu crânio explodisse.

— Rose!

Eu vi um Strigoi correndo na minha direção e me assustei ao notar que era ele quem chamava por mim. Nathan.

— O que faz aí parada? — ele gritou irritado — Eles estão fugindo! Se quiser comida, é melhor começar a correr atrás!

Confesso que não entendi suas palavras de primeira e muito menos o motivo dele não me olhar diretamente, parecia que Nathan estava olhando algo através de mim e assim que me virei arfei, compreendendo o que estava acontecendo.

Ele não estava falando comigo, não realmente, porque aquela garota pálida de olhos vermelhos e presas grandes não era eu. Aquela garota nunca me representaria porque nunca haveria uma Rose-Strigoi, mesmo que houvesse uma na minha frente agora.

É apenas um sonho Rose, apenas um sonho.

Minha versão Strigoi não esboçou reação alguma e nem sequer olhou para Nathan quando perguntou:

— Onde está Dimitri?

Um calafrio percorreu minha espinha, definitivamente eu não gostava daquela minha versão com voz fria e assassina. Não mesmo.

— Fui procurar um presente pra você.

Ambas nos viramos seguindo aquela inesquecível voz.

A Rose-Strigoi sorriu, um sorriso que eu conhecia bem e que ficava estranho com aquelas presas. Ela estava feliz por vê-lo, aliviada até. Mas eu não conseguia sorrir com aquela cena. Sangue ainda escorria da boca de Dimitri e em seus braços estava ninguém menos que Yuri.

Pisquei e de repente uma sensação estranha tomou conta de mim. Senti o poder em minhas mãos, forte e denso, a sede fez minha garganta coçar e em seguida senti um familiar formigamento percorrendo meus braços e em seguida meus dedos.

Agora não havia duas versões de mim ali, eu era a Strigoi e o Espírito ainda corria pelo meu corpo, como meu próprio sangue.

Como era possível?

— Todo mundo quieto!

Demorei alguns segundos para notar que eu que havia gritado e que todos, Strigoi ou não, haviam obedecido. Parecia que todos estavam, literalmente, paralisados.

— Aproxime-se — ordenei encarando Yuri.

Algo naquele olhar tão parecido com o meu se apagou, tornando-o opaco. E isso só reforçou minha ideia inicial de que não estava entendendo mais nada. Eu tinha acabado de usar compulsão e mesmo que pudesse fazer isso sendo uma Guardiã do Espírito, como eu conseguiria fazer aquilo sendo uma Strigoi?

É apenas um sonho Rose, repeti mais uma vez a mim mesma, metade dos sonhos não fazem sentido algum. São apenas sonhos.

Tropeçando, Yuri me obedeceu e parou a minha frente.

Só notei que não tinha mais nenhum controle sobre meu corpo quando sorri maliciosamente. Eu estava prestes a matar meu irmão e estava gostando disso.

Ergui a mão e toquei seu rosto, quase carinhosamente, apreciando o pânico em seu olhar.

— Você me abandonou Rose.

Lissa surgiu bem atrás de Yuri e parecia com um fantasma ensanguentado em meio a multidão paralisada.

— Me protegeu por anos, mas quando eu mais precisei... você falhou comigo, falhou com meu filho! Você me fez mata-lo!

Eu encarei os olhos vermelhos dela, sombrios e mortais e ainda sim era a mesma cena de quando eu estava com Adrian, a diferença só estava na ausência do filho nos braços da minha melhor amiga.

 — Era ele ou você Vasilisa, eu dei uma escolha e você escolheu — respondi sem querer — Você matou seu filho, sozinha.

— E quanto ao seu filho?

Voltei minha atenção para Yuri e senti a raiva tomando conta. Eu deveria estar assustada, perguntando de que merda ela estava falando, mas só conseguia sentir a raiva.

— Isso tudo é por ele — respondi com a voz grave.

Antes que qualquer outro fantasma surgisse eu segurei o pescoço de Yuri e torci, sorrindo com isso. Ele não esboçou qualquer reação e mesmo que eu chorasse por dentro continuei torcendo, mais e mais, sentindo as vertebras se movendo, a tensão da pele diminuindo a medida que ela rasgava, os nervos estalando, parte do sangue escorrendo e alguns respingos manchando meu rosto. Quando a cabeça estava quase toda separada do corpo eu só queria desabar no chão e gritar, arrancar minhas mãos fora por ter sido capaz de fazer aquilo, em vez disso apenas deixei o corpo de Yuri cair no chão, pesado e morto, e me ajoelhei ao lado dele.

— Lembre-se do coração Roza — comentou Dimitri se divertindo com a situação.

— Não! — alguém gritou ao meu lado — Não faça isso Rose!

Pisquei, acordando do transe assassino. Eu conhecia bem aquela voz. Virei a cabeça e encontrei meu mais novo porto seguro.

— Sonya...

Minha voz não era mais fria ou assassina, mas eu não conseguia ignorar aquela raiva, mesmo que Sonya estivesse ali. Eu sabia que ela sempre surgia para me ajudar, colocar uma luz nesses sonhos estranhos e eu queria, mais que tudo, que ela me fizesse parar com aquilo, que me tirasse dali.

— Não faça isso Rose, não alimente a escuridão dentro de você — ela insistiu ofegante.

— Eu sinto... tanta... tanta raiva — afirmei entre dentes, sentindo as lagrimas se misturarem ao sangue no meu rosto.

— Rose — dessa vez foi Lissa, sentando do outro lado e engolindo em seco. Fiquei surpresa, parecia a Lissa de verdade, sem anéis vermelhos nos olhos e sem uma criança morta nos braços, falhando em ignorar o corpo a sua frente. Ela respirou fundo antes de continuar com a voz trêmula — Eu sei que consegue... sempre me ajudou com o Espírito, sempre esteve lá por mim e eu estou aqui por você agora... e eu tenho certeza que consegue enfrentar essa escuridão. Você é a pessoa mais forte que eu conheço.

Eu a fitei incrédula, minha visão ainda estava turva pelas lagrimas e meu coração ainda batia rápida e dolorosamente, mas meus dedos fincavam com força o corpo de Yuri, perfurando a carne. Lissa estava certa, eu conseguia enfrentar essa coisa dentro de mim... então por que era tão difícil?

— Não a escute Roza — pronunciou-se Dimitri, letal — Sabe que dessa vez é diferente, é pior. É algo com qual não consegue lidar.

Eu rosnei.

— Não — negou Lissa chorosa — Essa não é você! Você não faria... isso — ela olhou o corpo de Yuri e soluçou — Essa não é você Rose...

A raiva aumentou e o descontrole se esvaiu do meu corpo. Então subitamente fiz algo que nunca pensaria ser capaz de fazer: eu a ataquei.

— Você não sabe quem eu sou!

— Não!

O grito de Lissa ainda ecoava na minha mente quando eu levantei e sai correndo em direção ao banheiro. Tudo girou ao meu redor, ainda sim eu lutei para chegar até o vaso sanitário e vomitar tudo o que tinha comido no dia anterior. Em seguida eu me joguei no chão e apoiei minhas costas na parede fria. Ainda podia ver minhas mãos cobertas de sangue e a sensação do pescoço de Yuri quebrando ali, os gritos das pessoas procurando por aqueles que amavam ou sendo dilaceradas, o fogo destruindo tudo pelo caminho. A raiva. Como esquecer a raiva? Tomando conta de cada nervo do meu corpo, sendo alimentada pelo Espírito... por Dimitri. Lissa. Ataquei Lissa.

Fechei os olhos e respirei fundo tentando controlar minha mente e meus batimentos cardíacos. Era apenas um sonho. Eu preciso ficar calma. Fique calma Rose. Respire fundo.

— Rose?

A voz dele era calma, porém hesitante, mas foi o que bastou para que as lagrimas voltassem a cair desenfreadamente. Logo Yuri estava ao meu lado, colocando seus braços ao meu redor e me puxando para um abraço. Eu me aconcheguei em seu peito e chorei ainda mais.

— Você viu? — perguntei com a voz embargada.

Ele sabia do que eu estava falando. A ligação. O compartilhamento de pensamentos e sonhos que eu tinha com Lissa, mesmo que de mão única.

— Sim — Yuri respondeu ainda calmo.

Contradizendo aquele tom calmo o coração dele batia tão rápido quanto o meu, mas por um motivo diferente: medo por mim. Eu estava com medo de mim mesma, do que estava acontecendo comigo, do que poderia acontecer... e Yuri se limitava a temer pela minha vida. Nada mais.

— Como consegue?

— O quê? — ele questionou afagando meu cabelo.

Limpei a garganta e me livrei das lagrimas, então me afastei o bastante para olhá-lo nos olhos.

— Como consegue se preocupar só comigo depois de ver tudo aquilo? Devia estar me amarrando agora.

— Por quê? Você não é criminosa, nem louca.

— Ainda.

Yuri suspirou e se afastou, então pegou minhas mãos com firmeza.

— Você não é e nunca será louca Rosemarie.

— Viu o mesmo que eu vi? — insisti exaltada — Eu não só te matei, parti o seu pescoço ao meio.

— Ei maninha, estou aqui e meu pescoço está inteiro. Foi apenas um sonho.

— Você me entendeu!

Batidas urgentes vieram da porta.

— Rose! Rose! — a voz urgente de Lissa invadiu o quarto.

— Já estamos indo — Yuri gritou de volta.

Levantei com a ajuda de Yuri e sai do banheiro, sendo logo envolvida pelos braços de Lissa.

— Rose! Oh meu Deus... o que houve? Eu tive um sonho estranho e então tudo sumiu... fiquei sem saber o que fazer. Tive que vim!

Pisquei algumas vezes antes de me certificar que tinha ouvido direito.

— Você viu?

Ela assentiu nervosa.

— O sonho, sim. Eu não sei como... mas eu vi. Foi horrível, eu sei, pensei que fosse só um sonho... mas havia Sonya e sua reação...

— Eu ataquei você — completei seca dando as costas e me sentando na cama.

— Na verdade eu me referia à sua luta contra a escuridão.

Eu a olhei sem acreditar. Será que nenhum dos dois me entendia ali?

— Eu ataquei você Lissa! Não consegue entender isso?

Lissa trocou um olhar preocupado com Yuri e sentou ao meu lado.

— Rose... isso, esse sonho, foi apenas a escuridão tentando destruir sua força. Não é como se você tivesse presas e fosse me atacar mesmo, e se você algum dia as tiver eu tenho certeza de que não vai me machucar. Eu confio em você.

— Não deveria — retruquei sem consegui fita-la — Eu não sei como isso vai acabar.

— Então vamos descobrir, juntas. Você confia em mim?

Acenei quase imperceptivelmente, concordando.

— Então me conte o que está acontecendo — Lissa pediu nervosa — Eu conversei com a senhora Karp, sabe, em sonho. Mas não sei se devo acreditar... eu não consigo entender o que está acontecendo Rose. Por favor, deixe-me ajudar você.

Respirei fundo e procurei o olhar de Yuri, isso o envolvia também. Felizmente ele não precisou de palavras para concordar, apenas acenou.

***

Eu já estava no terceiro pacote de salgadinhos – estaria no segundo se Yuri não insistisse em roubar alguns a cada minuto, estávamos sentados lado a lado na cama fitando Lissa processar toda a informação que revelamos. Ela estava pálida.

— Será que ela está bem? — sussurrou Yuri.

— Acho que só está um pouco assustada — sussurrei de volta — Isso é diferente de tudo o que aprendemos.

— Vocês gostam de regras.

— Morois gostam de regras.

— Nós somos parte Moroi — ele lembrou — Uma grande parte.

Eu ignorei aquela implicância e continuei esperando alguma reação de Lissa. Há bons minutos ela estava assim, parada, com os olhos inquietos. Será que acreditou em tudo o que dissemos? Será que foi muita coisa pra um dia só?

— Lissa? — chamei hesitante.

— Eu devia ter imaginado que vocês eram irmãos — ela disse de repente — Sabe, vocês se parecem... em tudo.

Senti a compreensão passar através do laço e sorri. Yuri também esboçou um sorriso aliviado e sentou, aparentemente também estava preocupado com a reação de Lissa.

— Eu aposto que sou muito mais bonito, princesa.

Revirei os olhos e sentei ao lado dele.

— Me chame de Lissa, por favor — pediu Lissa sorrindo levemente.

— Então... você conseguiu entender tudo? — perguntei.

— Vocês são irmãos, usuários do Espírito, você precisa encontrar Sonya e trazê-la de volta como aconteceu com Dimitri e... precisa aprender a se controlar, como eu.

— Como todos os usuários do Espírito — acrescentou Yuri.

— Guardiões do Espírito — corrigi.

— O que importa é o controle — ele insistiu me repreendendo com o olhar — Rose precisa aprender a se controlar antes que a escuridão a domine.

— E você já consegue se controlar? — Lissa perguntou curiosa.

— Foi até fácil — concordou Yuri sorrindo — Mas minha mente não é ligada a duas pessoas.

— Não há um jeito de acabar com pelo menos um dos laços?

— Tem — respondi me levantando — Morrendo.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Algumas pessoas estavam ansiosas pela reação de Lissa ao descobrir que Yuri e Rose são irmãos, mas acho que se tem que haver uma reação, se eu tenho que descrevê-la então tem que ser a de Dimitri. Espero que entendam e comentem!